Capítulo XI
Não tinha sido muito trabalhoso encontrar as damas e os mordomos de companhia. Irina transmitia certo medo aos candidatos, Dimitri notou e riu disfarçadamente. Quando terminou a entrevista e todos foram escolhidos, eles retornaram em direção à sala de jantar. Tatiana se manteve calada o caminho quase todo, mas Dimitri queria conversar.
Ele sempre queria.
— Tati...
— O que está lhe incomodando meu irmão? — apertou seu braço. — Algo lhe incomoda faz algum tempo.
— Como percebeu?
— Eu conheço você desde que nasceu. — sorriu amavelmente. — Eu deveria conhecê-lo de alguma forma, não é mesmo?
— Eu estava pensando em Elizabeth.
— Já ouvi falar sobre ela.
— Claro, ela é a princesa da Inglaterra.
— E o que tem ela?
— Ela é sobrinha de Lara, estou na idade de me casar.
— Então eu também estou, e nem por isso ela me arranjou alguém. — Tatiana revirou os olhos.
— Mas eu serei o próximo czar, e não quero mais problemas com ela.
— Quais problemas nós causamos a ela, Dimitri? Eu me pergunto todo dia e nenhuma resposta vem em minha mente. Será que é por causa da nossa aparência? Bem, eu não posso desfigurar meu rosto para agradá-la, e creio que nenhum de nós queira fazer isso com a própria face. Você está pensando em aceitar se casar com alguém que não conhece para satisfazer as vontades de Lara Marshall?
— Lara Bulganova, afinal ela se casou com nosso pai.
— Não seja inconveniente Dimitri.
— Você é uma irmã mais velha bastante inconveniente.
— Como se você não fosse um poço de inconveniência. — resmungou revirando os olhos.
— Você revira os olhos com mais frequência do que respira.
— Está incomodado?
— Bastante, eu diria.
— Então por que ainda continua caminhando comigo e pediu para conversar?
— Apesar de tudo eu gosto de você. — ele deu um sorriso malicioso.
— Apenas gosta? — colocou a mão no coração como se estivesse ofendida. — Eu pensava que me amava e venerava.
— Bem menos, Tatiana.
— Humpf. Você é um insensível.
Ele soltou uma gargalhada e abriu a porta que dava para a sala de jantar. Todos já estavam à mesa. Nikolai conversava com Natasha, que revirava os olhos. Dimitri notou que revirar os olhos era um mal das irmãs, e pediu que Deus o livrasse de tais expressões. Seu pai e Lara conversavam com Ivana que sorria sem humor algum, isso era bastante notável. Alexander brincava com a colher. Tatiana beijou o rosto do pai, deu bom dia à Lara e se sentou perto de Alexander. Dimitri beijou a mão da madrasta e deu um aperto de mão no pai, e sentou ao lado de Natasha.
— Agora que todos estão à mesa, daremos início a nossa oração diária e depois comeremos. — o czar falou. — Quem vai fazer a oração de hoje?
— Eu. — Alexander se levantou. — O dia hoje é frio, espero que amanhã seja mais quente. Que as cobertas e o fogo sempre aqueçam este lar. Que os medos e aflições terminem no coração de cada um que more nesse palácio. Que o perdão e a aceitação entre no coração de todos. — olhou para Lara diretamente. — Que o amor esteja sempre em nossos corações. E que Deus tenha sempre misericórdia de nós. Amém.
— Amém. — todos disseram em uníssono.
— Obrigado por suas palavras, Alexander. — o pai sorriu orgulhoso.
— O prazer foi inteiramente meu, pai.
Os empregados começaram a servi-los.
— O dia hoje está mais quente. — observou Natasha. — Podemos brincar lá fora.
— Guerra de bola de neve? — Dimitri fez uma expressão diabólica. — Estou dentro! E eu vou ganhar, como sempre. — sorriu com presunção.
— Você não vai vencer as irmãs Bulganova nunca, querido. — Tatiana cortou o pão e passou a geleia olhando ameaçadoramente para Dimitri.
— Creio que os irmãos Bulganov vão ganhar. — Alexander disse enquanto era servido de chá.
— E vocês estão em desvantagem, garotas. — Nikolai deu uma risadinha.
— Chamarei Anastásia para ir conosco. — Natasha respondeu rangendo os dentes.
— O fantasma dela? — Lara disse enquanto colocava açúcar em sua xícara de chá.
Todos param de discutir sobre a guerra de bola de neve e a encararam. Dimitri sabia que ela odiava falar sobre Anastásia, mas aquilo tinha sido sem sombra de dúvidas um comentário maldoso. Ela continuou a comer normalmente, mas o czar a olhava com raiva. Dimitri observou que seu pai apertava a xícara com muita força, e os nós dos seus dedos estavam ficando brancos. De repente ele quebrou a xícara em sua mão, e todos se assombraram. Seu pai se levantou da mesa e saiu pela porta com a mão sangrando.
— Deveria escrever um tutorial de como estragar uma manhã com poucas palavras. — Natasha levantou-se e jogou o guardanapo na mesa.
— Maldita seja você. — Nikolai copiou a irmã.
— Deus tenha misericórdia da sua alma e coração frio. — Tatiana também se levantou.
Alexander e Ivana nada disseram, apenas se levantaram e saíram juntos com os irmãos. Dimitri respirou fundo e bebericou o chá em sua xícara, adicionando leite e dois cubos de açúcar logo depois.
— Não vai seguir o exemplo dos seus irmãos e seu pai? — ela o encarou com olhos marejados.
— No momento eu só quero me alimentar.
— Você é tão diferente dos seus irmãos.
— Todos nós somos diferentes. Só temos semelhanças físicas.
— Eles são sempre cruéis com as palavras. E seu pai, bem, ele é cruel com os gestos e ações.
— Aparentemente aprecia bastante essas situações, Lara. — riu amargamente. — Eu deveria ter me retirado também, não pense que estou aqui porque morro de amores por você. Logo no início, quando meu pai comunicou que se casaria novamente, tentei gostar de você, mas não deu espaço para nenhum de nós. Eu realmente espero que tenha consciência disso. — começou a separar suas torradas. — Eu nunca vi meu pai daquela maneira em nossa frente, perdendo todo seu autocontrole. Observe o que causou nele. Fez com que ele quebrasse uma xícara com a mão!
— Eu não sabia que uma simples pergunta poderia causar isso tudo.
— Você sabia sim. Não seja sonsa Lara, por favor. Eu não sou mais uma criança, sou um homem, e sei muito bem quando uma pessoa faz um comentário maldoso com intenção. Sabe o quão esse assunto é ainda bastante sensível para nós.
— Vocês deveriam superar.
— Você já teve alguma irmã sequestrada sem saber o que aconteceu com ela? — olhou sua negação. — Então não diga que devemos superar. — pegou umas torradas e passou geleia. — E sobre sua sobrinha, pode mandá-la vir para São Petersburgo. E digo antecipadamente que isso não quer dizer que vou me casar com ela, está entendido?
— Está. — bebeu mais chá. — O irmão dela também vai vir.
— Ela pode trazer o diabo, eu não me importo. — mordeu um pedaço da torrada.
— Você não precisa ser tão grosso e blasfemar em pleno café da manhã. — repreendeu a madrasta.
— Você chama isso aqui de café da manhã? — riu com desdém. — Eu chamaria de catástrofe da manhã.
— Acho melhor eu ir verificar como está seu pai. — levantou-se.
— Eu acho melhor você permanecer aqui, comendo normalmente. — ele se levantou. — Você foi extremamente sem escrúpulos hoje, não acho que sua presença seria bem-vinda.
Ele deu as costas e saiu da sala de jantar, indo em direção ao quarto de Anastásia. Ele sabia que encontraria seu pai por lá.
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