Acordei pela manhã e não estou vendo nada literalmente.

Bianca: Mãe, Daniel.

Gritei chamando por eles.

Não demorou muito e Daniel apareceu. Havia me esquecido que minha mãe e meu pai já tinha ido trabalhar.

Daniel: Que foi Bianca?.

Bianca: Por que eu não estou vendo nada, a luz está apagada ainda?.

Pensei que ainda era de madrugada ou algo do tipo, mas estava completamente enganada.

Daniel: Ué não, já são 6:20 da manhã.

Bianca: Mas juro que não estou enxergando nada, só o escuro.

Daniel: Acho melhor te levar no médico.

Bianca: Mas você também é de menor não pode me passar no médico ainda.

Daniel: Acho melhor ligar para a mãe.

Tudo o que acontecia ele sempre preferia ligar para minha mãe do que pro meu pai, nem sei o motivo ao certo.

Estou com medo, por quê raios não estou vendo mais nada, será que fiquei cega?. Não isso é muito injusto comigo.

Bianca: Estou começando a achar que fiquei cega.

Daniel: Não fala uma besteira dessas Bianca.

Ele também está começando a pensar isso, por mais que não consiga falar.

Bianca: Já ligou pra mãe?.

Daniel: Calma, ainda estou digitando os números.

É de fato estou escutando o barulho dos botões. Só consigo apenas ouvir enquanto Daniel fala com minha mãe ao telefone: Mãe a Bianca não está vendo nada, ela já acordou assim, acho que temos de levar ela ao médico urgente.

Daniel: Pronto Bianca, ela já está vindo pra casa.

Bianca: Quer dizer que hoje a gente não vai pra escola?.

Daniel: Eu poderia ir, mas prefiro ver primeiro o que aconteceu com você.

Ele parece mesmo estar preocupado comigo, bem apesar que não consigo vê-lo, mas só de ouvir a voz dele consigo perceber sua preocupação.

Estou também muito preocupada comigo mesma, não sei o que será da minha vida se eu estiver de fato cega, porque entre isso e morrer, eu prefiro a morte.

Mãe: Cadê a Bianca?.

Ouço minha mãe falando, provavelmente deve estar na cozinha.

Daniel: Ela tá lá no quarto deitada mãe.

Ela chegou perto de mim, consigo perceber pelos passos dos dois que se tornam cada vez mais próximos de mim.

Mãe: Filha, tem certeza que você não está vendo nada mesmo?.

Bianca: Sim mãe tenho, eu já acordei assim.

Mãe: Daniel, me ajude a levar ela até o carro.

Meu irmão me segurou colocando meu braço direito envolta de seu ombro.

Chegamos no carro e eu entrei, minha mãe começou a dirigir em direção ao hospital e não trocamos nenhuma palavra durante esse percurso.

Entramos no hospital e eu ainda não vejo nada. Demorou um pouco e fui finalmente chamada para entrar na sala do médico, meu irmão ficou esperando na recepção, enquanto eu e minha mãe fomos até a sala.

Médico: O que houve com ela?.

Engraçado que quando somos de menor sempre parecemos invisível, pelomenos eu me sinto assim.

Mãe: Ela não está enxergando nada.

Médico: Isso não seria o caso de levar ela em um oftalmologista?.

Bianca: O senhor não entende eu não estou vendo mais nada.

Médico: Lamento ela só pode estar totalmente cega, mas mesmo assim eu não cuido desses casos.

Primeiro minha melhor amiga morreu e agora eu fiquei cega, o que mais pode me acontecer de ruim nessa vida?. As vezes eu acho que fiz alguma coisa de muito ruim, pra ser castigada dessa maneira.

Mãe: Está bem então, obrigada mesmo assim.

Não sei como ela consegue agradecer em uma situação dessas. Saímos da sala do médico e estamos indo até a recepção.

Daniel: E aí no que deu?.

Bianca: Ele falou que provavelmente eu fiquei cega do nada, mas que ele não cuida dessa área e eu tenho de ir em um oftalmologista.

Daniel: Não podemos tirar conclusões precipitadas, vamos ao tal oftalmologista ainda hoje ver isso direito.

Bianca: Mas se eu estiver mesmo cega em?.

Sabia que ele iria ficar sem falas, ele não conseguia me responder nada.

Mãe: Você vai ficar bem filha, mas não sei se posso ir hoje tenho que trabalhar.

Não acredito que até em uma situação dessas ela consegue mesmo colocar o trabalho na frente da minha saúde.

Daniel: Mãe, precisamos cuidar da Bianca agora, depois você resolve o seu serviço.

Mãe: Tá bom, então vamos logo.

Entramos novamente no carro e estamos a caminho do oftalmologista. Chegamos bem em frente, saímos do carro e entramos. Demorou um pouco como de costume, mas finalmente fui atendida.

Fiz alguns exames e fui diagnosticada com cegueira, foi um impacto tão grande para mim que não consigui pensar em outra coisa a não ser morrer e desistir de tudo, afinal minha vida não tem mesmo mais cor e nem brilho.

Daniel: O que esse outro médico disse Bianca?.

Bianca: Não tem mais jeito, eu realmente estou cega, ele disse que posso voltar a enxergar mas as chances são mínimas.

Daniel: Mds como isso foi acontecer assim do nada.

Ultimamente estou tendo tanto azar nessa vida.

Bianca: Vou ser mais um fardo para vocês, eu prefiro morrer de uma vez igal a Elen.

Daniel: Você não vai morrer coisa nenhuma, nois vamos enfrentar isso juntos.

Bianca: Mas se eu nunca mais voltar a ver o mundo?.

Daniel: Lembra do que o médico disse, você ainda tem chance.

Bianca: Mas eu não quero alimentar esperanças, e depois me frustrar.

Daniel: Mesmo assim eu sempre vou te ajudar.

Meu irmão pode ser um chato, mas eu tenho certeza que ele vai me ajudar apesar de que não quero dar trabalho para ele, nem pros meus pais, mas vou tentar lidar com isso e aos poucos fazer as coisas sozinha, se é que vou conseguir né.