8. Senhora da porção do porto
Quando saí da reunião de regiões naquela manhã, não poderia estar mais incomodada. Tudo tinha sido fácil demais, Nira tinha aceitado todas as propostas de acordo com a porção das ilhas leste. Agora, tinhamos um acordo de comércio de peixes, mesmo que a porção dela vendesse em abundancia o mesmo produto, e em troca de abaixarmos levemente os impostos para produtos vindos de sua porção, ela contruíria um centro de educação especializada em Sede, a única cidade da porção a qual eu era senhora. Tudo isso enquanto Heleno tinha ficado quieto, torcendo o lábio em desdenho para cada proposta que eu apresentava.
Quando cruzamos a porta, Helgan estava radiante, Ronan e Gaben discutiam entre si o quanto minha atuação tinha sido proveitosa, mas algo ainda me incomodava. Se algo era certo nos cinco reinos era que nenhum favor vinha de graça. Bufei de frustração, política realmente não era algo que gostava de fazer. Parei de andar e olhei para as pessoas que me seguiam.
— Jadeone. — Chamei. O jovem magro pareceu surpreso, mas apressou o passo para tomar o lugar de Helgan ao meu lado.
— O que achou disso? — Perguntei. Ele deveria ser o inteligente da minha corte.
— Sou um cientista, herdeira. — Ele me lembrou, e eu franzi o cenho, e então continuou mais baixo. — Mas moro na capital minha vida toda. Nira pode ser bondosa e benevolente como todos dizem, contudo, não é estúpida, acordo de peixes quando a pesca é uma de suas forças econômicas? Mesmo que sejam de espécies diferentes. Não faz sentido.
Assenti.
— O que ela pode estar querendo com isso, então? — Perguntei e Jadeone sorriu.
— Apoio, talvez? — Ele respondeu. — Não há como saber, não está entre minhas habilidades.
— Independentemente das intenções dela com isso. — Ouvi a voz de Helgan. — O importante é que está feito. O primeiro passo está dado, e o povo da porção poderá especializar sua vocações, ganhar méritos, fazer dinheiro, e logo peixes não serão tudo que podemos oferecer.
Um dia a conta por aquilo tudo viria, e algo me dizia que não demoraria para chegar. Eu teria uma reunião com ela a tarde.
— O almoço está preparado no seus aposentos. — Helgan tornou a falar. — É tradição que os herdeiros recebam sua delegação para o almoço.
Levantei uma das sobrancelhas. Imediatamente senti as paredes se apertarem ao meu redor.
— Pensei que poderia ter essas poucas horas. — respondi, apertando o cenho os os dedos.
— Presumi que iria querer um tempo longe de políticos. — Helgan falou. — Preparei o almoço de sua delegação na sala de pedras na ala leste.
Ala leste, a mesma ala onde ficava meus aposentos, mas pelo menos poderia ficar um tempo longe de conversas diplomáticas e mesuras polidas.
— Graças ao Equilibrio. — Ouvi a mim mesma soltar, e quase ri ao usar pela primeira vez a espressão que tinha ouvido tantas outras vezes nos reinos ricos.
— Vou cuidar de tudo por aqui. — Ela falou, o sorriso ainda não tinha deixado seus lábios, quando me afastei.
Não fui para meus aposentos como Helgan tinha esperado que eu fizesse. Todas as regras, condições, negociações, estavam me deixando sem ar. Presa.
Quando me apressei em direção a entrada do castelo, pude sentir os olhares tortos em minhas costas. Uma herdeira tinha deveres, não deveria correr pelo castelo, e fugir do almoço formal, mas eu não era uma herdeira. Não uma de verdade. E não queria ser.
Como se soubesse meus pensamentos, Modesh pousou no gramado verde. O ar fresco controlou minha respiração acelerada, e minhas mãos pegaram as amarras que alguem me entregava. Quando olhei para o lado, vi os dois olhos de cores diferentes, sua expressão impassível.
Davos.
Meus olhos foram do cavaleiro de dragões para meu próprio dragão. Que agitava as asas, e alongava o pescoço.
Antes que pudesse pensar em qualquer coisa, eu estava sobre Modesh. A magia nos rodeando. Confundindo nossas mentes.
O dragão levantou voo, e não precisou que eu dissesse uma palavra.
Ele bateu suas asas mais rápido enquanto subia. O vento rugindo em meu rosto, me jogava para trás, contra as amarras firmemente presas a Modesh. A cada batia de asas minha mente se afundava ainda mais na magia do dragão, até quando não sabia mais onde terminava a criatura milerar, e começava Lorilae.
Meu corpo sabia o que fazer quando a resistencia do vento se tornou insuportável, e o ar rarefeito. Peguei emprestado a magia draconica de Modesh, os conhecimentos de como usá-la e uma camada fina de magia do ar me cercou, protegendo-me dos problemas do voo.
Deitei meu tronco sobre Modesh, dando mais aerodinamica para a posição de voo. O dragão dourado deu mais uma batida de asas poderosa, e então estendeu-as, planando, enquanto desviava de uma ou duas núvens mais espessas e escuras.
Com as amarras firmemente presas a minhas pernas e tronco, soltei meu braços para envoolverem parcialmente a parte dianteira das costas de Modesh.
O calor do Dragão envolveu meu corpo, e ele mergulhou, me tirando um grito de surpresa e animação.
Modesh deu duas piruetas antes de voltar para a posição normal, e sem as núvens para atrapalhar, pude ver a paisagem abaixo de nós.
Colinas verdes e uma ruina de o que tinha sido um dia um castelo, nem de longe tão grande quanto o da capital de Rubi, mas era feito de uma pedra tão preta que parecia absorver toda a luz. A cor escura era um maravilhoso contraste com a grama verde esmeralda. Modesh se inclinou para a direita, rodeando o castelo, seguindo o leito de um rio que tinha a mesma tragetória.
Arregalei os olhos quando vi o que ele queria e mostrar. O rio chegava a um desfiladeiro exatamente atrás do castelo, e uma linda, perigosa cachoeira se formava.
É lindo aqui.
Antes dos dias de terror, aqui era a casa de uma dos cinco generais humanos. Eu visitei esse lugar quanto era um filhote, com meus pais.
Aqui era a casa de Alintanie?
Eu olhei para a paisagem, quando Modesh começava uma segunda volta pelo castelo escuro. Sem dúvida parecia a casa de alguém como ela. A destemida heroína que conseguiu o que exércitos não tinham conseguido.
Foi aqui que o primeiro dragão foi ligado a um humano. Foi aqui que o Equilíbrio forçou as duas a raças a se juntarem para reestabelecer a ordem entre maldade e bondade.
Qual era o nome do primeiro dragão?
Ralghoasta. Era um dourado. Meu tio. Não deve demorar para conhecê-lo.
Ele ainda está vivo? Perguntei, mas logo minha mente me deu a resposta. O primeiro dragão entrelaçado, o dragão de Alintanie, era agora do reitor da academia de dragões de Rubi.
Não sei como se chama agora. Ele falou por fim, suas asas nos levando novamente para o castelo de Rubi.
Não queria voltar. Confessei. Queria continuar voando pelos cinco reinos, ouvindo todo tipo de histórias, vendo todo tipo de coisa.
O Equilibrio está a momentos de escorregar. Eu era novo demais naquela época mais ainda me lembro de todo o horror, que veio pesado, para homens e dragões. Kareno foi a primeira morte do que irá se tornar massacre e terror, e não importa o quão rápido eu possa voar, ou o quão forte você seja. Ele vai chegar até nós.
Temos que chegar até ele primeiro então.
Os aposentos de Nira conseguiam ser ainda maiores do que os meus. Esse tinha sido o local escolhido por ela para nossa reunião particular.
— É muito bom recebê-la aqui, Lorilae. — Nira falou com um pequeno sorriso no rosto.
Forcei meus lábios a devolverem o sorriso, eu não usaria a falsidade cordial dos políticos que tinha conhecido ou visto naquele dia quase insuportável.
Nira não levava a quantidade de joias que a vi usar mais cedo, mas a folta do brilho dourado não tinha diminuído em nada a beleza estonteante de sua pele escura e olhos amarelados. Ela deu um passo em minha direção, e fez um sinal para que me sentasse em uma das poltronas confortáveis ao redor de uma mesa de centro escura.
Eu dei um longo suspiro e me sentei em uma poltrona diferente da que ela tinha indicado e mais perto de onde eu estava parada. Nira riu baixinho e sentou-se.
— Deve estar se perguntando por que a chamei aqui. — Ela começou.
— Na verdade não. — Me apressei a responder. — Sei exatamente porque me chamou aqui.
Ela iria cobrar os favores de mais cedo.
Vi o queixo de Nira se levantar levemente, sua postura despreocupada se tornou mais imponente.
— Ursa me contou sobre o que aconteceu na fronteira. — Nira falou finalmente. — Você parece ser bem habilidosa, você e seu dragão. O reino de rubi agora tem dois dos três últimos dragões dourados, ninguém pode negar que foi uma jogada incrível da rainha te nomear como herdeira, principalmente em tempos como esse, onde os reinos estão fazendo de todo para demostrar poder logo antes de uma guerra.
Pelo visto, achar o assassino não era o único motivo de eu estar aqui. A sensação de estar sendo usada me fez remexer no assento, mas mesmo sabendo disso, meu objetivo era o livro, o diário de Alintanie.
— Todos sabem que a sua história é duvidosa, de acordo com a rainha é filha de uma camponesa de rubi, que fugiu com seu marido criminoso para as terras sem lei. E você viveu lá desde então. — Ela continuou. — Se tiverem o trabalho de investigar, vão saber que isso não é toda a verdade, vão saber de sua aventura em madeira, do assassinato do filho de um comerciante rico, uma jovem que fingia ser homem montada em um dragão dourado entrando pelas portas da frente da grande acadamia de dragões da madeira, não é um passado fácil de se esconder.
Eu sorri. Ela não tinha ideia nem de metade do meu passado.
— Mas nada disso importa. — Ela falou antes que pudesse dizer qualquer coisa, me pegando de surpresa. — Nada disso importa nem para eles, nem para a rainha, nem para mim. Um crime cometido na madeira não é punivel pelas leis de Rubi, e ninguém pode negar suas habilidades, ou seus méritos.
— Diga logo o que quer. — Interrompi. — Toda essa introdução está me deixando com sono.
Nira riu, e retirou as costas do encosto da poltrona em que estava sentada.
— Quero uma aliada. Tanto no conselho, quanto perante aos herdeiros.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top