Capítulo XLIII
Foram cinco dias de festa em celebração a coroação. Depois de todo aquele tempo em que esteve de luto, permitiu-se divertir da melhor maneira que podia. Dançou com diversas pessoas, conheceu melhor a corte russa, comeu tudo que tinha direito, e aproximou-se ainda mais de Phillip.
Sentia-se um pouco mais feliz, livre e sossegada com seus pensamentos. Porém, quando se lembrava do quão Natasha e Dimitri haviam se distanciado, seu coração se apertava. Não gostava de vê-los daquela maneira, eles tinham que se entender de alguma forma, mas não conseguia encontrar uma forma para que isso acontecesse. Dimitri era orgulhoso, e Natasha era muito teimosa, o que complicava ainda mais as coisas.
Anastásia entendia os motivos de Dimitri, assim como entendia a mágoa de Natasha por ele estar agindo daquela forma. Muitas vezes desejava pegar alguma coisa e desferir pancadas em suas cabeças para deixarem de ser idiotas e perceberem que eram irmãos.
— Alteza, a grã-duquesa Natasha, deseja falar com a senhorita. — Olivia invadiu seu quarto arfando.
— Aconteceu alguma coisa? — levantou-se da poltrona imediatamente.
— Ela está chorando, não sei o que aconteceu. Eu a encontrei sentada chorando no corredor.
— Algo com Edik?
— Eu realmente não sei, Alteza.
Anastásia assentiu e saiu imediatamente do quarto.
— O corredor do quarto dela! — gritou Olivia.
Anastásia correu o mais rápido que ela podia para encontrar imediatamente sua irmã. Precisava saber o motivo das lágrimas dela, para tentar acalmá-la da melhor maneira que pudesse. Independentemente do que tivesse acontecido, a apoiaria, assim como nas outras vezes.
Uma mecha do seu cabelo se desprendeu do seu penteado, atrapalhando sua visão, fazendo com que tropeçasse na barra do vestido e caísse. Praguejou mil pragas e se levantou do chão rapidamente.
— Eu realmente mereço ter caído dessa forma. — resmungou.
— Deveria tomar cuidado. — a voz de Natasha saiu falhada. — Ninguém quer ver esse rostinho lindo machucado.
— Oh. — Anastásia revirou os olhos. — Levante-se, não deveria estar no corredor chorando para todos verem.
— Pouco importa isso, Annie. Pouco importa... — fungou e colocou a mãos sobre rosto.
— O que aconteceu? — deu a mão para ela.
— Briguei com Ivana e Tatiana. — tirou as mãos do rosto.
— Mais irmãos? Pelo amor de Deus, Nat. — puxou seu braço. — Daqui uns dias vai brigar com Nikolai, Alexander, Darya, eu...
— Não seja exagerada. — empurrou a mão dela e levantou-se sozinha. — Elas falaram mal de Edik, como se ele fosse algum inseto a ser morto imediatamente. Aquelas imbecis fúteis.
— Não diga essas coisas sobre nossas irmãs. — a repreendeu. — Elas sempre estiveram com você em todos os momentos. Apesar de achar que Edik é o amor da sua vida, não se troca a família por ninguém, entendeu-me?
— Estou com medo do seu olhar. — Natasha murmurou.
— É melhor ter medo mesmo. — Anastásia cruzou os braços. — Foram criadas nesse ambiente luxuoso, uma educação exemplar, tudo do melhor. Claramente que grã-duquesas não se casam com guardas ou alguém sem títulos. Sabe disso melhor do que eu, inclusive. — interrompeu a fala de Natasha. — Não estou dizendo que isso seja certo, acho que as pessoas deveriam ser livres para amar e casar com quem quisesse.
— Annie...
— É complicado, eu sei. Porém, acho melhor você encontrar uma solução para isso tudo, ou...
— Está sabendo de alguma coisa que eu não sei? — Natasha arqueou a sobrancelha.
— O que eu poderia estar sabendo?
— Está sempre com Dimitri, eu não sei...
— Ele não faria nada para magoá-la. — Anastásia cerrou mandíbula. — Está ficando cada dia mais paranoica.
— As circunstâncias estão me deixando assim, minha irmã. — soltou o cabelo de um penteado que já estava completamente bagunçado. — Obrigada por toda paciência que tem comigo. Às vezes acho que estou exigindo demais de você, e nem procuro saber como está se sentindo. Sinto-me horrível e egoísta. Mas é a única pessoa em que eu confio para contar o que sinto, Annie.
— Não precisa se preocupar comigo. — colocou uma mecha do cabelo de Natasha atrás da orelha. — Estou bem melhor do que antes.
— Fico feliz por isso. — Natasha conseguiu dar um pequeno sorriso. — Eu sei que Phillip tem envolvimento sobre seu estado atual de humor.
— Sim, ele faz parte. — Anastásia sorriu, pois, ao pensar nele, algo dentro dela se acalmava rapidamente; ele a fazia bem. — Mas também a notícia da gravidez de Elizabeth, o quão Darya é uma criança adorável, e como a vida, de maneira tortuosa, está tomando um rumo, creio eu, finalmente feliz.
— Estamos realmente tendo esse tipo de conversa em pleno corredor? — Natasha começou a rir.
— Você é simplesmente maluca, Nat. — Anastásia bagunçou os cabelos da irmã. — Vamos tomar um chá.
— Fique com seu chá, tomarei vodca.
— Como preferir.
Anastásia agarrou o braço de Natasha e começaram a andar em direção a sala de chá.
∑
Anastásia sabia que momentos de felicidade não eram eternos, e nem a permanência das pessoas ao seu lado. Ter Phillip ao seu lado por um longo tempo era algo completamente impossível, principalmente pelo fato dele ser herdeiro do trono inglês. Ele havia mencionado para ela a carta furiosa que o rei havia enviado ordenando sua volta imediatamente.
— Quando fica pensativa, consegue ficar ainda mais bonita.
Anastásia olhou para Phillip. Ele estava com um belo sorriso estampado no rosto, como se tivesse acontecido algo muito bom em sua vida naquele instante. Colocou sua mão sobre a dele e tentou sorrir da mesma forma que ele, mas sem sucesso.
Sentiria muito a falta dele.
— Obrigada, sempre gentil comigo.
— Parece perdida em outro lugar.
— Estou pensando... — pendeu a cabeça de lado, mordendo os lábios.
— Por que tem essa mania horrível de começar as frases e não as terminar? Vamos, diga-me o que quer dizer.
— Agora não direi nada. — cruzou os braços.
— Ora, pare de ser tão insuportável. — começou a gargalhar. — Você realmente me diverte, Annie.
— Estou morrendo de rir. — disse sarcasticamente.
— Chegamos ao nosso destino. Se livrará de mim em breve. — abriu a porta da carruagem. — Vamos?
— Vamos. — respondeu com mau humor.
— Não faça esse beicinho. — sorriu. — Apesar que é bem fofo.
— Consegue ser tão irritante quando quer. — segurou na mão dele para descer da carruagem. — Mas ao mesmo tempo consegue ser tão bom.
Phillip revirou os olhos e a puxou para um abraço.
— Não quero presenciar essas coisas, poupe-me disso, Phillip. — Dimitri se aproximou com uma expressão fechada.
Anastásia sentiu seu rosto ficar quente.
Fuzilou Dimitri com o olhar, mas ele ignorou completamente quando Elizabeth agarrou o braço dele.
— Podemos ir? O trem sairá logo, e eu não quero que meu cunhado perca o horário. — Dimitri disse com cinismo na voz.
— Tão ridículo.
— O que disse, Annie?
— Apenas cale a boca, Dimitri. — revirou os olhos.
Começaram a andar em direção ao trem que já estava na estação, como Dimitri havia dito. Poucas pessoas estavam entrando, pois era um trem destinado para pessoas da nobreza. Phillip teria um vagão reservado para ele e seus guardas.
Quando chegaram perto do trem, Phillip abraçou Elizabeth e beijou sua cabeça.
— Minha amada irmã, estou realmente realizado em vê-la finalmente feliz e recebendo o amor que merece. Estou partindo para a Inglaterra muito feliz. — afastou-se dela. — Cuide bem do bebê.
— Oh, meu irmão. — ela começou a chorar. — Sentirei saudades. Mande lembranças a todos por mim. Que Deus o abençoe durante essa jornada.
Phillip beijou sua bochecha e limpou as lágrimas da irmã.
— Foi bom tê-lo em nossa casa, Phillip. Volte sempre que quiser. — Dimitri apertou sua mão. — Boa viagem, Deus o abençoe.
— Obrigado, cunhado.
Quando ele terminou as despedidas com Dimitri e Elizabeth, olhou diretamente para Anastásia. Seu coração deu uma leve parada, pois seus olhos estavam tão intensos olhando para ela. Tentou sorriu, mas o máximo que conseguiu foi uma careta. Aquela era a despedida, não definitivamente, porém, seria longa. Talvez ela devesse ter dito as coisas que deveria antes, no momento em que percebeu que estava se apaixonando por ele.
— Então, acho que devemos dizer adeus. — conseguiu dizer, torcendo o colar que pendia em seu pescoço.
— Sim, devemos dizer adeus.
O apito do trem soou.
— Annie, antes de eu ir, porque eu realmente preciso ir. Gostaria de dizer que passar esses dias com você foram tão bons quanto dias de verão. Sinceramente, eu não sei como conseguem sobreviver a esse frio anormal. — suspirou. — Não sei se percebeu, mas eu estou apaixonado por você. Talvez, completamente apaixonado. Realmente, não consigo dormir sem tê-la em meus pensamentos. E, meu Deus, eu não quero isso soe obsessivo, apesar de muitas vezes eu achar. — colocou a mão dentro do seu enorme casaco de pele. — Comprei esse anel especialmente para quando eu finalmente tomasse coragem para pedi-la para passar o resto dos seus dias ao meu lado.
Anastásia sorriu.
— Faça o pedido. Vejo que tomou coragem. — Anastásia tirou a luva. — Faça o pedido bem feito.
Ele sorriu e tirou o anel da caixa.
— O anel é composto com serendibite, para simbolizar seus belos cabelos negros. Safiras pela grande admiração que tenho por seus belos olhos que são capazes de revelar tantas coisas. Mas nada se compara ao amor que estou sentindo por você, Annie.
O apito do trem soou novamente.
— Seja mais rápido, cunhado! — gritou Dimitri, chamando atenção de algumas pessoas.
— Gostaria de se casar comigo? — arqueou a sobrancelha.
— Sim. Coloque esse anel de uma vez no meu dedo, minhas mãos estão congelando.
Phillip colocou o anel rapidamente em seu dedo anelar e abraçou Anastásia.
— Preciso ir.
— Não antes de eu lhe entregar o meu presente.
Ela o beijou e o empurrou logo em seguida com um sorriso no rosto triunfante.
— Eu também amo você.
Phillip correu para dentro do trem e se posicionou em uma janela acenando para ela.
— Esse foi o melhor pedido de casamento que presenciei. — disse Dimitri beijando sua cabeça.
— Ora, pare de ser inconveniente, Dima.
— Estou dizendo...
— Dima, cale-se. — Elizabeth sorriu para Anastásia e piscou o olho.
— Estou perdido com vocês.
— Sempre esteve, apenas não quis enxergar. — Anastásia sorriu, apertando o braço do irmão.
O trem começou a andar, levando Phillip para longe de Anastásia. Ela sabia que agora não seria por muito tempo, já que um possível noivado havia sido traçado naquela estação de trem.
Colocou sua luva novamente, olharia o anel com mais calma quando chegasse no palácio.
Sorriu mais uma vez, pois não conseguia evitar.
Finalmente, depois de tantas coisas que tinha vivido e presenciado, as coisas estavam caminhando para um caminho feliz para ela. Talvez Deus e o destino estivessem juntos novamente para ajudá-la a encontrar um pouco de paz, amor e esperança na confusão que era sua vida.
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