Capítulo II
• capítulo 2 •
NORTE, WEN- MAR
BEM MAIS QUE UM ARCO
•e l i u s c l a r k•
Mal pisquei durante a noite. Provavelmente todo o reino mal piscou essa noite. A Herdeira estava de volta ao nosso mundo. Os trovões que pintaram o céu na noite que se fechou, abriu os nossos olhos para o que teríamos que enfrentar em um futuro, talvez muito perto.
Quando eu era pequeno, eu gostava de tudo no meu Reino. O verde era verdadeiramente verde, o azul queimava até os olhos de tão fortes. Os animais corriam soltos e eram amados, como a nós mesmos. A criança podia ser criança, o adulto cuidava da sua família e as pessoas só se preocupavam em amar e trabalhar para manter sua família amada aquecida durante o inverno.
Isso era Wen-mar.
Mas após a partida da Herdeira a 18 anos atrás, caímos em um abismo de desilusão. E o Reino perdeu a atual princesa e a futura Herdeira de uma única vez. Mas agora uma delas voltou. E os trovões foram sua passagem de volta.
E eu sabia que isso apenas significava uma coisa para mim.
- Eu não sou um robozinho do governo. - Quase gritei e recebi um menear em negativa da parte de Kara.
Gritar com os anciões não era uma coisa que eu gostaria de fazer. Mas eles insistiam nas regras antiquadas do passado que me proibia de ser e estar quem e onde eu quisesse. E agora, pediam minha ajuda.
- Elius, você precisa trazê-la até nós. - Kara era a líder da curanderia e isso dava a ela um lugar na bancada dos líderes, apesar de não ser tão velha quanto os demais naquela bancada.
E ao seu lado estava Dashiel. A qualquer momento eu acreditava que Dashiel morreria com a próxima doença que atacasse a vila. Mas não. O homem, agora já na fase final da sua vida, aos 90 anos estava forte. Não forte para correr e lutar, mas forte como alguém que sabia dar ordens e impor poder com elas. E assim como eu não gostava dele, o nosso santo da afinidade tirou férias desde muito novo.
- Você ouviu os trovões na noite passada, Elius Clark. - Dashiel faltou cuspir em mim. - A Herdeira chegou. Ela está em Wen-man. E se ela ficar tempo demais naquele Castelo, será corrompida. E então não haverá chance para nós. Wen-man vai cair e nós vamos nos afundar junto com seus escombros.
- É o que diz a si mesmo todos os dias para se convencer de que pode mudar esse fato? - O silêncio. Kara não podia me repreender na frente da bancada, ou seria considerada a defensora de alguém que vivia atrás das leis impostas
- Você recusa a ordem imposta?
- Eu peço que escolha outro guerreiro. Eu não tenho planos de ir as terras do Castelo.
- Você é nosso melhor guerreiro.
- E confiamos em você. - Atael, outro conselheiro confessou.
Dos quatro que ali estavam, Atael era o único que não gostava de mandar homens lá para fora. Por mais que fosse heróico e honroso morrer em noma da província EXCLU, ele não gostava de perder homens. Atael era o treinador oficial dos jovens que futuramente lutariam em nosso nome. E ele comandava as forças armadas da nossa civilização.
- Preciso ir agora. - Olhei para os quatro, não me importei por nada dito anteriormente. - Tenho uma missão dentro da vila. Falamos sobre essa missão mais tarde.
Alma, a mais jovem de todos ali, me olhou com escárnio e balançou a cabeça em negativa. A garota era uma visão do paraíso, que após ser conhecida, conseguia levar ao inferno. Cada fio vermelho naquela cabeça traçava um caminho diferente para o inferno de dor e sofrimento que essa mulher causava aos inimigos. Era nossa guerreira mais temida. Mas não tinha permissão para sair do lado de seu pai, Dashiel. E como alguém que a conhecia bem, podia ver que todos os dias isso a matava um pouco.
- Essa missão é a mais importante de todas, Elius.
- Mas também não é a única, Alma.
Eles não me impediram de sair. E eu fui, certo de que não haveria fuga para o quê estavam me pedindo. Uma hora ou outra eu teria que voltar para lá, e esse momento já estava próximo de mim, não importasse o quanto eu tentasse mentir para mim mesmo.
❦
Eu o vi na mata, bebendo água na beira daquele riacho, quase escondido pela selva brutal e sombria. Mas aquele veado não parecia nem um pouco assustado, ele só matava sua sede tranquilo e quieto.
E eu o observei.
Coloquei a flecha no arco, mentalizando o próximo passo e o animal tirou os olhos da água. Sinal algum. Mal me movi. Apenas esperei, e lá foi ele novamente com toda sua tranquilidade. Todo cuidado era pouco, eu não queria espantar aquele que sabia ser minha próxima refeição. A vida abandonando seu corpo, serviria de mártir para o meu supetão.
A missão tinha durado apenas 2 horas. Tohr, o filho Dashiel, foi quem me acompanhou. Verificamos todos os pontos de encontro ao redor das colinas mais próximas, para garantir que nenhum soldado da realeza viesse nos visitar. Não gostávamos deles. Nem eles de nós. Não gostávamos de nos encontrar com eles. Já eles, rezavam todos os dias para esbarrar com um de nós.
Confusão e descaso, éramos os dois aos olhos do Reino. Não nos davam de comer, não nos davam de beber. Apenas nos ignoravam e fingiam que éramos pragas que precisavam ser dedetizadas. E agora meu povo me queria num lugar como aquele, onde repudiavam meu sangue.
- Elius? - Ah, maldito! Disparei a flecha que afundou próximo ao meu jantar, e ele disparou para longe. Parabéns. Obrigada, Kara.
Essa é minha mãe.
- Elius, não me ouviu chamá-lo? - Questionou ao se aproximar da árvore onde eu estava escondido.
- Eu estava caçando. Você espantou o meu jantar.
- Desculpe.
- Veio apelar para o lado mãe do seu trabalho? - Andei até me aproximar dela e abaixei retirando minha flecha do chão, o que fez minha mãe revirar os olhos. - O que é?
- Eu sinto muito que eles não tenham te dado uma escolha.
- Você sabe que eu sempre tenho uma escolha. Não sou como os outros. Eu não ligo se tiver que fugir daqui.
- Não, Elius. Esse é o seu lar e aquelas pessoas são a sua família. Não importa o que aconteça nas terras reais. Você é o que você é. - Kara se aproximou e me segurou nos dois lados do rosto. Respirei fundo. Ela vai apelar. - Você precisa ir. Precisamos que a garota venha até nós. E precisamos que seja rápido. E só você pode fazer isso.
- Você sabe que eu farei o que você me pedir como mãe.
- Não posso pedir isso como mãe, Elius. Você sabe.
- Então eu não farei.
- Você fará. E nós dois sabemos que fará, porque se não fizer, aquela garota será o maior problema que enfrentaremos.
Joguei o arco nas costas. Kara era esperta. Ela sabia como entrar na minha cabeça, tocar na ferida e conseguir o que queria.
A Herdeira, nunca a vi, ela não tem um nome. Só sei que ela está aqui aqui porque trovões coloridos surgiram no céu ontem a noite. As escrituras no livro dizem que é exatamente assim que acontece quando alguém entra ou sai do nosso mundo. Só tínhamos visto algo assim a 18 anos atrás. Eu tinha 5 anos e só lembro do quanto chorei assustado. A Princesa Herdeira tinha sido levada embora. E agora, ela retornou. Quem ela se tornou nenhum de nós vai saber até bater de frente com seu pior lado.
- Posso prometer achar sua Princesa. Mas não posso garantir que ela será sua salvadora.
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