Capítulo 8- A Consequência
-1 ANO APÓS O NASCIMENTO DE ANAIK
Nas profundezas de Dankanar, Kanor Xaoha vivia seus dias com uma vontade manipuladora de realizar sua vingança, após descobrir que Nyeho havia tomado o trono de Jaroak. Ele continuava escondendo o segredo de todos de ser o verdadeiro herdeiro.
Em um dos jardins Kanor estava desenhando em uma folha amarelada a paisagem que via. Em sua frente estava um conjunto de rochas que em seu meio havia uma rosa, uma única rosa.
De uma espécime de varanda, Kiari se aproximou.
—Olá garoto dos céus. —Kiari disse sentando ao seu lado.
—Vai mesmo continuar me chamando com esse apelido? Sou de Dankanar tanto quanto vocês, estou aqui a cinco anos, quase seis.
—Eu sei seu tolo! É uma brincadeira. —Kiari riu.
—Você e suas brincadeiras.
—O que está desenhando?
—Essa rosa entre as rochas. Como acha que ela conseguiu nascer ali? —Kanor perguntou apontando para a paisagem.
—Dankanar tem sempre coisas misteriosas, sem reposta.
—E você será rainha disso tudo, como se sente? —Kanor perguntou enquanto parava de desenhar.
—Aflita. Toda minha família governou Dankanar bem, por anos, mas sinto que na minha vez não será como antes. Tenho medo Kanor, muito medo! —Kiari estava com um olhar triste.
—Vai dar tudo certo, tenho certeza! Todos vão amar te ter como rainha.
—Obrigada... que bom que você vai estar aqui para ver isso!
Kanor ficou calado. Aquilo não era o que ele queria, seus planos era sair daquele lugar e tomar seu trono de volta, e ser o líder de Jaroak. Ninguém sabia da existência dele, todos achavam que ele estava morto, por isso sua maior vontade era sair dali. Kanor não sabia por onde começar, visto que nunca na história de Dankanar alguém saiu para a superfície.
—Kanor? —Kiari percebeu sua quietude.
—Sim, será muito bom te ver como rainha. —Kanor disse depois de pensar palavras boas para dizer.
Kiari estava usando um vestido azul claro leve e delicado, em seu cabelo estava os acessórios de ouro que sempre usava para prender algumas mechas, em suas mãos haviam alguns lindos anéis de prata, refletindo na sua personalidade que era dócil, meiga e tímida. Kanor por outro estava mais despejado, usando uma blusa clara larga, uma calça preta feita de pele de um animal místico de Dankanar, e no seu pescoço estava um colar com um pingente de rosa, que ele mesmo fez, semelhante ao que deu para Celine quando tinham apenas quinze anos.
—Como era sua vida antes de vir pra cá? Você nunca fala sobre. —Kiari indagou.
—Prefiro continuar não falando na verdade. É difícil pra mim.
—Ui todo misterioso! —Kiari brincou.
—Só não sou mais do que a princesa perfeitinha. —Kanor disse abrindo um sorriso.
—Perfeitinha? Cala a boca garoto.
—Tente calar!
—Idiota. —Kiari riu.
—Prefiro ser idiota do que perfeitinha.
—Vê se cresce Kanor! —Ela disse rindo.
—Não sou grande o suficiente pra você princesa? —Ele exibiu seu cabelo.
—Não é maduro suficiente! Você vai fazer vinte e um anos com mente de uma criança!
—Você gosta do meu jeito, confessa!
—Não irei admitir nada!
—Covarde! —Kanor sorriu.
—Uma covarde que será rainha daqui a alguns anos, e você?
—Aí você jogou baixo.
Os dois riram e se encararam. Kiari desviou o olhar e deitou a cabeça no ombro direito de Kanor.
—Como é lá em cima? As montanhas, os animais, as árvores, as pessoas? —Kiari fechou os olhos e se confortou.
—Você iria se assustar se visse. As pessoas são todas diferentes umas das outras, não é como aqui todos de cabelos brancos, isso que é a riqueza da superfície. As cidades são enormes, as cachoeiras são lindas de apreciar, e o céu... sinto saudade do céu, das nuvens e das estrelas.
—Estrelas?
—Sim, são... como posso explicar. Luzes, pontos de luzes no céu, quando anoitece elas aparecem e iluminam até as mais escuras florestas.
—Uau, parece ser lindo, queria poder ver. —Kiari abriu os olhos e levantou a cabeça. —Mas também gosto daqui, das belezas das montanhas de gelo, das árvores brancas. E você, gosta?
—Gosto! Demorei um tempo para acostumar, é tudo tão diferente, tão único, todos da superfície deviam ter a oportunidade de ver esse lugar.
—E todos de Dankanar deviam ter a oportunidade de ver a superfície!
—Concordo plenamente. —Kanor disse arrastado.
—Claro que concorda, você concorda com tudo que eu falo! —Kiari deu uma leve risada.
—Além de perfeitinha é convencida, coitado do povo que irá te ter como comandante! —Kanor ironizou.
—Idiota!
Ele olhou profundamente nos olhos de Kiari e sentiu uma paz. Por um momento ele esqueceu todas as ideias de sair dali, pois sair dali custaria perder Kiari. Ele sentia algo por ela, isso era inevitável, mas não sabia como sentir. A seis anos, todos os dias, ele olhava nos olhos dela e ficava calado, se tornou um costume para ele. Kanor sempre achou que sua vida estaria ligada à vingança e ao dever de recuperar o trono de Jaroak que lhe pertencia. Então, ele não esperava sentir aquilo por alguém, aquele conforto. Mas tudo mudou quando ele conheceu Kiari.
Kanor havia feito dezenas de desenhos de Kiari, de seu olhar, de seu cabelo, de seu corpo, e de tudo que o encantava nela.
Do bolso Kanor tirou um pedaço de folha amarelada.
—Tenho algo para você. —Kanor disse desviando o olhar fixo.
Assim como presenteou Celine, agora presenteava Kiari com um desenho. Com aquilo se repetindo ele se deu conta que estava sentindo o mesmo que sentiu com Celine.
—Uau, eu... Kanor isso está perfeito! —Kiari se encantou com o desenho que via.
—Que bom que gostou, desenhei isto em um dos seus discursos clássicos para o povo.
Kanor estava com seus vinte anos de idade e pela primeira vez sentiu aquilo, ele não sabia o que, mas quando olhou nos olhos dela segurando seu desenho ficou sem fôlego, como se não estivesse vivo, apenas sentindo aquilo, aquele conforto.
—Está incrível, eu simplesmente amei! —Kiari segurou uma das mãos de Kanor e olhou em seus olhos. —Eu amei!
A paz voltou, o conforto veio novamente. Kanor ficou alguns segundos a encarando, como toda vez que se sentia bem.
—Você é linda... você é linda princesa. —Kanor disse com uma voz calma e baixa.
Kiari sorriu e aproximou seu rosto ao de Kanor.
—HORA DE TREINAR! —Namôra gritou entrando no jardim.
—Namôra? —Kiari se assustou e afastou de Kanor.
—Olá pombinhos, chega de sexo!
—Namôra! —Kiari a reprimiu.
—A qual é todo dia essa melação. Kanor hora de treinar, você não vai saber matar ninguém ficando parado desenhando, anda! —Namôra disse.
—Mas eu já treinei hoje. —Kanor disse quase nervoso.
—E o que eu tenho a ver com isso? Bora!
—Chata! —Kanor implicou.
—Fraco! —Namôra rebateu.
Kanor levantou, se despediu de Kiari, e começou a seguir Namôra.
—Interrompi algo? —Namôra disse rindo muito.
—Eu te odeio! —Kanor disse se entregando as risadas.
—Eu te odeio mais!
Eles caminharam por alguns minutos até chegar ao campo de batalha para treinar, quando chegou os dois se armaram com uma espada.
—Quero ver se vai ser melhor do que hoje mais cedo. —Namôra disse fazendo uma posição de ataque.
—Seu cabelo cresceu, acho melhor eu cortar ele! —Kanor brincou.
—Tenta otário!
Os dois começaram o duelo, batendo as espadas umas nas outras enquanto desviavam e andavam em círculos. Quando Namôra se distraiu, ele a puxou por trás e com a espada cortou parte do cabelo dela.
—KANOR!
—Eu disse que estava grande.
—Eu vou te matar, eu não acredito.
—Acho que eu venci né? Só acho.
—E eu acho que você é um filho da puta! Só acho.
—Ah qual é ficou bonito, você combina mais com cabelo curto.
—E você com uma faca cortando seu pescoço.
—Que delicadeza nas suas falas princesa de Dankanar.
—Já falei pra não me chamar de princesa.
Kanor soltou a espada e a encarou.
—Falando sobre isso, podemos parar pra uma conversa? É seria.
—Assim do nada? Tá bom.
Os dois caminharam até uma área de repouso e se sentaram em um banco de pedra.
—Tenho uma coisa para te falar... um segredo. —Kanor afirmou.
—Pois diga.
—Eu não sou qualquer pessoa da superfície Namôra!
—O que quer dizer?
—Eu sou descendente do trono de Jaroak, sou o líder legitimo.
—O que? Não vem com mentira do nada seu otário. —Namôra ironizou não acreditando.
—É sério! Eu juro. Por que mentiria sobre isso?
—Mas como...
—Meu pai é Fintari, o homem que Nyeho assassinou para tomar seu lugar. Lembra aquele prisioneiro que trouxe as informações da superfície a um ano? Desde aquele momento isso não sai da minha cabeça. Eu sou o verdadeiro líder de Jaroak.
—Isso é loucura! Por que não disse antes?
—Tinha medo da reação do seu pai, ele poderia me matar.
—Meu pai ama você, ele te considera filho tanto quanto a mim e a Kiari. Ela sabe?
—Não, só você.
—Porra Kanor, e agora?
—Eu... escute bem, eu preciso sair de Dankanar.
Namôra rapidamente se levantou e começou a andar de um lado para o outro, nervosa e ansiosa.
—Você, você ficou maluco?
—Namôra, eu preciso...
—Não! Não Kanor, você não pode sair daqui, nunca ninguém saiu, nunca!
—É o meu destino. Eu tentei tirar minha vida quando caí aqui, era pra estar morto, mas graças a essa cidade eu sobrevivi, mas não pertenço a esse lugar. Eu tenho que fazer isso, eu preciso, é meu povo lá em cima, eu tenho que os liderar, está acontecendo uma guerra Namôra, meu povo corre perigo.
—Seu povo está sendo liderado por esse tal de Nyeho.
—Um falso líder, ele tomou a linhagem que é seguida a milênios. Eu sou Kanor Xaoha, meus antepassados eram os primeiros homens do continente. Por favor você precisa entender!
—Eu? Eu posso até te entender, mas do que vai adiantar? Vivemos aprisionados aqui por um motivo Kanor, segurança. Se uma guerra está acontecendo lá em cima, ela pode ser direcionada para Dankanar, meu pai não vai permitir isso.
—Por isso estou pedindo sua ajuda, converse com ele.
—Kanor, caralho! Não é assim que funciona. Existem mais lideres aqui, todos eles opinam pelas atitudes do rei.
—Mas você é a filha dele, uma das princesas, por favor considere todo laço de amizade que construímos! —Ele se levantou e segurou as mãos dela. —Desde aquele dia eu não vivo mais Namôra, sou um fantasma. Tudo que passa pela minha mente é me vingar de Nyeho, eu cresci com ele, eu confiei minha vida a ele. Minha mãe foi assassinada, por alguém que ainda não sei. Não consigo viver o resto da minha vida aqui, eu só quero justiça, eu preciso de justiça!
Nyesa-Norteya
Celine Ascarian completava o quinto ano aprisionada em Nyesa por Damon Kulenov. A uma semana ela completou vinte anos de idade, e não podia ser mais triste e mórbido. Como de costume, ninguém se importou com seu dia e com a comemoração.
Celine estava sentindo um misto de tristeza e agonia. O desaparecimento de sua amiga Kiana havia acontecido há cinco anos e ela ainda não tinha notícias dela. Agora, ela estava ainda mais triste porque só pensava em proteger seu filho Anaik, que tinha apenas um ano. Ela não queria que seu filho crescesse em um ambiente tão negativo e perigoso quanto o castelo de Nyesa.
Todos os dias ela pensava no que fazer, o que seria mais correto. Ela queria sair dali, ela precisava sair.
Acordando de uma noite conturbada ela começou a tratar de seus ferimentos causados por Damon. A alguns dias ele voltou a abusar, e dessa vez Celine sentia mais dor, mais angústia, pois seu filho permanecia no mesmo quarto enquanto Damon fazia coisas horríveis.
Ela andou em direção a um berço de madeira e pegou Anaik no colo.
—Bom dia meu amor! —Ela disse o acariciando.
Ela o acomodou em seu colo e sentiu um aperto no coração. Já era hora de agir, ela precisava sair daquele lugar. Agora, ela tinha um propósito, um filho para proteger, e tudo que vinha em sua cabeça era apenas o seu bem.
No anoitecer depois de uma semana, Celine reuniu coragem e determinação para colocar em prática seu plano de fuga.
Ela começou seu plano, procurando por armas e outros itens que pudessem ser úteis na sua fuga. Ela não queria ser descoberta, então se moveu silenciosamente pelo castelo. Celine também começou a se informar sobre as rotinas dos guardas e como eles patrulhavam o castelo, enquanto desviava olhares de Alitranna.
Com a informação coletada, ela decidiu aproveitar uma brecha na patrulha dos guardas para escapar. Ela conseguiu pegar um dos cavalos de corrida de Damon, que ela sabia ser muito rápido, e fugiu com Anaik para um bosque.
A fuga não foi fácil, pois Damon e seus homens logo descobriram e começaram a perseguir Celine. Ela tinha que manter o cavalo correndo e ao mesmo tempo proteger Anaik.
Quando chegou perto a uma cachoeira, ela desceu do cavalo, o amarrou a uma árvore, e se acomodou em uma caverna entre montanhas.
Celine descansou, quando não podia descansar. Celine dormiu, quando não podia dormir. Celine jogou fora seu plano, quando o mesmo era sua única chance de escapar.
Durante a madrugada Damon e parte de seus soldados encontraram o cavalo amarrado, e não demorou muito para identificar Celine e Anaik dentro da caverna. Pessoas que viram Celine na viagem falaram para Damon o seu caminho, e não foi difícil a encontrar.
—Pega ela. —Damon ordenou.
Dois soldados entraram na caverna, tiraram Anaik dos braços de Celine e a puxou, imobilizando-a.
—No que você estava pensando? —Damon disse grosseiramente, logo após foi ignorado por Celine. —ME RESPONDA!
Ela permaneceu calada.
—Sua puta, você pertence a mim. Achou mesmo que conseguiria escapar? Isso terá consequências Celine, muitas consequências!
Ele ordenou que os carregassem de volta ao castelo, e assim foi feito.
Quando Celine cruzou o portão do castelo ela começou a chorar. Lágrimas de dor e cansaço escorreram seu rosto, enquanto ela tentava se largar das mãos dos soldados. Ela só queria liberdade, proteção para seu filho, e o amor fraterno de alguém.
No anoitecer do dia seguinte Damon convocou o seu soldado mais fiel para o calabouço, Kevin Hamisen. Kevin era um soldado fiel e servente aos Kulenov desde que nasceu. Sua linhagem era famosa por sempre estar ao lado dos Kulenov, mesmo quando não concordavam com suas atitudes. Os Hamisen por assim dizer, vivem nas costas de seus mestres e os servem até morrerem. Sua idade era de juventude, Kevin tinha vinte e cinco anos. Sua aparência era intimidadora, ele possuía um porte magro mas musculoso, olhos verdes claro, e seu cabelo sempre estava raspado. Quando recebeu a ordem ele foi até o calabouço.
Quando Kevin chegou, se deparou com Celine amarrada a uma cadeira. Ela estava sangrando em várias partes do corpo, sua boca estava amarrada e tampada com um lenço, e quase estava nua.
O calabouço estava vazio. Era todo coberto por rochas e madeiras firmes. Seu nível era abaixo do castelo, metros que acompanhavam uma longa escada. De um lado estava Celine e no outro havia uma caixa média de madeira.
Descendo as escadas logo atrás, Damon apareceu.
—Vá até aquela caixa, abra, e traga o que tem dentro para mim.
Kevin estava assustado. Suas pernas tremeram enquanto caminhava até a caixa. Quando ele abriu, revelou-se Anaik, o filho de Celine, um bebê. Kevin o tirou da caixa enquanto o mesmo chorava com agonia.
Celine quando o viu começou a tremer na cadeira sem parar, sem se importar em se machucar.
—Eu disse que haveria consequências, não disse querida? Somos casados devíamos confiar um no outro. Por que escapou? Por que tentou fugir de mim? —Damon tomou Anaik de Kevin. —Eu te amo tanto, faço tudo por você, e é assim que me agradece? NO QUE ESTAVA PENSANDO! —Damon gritou com raiva.
De um bolso ele tirou uma faca e a pontou para o bebê.
—Isso será culpa sua. Isso será a consequência.
Sem sentimento algum, sem remorso algum, Damon introduziu a faca no peito de Anaik. Os gritos do bebê foram os sons mais aterrorizantes que Celine havia escutado.
—OLHE! OLHE PARA ELE!
Ela estava em descontrole. Mesmo com um lenço em sua boca, era possível escutar os altos gritos de Celine, gritos de dor e sofrimento, de tristeza e arrependimento. Fazendo a cadeira se movimentar muito, ela tentava o impedir, mas era impossível. Seu filho, seu próprio filho estava sendo morto brutalmente em sua frente.
—ISSO É CULPA SUA!
Damon o jogou no chão e cuspiu em seu corpo, enquanto o inocente bebê sangrava até a morte.
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