G
𝓖anhou a via pública três horas depois de sua chegada ao prédio. O ocaso imprimia-lhe leve sensação de dever cumprido, mas desconfiava que toda a adrenalina daquele dia resultaria em insônia líquida e certa. Menos mal, a literatura exercia sobre ele fascínio quase hipnotizador e ler o manuscrito não lhe seria tarefa nem um pouco penosa.
Congestionavam-se as vias e a rua da Consolação, intransitável, era só o começo do cortejo. Durante as paradas nos semáforos alongava os braços, com o entrecruzar das mãos e diante do espetáculo da hora rubra, deixava o pensamento voar. Cerrou os olhos com tênue feixe de luz incidindo sobre a fronte e banhando-se por aquela sensação, uma buzina o fez despertar: o sinal aberto, ele parado e um motorista irritado no carro logo atrás.
Chegando ao apartamento, tomou um banho e jantou, atirando-se o mais rápido que pôde ao 'canto da leitura', um espaço em seu dormitório especialmente preparado para as incursões literárias. O cansaço do dia ensejaria derrubá-lo, ao que ele rebateria com abluções do rosto e amargos goles de café.
O manuscrito de Domingos Casqueira era bem escrito. Seus capítulos não eram extensos e a linguagem buscava um meio termo entre ser simples e direta, com boa utilização de técnicas narrativas. Notava-se a preferência pela pouca utilização de verbos declarativos ou de sentimento. Texto enxuto, narrado em primeira pessoa. Uma novela? Um diário? Um registro romanceado dos fatos?
Quando lia um bom livro, Bruno logo se imaginava diante de um computador, digitando histórias de ficção policial. Gostaria de ter mais tempo para desenvolver seus próprios enredos e talvez Ravacini, um dia, quem sabe, pudesse avaliar alguns deles. O curso de Letras havia-se distanciado tanto, em detrimento e prioridade à advocacia, que mais parecia uma doce lembrança de sua infância.
"Um dia, quem sabe..."
Enfim, iniciou a leitura tão almejada, a partir do capítulo 1...
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