Capítulo 4
Um ninho de víboras, isso descreve tudo isso. Meu pai, tio Felix e o rei Fhilips conversavam com sorrisos nos rostos, enquanto brindavam nossa união, todos nos seus trajes mais finos. A rainha Carolyn está sentada ao lado do marido. Como suspeitei ela é loira, e possui olhos azuis iguais aos dos filhos, além de parecer ser bem mais jovem que o marido. Assim como minha mãe, ela também usa uma tiara, só os reis e rainhas herdeiros do trono usam uma coroa, quem conquista o título através de um casamento nunca sobe ao trono.
Minha mãe senta-se à direita de meu pai, tio Felix à esquerda, e Meredith ao seu lado. Melanie está entre nossa mãe e eu, Kit e sua mãe estão ao meu lado. Já a família real de Arrem se sentou ao lado esquerdo, junto a tio Felix.
Tento ao máximo parecer contente, mas não sei se estou conseguindo.
— Pelo menos sorria — Kit sussurrou enquanto disfarçava levando a taça de vinho a boca.
Forcei um sorriso mais falso ainda.
— Melhorou? — virei a cabeça como que se procurasse algo, para que ela pudesse ver o sorriso.
— Já vi melhores.
Soltamos um pequeno riso — dessa vez sincero.
Francine está muito calada, porém, parece contente, ela e à Kit são consideradas da família e participam de todos os eventos importantes do reino. As duas são muito parecidas, no entanto, Francine é mais tímida do que à filha, contudo, ela e minha mãe se entendem muito bem.
Eu era muito nova quando elas vieram para o castelo, mas lembro que às vezes há via chorando pelos cantos, imagino que não seja fácil perder alguém que se ame. Penso que ela deve ter amado muito o marido, ou ainda o ama, pois nunca a vi com ninguém desde então. Qualquer um ficaria feliz em tê-la como esposa, ela ainda é jovem e muito bonita.
Meu pai acaba de pedir para servirem o jantar. Os empregados surgem pela porta em uma perfeita fila, com seus uniformes vermelhos e aventais brancos, todos carregam uma bandeja na mão.
Eles capricharam na comida, tudo parece uma delícia, aposto que tudo isso é para impressionar. Apesar da variedade, me sirvo apenas com um bife com um molho vermelho, e uma porção de salada. Os outros, por outro lado, se servem com vários tipos diferentes de carnes, molhos, saladas e outras variedades.
Não sei se é impressão minha, mas parece que Meredith está me encarando desde a hora em que cheguei — já eu, faço o possível para não nota-la —, entretanto, ela parece querer todas as atenções para si, e optou por um vestido vermelho decotado. Meredith e o pai não se parecem fisicamente. Tio Felix é bem parecido com meu pai, tem a mesma cor de cabelo, pele, a mesma altura, e os mesmos olhos apertados. Meredith por outro lado é loira, alta, e tem os olhos castanhos, deve ter puxado a mãe, mas não posso afirmar, ela morreu ao dar a luz à Meredith, e meu tio não fala dela — não sei porquê —, e nuca vi nenhuma fotografia dela.
Tyler também deve ter puxado a mãe, ele é o filho mais velho de tio Felix, já faz algum tempo que não o vejo. O pai dele o mandou para Listym — à segunda maior cidade do nosso reino —, quando ainda tinha quinze anos, para aprender administração. Meu pai quer que ele seja meu conselheiro quando eu assumir o trono, confesso que não gosto da ideia, apesar de não o conhecer bem, ele é o filho do meu inimigo, portanto, também é um possível inimigo.
— Rainha Cristine, o jantar está ótimo. Mande meus comprimentos ao chefe — a rainha Carolyn falou sorrindo, enquanto erguia a taça de vinho na direção de minha mãe.
— Obrigada, Lucille ficará grata com os elogios — minha mãe retribuiu o sorriso.
A voz da rainha de Arrem é tão suave, que chega parecer artificial.
— Mas, parece que a minha prima não gostou — Meredith sorria enquanto balançava a taça em movimentos circulares.
— Estou sem fome — me forcei a responder.
— Está sem fome, ou está frustrada com o fracasso da missão de hoje? — seu sorriso se alargou.
— A missão não foi um fracasso como você disse, pelo contrario — abri um leve sorriso.
— E por quê não? — ela ainda sorria.
Essa você não vai vencer.
— Segredos de relatório, você intende, né? Afinal, você também já fez isso antes — agora meu sorriso aumentou com a fúria em seus olhos.
— Claro — ela finalizou o assunto.
Todos prestavam atenção em nosso embate momentâneo. Nada como um showzinho para entreter um jantar.
Meredith sempre gostou de me provocar, ela é dois anos mais velha que eu, porém, age como uma adolescente quando quer me irritar. Não sei se ela faz isso por diversão ou porque ela tem algum proposito com isso, às vezes, penso que ela pode estar agindo junto com o pai, até porque ela também ganharia se eu não for rainha, e seu pai conseguir seu objetivo.
A sobremesa foi servida em seguida, o tempo custou a passar, mal podia esperar dar meia noite — é a hora em que encontro Liam no jardim. Depois do nosso exaustivo jantar fomos para a sala principal.
A sala é toda branca, as luzes reluzem no chão azul estrelado. Os homes se reuniram nos quatro sofás marrons, dispostos em um quase círculo, no meio da sala, já as mulheres ficaram na mesa à direita. A brisa da primavera entrava pela enorme janela, e as cortinas vermelhas balançavam ao vento.
Os príncipes passaram o jantar em silêncio, mas agora parecem bem entrosados ao assunto, principalmente o mais novo. Sem perceber me peguei o olhando enquanto sorria.
— Ah, no flagra — Melanie falou quase como um gritinho.
— Ah... o que... — me virei rapidamente.
— Você estava olhando o príncipe — ela falou rindo.
— Não, não estava — minhas bochechas coraram.
— Estava sim, e não mente, você ficou até vermelha.
— Não fiquei não, e fala baixo — a repreendi.
— Ninguém está prestando atenção em nós.
Realmente estavam todos concentrados nos seus respectivos assuntos.
— Acho melhor eu ir para o meu quarto, isso aqui já está chato — levantei para sair.
— Acho que não, nosso pai está lhe chamando.
Olhei para frente na direção deles, meu pai acenava para eu ir até eles. Hesitei por um segundo, seja lá o que for que eles tanto falam, não creio que quero participar.
Melanie estava sentada na cadeira olhando para nosso pai, eu permaneci parada de pé ao seu lado.
— Você não vai? Ele pode ficar bravo.
Melanie tem razão, se eu não for ele vai se zangar e me dar uma bronca depois.
Endireitei a coluna, ergui a cabeça, e coloquei o melhor sorriso que consegui, no rosto, minhas mãos começaram suar.
— Boa sorte — Melanie sussurro.
Vou precisar.
O que será que estão querendo falar? Aposto que é sobre assuntos burocráticos, imagino a chatice que vai ser. Espero não me atrasar para o encontro com Liam.
— Sente-se sobrinha.
Tio Felix apontou para o lugar ao lado direito de meu pai. Todos assumiram um ar mais serio quando cheguei, e meu sorriso ensaiado se apagou no instante em que me sentei ao lado de meu pai. O rei e seus filhos se sentavam no sofá à nossa frente, e tio Felix ao lado esquerdo de meu pai.
— Bom... — o rei Fhilips iniciou — já que estamos todos aqui, podemos dar início ao verdadeiro motivo da nossa visita.
— E qual seria? — o encarei com desconfiança.
— Já faz alguns meses que estamos mantendo um contato maior com o reino de Arrem... — meu pai tomou a palavra.
— E, por quê? — perguntei me virando para o olhar, já sentindo um frio na barriga.
— É... sobre...
— É sobre sua coroação, que acontecerá daqui a três meses — tio Felix o cortou me encarando.
— E o que tem nisso? — desviei o olhar dele pra o rei à minha frente.
Os príncipes que estavam rindo a alguns segundos atrás, assumiram uma mascara indecifrável.
— Queremos garantias de que você não irá romper nosso acordo — o rei Fhilips falou cortando o silêncio.
— E por que eu faria isso? — endureci o tom da voz e a postura.
— Todos sabem que você não concorda com esse tratado — seus olhos pareciam de uma águia sobre mim, analisando todos os meus movimentos.
— Mas eu não concordar, não significa que vou rompe-lo — dei um sorriso sarcástico.
— E quais garantias nós teríamos...
— A minha palavra — o cortei antes de terminar a frase.
Ele arqueou uma sobrancelha diante da minha resposta, não sei se meu argumento foi válido, mas, todos que me conhecem sabem que nunca volto atrás em minha palavra.
— Não é suficiente para mim — ele se recostou no sofá.
— E por que não? — a raiva começou a crescer, fechei as mãos, sentindo as unhas apertarem a carne.
— Você é contra um acordo, que beneficia os dois reinos... mas você não é tola em contradizer um tratado desse tipo, então só me resta um pensamento.
— E qual seria?
— Você não é uma aliada do nosso reino. E se isso for verdade, o que a impediria de romper o acordo quando precisássemos de vocês? Ou nos apunhalar pelas costas?
Ele tem razão, e estou ficando sem argumentos. Por que meu pai não me ajuda? Ele continua calado nos observando.
— Como você disse, eu não seria tola de romper um acordo com o segundo maior reino, principalmente estando com uma corda no pescoço. Todos esperam que eu fracasse, e se eu tomar decisões estupidas como essa, só provaria que estão certos — abri um meio sorriso.
Ele também abriu um sorriso, porém, mais gentil.
— Vejo muito do seu avô em você.
Fiquei confusa, não esperava por isso. Antes de dizer qualquer coisa ele retomou.
— E isso não é bom... ele queria ir além da reconquista das minas... ele queria nosso reino...
— Você está insinuando que eu vá tentar tomar Arrem? — soltei uma risada sarcástica. — Eu não sou o meu avô — alterei a voz.
— Calma Rachel — meu pai pousou a mão em meu ombro.
— Não me peça para ter calma — retirei sua mão com um movimento rápido. — Você sabia disso?— apontei na direção do rei.
— Sabia — ele abaixou a cabeça.
— E quando pretendia me contar? Quer saber, não importa mais...
Me virei para olhar novamente para o rei Fhilips . Percebi que minha mãe e suas companhias, não faziam ideia do que estava acontecendo ao lado. Elas pareciam contentes, riam de algum assunto, enquanto eu estava sem saída.
Tudo bem, se ele quer uma garantia, ele vai ter. Não vou arrumar um inimigo, antes mesmo de ser coroada.
— Qual garantia você quer? — o encarei com fúria.
— Outra aliança — ele se inclinou para frente.
Arregalei os olhos surpresa, o príncipe James abaixou a cabeça, Mason se virou para olhar o irmão ao seu lado. Endireitei a coluna me virando para olha-lo.
— Que tipo de aliança?
— Um casamento.
As palavras me golpearam, me tiraram o ar. Me jogou em um vácuo escuro e frio.
— Isso é um absurdo — levantei do sofá aos gritos. — Você vem até aqui para me propor um acordo desse tipo!? Isso é uma afronta.
Meu pai levantou para ficar ao meu lado.
— Isso não é nenhuma afronta — ele se levantou, sua voz começou a se alterar. — Estou pensando no melhor para meu povo.
Olhei pôr cima de seu ombro e notei que todos nos olhavam, minha mãe e Kit estavam de pé, nos observando assustadas.
— Eu não ligo para seu povo, não ligo para suas dúvidas, não ligo para o que você pensa de mim, não vou fazer esse acordo — gritei as palavras para ficar claro.
— Seu avô teve a mesma reação quando propus o nosso tratado — ele maneou a cabeça com um sorriso no rosto.
O sangue me subiu a cabeça.
— Seu insolente — avancei para cima dele com os punhos cerrados.
Meu pai me conteve segurando meus braços para trás, antes que eu pudesse acertar um soco no meio da cara do rei de Arrem, que arregalou os olhos assustado. Os príncipes se intrometeram, levantando às pressas para protege-lo. James ficou entre o pai e eu, ele me olhava com uma fúria tremenda que me assustou por um segundo.
— Você não vai toca-lo.
Ouvi a voz dele pela primeira vez, e mesmo com raiva, ela parecia suave. Mais uma coisa intrigante nele.
Recuperei a coragem, e tentei me soltar, mas meu pai apertou mais as mãos no meu braço.
— Rachel, fique quieta — meu pai gritou. — Você não vai querer começar outra guerra.
Minha mãe apareceu atrás do rei de Arrem.
— O que está acontecendo aqui?— ela me encarou.
Meu pai interveio antes que eu pudesse responde-la.
— Cristine, nos deixem a sós. Peço que se retirem.
— Mas...
— É uma ordem.
Minha mãe fez uma careta de descontentamento, e nos deu às costas, se dirigindo as demais damas do recinto.
— Peço que me acompanhe até o sala da rainha, para terminamos nossos assuntos — ela tentou soar o mais calma possível.
Continuei a encarar o príncipe a minha frente, enquanto ele retribuía o olhar de raiva. O rei Fhilips parecia calmo demais para a situação.
Cínico.
Todas acompanharam minha mãe para fora da sala, a rainha Carolyn lançou um ultimo olhar preocupado na direção do marido e dos filhos, antes de segui-la. Kit também a seguiu, contudo, meu pai a chamou antes que ela saísse pela porta.
— Kristin, você fica.
— Sim senhor — ela falou se virando na nossa direção.
— Rachel irá precisar de você.
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