• Prólogo •
Madher Garden não tinha orgulho de muitas coisas que tinha feito na vida, mas sabia que o quê estava prestes a fazer agora, com certeza reforçaria seu lugar no pior lugar para onde alguém poderia ir. E ele se odiaria por um milênio a mais, ou enquanto sua consciência vivesse.
O homem olhava para a porta, ansioso. Olhou seu relógio e murmurou baixinho. A mulher estava atrasada, como nunca, para variar. Parado no meio da rua, tarde da madrugada, no frio e no sereno. Suspirou mais uma vez, e mesmo tentando evitar não conseguiu.
Olhou para o cesto que carregava e se surpreendeu ao ver que aqueles olhos o olhavam de volta. Seus olhos pareciam duas pedras cristalinas de um profundo preto cortês, apreciando-o como um bebê vê o mundo pela primeira vez.
Ela sorriu.
O homem balançou a cabeça desnorteado.
Como alguém poderia fazer mal a um ser tão pequenino e indefeso como este?
- Você ficará bem pequena.
Repetia isso pela milionésima vez na intenção de ele mesmo acreditar. Seu peito estava apertado, seu coração completamente dolorido com o quê estava por vir. Infelizmente, não tinha opção. Soltou um ar de dor e apertou os olhos reprimindo algumas lágrimas.
Viu, ao longe, uma silhueta feminina se aproximando em passos determinados. O sentimento de aperto voltou mais rápido do que poderia imaginar, e ele voltou a olhar para a criança que ainda o encarava.
- Eu a deixei em um lugar seguro. - Ela disse. Os cabelos que antes eram longos e gloriosos, agora estavam curtos e picotados. As bochechas vermelha, o nariz mais ainda.
Havia chorado. Era inegável. A outra criança já tinha sido deixada, mas ele continuava segurando a outra em seus braços. Apertando ela contra seu peito, como se deixá-la fosse doloroso e ácido.
- Ela vai entender que só estamos fazendo isso pelo bem dela? - Perguntou Madher.
- Ela não tem escolha, Madher. - Bella tomou a frente, e passou por ele. Madher não queria, porém não tinha escolha alguma.
Seguiu-a. Juntos atravessaram a rua, subiram algumas poucas escadinhas da varanda e pararam agora de frente para a porta. Madher era o guerreiro mais forte que Bella havia conhecido na vida, mas estava vulnerável, pela primeira vez. Ele esfregou os olhos enquanto observava a garota com aqueles olhinhos brilhando.
Tão pura.
Tão inocente.
- O quanto você se apegou a ela? - Perguntou Bella, enquanto observava Madher hesitar em deixar o cesto com a garota dentro.
- Eu não sei. - Respondeu ele, sem olha-la. - Muito.
- Eu sinto muito, mas agora é tarde. Temos que ir. O trovão colocou o nosso mundo para dormir e vai acordá-lo em breve.
- Não consigo...
- Eu também precisei deixá-la, Madher. O nosso bebê precisa ter uma vida comum. Estamos fazendo isso para que a criança tenha uma vida de verdade.
Surpreendentemente, Bella se apressou em ir até ele. Tomou o cesto de suas mãos que suavam e tremiam. Ela deixou-o na porta, e depois se virou pra Madher novamente.
- Eu quero protegê-la e não me importo com mais nada. Seu apego e seu amor vai matar a nós três essa noite, se você não puder superar. - O homem chorou deixando as lágrimas virem a tona, e Bella apenas o olhou com pena. - Não me decepcione.
Ele não ia.
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