Capítulo Único
Atenção, essa história não é recomendada para menores de idade.
História atribuída à série "Contos Natalinos com espírito de Halloween" o primeiro conto dessa série pode ser encontrado neste mesmo perfil no livro "Peculiares Contos de Terror, Conto 10 - Noite Feliz".
Algum lugar da Noruega próximo ao Polo Norte, ano de 1789 D.C.
A fina camada de neve que cobria o chão era carimbada pelas patas das renas, um saco de pano grande e quase tão velho quanto seu dono se sustentava firme ao banco de um trenó que seguia com velocidade sendo guiado por um senhor robusto e barbudo, assim era quase todos os dias na vida de Noel Natalino ao voltar da cidade para sua casa, que se localizava ao norte da Noruega, uma casa humilde com uma chaminé que deixava a casa menos feia, uma típica casa de quem busca silêncio, paz e até mesmo solidão, isolada das cidades e próxima há uma área com diversos pinheiros, alguns plantados pelo próprio Noel, um homem que apesar da idade era um lenhador habilidoso.
As árvores eram a fonte de renda do velho Noel Natalino, junto de seus dois filhos de 13 e 14 anos faziam brinquedos com a madeira dos pinheiros. Todos os dias logo cedo o velho Noel se levantava e vestia seu encardido casaco de peles, calçava suas botas de couro e colocava um gorro velho feito de algodão para se proteger do rigoroso frio rotineiro da região, junto de seu desgastado trenó e suas renas ele ia de cidade em cidade, muitas vezes até de casa em casa, vendia o que conseguia e se virava com o que ganhava. O dinheiro que arrecadava com as vendas era pouco, mas era o suficiente para cuidar de suas renas, seus pinheiros, colocar comida em casa e pagar o imposto que toda semana o Governo da época lhe cobrava por permitir a venda dos brinquedos de madeira feitos à mão nas cidades, assim viviam Noel Natalino e seus dois filhos, sustentados pelo suor e o esforço do trabalho braçal. Os filhos de Natalino eram jovens mas trabalhavam como adultos,não mais que Noel, pois o mesmo além de fazer as vendas na cidade também cortava os troncos com a ajuda de suas mãos ágeis e de seu machado afiado e preciso.
Os garotos eram caprichosos e tinham a imaginação fértil, faziam com perfeição cada brinquedo, auxiliados por talhadeiras e facas tão afiadas quanto o machado de seu pai, Noel Natalino. Brinquedos tão bonitos que muitas das vezes eram os adultos que compravam para serem usados como enfeites em algum cômodo de suas casas. Mas o reconhecimento que os garotos tinham não era o bastante, ouso a dizer que nem ao menos reconhecimento tinham, além de um ao outro, tudo o que tinham era comida e um lugar para dormir, só se divertiam de verdade quando o trenó saia em disparada direção à cidade, tinham liberdade para sair daquela casa velha e brincar de correr um atrás do outro na neve, quando cansavam, faziam uma fogueira com o feno das renas e inventavam histórias sobre qualquer coisa que vinha na mente, eram os momentos de distração daqueles garotos, cujo o pai se preocupava mais com seus pinheiros e suas renas do que com os próprios filhos.
Os garotos não reclamavam da vida que tinham, mas tudo o que queriam era deles por direito, carinho, afeto, amor... eles sentiam falta disso, os garotos queriam arrancar ao menos um sorriso de seu pai, sendo assim, tiveram a ideia de lhe fazer uma surpresa. Acordaram bem cedo, mais cedo que o próprio Noel, pegaram seus instrumentos de trabalho, algumas madeiras e moldaram algumas letras que formavam " Papai Noel ", também fizeram um rosto em uma madeira separada. com bochechas redondas e barba grande, mesmo feito às pressas foi muito bem feito, até mesmo o gorro que raramente seu pai tirava eles tiveram satisfação em fazer. Colocaram tudo na mesa ao lado de um copo grande de leite e de uma carta, e ansiosos, esperaram até que seu pai acordasse.
Quando Noel acordou realmente ficou surpreso com o que viu e começou a gritar com os garotos, dizia que foi desperdício, que estavam brincando com o trabalho, "façam coisas para vender e não para mim", ficou furioso. Pegou a carta que estava e à leu, a carta dizia para que o Noel Natalino ficasse um dia inteiro com eles, dizia que seus filhos sentiam falta dele, queriam ele por perto ao menos um dia que fosse, sem remorso amassou o papel jogou tudo no chão e com suas mãos pesadas bateu em seus filhos, os garotos choravam de dor e parte das lágrimas que molhavam o chão eram de ódio, pois tudo o que eles queriam era atenção, talvez até um abraço, mas Noel não estava disposto a fazer isso, nunca esteve, sempre tão frio quanto a neve em que pisava todos os dias e tão duro quanto os troncos dos pinheiros que derrubava, bateu nos garotos sem nenhum remorso.
Após a surra, os garotos ganharam o que queriam na carta em que escreveram, pois Noel ficou em casa durante o dia todo, mas não foi um dia bom, não para os jovens, eles foram obrigados a passar o dia todo do lado de fora cortando lenha para a lareira e para fazer mais brinquedos, o pai só havia ficado para garantir que eles cumpririam o castigo. Ao anoitecer o castigo continuou, o velho barbudo fez os garotos trabalharem até tarde da noite, sem ao menos se preocupar com o cansaço dos meninos e das dores que sentiam nas mãos, sim, as mãos já calejadas estavam praticamente esfoladas de tanto que trabalharam naquela noite, mas assim como para seu pai isso também não importava para eles, estavam com tanta raiva de seu pai que a dor que sentiam dentro do peito era mais forte do que qualquer outra dor física que pudessem sentir.
Na manhã seguinte os garotos acordaram e viram que seu pai já havia ido para a cidade, saíram da velha casa mas dessa vez não havia motivos para se divertirem como sempre faziam, ficaram quietos a maior parte do dia. Observavam os pinheiros, pinheiros que seu pai tanto cultivou e cuidou, aquilo deixava os jovens frustrados e desamparados, o modo como seu pai havia agido no dia anterior ainda castigava seus corações, o amavam, o respeitavam e o obedeciam, "onde erramos?" se perguntavam. mas diante os fatos nenhuma resposta era válida.
Ainda com as marcas da surra e com a rejeição pressionando seus corações os filhos de Noel espalharam todo o feno pela floresta de pinheiros e, sem pensar duas vezes atearam fogo, sabiam que quando seu pai voltasse ficaria furioso, mais que nos outros dias, mais que na noite anterior. Os garotos não se importavam com as consequências, sabiam que além de uma surra, nada era tudo o que seu pai lhes daria.
Noel Natalino chegou mais cedo em sua casa aquele dia, ainda no trajeto pode ver uma densa fumaça e quando chegou viu o que sua mente o obrigou a acreditar durante todo o caminho, os pinheiros estavam pegando, ele olhou desacreditado e cerrou os punhos, colocou as renas longe do fogo e sem balbuciar entrou em sua casa quase derrubando a porta. Os dois garotos estavam lá, abraçados, assustados e com os olhos arregalados, podiam ver a raiva nos olhos daquele homem que os trouxe ao mundo, Noel olhou e não disse nada, apenas saiu e caminhou com a feição e os punhos cerrados em direção ao machado que estava fincando em um tronco não muito longe da casa.
Já com o machado em mãos, voltou para dentro de sua casa e pode ver e ouvir o choro e o desespero dos garotos. Sem pudor, segurou firme o machado e desferiu golpes contra seus dois filhos, os golpes eram violentos, era como se Noel estivesse exercendo seu trabalho de lenhador e os dois jovens já cobertos de sangue fossem os troncos dos pinheiros, o homem com a barba e roupa suja de sangue não hesitou, fez em pedaços os corpos de seus próprios filhos, em seguida procurou lenha para acender a lareira, mas os garotos também haviam queimado a madeira que usavam para a lareira, então, Noel Natalino levou os braços, as pernas e cabeças de seus filhos para fora da casa, quando terminou viu os pinheiros completamente em chamas, a fumaça estava se alastrando, logo os moradores das cidades mais próximas notariam o incêndio, então sem demora Noel pegou uma escada e a inclinou em um pinheiro que ele havia plantado à alguns anos atrás, sua esposa havia sido enterrada por Noel em seu próprio quintal. plantou o pinheiro em cima do túmulo de sua mulher e nesse mesmo pinheiro deixaria seus filhos.
Noel subiu na escada e colocou as partes dos corpos de seus filhos nos galhos do pinheiro de forma aleatória, a folhagem e a neve que cobriam o pinheiro escondiam tal barbárie que aquele homem havia, porém o sangue que pingava das partes dos corpos pingavam na neve, pingavam e pouco pouco iam formando um singelo lago vermelho. Da escada Noel pode ver tochas acesas e escutar trotadas de cavalos cada vez mais perto, os habitantes das cidades próximas já haviam notado o incêndio. Noel foi rápido, observou a distância em que os futuros visitantes estavam e agiu com esperteza, acreditava ele. colocou um amontoado de roupas no trenó, colocou vendas em suas renas, às direcionou sentido a um penhasco um pouco distante dali e com as rédeas ás chicoteou com força, em seguida, correu pra dentro de sua casa e se escondeu por dentro da chaminé.
Os guardas à cavalo foram atrás do que acreditavam ser Noel Natalino tentando fugir, o resto das pessoas ficaram, perplexas e assustadas com o que viam, o vento soprava forte, fazendo as chamas nos pinheiros aumentarem e os galhos do pinheiro envolto de sangue à suas frente se mexerem, revelando algumas partes dos corpos dos garotos.
Espantados e com sede de vingança invadiram a casa, mas tudo o que encontraram foi uma casa banhada de sangue e alguns pedaços de carne e pele espalhados pelo chão, acreditavam que Noel havia fugido com o trenó e então caminharam para a fora da casa assustado diante de tanta violência e crueldade vista. Antes que todos pudessem sair da casa um som chamou-lhes a atenção, uma espécie de tosse premida que timidamente ecoava da chaminé. Noel se segurava firme entre as colunas que formavam a chaminé, mas a poeira e cinzas que ali existiam estavam o incomodando, estava se tornando impossível suportar, mesmo assim Noel tentou, segurava o máximo que conseguia, no entanto, os sons reprimidos de tosse que insistiam em sair entregaram sua posição.
Os guardas que haviam seguido o trenó retornaram, acreditavam que Noel estava morto, pois as renas haviam pulado do precipício, mas não, Noel estava ali, ajoelhado do lado de fora rodeado por pessoas possessas e indignadas. Todos se juntaram e decidiram fazer justiça ali mesmo, ninguém era contra, todos queriam que ele pagasse pela crueldade, todos queriam que ele morresse, e assim seria feito.
Todos queriam fazer justiça com suas própria mãos, mas era semana Santa, por mais que quisessem não podiam mata-lo, não com suas próprias mãos. Então o arrastaram até um lugar isolado entre as montanhas geladas ao Norte de sua casa, o abandonaram ali, o deixaram com seu gorro, suas calças, suas botas e com seu casaco de peles coberto por sangue, queriam que ele morresse, mas não congelado, já que não iriam o matar com as próprias mãos queriam que ele ao menos sofresse o máximo possível, que morresse de fome, sendo devorado vivo por algum animal selvagem ou até mesmo que apodrecesse na neve, antes de partirem também cortaram seus dois dedões dos pés, o impossibilitando de se equilibrar para andar, tirando assim qualquer expectativa de sair dali com vida.
Os anos se passaram e o fato foi ganhando fama, a história de tal crueldade foi passada de geração em geração e cada vez mais era modelada, pouco a pouco a historia foi se tornando em algo bom, de século em século a historia foi se tornando algo fantasioso, afinal, ninguém queria contar uma história tão cruel para seus filhos em plena semana Santa, quando tudo aconteceu. Alguns diziam que quando derrubaram o pinheiro em que os pedaços dos garotos foram colocados, sangue saiu de seu tronco, mas isso é só história, não acredito que seja verdade.
E hoje estamos aqui, o século em que o Natal é algo mágico, onde um bom velhinho barrigudo e de barba branca alegra as crianças e até mesmo os adultos. Camuflaram o verdadeiro espírito Natalino com algo ilusório e fantasioso que nada mais é do que a história de um homem que não amou seus filhos.
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