Capítulo 4- A Batalha de Nyesa

Nos montes mais altos de Xaoha, homens arriscavam suas vidas para proteger o trono de Nyesa de um rebelde. Nove vilas haviam sido queimadas e destruídas a cinzas, famílias foram obrigadas a sair de suas cidades e se esconder no reino principal de Nyesa. Damon Kulenov marchava todos os dias em direção ao reino do trono com a intenção de o tomar.

Notícias chegavam por toda a parte e várias teorias se espalhavam de como Damon conseguia dominar as cidades tão rápido.

Passando pelas aberturas dos montes eles chegaram aos campos verdes de Nyesa, atravessando a grande cachoeira Hitorya, uma bela vista que dividia Ascarian de Nyesa. Do outro lado da cachoeira havia a primeira cidade, mas ela estava totalmente destruída restando cinzas e destroços.

Depois de cinco dias chegaram até a cidade principal de Nyesa, e lá se acomodaram.

Na biblioteca do castelo da realeza, o rei Logan se reuniu com o comandante de Nyesa chamado Gordon, e com os membros do conselho.

—Ele já dominou nove cidades e nesse exato momento está marchando para dominar a décima. —Gordon afirmou.

—Como ele está dominando tão rápido? Logan indagou.

—Acreditamos que ele tem o controle de um...

—De um o que?

—De um dragão!

—Mas o que?

—Sobreviventes que fugiram das cidades afirmam que ele está montado a um dragão, meu rei.

—Como isso é possível, dragões não existem a séculos aqui em Nyesa.

—Boatos dizem que a família Kulenov herdava um ovo de dragão por toda sua linhagem, que o dragão nasceu quando estava na posse do pai de Damon, e agora ele tem posse.

—E o que aconteceu com o pai dele?

—Ele cometeu um crime senhor, foi detido, e condenado a morte.

—Por isso ele se rebelou?

—Acreditamos que sim. Damon fazia parte da realeza por ter se casado com a princesa, mas depois que condenamos seu pai, ele a assassinou e se rebelou.

—Qual a idade do garoto?

—Dezoito anos.

—É uma criança querendo brincar de ter poder, e vocês ainda não conseguiram o deter? —Logan gritou.

—Desculpe, meu rei.

—Trouxe um exército que irá ajudar, e a minha presença irá o influenciar a parar. —Logan suspirou. —Você é um líder Gordon, te escolhi por um motivo, lidere!

—Sim, meu rei!

Do outro lado da porta a princesa Celine escutava toda a conversa, assustada e com medo do que estava por vir. Qual o propósito da vinda dela até essa batalha? Ela se perguntava enquanto saía dali.

No amanhecer do outro dia as tropas de Ascarian juntamente com as de Nyesa saíram em viagem para o próximo alvo de Damon, a décima cidade depois da cachoeira Hitorya. A cidade já estava vazia, resultado da evacuação imediata. Quando chegaram se estabeleceram na frente da cidade e se dividiram em tropas, organizando um campo de batalha.

Todos se encontravam no centro de um cercado de montanhas, caracterizado por um campo plano sem árvores e um grande lago.

De um minuto para o outro os soldados avistaram centenas de homens descendo as montanhas a cavalo.

Nos céus aves começaram a voar em direção ao norte, fugindo de uma ameaça vindo das montanhas. Sobrevoando as nuvens um dragão vermelho desceu dos céus, e de sua boca um jato de fogo começou a queimar parte das tropas de Ascarian. Em seu corpo Damon Kulenov assistia de cima um massacre, enquanto controlava uma fera abominável e sanguinária.

Homens que juraram lutar para o reino corriam em direção ao lago para tentar amenizar a dor das queimaduras. Os melhores arqueiros de Nyesa atiravam suas flechas na retaguarda em direção ao dragão, mas nenhuma flecha o impedia de continuar queimando pessoas vivas.

No centro das tropas Logan Ascarian, o rei de Norteya, se encontrava assustado, seus braços tremiam fazendo a espada que segurava quase cair ao chão.

—RECUAR! —O rei gritou e em seguida repetiu incansavelmente.

Em questão de segundos, dezenas de soldados foram mortos perdendo a luta para o exército inimigo. Cercados e abatidos por trás os arqueiros foram facilmente detidos e assassinados.

De cima o dragão desceu rapidamente ao chão em um voo direto, quando aterrissou Damon desceu e apunhalou sua espada em um soldado.

—Desistam, se rendam! Entreguem o trono de Nyesa para mim, e a vida de mais pessoas serão salvas! —Damon gritou, logo após tirou a espada e a lambeu, passando sangue em sua língua.

As tropas de Nyesa e Ascarian começaram a recuar e abandonar a luta, deixando cadáveres queimados para trás. Pela ordem do rei todos voltaram para a cidade principal de Nyesa, aceitando a derrota.

No outro dia, se reuniram novamente na biblioteca com o conselho e os principais líderes da realeza e da guarda real, sentados a uma grande mesa de madeira bruta.

—Perdemos, nós perdemos! —O rei afirmou.

—Não podemos o deter, ele tem um dragão e um exército que está crescendo cada vez mais com pessoas se rebelando e se juntando a ele. —Gordon disse firmemente. —Daqui a uma ou duas semanas o exército dele será maior que o nosso!

—Um exército de rebeldes comandado por um jovem de dezoito anos, essas coisas só poderiam acontecer no meu reinado. —Logan suspirou e levantou. —Que crime o pai dele cometeu afinal?

—O mesmo que o dele meu rei, traição ao trono! Ele afirmou ser o herdeiro do trono de Nyesa por direito. —Um dos membros do conselho disse.

—E isso é verdade?

—Em parte sim..., a um século atrás o trono de Nyesa foi tomado da família Kulenov, pelo motivo de terem reinado com crueldade, cometendo atrocidades por conta do poder. Os Kulenov sempre governaram Nyesa até esse golpe.

—Então ele só quer de volta algo que foi tirado da família.

—Sim, mas o trono foi reestabelecido pela família de Gordon, e atualmente eles possuem o direito do trono. —O líder da guarda real de Nyesa afirmou. —Isso não justifica a rebeldia dele, meu rei.

—Eu sei que não, eu só esperava por um motivo menos conveniente para ele. —O rei disse enquanto andava circulando a mesa. —Por isso a causa dele está recrutando tantos rebeldes, pela crença de que eles são as vítimas e os injustiçados. Eu conhecia a história dos Kulenov, mas não sabia que o trono foi tomado deles.

—Foi tomado com urgência e com grandíssima importância, meu rei. Me desculpe, mas apenas nós de Nyesa sabemos o quanto nosso povo sofreu nos reinados dos Kulenov. —O líder disse.

—E não deixo de acreditar. Imagino que deram uma ocupação de nobreza para Damon para reconciliar o passado, e agora estão sofrendo as consequências. Já mandei um mensageiro para a capital, em alguns dias chegarão mais tropas. Venceremos essa batalha! Os Kulenov não voltarão a reinar Nyesa! —O rei Logan disse em um tom elevado, e em seguida os que estavam na sala estenderam suas espadas e gritaram.

Na semana seguinte eles marcharam para outra batalha. Dessa vez nos montes íngremes ao oeste da cidade principal. De um lado dos montes havia uma cidade e do outro havia uma pequena vila. Ambas as cidades estavam com suas casas cheias de habitantes. As pessoas se trancaram em suas casas e fecharam as janelas ao verem os exércitos passarem. Em uma área afastada eles fizeram um acampamento.

Dentro de uma cabana o rei se reuniu com os demais.

—Preparamos lanças para atacar o dragão, e iremos usá-las com sabedoria. Quando ele estiver em repouso ou quando Damon estiver fragilizado, atacaremos com tudo que temos..., para isso precisamos fragilizar o Kulenov primeiro. Quero o triplo de arqueiros da batalha passada, e quero todos em posição estratégica.  —O rei disse.

—Eles estão se estabelecendo no topo dos montes meu rei, acreditamos que com a altura eles terão uma abertura maior.  —Gordon afirmou.

—Vocês são burros? Han? A porra do garoto tem um dragão que cospe fogo nas mãos dele, dragão qual voa tão alto quanto os montes, e você quer que os arqueiros fiquem no topo deles? Sem nenhuma defesa?

—Iremos mudar a posição deles senhor.

—O que eu te disse Gordon? Você é um líder, lidere!

—Sim senhor.

—Agora mande as tropas entrarem em posição.  —Logan apontou para a cidade.  —E lembrem- se todos aqueles que estão em suas casas presos, são inocentes, eles são a principal proteção! Estejam ligados, e por favor..., que não percamos mais uma batalha.

—Sim senhor.  —Todos na cabana repetiram.

Ao anoitecer o exército de Damon Kulenov começou a vir do sul. Dessa vez ele estava junto com as tropas, montado em um cavalo.

—Lembrem-se, não matem o rei!  —Damon gritou para seu exército  —Agora, vamos matar alguns idiotas!

Logo após eles começaram a correr em direção as tropas de Ascarian e Nyesa. A noite chegou junto a batalha, e assim começou mais uma chacina de soldados de ambos os lados.

Das laterais os arqueiros de Nyesa tomaram posse da sequência de assassinatos. Passados trinta minutos, o céu não parecia ter a presença de um dragão, e a batalha terrestre parecia estar ganha. Sem fogo, as tropas aliadas conseguiram ter mais vantagem na luta, e em uma hora já tinham detido centenas do exército de Damon.

Quando tudo parecia estar ganho, um segundo exército surgiu pelo lado contrário, pelas cidades. Descendo os montes, mais homens gritavam e corriam para a batalha, dessa vez em direção as cidades. Sem proteção eles atacaram e mataram todos os habitantes, botando fogo em suas casas e em seus corpos. Quando as cidades foram dominadas o exército seguiu, cercando as tropas aliadas. Agora de um lado estava uma luta e do outro lado outra luta se aproximava.

Um cerco muito bem aplicado, começou a virar o jogo e a vencer a batalha.

Com um grito grave o rei suplicou: "Recuar". E assim mais uma batalha foi perdida. Sem o dragão, Damon conseguiu dominar mais duas cidades, e agora seguia sua conquista cada vez mais.

Dias se passaram e em um dos quartos do castelo, Celine Ascarian passava o tempo escrevendo histórias em uma pequena caderneta de capa de couro, que ganhou de presente de aniversário de sua mãe. A história que ela estava a escrever contava sobre o reinado de uma rainha, que não só comandava Norteya, mas sim toda Xaoha. Celine se via nessa história e escrevia na esperança de um dia poder ser a vez dela. Depois de algumas horas seu passatempo foi interrompido por batidas na porta.

—Olá princesa. —Um homem baixo e barbudo disse do lado de fora.

—Entre antes que alguém te veja. —Celine o puxou para dentro e fechou a porta.

O homem era um mensageiro contratado por Celine, que estava coletando informações da capital enquanto ela estava em Nyesa.

—Como está a capital? —Celine disse acelerado.

—Diria que normal princesa, estão lamentando a ausência do rei a dias.

—Imagino, não sei até quando vamos ficar aqui.

—Boatos estão correndo por toda Ascarian.

—Boatos de que?

—Dessa tal batalha que está acontecendo aqui. Estão apostando na vitória de Damon.

—Se ele realmente tem controle desse dragão que dizem, até eu apostaria.

—Estão comentando muito do seu ato também, da morte da anciã de Jaroak.

—Não queria que fosse assim. —Celine suspirou e sentou na cama.

—Tenho uma má notícia.

—Pois diga logo. —Celine disse atropelando as palavras.

—Sua amiga, Kiana Mormont..., ela está desaparecida.

—O quê?

—Depois que partiram ela não foi mais vista no castelo real e nem nos principais comércios. Ninguém do conselho ou membros do castelo a avistou nos últimos dias.

—Não... não. —Celine começou a tremer e andar para todos os lados do quarto.

—Ela pode apenas ter feito uma viagem princesa.

—Ela teria me avisado, eu saberia de alguma forma. Alguma coisa aconteceu, eu tenho certeza.

—Ela pode ter aparecido no intervalo que esteve na viagem para Nyesa.

—Pode ser que sim, pode ser que não. Preciso voltar à Ascarian.

—O rei irá permitir?

—Ele está me mantendo aqui para concluir esse castigo besta, mas já estive aqui aprisionada por tempo suficiente, irei conversar com meu pai. Não parta até eu saber se vou voltar mesmo, vou precisar da sua companhia na possível viagem...

Um estrondo vindo do andar de baixo interrompeu Celine, fazendo tremer toda a estrutura do castelo. Rapidamente ela desceu as escadas e foi até o salão principal. Lá ela se deparou com soldados em posição de ataque para a grande porta do castelo. No trono de veludo, o líder de Nyesa, Gordon, ordenava os soldados e gritava alertando uma invasão. Pelas janelas, ela avistou um dragão vermelho aterrissado do lado de fora sob estrondos de uma muralha destruída. A grande porta abriu lentamente revelando uma tropa do outro lado e um comandante em sua frente.

—Acabou Gordon.

Com um semblante de dominador, Logan Ascarian, o grande rei, estava do outro lado, junto a Damon e sua tropa.

—O que? Rei? Como...

—Acabou, o trono é de Damon por direito, e será dele por direito.

—Você nos traiu, como pôde, desde quando...

—Desde sempre, antes mesmo da minha chegada aqui. Já sabia de tudo Gordon, Damon se rebelou ao meu comando. O único reino pelo qual não tenho controle, agora estará em minhas mãos com o reinado de Damon Kulenov.

—Logan você não entende o que está fazendo. Nyesa sempre foi de seu controle!

—Rei, eu sou seu rei, e é assim que deve me chamar. Sei sim o que estou fazendo, sempre soube. Eu te dei uma chance Gordon, deixei você lutar pelo seu trono, vim aqui e o apoiei em batalhas perdidas, na esperança de o ver vencer, mas você perdeu. Acabou Gordon, acabou. Te dei uma chance, e você a perdeu. —Logan olhou para trás e fez um sinal para Damon.

Quando ele recebeu a ordem do rei, Damon deu um grito e estendeu sua espada, rapidamente a tropa dele correu em direção a de Gordon, e em segundos todos foram assassinados. Ele subiu até o trono e matou Gordon cortando sua cabeça. Com a cabeça em mãos, ele a fincou em sua espada e a estendeu.

—Nyesa é nossa!

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