Capítulo XV
Vladimir estava em seu escritório revendo uns documentos e assinando outros. Muitas coisas precisavam da sua atenção, e não podia deixar seus deveres de lado por muito tempo, apesar de desejar passar mais tempo ao lado da sua família.
Sua mão estava incomodando bastante, o fazendo dar uma pausa e se levantar da poltrona para ir em direção à janela. Ele observou que o tempo estava melhorando, mas o que realmente lhe chamou a atenção foram os vários veículos que estavam estacionados em frente às escadarias para o palácio. Muitos empregados tiravam malas e mais malas de dentro dos carros, e se estivesse enxergando bem, o símbolo das bandeiras que estavam nos carros pertencia à família real britânica.
Lembrou-se que Lara queria que sua sobrinha Elizabeth se casasse com seu filho Dimitri, porém, ela não havia lhe dito que a princesa inglesa chegaria em breve. Apesar de ele saber que sua esposa gostava de fazer surpresas; que na maioria das vezes se tornavam desagradáveis.
Vladimir não gostava que nada fosse escondido dele, ela sabia, mas era como se fosse algum tipo de pirraça que adorava fazer com ele. Ele não estava com um dos melhores humores com Lara.
Ouviu algumas batidas leves na porta, e Natasha entrou com um sorriso nos lábios.
— Papai. — foi em sua direção e o abraçou. — O senhor sabe que temos visitas inglesas?
— Eu estava olhando pela janela e vi aqueles carros. — Vladimir se afastou da filha e depositou um beijo em sua testa. — Eu não sabia que eles chegariam hoje.
— Eles? Eu pensei que seria somente Elizabeth.
— O irmão dela também veio. Ela não poderia viajar sozinha para outro país sem alguém da família.
— Eu poderia. — Natasha deu um sorriso.
— Em hipótese alguma eu deixaria. — ofereceu o braço para Natasha. — Que tipo de pai acha que sou? — percebeu que sua filha começou a gargalhar. — Você é realmente impossível.
— O senhor é um pai maravilhoso. — beijou sua bochecha. — Você precisava ver sua expressão de uns segundos atrás.
— Eu parecia um bobo preocupado com a filha? — sugeriu começando a rir.
— Exatamente. — um enorme sorriso formou em seu rosto. — Irina foi até onde eu estava para me comunicar que minha adorada madrasta exige minha presença na sala de chá principal de Peterhof. Ela vinha comunicar ao senhor, mas eu queria chamá-lo.
— Qual interesse você tem nisso?
— Eu só queria saber se o senhor acha que eu sou...
— O quê? — arqueou a sobrancelha e se afastou um pouco da filha.
— Egoísta e mimada. — disse com certa relutância e mordeu os lábios.
— Você pode até ser mimada, é algo natural devido à posição que possui. Porém, egoísta não é. Eu nunca presenciei um comportamento seu egoísta, e nem de nenhum dos seus irmãos. — afagou o braço de Natasha. — Por que essa pergunta?
— Eu tive uma pequena discussão com minha dama.
— Ela disse essas coisas para você? — Vladimir começou a alisar a barba.
— Não. — começou a andar pelo escritório. — Mas as palavras dela, apesar de poucas, deram a entender isso. Acho que a magoei de alguma forma. Ela só queria um pouco de companhia, e fui meio rude.
— Quando ela disse isso?
— Hoje.
— Vai dispensá-la?
— Não! — Natasha levantou as mãos frustrada. — Provavelmente eu seria uma pessoa muito fútil se eu despedisse alguém por me dizer algumas verdades.
— Isso mostra que não é tão mimada. — o czar sorriu e foi em direção à porta. — Acho que estamos atrasados.
— Eu ainda não terminei. — cruzou os braços.
— O que tem mais a dizer?
— Eu amo o senhor. — e correu e pulou no pai abraçando-o com força.
— Eu também amo você. — beijou o topo da cabeça da filha.
— Acho que realmente estamos atrasados. — colocou a cabeça no ombro do pai. — Acho que receberemos um olhar desaprovador.
— Ela ficará quieta pelos próximos dias, e você sabe muito bem. — abriu a porta e saiu com Natasha.
— Como estão as coisas entre vocês?
— Conturbadas. — Vladimir fechou a porta. — Eu ainda estou aborrecido com ela. Muitas vezes acho que vai parar com essas afirmações, que por mais que talvez sejam verdadeiras, machuca. A ferida ainda está aberta, Nat.
— Eu entendo. — afagou a mão do pai. — E o senhor não tem nenhuma informação?
— A garota sumiu do orfanato. Recebi a carta do detetive ontem.
— Por que o senhor não compartilha conosco suas dores?
— Não quero criar expectativas para ninguém. Criou-se uma lenda sobre o desaparecimento de Anastásia por toda a Rússia. A população gosta da nossa família, tentou ajudar procurando por ela em todo lugar e sem sucesso. — respirou fundo. — E eu vejo que estou acertando com o governo por causa da devoção e apoio que eles nos fornecem.
— Eu acho que Anastásia era a preferida do povo.
— Ela desde nova sempre foi muito ativa. — sorriu com as lembranças. — Ela odiava regras, sempre deixava Sasha maluca. Amava sair e ver as pessoas. Fazia questão de acenar para todos. Deve ser muito ruim para vocês não se lembrarem tão bem do passado.
— Lembramos, mas algumas coisas ficam turvas em nossa mente. Tatiana, Ivana e Dimitri tem uma visão mais clara de tudo. Eu não consigo mais lembrar como era a voz da mamãe, mas a Tatiana lembra.
— Não se preocupe com isso. Eu só quero que todos fiquem cientes que Sasha amava todos vocês.
— Eu sei. — Natasha sorriu e olhou para o chão. — Você e Lara não pretendem ter outros filhos?
— Você quer ter mais irmãos? — o czar riu da expressão que a filha fez. — Ela quer ter filhos, devo isso a ela.
— Vamos parar com esse assunto. — pararam em frente à porta que estava com dois guardas aparentemente ingleses. — Eu sei que ela tem uma boa audição. — girou a maçaneta quando o guarda a impediu. — Poderia me deixar abrir a porta?
— Quem é a senhorita? — o guarda perguntou com arrogância.
— Sou...
— Ela é a grã-duquesa Natasha Bulganova. E eu sou o czar. — respondeu sério. — Deveria estudar a família imperial antes de visitar um país diferente, para evitar momentos constrangedores como esse.
— Perdoe-me Vossa Majestade.
— Perdoado. Agora, abra a porta, já que impediu minha filha anteriormente.
— Sim, Majestade.
O guarda abriu a porta, Natasha entrou primeiro, logo depois ele entrou.
Lara estava sentada ao lado de uma jovem, que provavelmente era Elizabeth. Dimitri conversava com um jovem, que com certeza era o príncipe Phillip. Todos pararam as conversas quando os dois entraram. Phillip e Elizabeth se levantaram e fizeram uma reverência.
— Vossa Majestade. — Phillip depois se virou para Natasha. — Vossa Alteza.
— Bem-vindos à São Petersburgo, príncipe Phillip e princesa Elizabeth. — Vladimir respondeu calmamente. — Deveriam treinar melhor os guardas de vocês.
— Vladimir. — Lara o repreendeu.
— Eles impediram minha filha de abrir a maçaneta. Eles deveriam ter conhecimento da nossa família. — a encarou. — Estou errado?
— Não, senhor. — Phillip respondeu.
— Não sou senhor, menino. — o czar soltou uma risada. — Não precisa ter medo de mim, eu apenas fiquei incomodado com a situação. Vamos todos sentar para conversamos. Pode me chamar de Vladimir, ou tio.
— Tio Vladimir? — Natasha disse aos risos. — Isso soa tão estranho. Dimitri ainda tem bolos de chocolate? — sentou-se ao lado do irmão.
— Deixei alguns para vocês. — eles riram e começaram a comer.
— Esses dois. — Vladimir revirou os olhos. — E então, o que conversavam?
— Sobre nossa viagem para cá. — respondeu Elizabeth com um grande sorriso nos lábios. — Aqui é muito lindo. O palácio mais lindo que já conheci.
— Peterhof é realmente muito bonito. — Vladimir sentou-se na poltrona. — Já levaram vocês para conhecer o palácio?
— Chegamos faz pouco tempo. Ainda não conhecemos quase nada. — a princesa respondeu animada. — Minha tia disse que vai fazer uma caminhada comigo por todo palácio.
— Eu não recomendaria Lara a fazer nenhuma caminhada. Nem ela mesma conhece esse palácio todo. Na verdade, nunca esteve aqui antes. E eu sei que não se interessou para conhecer, apenas as partes que é do interesse dela. Tatiana pode acompanhá-la pelo palácio amanhã, tenho certeza de que não vai se importar. Não peço para Dimitri lhe acompanhar porque precisarei dele amanhã. E Natasha não lembra muito do palácio como antes.
— Como ousa dizer que eu não conheço Peterhof? — a czarina disse com um tom de voz seco.
— Ousando. — Vladimir se levantou. — Agora eu tenho que voltar para meu escritório para resolver algumas coisas. Espero que se divirtam. — olhou para Elizabeth e Phillip. — Nos veremos no jantar.
Vladimir se levantou da poltrona, apertou a mão de Phillip e beijou a mão de Elizabeth. Beijou a testa dos filhos e saiu da sala ignorando completamente Lara. Ainda não se sentia bem o suficiente com ela, e naquele momento ele preferia evitar mais conflitos.
— Vossa Majestade! — um soldado veio correndo pelo corredor em sua direção.
— Sim?
— Recebemos uma carta anônima dizendo onde Ivan Tchaikovsky se encontra.
De repente todo o ódio que estava guardado em Vladimir surgiu. Lembrou-se dos dias chorando pela morte de Sasha, dos seus filhos chorando em desespero, e a falta da sua filha caçula. Achar Ivan Tchaikovsky era uma questão de honra. Ele não poderia morrer sem achar aquele maldito homem.
— Onde ele está?
— No bairro mais afastado e pobre de São Petersburgo.
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