Capítulo 10

O sol apareceu no horizonte trazendo a claridade para a floresta e anunciando a eles que já era hora de acordar.
Paula, Fred e Mônica acordaram sem muita animação devido a noite muito mal dormida pela qual passaram. Era quase seis horas da manhã, o horário perfeito para saírem e poder usar a mata como camuflagem.

- Ei! Acorda!

Paula jogou uma pedra pequena em Marcos que acordou assustado levando os outros a dar risadas.

- Ah... muito engraçado – disse ele.

- Levanta. Vamos logo enquato ainda está escuro – disse Paula.

Saíram caminhando pela floresta sem um caminho exato, apenas seguiam em uma certa direção sem qualquer tipo de guia que os desse certeza do caminho. A cada ordem dada, solução apresentada ou direção tomada, Marcos se dava conta de que Paula havia naturalmente tomado a liderança daquele pequeno grupo. E até então Marcos acreditava que isso não parecia ser algo ruim.

Após andarem bastante, pararam a uma distância segura em um lugar que os proporcionava uma visão parcial do que acontecia ao redor do vulcão. Só era possível observar através dos buracos entre os galhos das árvores, o que na realidade não era tão bom porque não deixava muita coisa visível.

Foram avistados dois quadriciclos estacionados, algumas pessoas andavam e conversavam, e era possível se ouvir um barulho idêntico ao de construção das cidades. Com certeza estavam construindo algo. Contudo, nada disso dava a eles alguma ideia do tamanho da empresa ou do que ela fazia.

- Aquela é a base deles? – perguntou Mônica.

- Acho que sim – respondeu Marcos.

- Não tem como ver muita coisa – disse Fred. – Será se a base fica dentro do vulcão? Ou será se fica atrás dele?

- Não temos como saber daqui – disse Paula.

- O quê?!- Mônica interviu. - Você não está pensando em se aproximar mais né? Podemos ser pegos!

Paula a olhou e em seguida olhou para Marcos.

- Minha ideia era se aproximar a uma distância segura e observar. Também acho que poderíamos avançar um pouco mais, mas só irei se todos estiverem de acordo - disse ele.

- Eu voto em nos aproximarmos mais – disse Paula levantando o braço.

- Eu também – disse Fred sem muita preocupação.

- Então eu também vou – falou Marcos.

Apenas Mônica não tinha levantado o braço, estava com os dois cruzados na altura do peito. Todos olharam para ela com um olhar de reprovação.

- Vamos Mônica! – disse Fred. – Todos já toparam a ideia.

- Será se só eu estou vendo que isso é perigoso? – reclamou ela.

- Claro que não! – disse Paula. - Todos nós achamos perigoso, mas é melhor aproveitar enquanto ainda está escuro porque se não formos agora só poderemos voltar à tarde e, vindo à tarde, corremos o risco de esquecer o caminho de volta e ter que dormir no meio da mata.

Mônica fez uma expressão pensativa e por fim deu um suspiro de rendição.

- Tá bom! Mas que fique claro que eu fui contra essa ideia!

Caminhando de forma silenciosa e organizada, eles deram mais alguns passos na direção das vozes. Ainda estavam longe, mas com uma vista melhor do que antes. Estavam prontos para se adinatar um pouco mais quando foram forçados a recuar e se esconder atrás quando perceberam que soldados se aproximavam fazendo a ronda pelo local. Ali, escondido, Marcos pensou bastante no que poderia acontecer se fossem pegos. Talvez fosse pior ainda para ele pois, dos quatro, era o único que tinha o logo da empresa marcado no braço. Estavam agachados a uma distância segura, então, fizeram um silêncio absoluto enquanto os soldados passavam.

- Ufa! Graças a Deus não nos viram – Mônica deu um suspiro de alívio.

- E agora? O que fazemos? – indagou Marcos.

- Não sei. Podemos nos aproximar mais um pouco. O que vocês acham? – questionou Paula.

Marcos e Mônica começaram a cochichar sobre o que achavam melhor.

- O que vocês decidirem eu aceito – disse Marcos.

- O que? Não! Quase fomos pegos aqui, andar mais vai ser muito arriscado! – argumentou Mônica.

Fred não estava muito interessado na discussão. Despreocupado, ele se virou de costas para o vulcão e para os outros que cochichavam. Mechia com uma joaninha em uma folha perto do seus pés quando, pegou-a com as mãos e a olhou bem de perto. Antes que pudesse tocá-lá novamente, ela balançou as asas decolando vôo. Fred a olhou se distanciar por uns segundos mas não pôde aproveitar a cena ao seu máximo. Assim que olhou para a frente, seu corpo paralisou, ele engoliu em seco, seu coração quase parou de bater enquanto Marcos e Mônica continuavam apresentado seus argumentos e Paula os analisava para tomar a decisão certa. Apavorado, Fred interveio acabando com a discussão.

- Bem, acho que, no final das contas, não vamos entrar lá por vontade própria.

Marcos, Mônica e Paula olharam se entender ao que ele se referia.

- O que? Do que você está falando? – disse paula.

- E... – ele engoliu em seco e raspou a garganta. – Eu estou falando daquilo – Fred levantou o trêmulo dedo indicador apontando para frente.

Ao girar o corpo se virando de frente, se deparam com o que temiam que acontecesse. Dez homens armados com fuzis apontados na sua direção. Qualquer tentativa de corrida, na cabeça dos quatro, significa morte. Ficaram ali estáticos sem se mexer, não conseguiam imaginar uma saída daquela situação. Talvez porque não houvesse uma.

- Olá pessoal! Eu sou Lúcio e esses são meus amigos – apontou para sua equipe. – Estávamos procurando por vocês. Se soubéssemos que voltariam aqui, nem teríamos saído à sua procura.

- Droga – resmungou Marcos.

O sorriso de desdenho estampado na cara dele foi a última coisa que eles viram antes de levarem uma coronhada na cabeça e desmaiar.

Com as mãos amarradas nas costas, aquele que ainda estivesse desmaiado era carregado pelos homens. Os que estavam acordados eram, a todo momento, empurrados para frente como se a velocidade com que andavam em um terreno que ofertava inúmeras chances de se torcer ou até mesmo quebrar o pé, nunca estivesse boa o suficiente.

Marcos despertou um pouco zonzo, olhou o chão e estranhou o fato de ele mudar da mesma forma que mudava o terreno criado para aquele videogame super avançado onde as pessoas sentam em cadeiras que capturam o movimento que um carro real faz, além de ter um volante pelo qual você conduz o carro no jogo. Um amigo dele tinha um videogame desse, com certeza era roubado ou comprou de algum ladrão. Ele nunca perguntou pois mesmo sendo muito amigos, não quis correr o risco de ofendê-lo, afinal ele poderia ter comprado e estar pagando em prestações. Opção essa bem difícil pois atrapalharia sua rotina de gastos com bebidas e tudo mais. Ou até mesmo poderia ter ganhado. Mesmo assim, ele preferiu não arriscar a amizade simplismente por causa de uma dúvida, e como esse amigo não frequentava seu apartamento, mesmo que ele tivesse roubado não ofereceria risco direto a Marcos.

Quando voltou a ficar lúcido, reparou que estava sendo carregado por dois soldados, ele se debateu como uma criança com pirraça e foi jogado no chão, de bruços. Seu rosto se chocou contra a terra macia arranhando a pele e sujando ela de preto. Os outros já estavam acordados. Os soldados o levantaram e deram um empurrão nas costas dele para que andasse.
Marcos olhou ao redor e viu que Fred aparentava estar bastante exaltado com aquela situação.

- Viu! Eu sabia que deveríamos ter deixado ele dentro do buraco. Mas não! Vamos ajudá-lo e ser bons com ele. Vamos salvá-lo – disse olhando para Mônica e Paula. – Em troca, olha o que recebemos. Agora estamos sendo levados para não sei onde, para fazerem não sei o que com a gente. Tudo culpa desse cara.

- Eu não entreguei ninguém! Eles nos acharam.

- Será mesmo? – questionou Mônica - Eu acho que te forçaram a fazer o serviço sujo deles. Não devíamos ter te ajudado.

- O que?! Vamos com mais calma! Primeiro que você não me conhece, então não pode sair me julgando assim. E outra, eu passei um dia inteiro sozinho andando pela mata, também já fiz muitas trilhas antes, se vocês não tivessem me encontrado naquele buraco não demoraria muito para eu conseguir sair de dentro dele sem a ajuda de ninguém. Ou seja, eu sei me cuidar! – ele fez questão de enfatizar essa afirmação.

Lúcio e sua equipe apenas aproveitavam a discussão.

- Ah! Coitado – Fred falou com desdenho. – Agora não podemos desconfiar dele.

- Desconfiar é uma coisa, acusar é outra. E é isso que vocês estão fazendo, me acusando de algo que não podem provar.

- A prova é sua confissão - disse Fred. - Vamos! Confessa!

- Que preocupação repentina é essa em Fred? Bateu a abstinência, foi?

Paula e Mônica encararam Fred com um olhar de desconfiança. Ele recebeu o olhar sem tentar negar qualquer coisa.

- Do quê você está falando? Você enlouqueceu - disse tentando mudar de assunto.

- Não sei... você está muito preocupado e paranóico agora depois que acordou da pancada na cabeça, o interessante é que o mesmo aconteceu com você quando te sequestraram e te trouxeram pra esse lugar e, quando chegou aqui, você não me pareceu nada preocupado com a situação.

- O que isso tem de importante? - perguntou Mônica.

- Ele é louco. Não dê ouvidos a ele - falou Fred tomando a frente.

- Bem... Pode ter sido, não sei, talvez maconha - Marcos percebeu Mônica mudar sua expressão -, ou alguma coisa mais forte que tenha deixado ele tão calmo na chegada, e sua paranóia agora pode ter sido também por causa da noite mal dormida e porque ele ter finalmente se tocado da nossa situação. Ou pode ser abstinência. Eu não arriscaria, vocês estão tão certas assim de confiar? Dependendo do jeito que ele estivesse, um maço de cigarro seria suficiente para ele decidir entregar a todos.

Eles se entreolharam. Mônica e paula olharam com uma expressão duvidosa para Fred, que parecia constrangido. Marcos sabia que tinha tocado em um ponto sério, mas não sabia se ele realmente era usuário e, se fosse, qual tipo de substância ele usava. Fred estava de cabeça baixa e não tentava se defender.

Mesmo Marcos sabendo que foi Paula quem convenceu a todos de que poderiam se aproximar mais, Marcos ainda assim se sentia culpado por ter incentivado tal ação. Dali em diante eles seguiram em silêncio pensando no que havia acontecido e nas afirmações, ofensas e acusações que foram feitas naquele momento de raiva.

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