Cair em Chá [Plot Twist]

Cornélia chegou no melhor-pior momento-local: numa mesa de um chá da tarde para o qual não fora convidada - especificamente, entre a anfitriã e a convidada. Que tosco esse alçapão! Derrubando-a como clandestina contra sua vontade.

Que cházinho curioso! Uma gigante sorridente de cabelos da cor-de-terra e uma fadinha das mais minúsculas que já vistas - parecia de outra espécie com sua aura mística, talvez pertencesse a outra sociedade - envolvidas pelo jardim dos mais exuberantes e coloridos e perfumados, rindo displicentemente. Entretanto, as gargalhadas foram insuficientes para calar os miados do empertigado Pensamiento (tanta fidelidade, tanto orgulho). Rapidamente, dois rostos - um gigantesco, um mínimo - olharam-na, espantados.

A grama pinicava sob o vestido leve de Cornélia, o cheiro inebriante das flores vivazes e das semidecompostas mesclava-se aos adocicados aromas de sobremesas, pães e açúcar que convidavam a gula para entrar, o sol de um mundo que não madrugava-se, mas vespertinava-se a assustava... E Pensamiento: miava miando em seu colo.

- Devo ter ganhado na loteria dos cientistas! Duas fadas para conhecer! - bradou a gigante - Você é enorme! Diga-me sua espécie, por favor.

A pequenina fada deixou que o vento roubasse a expressão assustada que lhe desfigurava:

- Layfir é sempre chegada assim, senhorita - disse Alfira.

- Perdão!, não desejava interrompê-las. Comi uma semente que deveria transportar-me entre mundos, não imaginei que me obrigaria a invadir seu jardim - Layfir ofereceu uma grande mão como ajuda, que, gratificantemente, Cornélia aceitou.

Ao cair em si, Cornélia viu-se também na bela mesa, entre uma gigante especialmente gentil e generosa que sentava-se numa hiperbólica cadeira e uma fadinha engraçada e de extrema delicadeza - sob o corpinho uns dez livros de botânica. Aquilo lhe trazia uma sensação improvável: um estranhamento - Cornélia nunca fora convidada para um chá, bebera apenas com seus tios e uns primos distantes - nunca tivera amigos, nunca rira na roda de chá, açúcar e placidez que eram. Ela sentiu falta de levar ao lábios uma colher do mel que nunca chegara a provar. Por um milissegundo, quis entristecer-se - sofrer pelos leites que derramaram por ela - entretanto, ela terminou por aproveitar para tropeçar em mais amizades acidentais (ou, talvez, acidentadas - como as vielas de sua vida).


- Não há classificações de onde veio? - curiosa, questionou Layfir - Ganhei também na loteria dos antropólogos!

- Além do tamanho de pássaros, cada família transforma-se em certo pássaro, isso os distingui. Você vira verdilhão?! - animou-se Alfira.

- Sua sociedade é semelhante a dos humanos, mas com dons de metamorfose e magia... - disse a gigante.

- Há outros gigantes por aqui? - perguntou Cornélia.


A gigante, uma perfumista, presenteara-lhe com uma fragrância de lírios-do-vale - os prediletos de Cornélia, a única coisa de casa que ainda causaria-lhe falta. Já Alfira dera-lhe uma frágil pétala seca de anêmona, um grilo falecido e a benção miraculosa das primevas (para pequena, tão valorosos). Cornélia ensinou-as acerca da poção de comunicação a distância - e, novamente, prometeu sua (antes impossível) amizade.

E, partiu...

500 palavras.

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