Capítulo 15

Sexta-feira.

Dois dias de espera que mais pareceram quatro, a ansiedade era enorme. Marcos andava de um lado para o outro da cela sem saber o que pensar. Três dias desde que entrou naquele corredor e agora mais da metade das celas ali presentes já estavam vazias, algumas pois as pessoas estavam na sala de testes e outras porque haviam chegado ao óbito.

Mônica, Paula e Fred estavam cabisbaixos e mais quietos do que o dia em que chegaram. Os efeitos colaterais eram fortes e tiravam o ânimo de todos.

Quarta-feira. Depois de ser algemado como de costume, Marcos foi levado por Lúcio a uma sala ainda no mesmo andar. Era grande, suas paredes brancas sustentavam prateleiras que a cobriam de um lado ao outro. Nelas, pequenos fracos estavam dispostos e na bancada debaixo ficavam outros equipamentos científicos que ele não soube identificar pelo nome, a não ser o microscópio. No centro havia uma espécie de cadeira daquelas usadas em laboratórios de coleta de sangue. Ele se aproximou e se a ajeitou na posição mais confortável possível, assim que o fez um homem baixinho abriu a porta indo diretamente até uma gaveta e pegando uma seringa, depois um frasco na prateleira e emfim se aproximou de Marcos sorrindo. Ele começou a puxar um diálogo mas foi advertido por Lúcio que estava parado ao lado da cadeira. Depois de algumas farpas trocadas ele aplicou o líquido transparente no seu braço. No dia ainda não apareceu os efeitos colaterais mas na manhã de quinta foi quando tudo começou a aparecer. Tosses e espirros, nariz escorrendo e um pouco de dor de cabeça apareceram como resultado da aplicação do dia anterior.

Contudo na manhã de sexta já amanheceu bem melhor, com os efeitos praticamente inexistentes. Novamente ele foi algemado e retirado da cela, dessa vez para retirarem seu sangue. Ao retornar encontrou um Frede bastante desanimado e reclamando de enjoos.

- Vamos todos morrer! Vamos todos morrer!

- Calma Fred! – Paula chamou sua atenção. – Não podemos entrar em desespero.

- E como não?! - disse Mônica se aproximando da grade. – Estão aplicando na gente coisas que não fazemos ideia do que seja. A maioria dos que estavam aqui morreram e o resto, a gente nem sabe se passa do próximo teste!

Marcos interveio para tentar acalmar a situação.

- Pessoal, fiquem calmos! Eu tenho uma solução – sussurou. – Nós vamos conseguir sair daqui.

Eles ficaram eufóricos e começaram a falar todos ao mesmo tempo. Marcos os repreendeu fazendo com que eles se acalmassem.

- Então diga – cochichou paula.

- Uma fuga. Hoje durante a madrugada, uma pessoa interna vai nos ajudar a escapar.

- É perigoso! – Mônica interrompeu também sussurando. - Pode ser uma armadilha.

- Não é.

- E como você sabe? – questionou Fred.

- Eu... conheço essa pessoa - disse.

- Como assim? - perguntou Paula.

- Eu conheço de antes de vir parar aqui.

- Será se ela é confiável? Você conhece essa pessoa de antes e mesmo trabalhando aqui ela não te avisou nem nada... É perigoso.

- Claro que é! - respondeu ainda sussurrando mas de uma forma mais alterada. - Independente do que passe pela nossa cabeça em fazer pra escapar daqui vai ser perigoso, ou você acha que eles vão abrir caminho e nos deixar passar? - Paula não respondeu nada.

- Marcos, - Fred chamou sua atenção -, você tem certeza disso? Você confia?

- Não tem como ter total certeza. Olha, eu não iria aceitar essa ajuda. Não mesmo. Mas eu pensei melhor e não vamos ter outra oportunidade melhor do que essa. Precisamos arriscar. Se não quiserem ir, tudo bem. Do contrário, estejam acordados durante a madrugada.

- É claro que vamos com você - disse Mônica. - Ou pelo menos eu vou, se for uma armadilha tanto faz. De uma forma ou de outra o resultado vai ser a morte mesmo, o que eu tenho a perder!?

Mônica retornou para a cama, Fred também. Paula continuou na grade olhando Marcos e por fim também aceitou a ideia. Aquela noite parece ter demorado menos que as outras, rapidamente a madrugada chegou trazendo consigo a esperança e a incerteza.

- Pessoal? Estão acordados? – perguntou Marcos.

- Sim – sussurraram os três.

Acordados, Paula, Mônica e Fred estavam deitados olhando para o teto da prisão a espera da pessoa misteriosa que traria sua provável salvação daquele lugar. Marcos estava inquieto, levantava-se vez ou outra da cama e mal conseguia se deitar. Seus braços chaqualhavam cada vez mais rápido a medida em que seus pés aumentavam a velocidade batendo o calcanhar contra o chão.

A ideia de Julia ter mentido novamente começava a se tornar algo concreto em sua mente quando do fundo do corredor ele ouviu um barulho. Todos eles se levantaram e encostaram nas grades. Dois soldados despontaram no corredor carregando uma pessoa. Eles se apressaram para retornar para suas camas e se viraram de costas para a grade para evitar que percebessem que estavam acordados.

O barulho dos passos cessaram, foi então que outro barulho mais ágil invadiu o lugar. Eles porém não se levantaram, por precaução.

- Vamos? - disse Julia parada de frente para cela de Marcos enquanto ele fingia estar dormindo. Ele se virou e se levantou a olhando através das grades. A luz iluminava seu rosto de um ângulo que normalmente deixaria a maioria das pessoas estranha. Bem, não era o caso aqui.

- Achei que não viria mais – disse indiferente. Já do lado de fora, apontou para as celas dos outros indicando quais ela devia abrir.

- Demorei para conseguir pegar essa chave e quando estava vindo me encontrei com dois soldados e tive que me esconder. Por isso demorei tanto - disse olhando a todos. - Me acompanhem. Mas sem fazer barulho!

Eles a seguiram em silêncio. Andavam na ponta dos pés para não fazer barulho e seguiam as orientações de Julia para evitarem as câmeras e andar apenas nos pontos-cegos existentes.

- Esperem. – Julia levantou a mão, eles se abaixaram e esperaram, um soldados estava passando. – Continuem.

Seus passos apressados paralisaram ao atravessar o corredor e se depararem com dois soldados que vinham na direção contrária. Eles os encararam e por um momento pareciam não saber o que fazer ao ver todas aquelas pessoas paradas na sua frente. Marcos e Fred rapidamente se jogaram em cima dos homens que não estavam esperando pela investida.

Marcos caiu rolando no chão junto com o homem que, no impacto, acabou soltando sua arma a fazendo cair distante deles. Ambos se levantaram, o homem caminhou imponente até Marcos que se levantava e acertou um soco em seu queixo que o fez cambalear e quase cair novamente. Ele mal havia firmado o corpo quando o soldado veio novamente atacando-o novamente. Marcos desviou do primeiro soco, depois do segundo até conseguir se formar completamente. O homem avançou sem temor novamente pelo pelo lado direito só que dessa vez Marcos foi mais rápido. Com habilidade e rapidez ele atravessou o braço direito na frente do rosto impedindo o soco e em seguida usando a mão para agarrar o punho do soldado e puxá-lo na direção do seu ombro direito. Assim que executou o movimento, Marcos usou toda sua força e levantou o joelho acertando-lhe em cheio na barriga deixando ele corcunda e quase que sem ar. Depois levou seu punho de baixo para cima contra o queixo do homem e por fim finalizou com o punho esquerdo fazendo o homem cair desmaiado no chão. Marcos se virou para ver como Fred estava e deu tempo de vê-lo usando a arma de choque do soldado contra ele próprio.

- Temos que ir. Depressa! – Julia os apressou.

Marcos pegou a arma do homem, Fred retirou o corpo do outro de cima de si e pegou a arma dele. Sua chance de passar despercebidos pela segurança agora já não existia mais pois ao entrarem em luta corporal com os dois soldados foram avistados na câmera de segurança e agora o alarme já estava acionado, luzes piscando e homens armados correndo para todos os lados. Tiveram que desviar a rota e se esconder, não dava pra sair já que vários soldados estavam transitando pelo corredor. Julia apressou o passo e os guiou até uma pequena sala cheia de equipamentos velhos e acabados.

- O que faremos agora? – perguntou Paula.

- A saída deve estar vigiada, eles estão nos procurando e são muitos. Mesmo que despistássemos alguns deles, ainda sóbrariam vários.

- Espera... – disse Julia olhando para os equipamentos como se ali estivesse a resposta que ela procurava. - Fred você acabou de me dar uma ideia. Me esperem aqui, já volto.

- O que você tem em mente? - perguntou Marcos.

- Precisamos de uma distração - disse.

- Cuidado – disse Marcos segurando o braço dela no impulso.

- Eu... - Julia o olhou por alguns segundos. Depois para sua mão em seu braço e emfim se virou para ele novamente. - Eu vou tomar cuidado.

Calmamente ela abriu a porta e saiu os deixando lá dentro. Sabia que precisava se manter tranquila, se fizesse direito, não levantaria suspeita já que faz parte da equipe.

- É uma armadilha – disse Mônica enquanto arredava um objeto para usá-lo como cadeira para se sentar. O barulho feito por ele fez com que todos repreendessem ela que parou assim que ouviu a reclamação.

- Precisamos confiar – Marcos falou olhando para os rostos deles, agora sentados olhando uns para os outros. – Eu a conheço de antes disso tudo. Ela vai nos tirar dessa.

- Vocês eram próximos? – perguntou Paula.

- Ah... claro. Nós éramos... – disse gesticulando enquanto procurava pela palavra certa.

- Namorada? – perguntou Fred.

- Uma amiga próxima – disse.

- Não foi isso que me pareceu na forma como se olharam quando se despediram – comentou Mônica.

- Bem, é complicado. Mas... precisamos confiar nela. É a nossa única chance de sair daqui – disse pensativo.

***

Um segurança se aproximou a abriu a porta da sala de Courtney com pressa.

- O que foi isso? - perguntou Courtney nervosa.

- Prisioneiros fora da cela senhora - falou ele. - Foram encontrados alguns prisioneiros vagando pelo corredor, atacaram dois seguranças e estão desaparecidos.

- Encontre Lúcio. Agora!

- Sim, senhora.

Lúcio já havia escutado o barulho do alarme e estava se encaminhando para a porta de saída quando se encontrou com o segurança.

- Qual o motivo do alarme? - perguntou.

- Prisioneiros chefe. Estão do lado de fora, desaparecidos e armados.

- Conseguiram sair daqui de dentro?

- Não. A porta não foi aberta. Devem estar escondidos.

- Monte um grupo de soldados e ache-os!

- Sim, senhor.

Lúcio continuou caminhando até ser parado novamente, dessa vez por Phillip que estava na porta de sua sala.

- Lúcio, o que houve?

- Fuga.

- Nossa, tem muito tempo que isso não acontece por aqui - disse. Philip se inclinou para sair da sala mas foi parado pela mão de Lúcio em seu ombro.

- O que você pensa que está fazendo? - perguntou.

- Eu, vou no laboratório. Preciso pegar uns papéis que deixei lá dentro.

- De jeito nenhum. Não está vendo os alarmes?

- Qual foi! Os seguranças já estão por aí né!? Está tranquilo agora.

- De jeito nenhum, eles podem ser perigosos. Não quero você qui fora, pode entrar.

- O quê? Está preocupado com minha segurança? - Philip perguntou rindo e observando ele não responder de imediato.

Philip já estava acostumado com a forma reclusa de Lúcio. Ele não compartilhava muito sobre si, mesmo Philip sendo a pessoa mais próxima que ele possuía dentro da empresa. Philip nunca antes havia escutado Lúcio falar que se preocupava com alguma pessoa em particular, ouvir que ele "tinha uma pessoa" foi a coisa mais pessoal que ele já chegou a escutar do amigo.

- Eu sou o chefe de segurança. Se eu deixo você sair e algum deles te faz de refém, as coisas podem não acabar da forma mais amigável. E se você morre, isso vai ser minha responsabilidade e eu vou sentir como se tivesse mandado um amigo para morrer.

Philip franziu a testa ao ouvir o final da frase.

- O que? O alarme, acho que o volume me atrapalhou escutar com clareza. O que foi que você disse?

- Disse pra você entra dentro dessa sala e trancar a porta - Lúcio respondeu empurrando Philip para dentro e puxando a porta para fechá-la.

- Espera, espera - Philip puxou a porta para trás antes dele conseguir fechá-la e o encarou. - Lembre-se do que Courtney ordenou. Pega leve.

- Eu sei fazer meu trabalho.

- Eu sei que sim. É por isso que eu estou avisando.

Lúcio balançou a cabeça em afirmação e saiu. O alarme já havia parado e agora vários soldados guardavam a porta de saída. Lúcio se aproximou deles.

- Tudo certo por aqui?

- Sim, chefe.

Os grupos de soldados faziam rondas e tudo parecia estar acontecendo de acordo com o protocolo de segurança da empresa. O celular de Lúcio vibrou no bolso com a chegada de uma mensagem. Ele o pegou e um sorriu apareceu em seu rosto ao ver o nome do remetente.

"Ei"
"Quando você volta?"
"Sinto sua falta"

"Eu também sinto a sua. Vou ver se consigo ir nesse final de semana, aí eu estendo com o feriado"

"Tudo bem"

"Ei"
"Não posso conversar muito agora"
"Tenho que resolver um problema aqui na empresa no momento. Mais tarde a gente conversa melhor. Certo?"

"Certo. Então, se cuida"

"Até mais tarde"

"Até"

***

Julia soltou o cabelo espalhando-o. Com passos firmes ela atravessou os corredores, passou por guardas e se dirigiu até a sala de controle de onde se vigiava toda a empresa. Deu dois toques na porta e abriu.

- Kate... o que faz aqui? - perguntou André, o vigia.

Ele era o responsável por analisar todas aquelas imagens das câmeras de segurança. Não era alguém que Julia considerasse bonito mas não era tão feio. André já havia demonstrado certo interesse em Julia, ela porém rejeitou sua investida da forma mais educada possível. Agora esse interesse significava oportunidade e apesar dela não ter medo de usá-la, sentia-se mal por fazer isso com ele.

- É que... tudo está uma bagunça - disse passando alguns fios de cabelo para trás da orelha -, pessoas correndo para todos os lados, soldados apostos, enfim, eu já estava por perto então resolvi passar aqui e ver se você poderia me contar o que houve.

- Ah... são alguns prisioneiros que estão do lado de fora. Não sei como saíram... - André encarou os monitores e depois os botões na sua mesa. - Eu abri apenas uma cela durante a madrugada.

- Sei... são rosquinhas que estão ali? – ela apontou para uma pequena caixa que estava em cima de uma mesa no canto da sala.

- Ah, sim! Você quer uma? - perguntou se levantando.

- Claro – respondeu Julia oferecendo um sorriso.

- Tem de vários tipos – ele disse olhando para dentro da caixa - Vários tamanhos. Você pode não gostar, elas engor-

Sua voz se calou no segundo seguinte pois sua testa foi empurrada contra a parede de forma agressiva e suas vistas se escureceram, André desmaiou esbarrando em sua caixa de risquinhas e as levando com ele para o chão.

Julia apressou e trancou a porta. Não queria ter feito o que fez mas, pelo menos no momento, não estava vendo outra saída. Ela retornou à mesa e observou as telas dos monitores na sua frente. Haviam soldados andando por toda parte e a saída estava bloqueada, ela precisava tirar os que faziam a segurança da porta para que pudessem escapar.

Julia passou os olhos sobre a mesa cheia de botões até achar o que estava procurando. No canto da mesa havia duas fileiras com os botões de todas as celas, e na parte de baixo, um botão que abria a todas elas. Embaixo dele estava escrita uma frase, que dizia: "Apenas em caso de emergência"

- Bem... isso é uma emergência - disse para si mesma.

Aquela era a distração da qual precisava. Ao ser pressionado, o botão abriu todas as celas de todos os blocos liberando os prisioneiros pelos corredores. Furiosos e desesperados eles corriam para todos os lados, quebrando equipamentos, as janelas das salas, atacando os soldados e até alguns cientistas que não tinham se escondido ainda.

Pelos monitores, Julia observou Lúcio dando ordens aos homens e organizando-os. Não conseguia ouvi-lo mas sabia que não podiam usar munição letal contra os prisioneiros com o objetivo de não causar prejuízo para empresa.

***

- Chefe? - falou um soldado ao ver um enorme grupo de prisioneiros liberados e se dirigindo em sua direção.

- Leve cinco de vocês para a porta do laboratório principal e mais cinco para a sala onde estão os medicamentos! - ordenou Lúcio. - Não deixem nada passar! - Lúcio retirou seu cacetete da cintura e o apertou em sua mão. - O resto de vocês vem comigo.

***

Estavam se dividindo. Julia sabia da fama de Lucio, ele não costumava seguir à risca as ordens que recebia e isso o tornava uma pessoa perigosa. Ela não poderia deixar que ele os encontrasse primeiro.

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