Capítulo 2- A Princesa Prometida

Celine Ascarian, a princesa de Norteya, completava seus dez anos de idade. Celine passou seus anos de vida escutando todas as palavras de promessas que seriam compridas em seu nome. A primeira mulher nascida na monarquia de Ascarian, e a primeira futura rainha, ela carregava um grande fardo de ser a mulher mais importante do reino depois de sua mãe.

No salão principal do castelo dos reis de Ascarian, ela brincava com sua amiga Kiana Mormont.

—Você faz dez anos hoje, o que vai pedir para seus pais? —Kiana perguntou guardando um dos brinquedos de palha.

—Quero ir pra a fronteira, e poder falar um palavrão.

—Ir pra fronteira? Sair de Ascarian?

—Meu pai faz várias viagens durante o ano, e nunca me levou em nenhuma.

—Você é a princesa Celine, sua burra! Seu lugar é aqui no reino.

—Se eu sou a princesa eu posso fazer o que eu quiser, e eu quero ir pra fronteira.

—Fronteira? —Disse Logan, pai de Celine e rei de Norteya, entrando no salão.

—Papai! —A garota correu até seu pai e o abraçou. —Sim, quero ir pra fronteira como presente de aniversário.

—Terá que conversar com sua mãe sobre isso...

—Mas você é o rei! —Celine o interrompeu.

—E ela é a única pessoa nesse mundo que manda em mim. Por que não vai até o jardim pedir? Ela está lá.

—Já volto Kiana.

A garota desceu as escadas da torre do castelo e foi até o jardim principal. O jardim era o maior de toda Xaoha, com centenas de diversificações de flores e plantas. Mortícia Ascarian, a rainha de Norteya, garantia cada dia que elas estariam bem cuidadas.

—Mamãe. —Celine se aproximou.

—O que foi minha princesa aniversariante?

—Hoje é meu aniversário e eu quero ir pra fronteira.

—Ai céus! Peça seu pai.

—Mas ele mandou pedir você.

Mortícia riu.

—Olha filha, a fronteira é isolada e ninguém fica lá, mas ainda sim é perigosa. Mas se quer tanto, eu vou com você!

—Obrigada mãe! —Celine dava pulos de alegria.

—Tudo por você filha.

Ao anoitecer daquele dia Mortícia, Celine e alguns criados da corte partiram em uma viagem para a fronteira de Xaoha.

Celine ficou encantada a viagem toda. Olhando pela janela da carruagem ela avistou alucinada as belezas das vilas floridas de Ascarian, e depois de uma semana, ficou encantada com os rochedos de Hakyan e suas cidades dentro de cavernas. Sua melhor amiga Kiana Mormont veio de lá, Hakyan, e partiu para a capital para conquistar um título de nobreza, sua história é um mistério, que tornou murmurinhos de que os pais dela são bruxos, os mesmos depois de uma batalha de conquista de território desaparecerem e nunca se soube mais deles.

Passou-se quatro longas semanas, e finalmente chegaram até a fronteira.

—É enorme! —Celine disse saindo da carruagem.

—Vamos fazer um acampamento e ficar aqui por uns dias.

—Eu moraria aqui o resto da vida.

—Azar o seu que é a futura rainha de Norteya, e não pode viver aqui.

—Não quero ser rainha, quero ser princesa pra sempre!

—Só se eu fosse imortal! —Mortícia riu.

—Peça as bruxas de Hakyan, alguma delas deve saber como.

A garota caminhou até a beirada da grande cratera que dividia os dois países.

—Mãe, o que tem lá em baixo?

—Ninguém sabe filha. É um dos maiores mistérios de Xaoha. Dizem que tem uma cidade lá em baixo nas profundezas.

—Tipo em Hakyan?

—Mais fundo que as cidades de Hakyan.

—Uau! Posso ir até a ponte?

—Pode sim, mas toma cuidado, e volte rápido.

Celine caminhou alguns minutos dali e encontrou uma larga floresta de pinheiros altos. No fim dela avistou uma casa de madeira.

—Está perdida?

Um garoto que parecia ter a mesma idade dela se aproximou ao seu lado, vindo da floresta.

—Não, pareço estar?

—Você parece não ser daqui sua roupa é muito chique.

—Não sou! Quer dizer... sou desse lado da fronteira, mas não sou da fronteira. E você?

—Eu moro ali. —O garoto disse apontando para a casa.

—Que legal você mora perto da ponte.

—E você mora aonde?

—No maior castelo de toda Xaoha.

—Conta outra! —O garoto gargalhou debochando.

—Sou a princesa Celine imbecil, e você é quem?

—Não te conheço princesa, mas sou Kanor.

—Por que seus cabelos são brancos? —Celine perguntou ao perceber.

—Minha mãe disse que puxei meu avô e por isso sou assim.

—Que legal, queria ter os cabelos brancos.

—E eu queria ser príncipe.

—Se eu fosse uma bruxa trocava nossas vidas, e você vivia no meu lugar.

—Mas não quero ser menina, não quero usar vestidos.

—E eu não quero ter o mau hálito que os meninos tem!

—Vai se foder!

Celine abriu a boca assustada.

—Nunca ouviu um palavrão princesa?

—Você é um ogro Kanor, um ogro!

—E você é uma chata. Tchau tenho que ir.

Os dois se despediram e Celine voltou ao acampamento. Em todos os outros dias ela se encontrou com Kanor, e juntos iam até a ponte ou passeavam pela floresta. Passaram uma semana juntos com Celine comentando das festas luxuosas do reino, e Kanor de suas aventuras solitário na fronteira.

—E seus pais, moram com você? —Celine disse enquanto caminhavam pela ponte.

—Só a minha mãe, e o Nyeho, que é tipo nosso protetor.

—Eu também tenho um monte de protetores soldados, mas não sei o nome de nenhum deles.

—Nyeho não é um soldado, não como antes, mas ele protege a gente em tudo. Ele já matou um homem por nós!

—Uau! O que você quer dizer com não como antes?

—Promete não contar a ninguém?

—Sim. Minha mãe nem sabe que estou conversando com você a dias.

—Meu pai é o grande líder de Jaroak.

A menina se assustou e parou de andar.

—O que? Por que você está aqui?

—Eu e minha mãe tivemos que fugir, ela nunca disse o porquê, mas fala que foi pro nosso bem. E odeia falar disso. Nyeho nos trouxe e nos protege desde então.

—Então você é um príncipe!

—Não como você, não existem princesas ou príncipes em Jaroak.

—Minha nossa, você não se sente sozinho aqui?

—Às vezes Nyeho me leva em Jaroak, e às vezes me leva em Norteya, mas bem raramente, e sempre coloca uma touca em mim. Eu gosto daqui, me acostumei. Sei cada centímetro dessa floresta, quantas pedras tem a ponte, e até desci um pouco as profundezas da fronteira.

—Queria ter sua vida, demorou um ano para meus pais deixarem eu entrar na aula de luta.

—Uma princesa que quer lutar?

—Não sou como qualquer uma, meu sonho é lutar em batalha um dia, e eu vou!

—Duvido você matar uma mosca, quanto mais uma pessoa!

Os dois riram e em seguida se despediram mais uma vez.

—Até amanhã princesa.

—Não vou poder vir amanhã. Vou partir ao amanhecer.

—Ah! Que pena. Bom até nunca mais então.

—Que nunca mais bobo! Esqueceu que faço aniversário todos os anos?

—Vai pedir pra vir pra cá todos os aniversários?

—Sim, vai valer a pena.

—Eu sei, sou muito importante.

—Não se gabe Kanor, se não te jogo da ponte agora mesmo.

Eles riram, e depois cada um seguiu um caminho.

E assim foi feito, nos próximos cinco anos, Celine visitou Kanor durante seu aniversário, e a cada ano passava mais tempo na fronteira com ele. Ela completava seus quinze anos e chegava mais uma vez na fronteira, mas dessa vez sem sua mãe, apenas com seus criados.

—Oi ogro! —Celine gritou correndo até Kanor, ele estava sentado em uma lagoa no centro da floresta.

—Princesa! Pensei que não viria esse ano, demorou.

—São meus quinze anos, é um saco quando completa essa idade sendo importante no reino. Me fizeram passar por um tanto de cerimônias e festas. Eu meio que cheguei na idade adulta considerada em Norteya.

Celine estava no auge de sua beleza. Seus cabelos escuros estavam grandes e ondulados, seus olhos azuis brilhavam mais do que nunca, e seu corpo amadurecia cada vez mais.

—Parou de cortar o cabelo ogro? —Celine disse percebendo o comprimento do cabelo de Kanor.

—Gostou? Quero deixar maior.

—Gostei, combina com você. Te dá um ar de malvado, mesmo sendo um frangote.

—Hoje eu cacei uma hiena tá bom?

—E eu devorei uma no jantar de aniversário, a diferença é que não precisei sair do castelo pra matá-la.

—Vai jogar suas serventias na minha cara de novo?

—É meu passatempo favorito.

Os dois riram e se encararam por alguns segundos.

—Como vai a vida na fronteira?

—Nyeho foi embora, disse que o seu dever foi comprido e agora podia partir.

—Pensei que ele era tipo sua família.

—Também pensei, mas é só um servente do meu pai.

—Sinto muito.

—Tudo bem, ainda tenho minha mãe, ela eu sei que nunca iria me abandonar.

—Descobri uma coisa no ano passado Kanor.

—O que?

—Existe uma lenda sobre seu cabelo e seus olhos, o porquê de eles serem assim. Dizem que o filho de um Norteyano e um Jaroak nasce com os cabelos brancos e os olhos alaranjados!

—O que?

—Sua mãe pode ser uma Norteyana.

—Já escutei essa lenda em um mercado um dia, mas nunca acreditei.

—Pode ser verdade, ou mentira.

Celine se aproximou e pegou uma das mãos de Kanor.

—Apesar de tudo não te considero um demônio! —Celine abriu um sorriso. —Eu gosto de você ogro, uma lenda não diz nada a seu respeito.

—Obrigado princesa, e ah... eu tenho um presente pra você.

Ele caminhou até o outro lado da lagoa e pegou um pacote dentro de uma mochila que estava na grama.

—Levanta donzela. —Kanor acenou para ela.

Ela ficou na frente dele o encarando, quando em seguida ele tirou um colar do pacote.

—Eu que fiz!

—Nossa Kanor, é... é lindo! Obrigada.

O colar era um seguimento de pérolas que Kanor juntou durante as viagens, e no meio havia um pingente de uma rosa.

Ele contornou o pescoço de Celine e colocou o colar.

—Eu amei. Obrigada.

Os dois passaram duas semanas juntos, passando até algumas noites na neve da fronteira, observando o céu estrelado. Escalaram uma árvore e ficaram por horas avistando animais na floresta. Tomaram banho de roupa em um rio, brincando como se ainda fossem crianças.

Quando chegou o dia de Celine partir, os dois se despediram.

—Até o ano que vem princesa.

—Até lá ogro! Estou ansiosa para ver seu cabelo maior.

—Vou passar o seu e ofuscar seu brilho.

Celine riu e abraçou Kanor.

—Se cuida.

E assim cada um seguiu seu caminho mais uma vez.

Depois de mais quatro semanas de viagem para voltar à Ascarian, Celine chegou ao reino. Entrando no castelo e subindo as escadas das grandes torres, ela só pensava em correr para contar as novidades para sua mãe.

Celine e a rainha Mortícia eram muito próximas. Desde pequena Celine e sua mãe conversavam a madrugada inteira sobre coisas do reino. Mortícia jurava proteger Celine de todo o mal, e sempre falava que ela era especial, que sua vida tinha uma grande promessa, que um dia ela faria o maior acontecimento de todos os tempos. A rainha amava sua filha, e a princesa amava sua mãe, vivendo aprisionadas em um castelo, elas só tinham uma a outra.

Celine bateu na porta do quarto e ela não respondeu, depois de três tentativas, ela entrou.

Ao entrar Celine gritou, sua mãe estava morta, coberta de sangue, e mutilada por facadas, caída no tapete do quarto. Celine tremeu e se jogou no corpo, sem se importar em se sujar de sangue. O corpo estava recém mutilado, um de seus braços ainda possuía uma faca fincada à pele, uma faca de cabo de madeira encontrada apenas em Jaroak, na mão desse mesmo braço havia um bilhete escrito:

"Uma rainha por outra rainha"

Celine Ascarian se encontrava destruída pelas suas próprias lágrimas. Seus movimentos já não eram correspondidos ao seu controle. Ao ouvir gritos dolorosos vindo do quarto da rainha, dezenas de servos da corte e soldados correram até lá, e encontraram Celine com Mortícia no colo manchada e coberta por sangue.

O conselho do reino se reuniu no mesmo dia para discutir, a rainha havia sido morta.

—Como o rei está? —O grande mestre da saúde do reino perguntou.

—Ele estava em uma aldeia ao sul de Ascarian quando soube, e já está em viagem de volta. —Um dos membros do conselho disse.

—Havia um bilhete no corpo dela, "Uma rainha por outra rainha". Tenho certeza que foram os Jaroaks. Além do cabo da faca encontrada no corpo dela ser da madeira das árvores de Jankiari, os desertos do país deles.

—Recebi um panfleto do sul, o líder dos Jaroaks disse que nós de Norteya matamos a mulher dele, a anciã do reino.

—Por que faríamos isso? Vivemos em paz a séculos.

—O que faremos? O que diremos ao povo? 

—Se eles mentiram sobre a morte da rainha deles, mentiremos sobre a nossa, simples! Um Jaroak invadiu o castelo e matou a rainha a facadas.

—Não podemos nos igualar a eles.

—Temos provas suficientes!

—Como a anciã deles morreu? 

—Ela está viva. —Celine disse subindo as escadas do conselho e entrando no salão de reunião. 

—Princesa! —Todos no local se curvaram imediatamente.

—Viva! A rainha deles está viva! Mataram minha mãe inocentemente.

—Mas o líder deles afirmou que ela foi morta princesa.

—Ela está escondida, fugiu para a fronteira. Sei onde é. Preciso de permissão para levar um exército e a matar!

—Acho muito arriscado princesa, sem querer ofender, mas tem certeza do que está falando?

—Você sabe qual é a sensação de ver sua própria mãe sangrando, morta? Eu senti o pior trauma que alguém poderia sentir, minha mãe está morta! MORTA! E eles a mataram injustamente por vingança de uma morte que não aconteceu. Viajarei para Hakyan, e reunirei um exército suficiente para caçá-la.

—Princesa você está se precipitando acho melhor...

—Já me decidi, partirei agora! A função de vocês será avisar meu pai quando ele chegar. —Celine disse enquanto saía do salão.

Ela olhou uma última vez para trás e disse em um tom de voz firme:

—Eu sou Celine Ascarian, a futura rainha de Norteya, a filha escolhida de Xaoha, a princesa prometida, e eu irei me vingar.

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