Capítulo 4

Eu beijei Alex, lutando contra as lágrimas, tentando desesperadamente fazer aquilo dar certo. Quando finalmente nos afastamos, notei que nada havia mudado e não pude conter as lágrimas. O garoto no meu corpo surtou e quase esmurrou uma parece, mas eu o envolvi segurando-o.

Impedindo que partisse ossos do meu corpo, permaneci o prendendo ao meu corpo enquanto tentava contê-lo.

— Alex, me escuta! — Ordenei. — Pode haver algo aqui que nos ajude, vamos vasculhar a casa e ver o que encontramos.

— O.K. — Ele bufou enquanto tentava tirar os meus cabelos do rosto.

Peguei o elástico em seu/meu pulso e virei o meu corpo de costas para mim, prendi os cabelos e o garoto sequer me agradeceu quando passou por mim.

Eu o segui enquanto vasculhávamos o porão, Alex parecia mais irritado a cada vez que nos esbarrávamos na escuridão.

— Tem um isqueiro no meu bolso. — Ele avisou.

Tateei suas roupas procurando o isqueiro, até o encontrar e acender. O porão iluminou-se e nós pudemos ver os baús antigos que estavam ali, corremos para um deles e Alex o abriu.

Havia roupas dentro dele, antigas e fedendo, nós dois tossimos e o isqueiro apagou-se, voltei a acende-lo enquanto nos afastávamos do baú e seguíamos para o próximo, que foi apenas mais um monte de inutilidades.

Até que nos restava apenas um baú e antes que seguíssemos para ele Alex se afastou e sentou-se na escada observando o porão escuro, me aproximei dele, eu não percebia o quanto meu cabelo era uma bagunça até estar de frente para o meu próprio corpo.

— O que foi?

— Estou cansado disso. Esse corpo é muito frágil, estou realmente cansado, além disso, já olhamos em todos os malditos baús, não resta mais nada para olhar.

— Sim, é cansativo, mas ainda falta um baú. E eu não vou desistir até termos olhado tudo.

— Está bem! — Ele levantou-se e nós voltamos ao baú, olhei para o meu rosto por um instante e Alex me encarou de volta.

— Mente para mim. E diz que vamos achar a resposta aqui. — Pedi. Ele me encarou incrédulo por um instante longo demais e suspirou.

— Nós vamos achar a resposta.

Então abriu o baú e nós vimos alguns papéis, cartas, para ser exata. Embaixo desse monte de papel havia um livro grande de capa de couro, encarei o objeto antes de pegá-lo.

— Vamos olhar isto lá em cima. —Alex disse.

Nós subimos as escadas e paramos sob uma janela, longe das vistas de quem passasse nas ruas. Alex abriu o livro e começou a folheá-lo.

— Que raios de idioma é esse? — Ele perguntou enquanto olhava os símbolos nas páginas.

— É coreano. — Sussurrei.

— Como você sabe disso? Você sabe traduzir?

Peguei o livro e pus sobre o colo enquanto folheava as páginas, eu estudei coreano desde o dia em que a minha mãe saiu do país, na esperança de que um dia eu fosse encontra-la e morar com ela lá fora. Observei os símbolos conforme minha mente compreendia sua narrativa.

— E então? — Apressou.

— Espere um pouco.

— Claro, nós temos todo tempo do mundo.

— Não seja sarcástico.

Era um ritual estranho, observei as páginas com atenção, lendo a história daquele ritual até que uma parte me chamou atenção e eu senti um nó de desespero se formar em minha garganta.

— Ah não! — Soltei.

— O que foi? O que diz aí? — Ele perguntou observando a página do livro como se por algum milagre fosse entender o que estava escrito.

— Para que esse ritual maluco aconteça, tem-se que beijar a pessoa numa sexta-feira treze...

— Sim, foi assim que trocamos de corpo. Como reverter isso?

— Nós temos que nos beijar outra vez.

— Nós já tentamos isso. Duas vezes! — Ele rebateu.

— Numa sexta-feira treze.

Ele ficou boquiaberto, possivelmente em choque. Apanhei o celular do meu bolso e percebi que era o dele, peguei o meu e desbloqueei, olhei o calendário.

— Haverá outra sexta-feira treze. — Falei.

— Quando? — Ele pareceu desesperado. Apanhando o celular da minha mão. — Está brincando com a minha cara!

Quatro meses, dali a quatro meses poderíamos destrocar, enquanto isto, eu teria de permanecer no corpo dele e ele no meu. Tentando não sermos pegos e esperando o dia da troca.

— Eu não vou conseguir fazer isso por quatro meses! — Ele falou.

— E o que você quer fazer?

— Acerta a minha cabeça e me deixa em coma!

— Eu iria acertar a minha cabeça e não sabemos se você ficaria em coma por exatos quatro meses. Além disso, eu posso ser presa por isso.

— Não é hora para temer ir para cadeia.

— Você não se preocupa com o que pode acontecer com o seu corpo durante esse tempo? — Questionei e ele deitou-se no chão.

Deitei-me também e encarei o teto semidestruído do lugar, queria acordar e descobrir que tudo isto foi um sonho maluco. Respirei fundo, tentando acalmar minha mente, eram só quatro meses, nós poderíamos passar por isso sem maiores danos.

Nós dois nos sentamos ao mesmo tempo e eu suspirei retirando o capuz enquanto observava o meu próprio rosto me encarando.

— Acho melhor contarmos logo um para o outro tudo que nós precisaremos saber para lidar com isso. — Avisei.

— Minha vida se resume a: minha mãe que você já conhece, futebol na escola, aulas e saídas com os meus amigos. O que inclui Nádia e as líderes.

Revirei os olhos ao ouvir o nome dela.

— Você conheceu minha madrasta, o nome dela é Carla e você tem que chamá-la assim. Meu irmão mais novo é o Matheus, ele é muito, muito rebelde e faz birra por qualquer razão, todos os dias após a escola, eu cuido dele.

— É por isso que você quase nunca sai de casa. — Ele constatou.

— Uma das razões. Voltando... Você logo conhecerá o meu pai, ele é um homem de poucas palavras, geralmente chega em casa antes de Carla, então quando ele chegar você estará livre para ir para o quarto estudar. — Alex revirou os olhos.

— E a sua mãe?

— Eu falo com ela todos os dias quando chego da escola, é o único momento que conseguimos nos falar, você terá de fazer isso. — Meu coração apertou neste momento.

— E quanto ao Brendo?

— Ele é meu melhor amigo desde o jardim de infância. Geralmente quando acontece alguma briga entre o meu pai e minha madrasta eu vou para casa dele.

— Seus outros amigos?

— Eu não tenho.

Alex me encarou por um tempo antes de pigarrear como se não se importasse com a situação. Ele encarou o vidro sujo da janela e nós dois permanecemos em silêncio.

— Tem algo na escola que eu precise saber? — Questionei um tempo depois.

— Estou indo para recuperação em biologia. — Ele disse. — Nádia costuma flertar comigo às vezes, mas eu quero ficar com a amiga dela, a morena.

Engoli seco pensando que isto seria um completo desastre. Alex me encarou frustrado e antes que eu pudesse ter alguma reação ele cobriu minha cabeça com o capuz.

— Não se preocupe com isso, apenas ignore elas. — Assenti.

Ele contorceu o rosto e eu lhe perguntei o que estava acontecendo.

— Eu te disse que precisava... — Ele pigarreou ao me encarar. — Fazer xixi.

Me perguntei a razão pela qual ele estava me dizendo isso, minha bexiga apertou no mesmo instante.

— Vamos, tem um banheiro por aqui.— Sussurrei.

— Posso te fazer uma pergunta?

— Já está fazendo...

— Quantos namorados você já teve. — Eu quase tropecei ao ouvir a pergunta.

— Por que você quer saber isso?

— Bom, eu estou no seu corpo, acho que seria bom saber quantos homens já...

— Eu nunca tive um namorado. — Revelei.

— O quê?

— Você foi o primeiro garoto que beijei.

Por um instante o garoto no meu corpo pareceu desesperado ou surpreso, eu não saberia diferenciar, ele estagnou no meio do corredor e permaneceu imóvel, enquanto eu o observava.

— Você não estava apertado?

— Como uma garota com quase dezesseis anos nunca teve um namorado?

— Isso não interessa a você.

— Acho que me interessa sim, estou no seu corpo!

— Quantas namoradas você já teve, senhor popular?

— Bom, algumas...

— Não preciso me preocupar com garotas ciumentas loucas por uma reconciliação, preciso?

— Não, você não precisa.

— Ótimo! Agora vá ao banheiro e não toque o meu corpo de jeitos estranhos! — Ele me olhou nos olhos sem parecer irritado com a ameaça, mas entrou no banheiro.

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