Capítulo 1- O Filho dos Dois Povos
Uma das noites mais escuras e frias iniciava cobrindo os montes de Norteya e dominando as profundezas de Jaroak.
Xaoha comemorava milhares de anos em paz entre os dois povos. O início de mais um longo ano começava. Ciclos que pareciam intermináveis, terminavam naquela virada de ano. O futuro de Xaoha estava sendo quebrado, roubado naquele exato momento. Mortes e destruições iriam protagonizar as próximas décadas de Xaoha, levando o continente a beira de seu fim.
Nas mais quentes regiões de Nyana, nascia o descendente que seria líder de Jaroak. No primeiro dia do ano, o garoto nascia com um choro agudo e inocente. Na sala de parto estavam três mulheres, um soldado, o grande líder ancião chamado Fintari e sua mulher que gerava seu primogênito.
—Eu não consigo... é muita dor! Façam parar! Eu ordeno! —Disse a mulher chorando agoniada.
—Calma meu amor, você precisa ser forte! Pelo nosso filho.
Mysa Nohik era uma mulher de cabelos longos acinzentados, seus olhos eram escuros e possuía porte magro. Seu passado condenava todo o seu presente, e agora, com o nascimento de seu filho, todo o seu futuro. Mysa nasceu no lado norte de Xaoha, e não pertencia ao povo que comandava. Ela nasceu em Nyesa e viveu toda a sua infância lá, mas quando seus pais cometeram traição ao reino, ela foi enviada para o outro lado da fronteira como castigo a eles. Mysa passou o resto de sua vida vivendo em Jaroak, trabalhando nos templos em um deserto o líder do povo se apaixonou por ela e a fez ser sua mulher. Mysa nunca contou a ninguém sobre quem realmente era, e viveu sua vida com medo e remorso de tudo.
Agora, dando a luz a um filho de um homem que não era de sua linhagem, ela temia pelo pior: a lenda do filho dos dois povos.
A lenda era a mais famosa e comentada de toda Xaoha desde o início da divisão do continente. Suas palavras consistiam em dizer que o filho nascido de uma pessoa de Norteya e outra de Jaroak era amaldiçoado, nascendo com seus cabelos totalmente brancos, e olhos alaranjados, considerando-o um demônio.
A cada segundo que se passava Mysa torcia e clamava pelos deuses para que seu filho não nascesse assim, mas sua prece não foi atendida. Ao terminar de retirar o bebê de dentro da mãe uma das parteiras gritou assustada. A lenda pela primeira vez na eternidade se cumpria, o menino filho dos dois povos estava com seus cabelos brancos, que mesmo com poucos fios se destacavam junto a seus olhos penetrantes.
—Um demônio! —Uma das parteiras gritou.
—Ele é o filho enviado do inferno! O que aconteceu? —A outra disse.
Mysa estava norteada, triste, abalada e paralisada.
—Não... não! Por quê? Por quê deusa Xaoha? Por quê me enviastes um demônio como filho? —O líder Xaohano gritava desesperado. Mysa? O que é isto? O que significa isto?
—Nunca te contei sobre isso meu amor..., mas não nasci em Jaroak, não pertenço a seu povo. Sou de Norteya! Me desculpe, eu nunca quis...
—O que? —Fintari a interrompeu. —Você o que? Está mentindo, não é? Isso não pode ser verdade. Não pode de forma alguma.
—É a verdade, eu juro diante da deusa Xaoha. Me desculpe meu amor. Não foi culpa minha, foi um castigo.
—Ninguém pode saber, ninguém nunca pode saber! Irão o matar... meu filho, meu próprio filho morto pelo seu povo!
Fintari desviou seu olhar triste para o soldado que estava na sala e apontou para as parteiras.
—Mate-as!
E assim o soldado chamado Nyeho fez. Com uma lança afiada golpeou o peito de cada uma, as fazendo morrer instantaneamente.
—Você precisa fugir com ele meu amor. —Disse Fintari chorando. —Salve nosso filho, salve sua vida! Vá para a fronteira e viva lá escondida dos dois povos, ninguém pode encontrá-los.
Ele voltou o olhar para Nyeho e aproximou dele.
—Ordeno que a leve até a fronteira, e esconda esse segredo até sua morte! Garanta uma moradia para ela e meu filho e retorne apenas quando estiverem a salvo. Preciso ter sua palavra de confiança Nyeho.
—Pode confiar em mim senhor.
—Amor! —Mysa disse em tom alto do outro lado. —Me desculpe.
—Está tudo bem, não se culpe. Eu te amo.
—Também te amo.
—Vou sentir sua falta todos dias que virão.
—Eu também.
—Kanor será o nome dele.
—É um lindo nome meu mestre, pena que não poderá ser o futuro líder de Jaroak. —Mysa disse recuperando o fôlego.
—Eu sinto que nosso filho não é um demônio, sinto que Xaoha tem um futuro planejado para ele, precisamos confiar em nossa deusa.
—Que assim seja feita a vontade de Xaoha.
—Agora vá, antes que alguém veja.
—O que irá dizer para o povo?
—Não sei, vou decidir.
Ainda muito fraca Mysa se despediu de Fintari e partiu ao norte com seu filho, guiada e protegida pelo soldado Nyeho. Depois de duas semanas de viagem à carroça, eles chegaram à fronteira
A fronteira estava coberta por neve e o frio dominava toda sua região. Do outro lado da ponte haviam escombros perto de uma floresta de pinheiros altos. E foi lá que Nyeho construiu um acampamento que em dois meses se transformou em um lar aconchegante. Nyeho ia até Norteya, em Hakyan o primeiro reino depois da fronteira, algumas vezes no mês para comprar utensílios e comida por ser o lugar habitado mais perto.
Era uma manhã de domingo e mais uma semana iniciava para Mysa e seu filho Kanor.
—Bom dia senhora. —Nyeho disse chegando de uma viagem.
—Bom dia Nyeho, o que disse sobre me chamar de senhora? Estamos vivendo juntos a dois meses não sou mais sua senhora.
Nyeho riu e guardou as compras.
—Tem notícias de Jaroak? De como Fintari se comunicou?
—O povo de Hakyan não comenta muito sobre o sul, preferem falar de seu povo.
—E o que estão falando?
—De uma princesa prometida, não se fala de mais nada além disso. Celine Ascarian, é o nome dela, nasceu ontem de noite.
—A princesa da capital? Então é a princesa de toda Norteya, a primeira desse reinado, não é?
—Sim! Dizem que ela é prometida a um grande propósito, mais uma das lendas de Xaoha.
—E qual seria?
—Não sei bem, mas ela é a primeira primogênita mulher da monarquia desde o início dos tempos, por isso essa lenda.
—Que ironia, em Jaroak nasce o sucessor líder e o mesmo tem que fugir e fingir que está morto, já em Norteya a futura primeira rainha é aclamada por todos no reino. Queria que meu filho estivesse no lugar dela.
—Nem tudo é justo como deve ser, mas pra tudo há um propósito senhora.
—Pode ser que sim. E mais uma vez pare de me chamar de senhora!
—Tá bom me desculpe.
Aflita sobre o que Fintari iria falar, Mysa não imaginava qual seria a resposta.
Em Jaroak, nas fortalezas fundidas a lava de Nyana, Fintari anunciava a morte de sua mulher grávida, a mesma morta por um Norteyano. O povo ficou movimentado, e em dias toda Jaroak sabia da notícia, a anciã morta por aqueles que mantinham paz a milhares de anos. Uma mentira levou rebeldia ao reino, e o ódio tomou conta da mente de crianças e adultos que suplicavam por justiça.
Anos se passaram e o povo de Jaroak planejava sua vingança contra aqueles que teriam matado sua anciã.
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