Capítulos 9 e 10
[Manuela]
9 – Angústia
Nossa mãe surgiu no corredor do hospital com os olhos arregalados e injetados. Então, quando avistou a gente, ela piscou pela primeira vez e seus ombros arriaram, a ponto de derrubar a alça da bolsa. Pela sua expressão, parecia que ela não tinha ideia de quem fora hospitalizado.
Seus olhos encheram-se de lágrimas de alívio.
-Mamãe! – Bruno foi o primeiro a reagir, largando o dinossauro de plástico que ganhou da enfermeira chefe e correndo para abraçar as suas pernas.
-Oh, meu querido! – Mamãe abraçou Bruno forte e eu vi as lágrimas rolando pelo seu rosto.
Sandra e eu trocamos um olhar cansado e nos levantamos. Eu particularmente estava toda dolorida. Não sei se pelo efeito psicológico do que passei, ou por causa daquele banco de plástico duro e desconfortável. Nós três estávamos há tanto tempo na sala de espera, que eu nem sentia mais a minha bunda.
-Graças a Deus! – mamãe se aproximou de nós duas e nos puxou para um abraço coletivo, com Bruno feito de sanduiche entre nós. Ele olhou para cima e começou a dar risadinhas, pois adorava aqueles abraços...
– Quando a diretora do colégio me ligou, dizendo que vocês estavam aqui, no hospital... Imaginei o pior! Larguei o telefone e vim correndo.
A diretora Periguete... Tentou se livrar de nós, mas eu finquei o pé. Ela só apareceu no vestiário do IPC muito tempo depois que a polícia. Acho que não conseguiam localizá-la na hora. Quando finalmente veio, queria falar conosco, mas o detetive disse que nós não iríamos ficar revivendo o ocorrido e que ela deveria se encarregar de localizar os nossos pais. A contragosto ela fez isso. E cá estava nossa mãe. Mas onde estaria a diretora?
Agora, Adriana Avilar devia estar prestando esclarecimentos à polícia, depois do que eu contei sobre o Marcos. Com certeza, eles iriam prendê-lo logo.
-Mãe – eu tentei engolir o choro. – A Cam foi espancada.
-Eu soube, anjo... – disse ela, a voz saindo abafada porque seu rosto estava enfiado em nossos moletons. -Acabei de falar com Adriana, na entrada do hospital – esclareceu como se lesse a minha pergunta não pronunciada. – Ela está lá fora, com o detetive.
-Ah, ele foi bem legal – disse eu.
Sandra concordou com um aceno de cabeça.
-Eles queriam que a gente fosse pra casa, mas a gente quer ficar – tratei de avisar.
Não sairia do hospital até saber o que aconteceu a minha melhor amiga!
-Mamãe, a senhora está me apertando – disse Bruno, completamente alheio ao que se passava. Quer dizer, ele sabia a versão suave que lhe contamos: que Cam tinha escorregado no banheiro e estávamos esperando para ver se ficaria tudo bem com ela.
Ele não precisava saber que ela teve o membro arrancado à canivete, nem que o nariz fora fraturado em tantas partes que eles precisaram fazer uma traqueostomia.
- Mãe!
-Oh, desculpe, meu bem! – mamãe soltou o menino e limpou as lágrimas.
Depois da morte do papai, tão recente, um susto daquele deveria ter um efeito triplicado. – Vou levar você para comer alguma coisa.
Bruno gritou “yupi”, mas daí, mamãe mostrou a enfermeira da foto e ele se lembrou de que precisava fazer silêncio.
Levou o dedinho aos lábios e fez uma cara muito séria. Mamãe sorriu e virou pra gente.
-Vocês também devem estar com fome - comentou. - Vamos comer alguma coisa e...
-Não saio daqui até saber se Cam vai ficar bem... – respondi, cruzando os braços. - Ela não tem mais ninguém no mundo, mamãe!
Sandra olhou de uma pra outra, então disse: – Eu também vou ficar – ato contínuo segurou a minha mão. Nós ficamos ali, em silêncio, enquanto mamãe ponderava sobre o que fazer.
Por fim, ela balançou a cabeça, concordando.
– Vou levar esse morto de fome para almoçar e trago alguma coisa para vocês em seguida.
-Xisssss – disse Bruno. – Xisss Tudo! Fome, fome, fome!
-Tá, você quer um X-Burguer... Entendido – disse mamãe.
-Pode ser o mesmo pra mim – comentei, desinteressada. Sandra concordou.
-Não saiam daqui, tá legal? – Ela disse com o dedo em riste. – Estou com o celular ligado. Qualquer coisa, volto correndo. Nós estaremos no restaurante em frente.
Mamãe foi se afastando pelo corredor, com Bruno saltitando, e nós sentamos novamente nos bancos duros. A longa espera continuou. Sandra estava no celular, consultando os grupos no whatsapp. Os outros estudantes só falavam sobre o que aconteceu, inclusive, os colegas da turma do Marcos.
-Eles disseram que ele descobriu que Cam é uma transgênero – disse Sandra, olhando cautelosa para mim. - Parece... Que alguém contou pra ele.
- Dulce? – arrisquei um palpite.
Sandra encolheu os ombros.
-O garoto pirou e foi atrás da Cam – continuou dizendo. - Os dois discutiram e ele a espancou.
Eu virei para Sandra. – Eles disseram tudo isso? Mesmo? E não fizeram nada para impedir? – Ela me olhou sem entender. Eu me virei no banco e gesticulei. – Se sabiam de tudo isso, são testemunhas. Pior: foram coniventes ou participaram! Portanto, são cúmplices!
-Não, eles não disseram tudo isso – ela me lançou um olhar de estranheza. - Eu é que estou deduzindo. Os amigos dele só sabem que Marcos foi atrás dela no final da aula. Parecia furioso...
E agora, dizem que está desaparecido. Daí, a gente deduz...
Sacudi a cabeça, enfaticamente. – Acontece que a Cam escreveu com sangue que ele não estava sozinho. Ela foi espancada por ele e mais três caras.
Sandra arregalou os olhos. – Você disse isso à polícia?
-Sim, eu disse! Mas precisamos que Cam os descreva.
De repente, o médico apareceu na porta e olhou para gente, com desconfiança.
-Doutor – eu me levantei, seguida por Sandra. - Camélia é emancipada e só tem a gente. Portanto, o senhor pode desembuchar logo, porque eu sou a melhor amiga dela.
-Como você se chama?
-Manu... – pigarrei, tentando me acalmar. - Manuela Guedes Lima.
-E eu sou Sandra, a irmã dela – Sandra pegou no meu braço, para enfatizar que era minha irmã e não de Cam.
-Bem, eu acho melhor vocês se sentarem.
-Por quê? – perguntei, ficando cada vez mais alarmada. – A gente já tava sentada, pode falar!
Ao invés disso, o médico nos conduziu - meio que empurrou - de volta às cadeiras de plástico e se sentou ao nosso lado, com expressão piedosa.
-Camélia não resistiu.
-Como assim, ela não resistiu? – eu indaguei, erguendo a voz, num misto de desespero, indignação e incredulidade.
-Manu – minha irmã interveio colocando a mão em meu braço. Seu tom era tão desamparado... Isso só me deixou mais agitada.
Eu livrei o braço.
-Como assim? O que o senhor quer dizer com não resistiu? – Eu insisti.
O médico só me olhava.
-Ele disse que ela morreu – Sandra formulou a terrível verdade, que eu me recusava em acreditar.
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[Manuela]
10 – Agente secreto exposto
Desde a morte de Cam, eu vivia como um dos zumbis do The Walking Dead.
Eu andava, eu comia, eu dormia - tudo em câmera lenta. Pelo menos, era câmera lenta, dentro da minha cabeça. Eu me sentia mergulhada num estado de anestesia... Tudo ficou em preto e branco. A comida não tinha sabor. O som dos pássaros não tinha graça. A vista do meu quarto, muito menos.
Só teve uma coisa que me animou: o ódio que sentia por Marcos e seus cúmplices. Foi então, que canalizei todo esse sentimento para as postagens do Paladino.
Foram os meus post mais visualizados e curtidos de todos os tempos.
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Fiquei duas semanas seguidas sem ir à escola, depois do enterro de Cam.
A diretora Periguete mandou as tarefas dos professores para o meu e-mail. Fiz tudo e devolvi para o mesmo endereço. Quase que imediatamente, ela me respondeu, dizendo que precisava conversar comigo sobre algo do meu interesse. Mandou-me um link “Zoom” para falarmos em tempo real. Tive um terrível pressentimento, mas aceitei falar com ela, especialmente, depois que ela terminou a mensagem, dizendo: -“Se você sabe o que é melhor para você e a sua família, fará como estou dizendo”.
Mesmo antevendo uma catástrofe, eu estava tão anestesiada que nem dei bola. Cliquei no link à hora combinada e encarei a Periguete na tela do monitor.
-Boa tarde, Manuela... – Adriana Avillar ergueu a cabeça, torcendo a boca pintada de vermelho-escândalo. - Ou devo chamá-la de @Paladinodaverdade?
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Alô, Cleytinho, a casa caiu...
-Está surpresa, Manu? – disse a diretora. – Achou que Marcos iria aturar suas acusações na internet, sem reagir? Quer dizer, as acusações do @Paladinodaverdade. Muito bonito... precisou se esconder por trás de um nome falso para dizer o que bem entendia das pessoas. Sabe como eu chamo a isso? Covardia.
Eu fiquei olhando bestificada para a imagem da diretora, pela tela do computador.
-Achou que sua querida amiga Camélia não contaria ao namorado o que vocês duas andavam fazendo?
Então, aquela era a dura verdade. Camélia confiou o nosso segredo ao canalha do namorado, sem saber que no futuro, ele seria o seu assassino. Porque não me disse? Ela não tinha o direito de revelar nosso segredo sem antes falar comigo.
Marcos era um grande filho da puta, mesmo. E estava jogando com as armas que tinha nas mãos.
-Bem, queridinha – Adriana Avilar passou a mão pelo cabelo loiríssimo e caríssimo. – Eu não tenho tempo para floreios, pois o meu tempo é muito valioso. Além do mais, tem gente me esperando... Portanto, direto ao ponto: Você está banida do IPC, entendeu? Você e seus irmãos. Como vamos fazer? Bem... – ela fingiu pensar. - Legalmente, eu teria que deixá-la completar o ano letivo. Mas você vai sair antes sem dar um pio, ok? Você, Sandra e Bruno. Sua mãe está devendo cinco mensalidades para cada um de vocês, totalizando quinze. E o IPC não é um bazar de caridade.
-Mas como vou fazer?
-Dê o seu jeito, não quero nem saber. Se não der, vou revelar tudo a sua mãe. Além de processá-la pela suas calúnias e pelas mensalidades atrasadas. Sim, isso mesmo, é sua mãe que vai pagar na justiça por toda a difamação que você e Camélia cometeram. E já que a sua amiguinha está morta, sobrou pra você, meu bem.
Eu fiquei ali, com o coração na boca, sem saber o que fazer. Eu acabaria tendo que revelar o meu segredo para mamãe.
-Além do mais, a família de Marcos não quer você no instituto.
-Mas ele é um assassino.
-Ele não foi nem julgado... E pode processar sua mãe pela sua difamação.
-Espera, você não pode processar minha mãe porque sou maior de idade – menti descaradamente, pois ainda faltavam dois meses. Caso ela fizesse queixa, daria tempo... Será? Mesmo assim, reforcei: - Acabei de completar dezoito anos.
Ela me encarou como a gata periguete que engoliu a periquita.
-Ah, mas aposto que podemos cavar uma cumplicidade, já que quando você começou a nos difamar, você era menor de idade.
Coitada da minha mãe, que não tinha culpa de nada do que eu e Camélia fizemos. Eu comecei a me sentir tão culpada, que lágrimas escorreram pelos meus olhos.
A diretora Periguete abriu um sorriso de tubarão, com seus lábios bem pintados.
-Estamos entendidas, né? Ah, antes que eu me esqueça, quero que você faça uma retratação na internet.
Arregalei os olhos.
-Isso mesmo que você ouviu. O Paladino vai pedir desculpas sobre tudo o que você e sua amiguinha falaram sobre mim e Ricardo, o professor de física. Vai dizer que não era verdade e que lamenta muito. Isso tudo, antes de anunciar que vai desaparecer para sempre. Pois nunca mais quero ouvir falar desse Paladino. Entendeu?
Ela não esperou a minha concordância.
-Você tem 48 horas – disse, e se desconectou.
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Para quem olhasse, eu estava funcionando perfeitamente bem. Mas minha mãe e minha irmã sabiam que eu era apenas uma casca de ser humano.
Eu estava oca, por dentro, mas também estava apavorada. Oca por causa da morte de meu pai e de Cam; e apavorada, não por mim, mas por causa da minha família – eu ficava pensando nas consequências do que a diretora despejou na minha cabeça. Eu estava muito, mas muito encrencada e não fazia a menor ideia de como sair daquela situação.
Definitivamente, aquele era o pior ano da minha vida. Se eu pudesse deletá-lo, já teria feito, sem pestanejar. Na verdade, eu queria tanto voltar no tempo e impedir meu pai de sair naquela manhã chuvosa!... Ou, ignorar a visita à psicóloga escolar, assim, não teria me atrasado e poderia ter ido buscar Cam no vestiário.
Minha mãe sempre dizia que não adiantava chorar sobre o leite derramado, mas eu não conseguia me conformar. Simplesmente, não conseguia!
Permaneci alheia a qualquer provocação habitual de Sandra, meu humor estava sombrio. No entanto, não deixei de perceber uma movimentação um tanto anormal a minha volta, desde o enterro da Cam. Mamãe falava constantemente ao telefone, às vezes num tom de urgência. Papeis de contas se acumulavam no cesto da cozinha. Ela não estava indo trabalhar...
Até que numa das minhas discussões com Sandra, esta deixou escapar:
-Acorda, Manu! Como você é alienada! Mamãe perdeu o emprego! Ela não tem mais nem como bancar o aluguel, quem dirá as mensalidades do nosso colégio.
De fato, as despesas com o enterro do papai, as contas, depois o enterro de Cam (que fomos nós que bancamos, já que a família dela não se dignou a aparecer). Lembro de minha mãe telefonando para eles e as palavras da mãe de Cam foram: ainda bem que aquele traveco não vai mais envergonhar a família.
Minha mãe respondera: - A senhora não merece ter uma família.
Eu queria pegar um ônibus só para ir até a casa da “família” de Cam para xingá-los apropriadamente, só que não podia. Eu ia passar por louca, considerando um país como o nosso, onde o certo é errado e o errado passa a ser o certo. Total inversão de valores.
-Quer dizer que teremos de deixar o colégio? – eu perguntei, tentando disfarçar a sensação de alívio.
Sandra estreitou os olhos. – Ficou maluca? Você está no último ano do Ensino Médio e eu, eu tenho notas exemplares. Isso vai nos prejudicar.
-Vai não... – Eu gesticulei com pouco caso. – A gente faz o ENCCEJA e pronto.
Sandra quase se engasgou de tanta indignação. – Acha que é esse o currículo que quero ter, para apresentar no futuro? Conclusão de ensino médio por meio de um teste padrão do governo? Eu quero o diploma de um dos colégios mais conceituados do país. Afinal, estamos pagando para isso.
-Bom, você mesma disse que não estamos mais pagando... – eu a lembrei. Meu alívio só crescia.
Ela ignorou o comentário e me apontou o dedo, como se eu tivesse alguma culpa no desemprego da nossa mãe.
-Eu estava consultando o Código do Consumidor e outras fontes na internet. A diretora Periguete não pode mandar a gente embora. Somos menores de idade e estamos estudando.
-Fale por você. Eu já sou maior de idade. Além do mais, isso só garante a sua permanência até o final do ano, Sandra – argumentei, ficando preocupada de repente. – A diretora pode simplesmente negar a oferecer nova matrícula, ano que vem e você terá que concluir o Ensino Médio em outro lugar.
Os ombros de Sandra arriaram, de puro desânimo.
-Quanto a ter um diploma de colégio conceituado, não se iluda... -
Eu quase ri. – O IPC tem quatro assassinos em suas fileiras. Para mim, isso mostra que não é tão conceituado assim.
Sandra se calou, a raiva se dissipando. Ela sabia que eu estava certa. Embora fosse “conceituado”, o colégio não era um ambiente acolhedor e seguro. Ao contrário... Sempre foi brutal, na maneira como os estudantes se tratavam, quando ninguém estava olhando. Se bem que a cara de pau era tanta, que até quando os adultos estavam olhando, agiam de maneira violenta, uns com os outros.
Os adultos é que fingiam não ver... Dava menos trabalho.
De repente, um sinal de mensagem apitou no telefone de Sandra. Ela olhou no visor.
-Manu... – Ergueu os olhos para mim, assombrados. – A polícia prendeu o Marcos. Acho que ele tinha acabado de completar dezoito anos. Vai responder como adulto.
-Prenderam os cúmplices também? – Indaguei, esperançosa.
Sandra comprimiu os lábios. Leu mais um pouco das mensagens. – Espera, essa notícia era do início da manhã. Agora veio outra, Marcos saiu sob fiança. Os demais foram liberados. Qual é?
Eles devem ter entrado num acordo. Tipo, ele leva a culpa, com o pai milionário cuidando de tudo, sai livre dessa, com alguns poucos aborrecimentos. Afinal, Cam não tem família para defendê-la. Só a gente.
-O manifesto que o @Paladinodaverdade publicou na internet foi mais justo e poderoso do que as medidas legais aplicadas – disse Sandra, colocando o celular de volta à mesa.
É verdade. O meu manifesto acabou com a imagem de bom moço de Marcos e ficaria eternamente na internet. Eu não deixaria a morte de Cam cair no esquecimento.
-Manu, Deus do céu! Você tem que sair desse estado de letargia! Preciso que me ajude a pensar! – disse Sandra, cada vez mais irritada e nervosa. - Acho que vai acontecer alguma coisa hoje. Mamãe estava falando com o vovô, pela manhã.
Não cheguei a congelar no lugar. Foi só um leve sobressalto.
– Sério?
Ela fez que sim com a cabeça.
Dei de ombros e ela começou a esbravejar, de novo!
-Caramba! Acorda! Você não entende a implicação disso? Ela nunca mais falou com o vovô, depois que ela e o papai deixaram São Longino do Sul. Eles não se falavam, entende? E não se falaram nem mesmo quando papai morreu. Para ela estar falando com ele agora...
-Ah, o que você acha que vai acontecer? – eu indaguei, em tom de zombaria, achando sua reação muito over para o meu gosto.
-Ora, raciocina, garota! – ela já estava meio descabelada, de tanto passar as mãos pelos cabelos rebeldes. Isso, sim, me causou um susto enorme, e eu estremeci. Ela acrescentou: – A gente pode ter que voltar para lá.
Soltei uma risadinha sem humor. – Não seja idiota. Quem iria querer voltar, a essa altura do campeonato? Ela só devia estar contando ao vovô, o que nos aconteceu... Deve ter pedido a ajuda dele. Se bem que ele não tem nem onde cair morto. Ele não vive num ferro velho?
Sandra deixou os braços caírem ao longo do corpo, em dúvida. – Será?
Por outro lado, depois da minha conversa com a diretora safada, talvez não fosse má ideia que a gente voltasse para São Longino do Sul. Eu que não iria contar isso a Sandra.
Ela acabaria surtando.
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Deixei os comentários de Sandra para lá e voltei ao meu estado de desânimo e pavor, à medida que a tarde se esvaía. Quando anoiteceu, mamãe ainda não tinha chegado, e como ela estava desempregada, nós duas começamos a ficar preocupadas. Mas, daí, ela ligou avisando que iria se atrasar um pouco. E que a gente tinha permissão para pedir uma pizza da Cantina Italiana da esquina.
Nós vibramos tanto com a ideia da pizza, que não reparamos no tom triste de nossa mãe, ao telefone. Eu só fui refletir sobre isso depois que desliguei o telefone.
Para comemorar a “noite da pizza”, a gente juntou o que havia sobrado de nossas mesadas e fomos até à locadora da esquina, a fim de alugar um filme. Depois de muita discussão, acabamos levando “It, a coisa, parte dois”.
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