Uma semana depois

Peguei o controle e apontei na direção das cortinas, para abri-las. Pela primeira vez em muito tempo eu estava acordando sozinha de manhã cedo, não por ter algum compromisso a esse horário, mais em relação ao compromisso que terei mais à tarde.

Hoje era o fim de semana que eu e Jenna passaríamos com Mikael. Eu não sabia o que esperar, e o pior de tudo, tinha medo de me decepcionar e me arrepender muito por estar fazendo isso.

Eu estava mentindo o tempo todo para que isso desse certo, mas se fosse a coisa certa a se fazer, porque eu estava mentindo e porque parecia ser tão errado?

Durante a semana inteira Justin estava tão concentrado em resolver as coisas com os dois membros novos na equipe que não prestou atenção na minha agitação.

Mas acho que o que eu mais tinha medo era sobre como nós dois estaríamos amanhã. Se depois de hoje eu aceitar passar mais tempo com Mikael, prometi a mim mesma que contaria a Justin, e acho que é justamente isso que vem me deixando tão agitada e com insônia.

Não tenho a mínima certeza se amanhã amanhecerei aqui, ao lado dele, ou se amanhecerei em qualquer outro lugar, longe dele.

Só espero que Justin entenda que tenho esse direito de querer conhecer o meu pai. Por favor, entenda.

A porta do quarto se abriu e eu dei um pulo de susto.

— Está devendo? — Justin zombou devido ao meu susto, enquanto entrava no quarto. Estou apenas te devendo à verdade. Sorri sem graça abaixando a cabeça, enquanto me sentava na cama. — Porque acordou cedo? — Perguntou se aproximando e depositando um beijo em minha testa.

— Simplesmente perdi o sono. — Dei de ombro. — Já tomou café?

— Acabei de tomar, vou tomar um banho agora e entrar em reunião. Quer sair hoje? — Deixou a pergunta no ar enquanto estava em seu Closet em busca de roupas. Fechei meus olhos e suspirei, sentindo meu coração se apertar. Você precisa contar a ele. Ele voltou a entrar no quarto e parou no meio do caminho, me fitando. — O que foi? — Franziu o cenho, com uma preocupação se formando em seu rosto. Droga.

— Não é nada, é que eu fiquei de sair com Jenna depois do almoço, mas podemos sair para jantar hoje? Adoraria um momento a sós com você. — Principalmente para contar o que eu preciso contar.

As expressões do seu rosto se suavizaram, com a grande preocupação se afastando. Mal sabia ele que mais tarde ficaria muito mais preocupado e irritado.

— Claro, minha reunião é longa, então sem problemas. Saímos para jantar. — Ele sorriu e então foi para o banheiro, mantendo a porta aberta. — Venha tomar banho comigo. — Sorri e fui para o banheiro, escovando meus dentes antes de entrar no Box com ele. Enquanto Justin se molhava e lavava o cabelo, eu ficava observando cada detalhe. As pintinhas pelo corpo, o abdômen sarado, as expressões do seu rosto... Tudo tão bem feito, tudo tão perfeito. — O que foi? — Ele riu ao me pegar no flagra o admirando, mas sua expressão ficou séria ao ver que eu não estava muito confortável. — O que foi, Kells? Aconteceu alguma coisa? — Perguntou vindo em minha direção, acariciando os meus braços. Apenas me joguei em seus braços e o abracei forte. — Você está me preocupando, aconteceu algo? — Balancei minha cabeça, negando, apesar de tudo estar errado.

— Não, é que... Só quero ficar abraçada com você um instante, tudo bem? — Levantei minha cabeça para encontrar seu olhar.

— Claro. — Ele me abraçou mais forte enquanto pousava minha cabeça em seu peito, ficando perfeitamente aninhada. Justin encostou suas costas na parede e permanecemos assim por longos minutos. Podia escutar o seu coração, estava acelerado, com suas mãos acariciando levemente as minhas costas.

Fechei meus olhos por um tempo e aproveitei todo aquele momento, ouvindo o barulho da água, sentindo o calor do seu corpo, seu coração batendo e suas mãos me acariciando.

Deixei que aquele momento durasse o máximo de tempo que eu podia.

Olhei ao redor e o local estava lotado. Na verdade, acho que a palavra "lotado" não se aplicava adequadamente. Aquilo estava explodindo de carros e pessoas. Eu e Jenna olhávamos para todos os lados em busca de alguma vaga, uma vaguinha sequer, mas parecia que todas já estavam ocupadas. .

— Lá no final. — Jenna apontou para uma vaga lá na china, mas não tínhamos muitas opções. Estacionei o carro na vaga e saímos do carro. — Não sabia que ele gostava tanto de cavalgar a ponto de participar de uma competição de hipismo. — Murmurou, e eu fiquei me perguntando se isso foi mais para si mesma do que para mim, então resolvi ficar quieta, não sabia de fato o que responder. Como poderia dizer que o amor pelo hipismo veio devido ela ter o abandonado?

Se Jenna não tivesse o deixado, ele provavelmente não procuraria uma distração para ocupar seus pensamentos.

— Lá está ele. — Falei assim que o avistei na entrada do local. Igual da última vez, ele estava em pé de braços cruzados, olhando para todas as pessoas ao redor em busca de um rosto conhecido. Quando seus olhos encontraram os meus, seu rosto se alegrou e seus olhos se iluminaram. Senti um calor caloroso em meu corpo, me sentindo confortável por vê-lo. Mas quando seus olhos encontraram os de Jenna, a intensidade do olhar mudou completamente. Ele a olhava como se ela fosse a coisa mais linda do universo. — Oi. — Sorri para ele o cumprimentando quando nos aproximamos.

— Oi, fico feliz por terem vindo. — Ele sorria para nós duas, tentando disfarçar a empolgação e felicidade.

— Agradeço pelo convite. — Jenna respondeu, engolindo em seco e esfregando suas mãos. Ela estava nervosa, ambos estavam nervosos.

— Não veio de carro? — Perguntou ao notar que viemos a pé até aqui.

— Viemos, mas todas as vagas estavam cheias, tive que estacionar longe.

— Não, eu reservei uma vaga para você ao lado do meu carro, com sombra para evitar o sol. Vá busca-lo, mostro onde fica.

— Tudo bem. — Comecei a me virar para ir em direção ao meu carro, mas Jenna segurou o meu braço, me fazendo encará-la.

— Vou com você. — Ela sorriu sem graça e começou a me acompanhar. Jenna ficava muito aflita e sem graça ao lado de Mikael, eu precisava saber o que aconteceu de fato com eles no passado.

— Está mesmo a vontade em fazer isso? — Ela assentiu olhando para seus pés, sem ter coragem de me encarar, pois sabia que eu veria em seus olhos que era mentira. Mas eu nem precisava olhar em seus olhos para saber a verdade, de longe você conseguia sentir a tensão entre ela e Mikael.

Algo pendente entre eles estava os deixando desconfortáveis na presença um do outro.

Terei também que perguntar sobre isso mais tarde.

Peguei meu carro e voltei para onde Mikael estava, então o segui até onde seu carro estava estacionado, estacionando na vaga ao lado embaixo de uma cobertura.

— Muito obrigada, essa vaga é bem melhor e ao lado da entrada. — Mikael sorriu, provavelmente ficou feliz por ter feito algo que me alegrou.

— Achei mesmo que iria gostar. Agora vamos, preciso me preparar. Acompanhe-me, por favor. — Ele esticou sua mão mostrando para onde deveríamos ir.

Seguimos pelo mesmo trajeto, a pequena estradinha de terra, então logo avistamos o local, com milhares de pessoas importantes ao redor.

Eu estava com um vestidinho formal branco todo leve e rodado, com botas estilo country marrons. Jenna estava com um vestido verde até o pé e um grande chapéu para lhe proteger do sol. Estava deslumbrante.

Com certeza a sua beleza foi uma das coisas que atraíram Mikael.

— Boa tarde, Mikael. — Um homem que aparenta ter seus quarenta e poucos anos se aproximou o cumprimentando. Estava de terno branco e gravata nesse calor, mas olhando ao redor, todos estavam da mesma forma. Já Mikael estava com uma calça jeans, mas sua blusa era mais em estilo social com apenas blazer por cima para dar um ar mais sofisticado. O bom do Canadá é que nunca um dia ensolarado será tão ensolarado quanto Los Angeles. — Essas são as suas convidadas? — Perguntou olhando para nós e sorrindo de forma gentil.

— São sim. Poderia acompanha-las até o local reservado?

— Claro, com maior prazer. Acompanhem-me, senhoritas. — O homem muito gentil ergueu seus braços para eu e Jenna enfiarmos nossos braços.

— Irei-me troca, vejo vocês depois da partida. — Mikael se despediu e eu e Jenna acompanhamos o rapaz.

— Estou me sentindo um homem muito sortudo nesse momento por estar de braços dado com duas belas moças. — Seu comentário nos fez rir. — Posso saber o nome das senhoritas? — Sei jeito divertido e educado me conquistou logo de primeira. E notando melhor agora, era um coroa muito bem apresentável.

— Sou Kelsey, e essa é minha mãe, Jenna.

— Muito prazer em conhecê-las, sou Afonso. — Depois de mais algumas risadinhas pelo jeito extrovertido e simpático de Afonso, chegamos ao nosso local reservado. Havia uma área na parte de cima fechada com ar condicionado, poltronas com uma boa vista da arena, e garçons servindo petiscos, champanhe e qualquer outra coisa que você queira.

Estava na famosa "Área VIP".

— Essas são suas poltronas. Peçam qualquer coisa ao garçom que ele as servirá. Sintam-se a vontade e apreciem.

— Muito obrigada, Afonso. — Agradeci sorrindo.

Quando ele se afastou, eu e Jenna sentamos em nossa poltrona que ficava de frente para o vidro, com uma bela vista de tudo que acontecia lá em baixo. O garçom se aproximou perguntando se queríamos alguma coisa e logo pedi um suco de laranja e Jenna de abacaxi, estávamos cheias de sede.

— Nem dá para acreditar que estou aqui fazendo isso. — Murmurei mais para mim mesma, mas pude ouvir Jenna suspirar e dizer:

— Nem eu.

Depois de alguns minutos de espera, a competição iniciou. Alguns candidatos foram na frente de Mikael, até que chegou sua vez. Estava com uma blusa azul de manga, calças marrons e botas, mais o típico chapéu para hipismo, próprio para a proteção da cabeça.

Estava conseguindo daqui sentir seu nervosismo. Sua filha e a mulher que marcou sua vida estavam o assistindo nesse momento, não estaria me sentindo diferente na situação dele.

Ele começou muito bem todo o percurso com Billy, em alguns momentos achei que fosse caí, mas ele conseguia sempre passar por todos os obstáculos. Teve um momento que Billy encostou as patas no obstáculo. Ele balançou, mas não caiu. Soltei um suspiro de alívio, percebendo que Jenna estava tendo as mesmas emoções que eu.

Quando o último candidato saiu da arena, houve um breve intervalo para o somatório de pontos. Eu e Jenna resolvemos comer um delicioso pão a metro quando senti uma mão em meu ombro. Olhei para cima e Mikael respirava ofegante, estava suado, mas com um sorriso no rosto.

— Vim ver como estavam antes do resultado, vocês estão bem?

— Claro, estamos sendo muito mimadas. — Disse ainda com a boca cheia, mostrando o delicioso sanduíche. Ele riu e depois olhou para Jenna, com mais intensidade.

— Está se divertindo?

— Claro. — Ela assentiu e sorriu. — E você realmente foi ótimo. — O sorriso de Mikael se alargou. Eu não sabia que se ficava feliz por ele ou triste.

— Muito obrigado, Jenna... — Mikael parou de falar quando avisaram para todos os concorrentes de reunirem. — Desculpem, logo estarei de volta. — Ele começou a se afastar.

— Mikael? — Ele parou de andar e olhou para mim. — Estou na torcida por você. — Cruzei meus dedos e sorri para ele. Ele sorriu de volta e assentiu, virando-se e indo para o seu destino.

Mikael pode ser o número Um na máfia canadense, mas era o Dois no hipismo. Mas o segundo lugar não era tão ruim assim.

Eu e Jenna fomos até ele assim que terminaram de entregar as medalhas e os troféus.

— Parabéns! — Disse sorrindo ao me aproximar dele e o abracei por puro impulso da empolgação do momento. Afastei-me rapidamente tentando disfarçar o constrangimento. Nem ele e nem eu esperávamos por esse abraço. — Segundo lugar não é tão ruim assim.

— Não, contando que é apenas a segunda vez que estou competindo de verdade, realmente não é. — Ele deu de ombros e sorriu, então seu sorriso se amenizou ao olhar para Jenna. Pude sentir choques para todos os lados no instante em que cruzaram o olhar um com o outro.

Será que comigo e com Justin também era tão visível assim?

— Parabéns Mikael, você realmente foi incrível. — Ela sorriu para ele, sem desviar o olhar. — Obrigada por ter nos convidado, foi muito diferente e divertido. — Ela continuou falando enquanto ele ainda a observava. Estava ficando constrangida por Jenna.

— Eu que agradeço a vocês por terem vindo, significou muito para mim o dia de hoje. — Agora ele falava intercalando olhar entre nós duas. — Aceitam tomar alguma coisa comigo antes de irem? — Eu e Jenna nos olhamos por um momento, e mesmo por ela não se sentir completamente confortável, percebi pelo seu olhar que estava tudo bem.

— Claro.

— Ótimo. Vou me trocar e já encontro vocês. — Disse animado antes de nos deixar.

Durante o caminho de volta, Jenna ficou em silêncio absoluto. Eu sabia que tudo que aconteceu nessa tarde estava se passando por sua cabeça enquanto ela olhava a cidade pela janela.

Eu tinha que perguntar a ela sobre coisas que eu ainda não sabia, mas sabia que esse não era exatamente o momento certo. Jenna ainda estava balançada pelo olhar penetrante de Mikael.

E eu sabia bem como era isso, tinha meu próprio Mikael.

— Está tudo bem? — Perguntei quando chegamos à mansão.

— Está sim. — Ela sorriu para mim, tentando transparecer o que disse, mas seus olhos diziam outra coisa. — Bom... — Suspirou. — Preciso de um banho, foi um dia longo e quente, nos falamos mais tarde?

— Claro. — Sorri e beijei sua bochecha. Ela me deu um beijinho de volta e então rimos. Olhei Jenna entrar e fiquei ainda alguns minutos enrolando dentro do carro, até que decidi que estava na hora de enfrentar.

Quando passei pelo hall de entrada, Justin aguardava no primeiro degrau da escada, encostado no corrimão e de braços cruzados, encarando os seus pés. Parei no mesmo instante e fiquei observando, até que ele levantou sua cabeça e seus olhos encontraram os meus.

Meu corpo se arrepiou e senti minhas pernas ficarem bambas. Ele me olhava de forma vazia, como se estivesse olhando para o nada. Como se eu fosse um nada.

Meu Deus, ele sabe.

— Só vou perguntar uma vez e você irá me responder. — Ele parou por um instante, me olhando fixamente. Seu maxilar travado denunciava o quanto estava tentando se controlar. — Onde você estava, e com quem estava?

Meus olhos arregalados, minhas mãos tremulas e minhas pernas bambas já estavam me entregando por si só.