Capítulo XXXVII
O mesmo pesadelo de anos atrás estava acontecendo naquele momento diante dos olhos de Natasha. Era insuportável ver seu pai em cima daquela cama imóvel, sem chances de ficar bom novamente, ou pior, ele poderia morrer a qualquer momento sem dizer ao menos um adeus.
Nunca imaginou sua vida sem os pais, mas parecia que o destino estava encarregado de deixá-la órfã a qualquer custo. Desde a morte da sua mãe, seu pai havia sido sua base e seu sustento por todos aqueles anos. E agora, quando ele mais precisava dela, não podia fazer absolutamente nada, apenas rezar para Deus livrá-lo da morte ou do sofrimento.
Estavam todos ao redor da cama do czar, velando seu sono. Os médicos não haviam dado nenhuma esperança, o que desesperou a todos. O padre estava ao lado do seu pai rezando, enquanto sua madrasta não parava de chorar segurando a mão dele. Mas diante de todos que estavam ali, até mesmo dela, sentia mais pena de Anastásia; depois de tanto tempo longe de casa, quando conseguiu voltar, seu pai estava naquela situação.
Dimitri estava abraçado com ela, murmurando coisas em seu ouvido e afagando suas costas calmamente, enquanto lágrimas e mais lágrimas desciam por aquele belo rosto angelical.
— Nat? — sua irmã, Tatiana, sussurrou.
— Sim? — pegou sua mão com carinho.
— Acha que...
— Não. — sua voz ficou embargada. — Dessa vez, infelizmente, minhas esperanças estão se esvaindo a cada segundo.
— Como isso pôde acontecer? Logo nosso papai. — lágrimas começaram a descer por seu rosto novamente. — Simplesmente não consigo aceitar perdê-lo. Estamos passando por isso mais uma vez, isso está me matando aos poucos. E nossa pequena irmã, mal retornou ao lar, e está passando por isso.
— Estava pensando isso agora a pouco. — abaixou a cabeça. — A nossa pobre criança não conseguiu aproveitar nada do bom homem que era nosso pai. Se nós estamos dessa forma, com certeza Annie está ainda pior.
— É verdade que foi ela que matou Ivan?
— Sim. Dimitri ajudou também, soube pouca coisa. Não quis ficar lembrando essa cena para eles. Depois saberemos melhor.
— Sim, depois saberemos.
— Essa roupa está me sufocando.
— Você, Annie e Dima, deveriam sair por alguns minutos. Tirar essas roupas pesadas, essas joias todas. Não me parece confortável continuarem aqui com esses trajes.
— Sinto que eu deveria ir, mas parece que a qualquer instante nosso pai irá partir. Não posso simplesmente ir. Joias e roupas podem pesar, mas continuarei aqui esperando ele dar seu último suspiro. Tati, estou morrendo aos poucos. — começou a chorar. — Estou tentando manter o controle, mas...
Tatiana abraçou Natasha com força.
— Também não estou conseguindo manter minhas forças.
— Está sendo muito difícil.
Afastou-se da irmã e limpou os olhos com a mão.
— Lara parece devastada.
— Ela está grávida, deve estar pensando que o filho nascerá sem o pai. E por mais que ela não tenha sido a melhor pessoa conosco, não duvido dos sentimentos dela por nosso pai.
— Devo admitir que está certa.
— O padre parece sonolento. — comentou Ivana.
— Todos nós estamos, apenas não admitimos. — Natasha abraçou o próprio corpo.
— Já tomei dois copos de conhaque para acordar e me aquecer. — Ivana suspirou. — Alexander adormeceu na poltrona, nunca vi ele tão devastado, nem mesmo quando mamãe morreu.
— Ele estava tão feliz. — Tatiana deu um breve sorriso. — A paixão brilhava nos olhos dele.
— Impressão minha, ou estão todos se apaixonando? — Natasha arqueou a sobrancelha.
Tatiana e Ivana se entreolharam e riram.
— Somente o amor para nos fazer rir em um momento como esse. — sorriu para as irmãs.
— Precisamos conversar sobre isso.
— Sobre o amor?
— Sim. — um brilho surgiu nos olhos tristes de Ivana.
— Quais são os pretendentes de vocês?
— O grão-duque Borzvkh. — respondeu Tatiana. — E o de Ivana, grão-duque Lopatin.
— Conheço os dois apenas de vista. Papai tinha conhecimento?
— Sim. — Ivana respondeu tristemente.
— Íamos começar os contratos de casamento. Agora, não sei quando voltaremos a pensar nisso novamente. Parece errado pensar sobre isso agora. Não sei, estou falando isso apenas para me distrair, mas sinto que é errado.
— Vladimir.
As irmãs viraram instantaneamente quando a madrasta sussurrou aquelas palavras. Todos os filhos foram correndo em direção a cama, até mesmo Alexander que dormia em uma poltrona distante. Seu pai tinha apenas aberto os olhos, mas não falava, e nem se movia. Parecia que ele nem estava mais naquele mundo, parecia que estava apenas dando uma última olhada no lugar onde tinha vivido naqueles últimos dias.
Um vento frio invadiu o quarto de repente, e uma sensação estranha cresceu no peito de Natasha, como se estivesse recebendo um aviso de que algo de ruim iria acontecer em breve, e ela sabia o que era. Fechou os olhos com força, para tentar reprimir as lágrimas, mas todas as tentativas foram em vão.
Sua madrasta deu um grito, choros começaram a surgir por todo quarto.
Ela sabia, seu pai estava morto.
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Toda aquela dor que dominava seu corpo era insuportável. Desejou e chamou diversas vezes a morte para levá-lo ao encontro de Sasha, desejava viver em paz e sem dor. Sua única preocupação era deixar seus filhos sem um pai, seria um golpe e uma dor muito forte para eles. Anastásia que mal havia retornado para seus braços, ficaria sem ele novamente, e dessa vez seria para sempre. E também havia seu filho que ainda estava sendo gerado, que nem chegaria a conhecer.
Sentia-se cansado, não tinha mais forças para querer lutar para sobreviver e continuar naquele mundo. Uma das coisas que mais o deixava em paz, era ter reencontrado Anastásia, ter tido sua filha por aquele pouco tempo, mas que foi o suficiente para tê-lo deixado feliz. E também havia seu filho, Dimitri, que substituiria o seu lugar com louvor, disso tinha absoluta certeza.
De repente, ele estava em um lugar completamente diferente. Era um campo florido, cheio de borboletas, com certeza era primavera, sua estação preferida. Em um banco de mármore, Sasha estava sentada, olhando para o horizonte, como se esperasse algo, ou alguém. Seus cabelos loiros estavam trançados, e uma bela coroa estava em sua cabeça. Trajava um belo vestido branco com detalhes dourados.
— Vova. — aquela voz que há tanto tempo não escutava, falou. — Estive esperando por você durante todos esses anos.
— Sasha. — sorriu. — Desejei tanto reencontrá-la.
Ela andou até ele e o abraçou.
— Não que fosse nessas circunstâncias. Nossos filhos ainda precisavam de você, eles estão sofrendo muito.
— Eu sei disso meu amor. — passou a mão por seus cabelos.
— E existe aquele que ainda virá ao mundo.
— Pobre criança.
— Precisa vê-los uma última vez.
— Pensei que eu já...
Sasha colocou a mão sobre sua boca.
— Ainda não.
— Como poderei vê-los?
— Vou ajudá-lo. Veja-os, estarei esperando por você aqui.
Antes de respondê-la, seus olhos abriram em seu quarto do palácio. Sua esposa e seus filhos estavam ao seu redor. Gostaria de falar com eles e dizer que tudo estava bem, que ele estava indo para um lugar bom, mas seu corpo não o obedecia mais, pois não pertencia mais naquele mundo.
Queria poder dar adeus a todos, e dizer o quão amava cada um dos seus filhos, porém, sabia que não seria possível. Tentou sorrir, mas também não obteve sucesso. Sentiu sua alma sair do corpo, e naquele momento soube que estava definitivamente morto.
Retornou para o mesmo lugar que tinha encontrado Sasha, e como ela havia dito, estava esperando por ele com um enorme sorriso no rosto. Ela pegou sua mão e apertou com força.
— Vamos, meu amor. Vamos para um lugar onde seremos felizes eternamente.
— Que Deus proteja nossos filhos.
— Ele protegerá.
E começaram a caminhar em direção ao horizonte.
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