Capítulo VIII

Anastásia jamais pensou ver aquele rapaz novamente. E sobre ele ser rico, não estava enganada. Ao lado dele estava uma mulher tão bonita quanto ele, e eram tão semelhantes, provavelmente irmãos. E perto deles estava uma mulher de aparência rude, com roupas de coloração cinza. Seus olhos eram azuis acinzentados, os cabelos eram castanhos escuros e os lábios eram finos.

Ela olhou para Anastásia com certa curiosidade e deu um mínimo sorriso.

— Poderia se sentar Srta. Tchecova? — a mulher apontou para a cadeira ao seu lado que estava um pouco afastada.

— Claro, senhora. — Anastásia sentou-se prontamente.

— Por que fugiu naquele dia? — o rapaz perguntou a encarando.

— Deixe Irina fazer a entrevista em paz, Dimitri. — a morena de olhos azuis desferiu um tapa no braço do rapaz.

— Você não percebeu a semelhança, Tatiana?

— Realmente, é impressionante. — Tatiana a olhou com certo interesse dessa vez. — Então, Anastásia, por que quer o trabalho?

— Estou precisando do emprego no momento, urgentemente, para ser mais sincera. — mordeu os lábios.

— Devo recordar para a senhorita que está diante de membros da família imperial? — esbugalhou os olhos com a reclamação súbita da governanta. — Recomendo falar Vossa Alteza.

— Sim, senhora. — respondeu constrangida devido aquela reprimenda.

— Voltando, trabalhava em qual local anteriormente? — Irina perguntou anotando algumas coisas no papel.

— Na fábrica Sukhova.

— E o que fazia lá?

— Eu despachava os pedidos dos peixes.

— É um emprego consideravelmente bom. Qual motivo à fez sair de lá?

— Minha família.

— Não tinha um bom relacionamento familiar? — a mulher cruzou os braços, encarando-a.

— Nunca tivemos, senhora. Eu estou fugindo deles, sempre fui muito maltratada. — Anastásia suspirou. — Parecia que eles me odiavam. Principalmente minha mãe e minha irmã.

— Sabe ler e escrever?

— Um pouco.

— Realmente acredita que esteja apta para ser dama de uma grã-duquesa?

— Acredito que sim, e posso aprender tudo muito rápido.

— Interessante. — anotou mais algumas coisas no papel. — Então optaria por morar no palácio?

— Sim, senhora.

— Por que estava assustada naquele dia na estação de trem? — o homem perguntou de repente.

— Eu comprava uma passagem para Moscou escondida. — abaixou a cabeça. — Pensei que Vossa Alteza fosse algum conhecido da minha família, afinal, chamou meu nome, diria que gritou. E eles não poderiam saber daquela passagem, eles nunca permitiriam. Quando cheguei em casa naquele dia, minha irmã começou uma discussão e pegou meu casaco e achou a passagem. Minha mãe espancou meu rosto, fiquei dias sem ir ao trabalho.

— Que tipo de monstro é esse? — Tatiana falou assustada. — Não sei nem como a chama de mãe ainda.

— Ela não deixa de ser mãe, apesar das atitudes. — Irina respondeu secamente.

— Não importa Irina, mamãe nunca faria isso.

— Sua mãe era uma pessoa amorosa, veio de outro país, educação totalmente diferente. As mães russas costumam ser muito rígidas, por isso aconteceu o que aconteceu com a Srta. Anastásia. Por favor, não pense que concordo com a atitude de sua mãe, porém, estou mostrando um fato para a grã-duquesa.

— G-g-rã-duquesa? — Anastásia gaguejou.

— E eu sou o czarevich, senhorita. — Dimitri riu.

— Meu Deus! — colocou a mão sobre a boca. — Perdoem-me pelos trajes sujos, pela falta de educação.

— Não precisa pedir perdão, Anastásia. — Tatiana deu um pequeno sorriso. — Estamos aqui para ajudar Irina também. Eu gostei de você. Eu a quero para Natasha.

— Precisamos conversar depois, Anastásia. — Dimitri falou seriamente.

— Como quiser, Alteza.

— Feodora! — chamou Irina, e logo uma mulher de cabelos loiros, pele pálida com algumas manchas e olhos castanhos chegou à sala. — Leve-a para o quarto destinando as damas de quarto da realeza imperial. Acomode-a, mostre suas roupas, e mais tarde mostre para ela o palácio. Inteiro. Estamos entendidas?

— Sim, senhora. — Feodora sorriu para Anastásia. — Bem-vinda! Queira me acompanhar.

— Antes de ir, assine esse contrato, Anastásia Tchecova.

— Sim, senhora. — Anastásia pegou a caneta tinteiro e assinou seu nome em uma letra elegante.

— Agora pode ir.

Fez uma reverência para a grã-duquesa e o czarevich, e saiu do local.

Anastásia seguiu Feodora por um corredor bastante luxuoso, que ela nunca esperava ser da ala dos empregados. Andaram pouco, a moça abriu uma porta e entrou.

Não demorou muito para ela começar abrir as cortinas azuis. Logo, o quarto ficou iluminado, exibindo uma cama de solteiro com uma colcha cinza com detalhes azuis perto da janela. Em cima da cama continha cobertores grossos, várias roupas simples, porém, tinha uma certa elegância. Havia uma cômoda de madeira, com um candelabro em cima e um sino perto da cômoda.

Ela nunca esperou que um dia tivesse tudo aquilo em um emprego.

Nunca.

— Isso tudo é meu?

— Sim. As damas de quarto têm um tratamento diferenciado. As roupas são parecidas para todas as damas, exceto as damas da czarina. As refeições são realizadas depois das refeições imperiais. Ah, caso as roupas fiquem grandes, pode levar para a costureira do palácio. Você deve estar pronta para sempre atender aos pedidos da sua grã-duquesa. Não é uma tarefa difícil, é apenas bastante cansativo. — Feodora sorriu. — Você lembra a czarina Alexandra. Muito linda, só não possui a coroa e os títulos imperiais. — apertou o ombro de Anastásia. — Eu espero que goste de tudo. Muitas vezes eles vão estar melancólicos por lembranças amargas, apenas nos cabe ficar calados e observar tudo.

— O que faz aqui?

— Eu sou ajudante de cozinha, mas Irina me dá outras obrigações também.

— Eles a tratam bem?

— Mal os vejo desde que chegaram. — Feodora riu da expressão confusa de Anastásia. — Pode parecer estranho, mas o palácio é muito grande, e minhas funções não me levam para locais perto deles.

— Quanto tempo trabalha para eles?

— Dez anos.

— Um bom tempo.

— Presenciei coisas horríveis. Foram tempos difíceis, e acho que agora vai pegar um bom tempo.

— O que aconteceu?

— É melhor não tocarmos no assunto, pois ontem foi aniversário de Anastásia Bulganova.

— E?

— Ela foi dada como morta, mas não se sabe ao certo sobre isso. O czar acha que ela está viva, aqui em São Petersburgo. Por isso estamos aqui.

— Oh, ontem também foi meu aniversário.

— Parabéns! — Feodora a abraçou. — Quantos anos?

— Dezoito anos.

— Deus todo poderoso, é muita coincidência.

— O quê?

— Você tem o mesmo nome, a mesma data de aniversário e a mesma idade da grã-duquesa perdida.

— Coincidência interessante.

— Eu acho realmente assombrosa.

— Essas coisas são comuns o tempo todo.

— Não são, Anastásia. — olhou com espanto para ela. — Vou pedir para Suzana trazer sua água quente para o banho.

— Vou esperar.

— Pode ir se acomodando, deixando o quarto do seu jeito.

— Pode deixar. Eu só terei as coisas que o palácio me proporcionar.

— Você não trouxe nada de casa?

— Só meus sonhos, esperanças, um broche e um colar.

— Meu Deus, nada mesmo. Minha filha, o que aconteceu em sua vida?

— Coisas não muito boas. — Anastásia deu uma risada frustrada. — Minha vida vai começar agora. Assim espero.

— Se depender de mim, você vai ser muito feliz aqui.

— Obrigada. — deixou escapar uma lágrima dos seus olhos. — Eu realmente preciso conhecer a felicidade, pois ela nunca me foi apresentada.

— Fico bastante triste em saber que uma garota tão jovem como você não sabe o que é a felicidade. Eu sei que muitos não têm esse privilégio de conhecê-la, mas eu quero ficar responsável pela sua. Eu quero ver esses olhinhos azuis brilhando de felicidade e não de lágrimas.

— Oh, Feodora. Você está sendo tão gentil comigo. — Anastásia apertou a mão da sua mais nova amiga.

— Eu tenho certeza de que merece. — Feodora soltou às mãos de Anastásia e foi em direção à porta. — O almoço será servido 12:00, esteja na cozinha pontualmente. Dentro da cômoda tem um relógio.

— Você pensou em tudo.

— Na verdade, foi Irina. Ela é bastante organizada em relação aos empregados do palácio.

— Gostei.

— Acho bom gostar mesmo. — Feodora revirou os olhos. — Tenha um bom descanso, até mais tarde.

Feodora saiu do quarto e deixou Anastásia sozinha. Ela pulou na cama e respirou fundo. Aquilo era tudo que ela queria; uma vida mais feliz. Levantou-se da cama e começou a organizar as roupas na cômoda, sem saber se aquelas roupas ficariam boas nela. Tirou do seu decote o broche e o colar que tinha ganhado do pai adotivo, colocando-os debaixo das roupas e fechou os olhos.

— Deus, seja misericordioso comigo. Ajude-me a achar minha família, e perdoe aquela que um dia me machucou e me ofendeu. E que seja da sua vontade eu ser feliz nesse lugar.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top