Capítulos 19 e 20
[Manuela]
19 – A Viagem
O misterioso-gostoso estava certo... Tinha muita coisa no computador da diretora Periguete que, se caísse nas mãos certas, faria com que ela arrancasse todos os cabelos de seu caríssimo megahair.
A diretora tinha uma informação contra mim. Mas eu tinha vinte e oito informações comprometedoras contra ela e sua gestão - desde o desvio de dinheiro dos projetos do governo até o sumiço do caixa da APP.
As cartas mais altas eram as minhas, quando ela me chamou de novo no Zoom para me dar o ultimato do “dá ou desce”. Se olhar matasse... Ela teria me fulminado!
O resultado final foi de empate. Ficamos acertadas assim: Eu estava saindo do IPC como a Periguete queria, mas sem ter que me retratar publicamente, nem revelar a identidade do Paladino para Deus, mamãe, Sandra e o mundo. A Periguete, por outro lado, teve que se comprometer em não revelar sobre mim a ninguém e a embromar o Marcos e sua família... Pois se ele revelasse, ela cairia comigo. Assim, Periguete decidiu inventar para eles que investigou a fundo e descobriu que o Paladino era outra pessoa. Que não havia provas contra mim.
Ela deve ter lhes dito que se me acusassem, poderiam ser processados por calúnia e difamação. Fosse como fosse, teve que dar o seu jeito, com medo de que eu apresentasse as informações do pendrive à Ouvidoria do Governo, à Delegacia da Polícia Federal, à Procuradoria, ou ao Ministério Público. Aliás, eu já estava com todos os e-mails preparados e esperando...
Contudo, algo me dizia que depois do encontro com Steve no banheiro do instituto, Marcos aceitaria a explicação da diretora com mais entusiasmo.
Selado o acordo, como prova de boa fé, eu e minha família estávamos deixando a cidade, como ela e a família do Marcos tanto queriam... (Ninguém precisava saber que a gente estava saindo de qualquer jeito, porque mamãe não tinha mais dinheiro para continuar pagando a mensalidade caríssima do instituto; aliás, ela não tinha dinheiro nem para a gente continuar vivendo em Floripa).
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Será que eu era egoísta demais para lamentar, como a Sandra vinha fazendo? Sei não... Minha irmã parecia uma daquelas carpideiras contratadas pela nobreza faraônica para se debulhar em lágrimas à passagem dos cortejos fúnebres – o papel delas era berrar e espernear, especialmente se o defunto fosse o faraó.
Não... Eu não! Estava aliviada demais por ter conseguido resolver a situação do Paladino, junto à diretora Periguete. E isso, graças ao meu anjo da guarda gostoso. O meu Steve Seagal.
Eu estava começando a ver as coisas pelo lado otimista. Ao menos, em São Longino do Sul, mamãe tinha contatos, poderia tentar alguma coisa, arranjar um emprego e, enquanto isso... Ficaríamos com o vovô, certo? Ele até ajudou a pagar as nossas dívidas, para que pudéssemos deixar a capital!
Era o destino, saca!? Tudo estava favorável para gente voltar pra terra onde Judas perdeu as botas, as cuecas... Enfim, perdeu todas as roupas e ficou doidão.
Era assim que eu imaginava que Sandra estava prestes a ficar: piradona!
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O dia da partida amanheceu ensolarado e fazia um calor desconfortável e atípico para a estação. Vesti uma camiseta regata estilosa, calças cargo, e sandálias rasteiras. Sandra vestiu uma variação do mesmo que vestia todos os dias: preto desbotado, preto buraco negro, preto cegueira total, preto caixão... Enfim, preto.
Bruno pediu para ser vestido de marinheiro. Vai saber o motivo! Ele continuava carrancudo por causa da nossa partida, mas parecia mais calmo. Ficou lá, na sala, entretido com os seus soldadinhos, enquanto a gente corria para cá e para lá para guardar as coisas.
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Levei Oliver para um último passeio no quarteirão... O que serviu para também me despedir da vizinhança que me viu crescer. Eu me despedi das árvores antigas, das calçadas, da pracinha, das lojinhas e lanchonetes que eu tanto amava... Mas não pude me demorar, pois a viagem seria longa. A gente tinha que sair de manhã cedo, se quisesse chegar a São Longino do Sul antes de anoitecer. Com sorte, à tardinha. Isto é, se a gente não pegasse muita tranqueira na estrada.
Então, a despedida teve que ser... veloz. Desfrutei daquela quietude, antes que a cidade começasse a acordar... Uma quietude relativa, pois sempre tinha um VVD passando.
Quando voltei ao prédio, o caminhão de mudança estava saindo com as nossas coisas. Não era muito, por isso, o caminhão era do tipo pequeno. A gente se desfez de mobília e vários itens de cama, mesa e banho, pois não podíamos arcar com um transporte deluxe, se é que me entende. Um caminhão maior custava muito mais caro.
As únicas coisas que mamãe fez questão de manter foram: a máquina de lavar e a máquina de louça. As nossas roupas e penduricalhos, iríamos levar conosco, no carro da mamãe. E por falar nisso...
Dona Denise me esperava no meio fio, ao lado do carro. Assim que me viu, gesticulou impaciente para que me apressasse. Embarquei o pequinês no banco de trás.
-Suas coisas já estão no porta-malas – disse ela, sentando-se diante da direção.
-Sua mochila está aí atrás – completou Sandra, que já estava no banco da frente, com cara de enterro.
Conferi minha mochila, entre os bancos – Bruno chutava-a com os pezinhos.
-Ei!!! – protestei, afastando a mochila de perto das suas “patas”. Ele soltou uma risadinha, mas não iniciou a verborragia, como costumava fazer.
Embarquei, coloquei o cachorro entre eu e o Bruno. Enquanto mamãe girava a chave na ignição, lancei um último olhar para a janela panorâmica do meu antigo quarto. Vislumbrei a senhoria na varanda, colocando a faixa de aluga-se.
Credo, o corpo nem esfriou.
-Ninguém esqueceu nada? Ninguém quer ir ao banheiro? - A pergunta de mamãe foi retórica, pois acelerou em seguida.
Bruno permaneceu calado. Algo inédito. Olhava para fora como que hipnotizado.
– Temos um longo caminho pela frente para chegarmos em casa, e não quero dirigir no escuro – disse a mamãe, manobrando na esquina.
Casa... Ela já estava tratando como nossa casa, um lugar que a gente nem conhecia. Pelo menos eu, nem me lembrava. Fiquei um pouco emburrada, reconheço, mas tive que reconhecer que dirigir à noite, em plena serra, poderia ser muito perigoso - com todos aqueles penhascos e curvas...
Sandra chamou Oliver. O cachorro saltou no meu colo. Ela olhou de esguelha na minha direção, virando um pouco a cabeça para me enxergar. Como sempre, todos preferiam a mim do que a ela. E isso incluía o cachorro.
Eheh.
Minha irmã recostou a cabeça descabelada no encosto do banco.
-A garota do tempo – resmungou, num tom resignado.
-Como é que é? – perguntei, sem entender.
-Nada... – disse ela. - Nada mesmo.
-Tempo! – repetiu Bruno, parecendo gostar da palavra.
Sandra apontou na direção do garoto espoleta e eu entendi que precisava colocar o cinto nele, enquanto ela colocava o seu próprio. Atei o meu, também, assim que senti minha mãe descer a rua em declive. Ela manobrou e dirigiu por um tempo, até alcançar a entrada da rodovia geral que deixava Florianópolis para trás; ficamos ali, esperando uma abertura para que mamãe enfiasse o carro no meio do fluxo intenso da BR.
-Meus queridos – anunciou ela, solene. – Fé em Deus e pé na tábua!
Então, ela acelerou, costurando entre o tráfego intenso.
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Da janela do carro, eu acompanhava as mudanças de cenário. Do concreto alto para o concreto baixo; e do concreto baixo para os cinquenta tons de verde e cinza. Às vezes, eu avistava umas vaquinhas... Mas ainda estávamos no litoral, então, elas eram meio... magricelas.
Para me distrair, fiquei ouvindo música, cochilando, ou cochilando com música... Algumas vezes, eu checava as redes sociais. Ninguém comentou a minha saída do IPC, muito menos da cidade. Claro, nas redes, você só existe enquanto aparece. Abutres interesseiros.
Fiz uma anotação mental para a tarefa de construir uma nova rede de seguidores, em São Longino do Sul.
Bruno quase não brincou durante a viagem, algo deveras preocupante. Ele só ficava vocalizando (até que Sandra mandou que se calasse, para que pudesse continuar lendo o seu livro chato). Mostrei a língua para a nuca dela, e Bruno me imitou, mas continuou em silêncio. Eu o estimulei a brincar com os soldadinhos até que ele se empolgou e voltou a ser o pentelho que eu conheço.
Daí ele passou a fazer vocalizações mais explosivas, e Sandra me lançou um olhar matador. Dessa vez, eu mostrei a língua na sua frente. Bruno me imitou e voltou a brincar, despreocupado. Acho que ele precisava dessas nossas fagulhas – entre Sandra e eu – para se sentir normal. Eu torcia para que a mudança não o afetasse.
Nossa primeira parada foi à hora do almoço, num pit stop de caminhões à entrada de uma cidadezinha que nem sei o nome. Só sei que a gente deixou o Oliver no carro e foi para o restaurante.
O lugar era uma churrascaria imensa, e com tanta comida, que eu nem sabia por onde começar. Cada sobremesa, uma mais maravilhosa que a outra. Mamãe deixou a gente escolher duas, cada um. A que vinha grátis com a refeição e a extra, para viagem.
Antes de partirmos, alimentamos Oliver com as sobras de carne que pegamos de nossos pratos e eu o levei para dar uma voltinha, para fazer suas necessidades.
No total, a nossa parada durou uma meia-hora. Logo estávamos na estrada de novo.
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[Manuela]
20 – Tamo legal
Sandra estava lendo... Como fez a viagem toda. Mas isso não significava que ela tinha deixado de ser enervante, só porque estava se deleitando com a obra imortal de Dostoyevsky. Na última hora e meia de viagem, Sandra colocou o fone de ouvido e ficou batendo aquele pé no assoalho do carro. Incrível que isso não enervou nossa mãe também.
-Oh, nerdinha... – eu chamei, inclinando-me para frente. Como ela não deu bola, eu a cutuquei no ombro. – Dá pra parar de bater esse pezão, faz favor?
Ela parou de bater o pé, com um suspiro de raiva. De repente, começou a mascar chiclete... De boca aberta.
-Ah, assim não dá! – disse eu.
-Qual o problema? Estou te incomodando? – Sandra perguntou, virando para trás, deveras jocosa.
Eu ri na cara dela.
-Meninas – mamãe murmurou, sem tirar os olhos do trânsito, mas num tom de alerta que eu ignorei.
-Não, Sandy, – ela detestava ser chamada assim – você não está me incomodando. Só está mostrando o quanto é chata!
-Chata! – Brunou repetiu, deslumbrado, como se tivesse achado sua nova palavra favorita.
-Chata é você! – devolveu Sandra, elevando a voz.
-Meninas – mamãe disse de novo, em tom cansado. Era o segundo aviso. Eu sabia que ela falaria mais uma vez, antes de ficar irada, então, aproveitei.
-CHATOLINA! – rebati.
-CHATOLINA! – Bruno bateu palminhas.
-Mãe! Faz ela parar! – queixou-se Sandra.
Minha mãe soltou um suspiro, não disse nada. Eu tinha mais uma tacada, antes do furacão Denise.
-Bruninho... – eu me virei para o meu irmão, que largou Oliver para pular, de pé, no banco, enquanto batia palminhas. – O que a Sandra é?
-Uma chata CHATOLINA!!!!
Isso!
Sandra tentou se virar inteira para trás, mas o cinto a impediu. Ainda tentando se desvencilhar dele, ela bradou:
-Você é uma insensível, que não respeita a...
-CHATOLINA! – interrompeu Bruno, rindo e apontando para nossa irmã.
-Cala a boca, Bruno! – ela agarrou os próprios cabelos descabelados.
-Não manda o Bruninho calar a boca! – apontei o dedo para ela, fingindo estar tomando a defesa do pentelho. Para minha surpresa, Sandra tentou morder o meu dedo.
Sério! Tipo, literalmente!
-Nossa, virou uma neanderthal de vez! – disse eu, fazendo uma cara cômica de susto, enquanto mantinha a minha mão junto ao peito e fora do seu alcance.
Sandra apontou para mim, como uma bruxa lançando um malefício ou maldição.
-Se eu tivesse uma máquina do tempo, mandaria você para a época em que as mulheres eram mercadoria. Especialmente as bonitas, pois serviam apenas à fornicação!
-Fonica, foni... O que é fonica-cão? – Bruno perguntou para mim.
Eu teria rido, se a praga não tivesse sido tão... Cruel.
Cruzei os braços e rebati: – Ah, é mesmo? De certo eu iria parar na corte de um grande rei, que saberia me valorizar.
Sandra estreitou os olhos. – Ah, sim, como Helena de Troia foi valorizada.
Deixando no ar, ela sorriu toda misteriosa e voltou a se sentar direito, recolocando o cinto. Nossa mãe suspirou de alívio, achando que tudo havia acabado.
Bruno se sentou e começar a puxar as orelhas de Oliver. Eu o instei a parar, pois é errado machucar ou assustar um bichinho. E esse tipo de coisa, a gente ensina com seriedade desde cedo, ou quando a criança cresce se torna um psicopata assassino.
-Não faz! – eu disse, afastando a mão dele das orelhas do cãozinho idoso. - Dodói no Oliver. Ele tá velhinho e merece só carinho!
-Bruno ama Oliver – disse o menino, entendendo o que eu quis dizer e abraçando com cuidado o pescoço do cachorro.
-Isso mesmo... – elogiei. - Agora, voltando ao assunto “Helena de Troia”... – disse eu, erguendo a voz para a Sandra me ouvir, mesmo com os fones. - Quer coisa mais emocionante do que uma mulher disputada por dois homens?
Não demorou meio segundo para ela tirar os fones e responder:
-Ah, sim, disputada... Ela era levada aos banquetes, peladona, e besuntada de óleo, para que o rei Menelau a oferecesse aos seus convidados.
-PELADONA! – gritou Bruno, voltando a pular no banco.
Agora, nossa mãe perdeu a paciência.
– Sandra e Manuela! – bradou. - Se não pararem já, eu vou estacionar este carro e dar uma sova nas duas!
Nós emudecemos no mesmo instante, sabendo que quando nossa mãe prometia, de fato, cumpria. Fosse para o bem ou para o mal.
Os próximos minutos da viagem transcorreram num abençoado silêncio, até que Bruno sentou no banco, e gritou: - PELADONA!!!
Nós três desatamos a rir.
-PELADONA, PELADONA, PELADONA! – Bruno dizia, sem parar, interpretando a nossa risada como aprovação.
Cheguei a chorar de tanto rir. Sandra sorriu para mim e depois esticou a mão para descabelar Bruno.
-Isso mesmo, cowboy, PELADONA! – Ela disse, imitando o seu tom agitado de falar.
Bruno escapou do descabelamento e sorriu para nós.
-Tamo legal! – disse ela, repetindo a frase preferida de nossa mãe.
Se não estávamos legais, iríamos ficar legais, pois mesmo na adversidade, quando existe amor de verdade numa família, estamos seguros. Estamos bem.
Tamo legal!
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Na parada seguinte, a gente saltou para esticar as pernas e bater fotos da vista incrível da serra. Mamãe nos disse que quanto mais subíssemos, mais incrível a vista ficaria.
Verdade... Mas ao mesmo tempo, eu tinha que mexer o maxilar, sentia a pressão nos ouvidos me incomodando.
Mudança de altitude.
-Sovetiiiii! – exigiu Bruno, distraindo-me de meus pensamentos.
Mamãe sorriu, mas de um jeito triste. – Não querido, aqui não tem sorvete.
Bruno franziu a testa, sem compreender que não tinha o que ele queria ali, naquele exato momento, naquele exato lugar. Para ele, bastava esticar a mão...
-Sovetiiii!? – insistiu, num tom questionador.
-Bruninho – eu me acheguei e inclinei a cabeça para fitá-lo nos olhos. – Não tem sorvete em todos os lugares. Só na cidade. E a gente ainda não chegou lá. Além do mais, está esfriando. Pra quê você vai querer sorvete, quando pode tomar um chocolate quente?
Ele pareceu entender a explicação e encolheu os ombros. De repente deu-se conta pelo quê iria trocar o sorvete e sorriu.
-Chocolati quenti?
-É isso daí, campeão! – eu espanei o cabelo dele, e o garoto soltou uma risadinha, meio indignado, meio divertido.
-E por falar em frio – Sandra apontou para a minha regata, disparando um olhar matreiro ao Bruno; então, levantou a voz: –Manuela vai congelar, PELADONA desse jeito.
Bruno começou a saltitar, espalhando um pouco do cascalho que recobria o o chão em torno do minarete. – Peladona! Peladona! Peladona!
Apontei para Sandra e contra-ataquei: - Bruno, olha a chatolina ali!
-Não! – Ele bateu o pé, espalhando mais cascalho. – Peladona é melóó!
Homens... Espero que essa não seja uma prévia das coisas que você vai aprontar quando crescer, moleque.
Retornamos ao carro, com Bruno falando e falando: -Peladona, peladona, peladona, peladona!
Bom, numa coisa a Sandra tinha razão. O vento cortante da serra era de enregelar os ossos. E estávamos indo para o outono... Imagina se fosse para pegar o grosso do inverno! Eu pedi pra mãe abrir o bagageiro e catei a jaqueta. Era fina, de acordo com os padrões do clima de Floripa. Desconfiei de que não iria dar conta daquele “tipo” de frio.
Mamãe lançou-me um olhar crítico.
-Vou precisar refazer o guarda-roupa de vocês.
Mas como, se a grana está curta?, pensei, mas não disse. A coitada já estava sob muita pressão.
Mamãe sentou-se na direção, mas não arrancou imediatamente. Ela pegou o celular, consultou alguma coisa. Presumo que foi o app do banco, porque disse em seguida:
-Acho que podemos comprar alguma coisa pra vocês, na próxima loja de departamentos que encontrarmos. Desde que seja em conta. Apenas – ela suspirou, levando a mão à testa, fatigada. - Apenas para quebrar o galho.
-Por mim... – disse Sandra. – Pode ser qualquer coisa, até de loja de tudo por 1,99. Lá a gente pode comprar mais de uma peça.
Olhei bem para ela. – Não se atreva! Além do mais, a inflação já levou pro brejo as lojas de 1,99. Agora o valor mínimo é 10 paus.
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