Capítulo Onze: A Viúva Negra


Em uma área de Manchester que ainda era tomada pelo verde da natureza, com árvores que faziam as pessoas se sentirem em uma pequena floresta local, uma pesquisar escolar de campo era realizada entre os estudantes. Esses estudantes eram de duas turmas: a de Nathaly e a de John. As turmas eram geridas pelos professores de Biologia e Ciências, e eles contavam com a presença de um grupo de biólogos convidados a ministrar essa pesquisa e somar conhecimento entre todos. Estando no final, todos estavam diante de uma casa apropriada onde o grupo se hospedava temporariamente naquela área para fazer seus diversos trabalhos ecológicos.

– Bem, pessoal. Como vocês podem ver, a natureza ainda tem muito o que nos ensinar. Jamais, em hipótese alguma, devemos ignorar o que ela nos oferece e mostra. Ela é vida; e, sem ela, o que poderia ser de nós, não é mesmo? Por isso, pessoal, vamos tratá-la com respeito – discursava a líder daquele grupo de biólogos, chamada Samantha Collins, reunida com os estudantes e professores presentes.

O olhar de Nathaly parecia perdido enquanto a bióloga falava. Aquele olhar certamente não era por questões de não conseguir acompanhar aquela pesquisa e as palavras ditas pela profissional da área. Na maior das realidades, ela estava pensando e tendo lembranças da Mãe Natureza. Aquelas lembranças não eram provocadas por estar em um ambiente tão similiar à grande floresta amazônica somente, mas aquele trecho do discurso também contribuiu para que ela se lembrasse de muitas coisas, chegando a refletir cada palavra ouvida.

– Nathaly? – chamou Juliana, olhando-a diferente. Nathaly voltou a si, e olhou para a amiga. – Parece pensativa.

– Ah! Sim. Estou – sorriu, sem muita expectativa.

– Pensando no Allan?

Nathaly olhou novamente para a amiga. Ela demorou alguns segundos para respondê-la.

– Sim – disse ela, balançando a cabeça.

– Amanhã ele está de volta, Nathaly. Não foi isso que ele disse para você?

– Exato.

– Então. Agora, torne a prestar atenção. Está muito interessante esse desfecho.

Juliana virou seu rosto para continuar prestando a atenção no discurso dado enquanto Nathaly suspirou antes de voltar com a sua atenção.

John estava ouvindo o discurso um pouco longe das jovens. Escorado em uma árvore e com braços cruzados, ele ouvia o que era dito na frente. A primeira impressão era que ele estava isolado, como uma pessoa pensando na vida. Apesar da ausência de Allan, John demonstrava respeitar a excessiva proximidade entre Nathaly e ele. Entretanto, próximo a ele, havia um jovem casal conhecido de sua própria sala.

– Nossa, amor. Esse lugar é bem interessante para fazer uma trilha romântica entre nós – comentou a garota.

– Sim – concordou o namorado. – Mas, independente de qual seja o lugar, sempre fica melhor com você.

Eles começaram a sorrir e olhar um para o outro maliciosamente, até que seus lábios começaram a se aproximar. Seria um eventual beijo.

– Nem assim você sossega, Isabella – disse John, olhando aquilo. Ela imediatamente olhou para ele, assim como o namorado. – A Srta. Collins está falando agora.

– Fica na sua, Mitchell – repreendeu-lhe a jovem. – É simplesmente inveja sua. Está sozinho aí, escorado nessa árvore. Por que não a abraça?

Quando John ia respondê-la provavelmente à altura, ele ouviu a voz de Samantha dirigindo-se a ele:

– Sr. Mitchell. Quando eu disse que devemos respeitar a natureza, também me refiro aos escoramentos em árvores – disse ela. – Não que isso seja totalmente prejudicial ao vegetal desse porte, mas você não gostaria de ser escorado por algo ou alguém. Estou certa disso.

Os olhares voltados para ele deixaram-no sem graça. Mais do que os olhares, ele ficou completamente sem jeito após uma leve bronca de uma bióloga. Ele rapidamente desapoiou da árvore e fez um sinal de positivo sob um sorriso forçado. Ele viu Nathaly olhando-o com uma cara que mostrava segurar o riso. Ele retribuiu, mostrando parcialmente o seu sorriso branco; Isabella, a jovem apaixonada da sala dele, deu algumas risadas abafadas, e seu namorado pediu para que ela parasse. John desmanchou o sorriso e olhou descontentado para a garota.

– Voltando, pessoal... Antes que eu tenha que me dispensar de vocês, gostaria de mostrar a vocês uma espécie de animal, que capturamos aqui mesmo nesse lugar.

Após anunciar, Samantha fez um sinal para um de seus membros do grupo. Este trouxe algo retangular coberto por um pano. A bióloga aproximou-se e tirou aquele pano do objeto. Quando foi tirado, era um aquário com uma aranha dentro. O animal era preto, com detalhes únicos e avermelhados na superfície ventral do abdômen. Ademais, apresentava-se com patas longas e finas. A espécie tinha quase um centímetro de comprimento. Alguns alunos chegaram a demonstrar espanto quando souberam que era uma aranha.

– Calma. Essa aranha foi a única a ser encontrada por aqui. Diríamos que ela estava perdida – riu. – Bem, é uma espécie de classe aracnídea, chamada por muitos de "viúva negra". Ela tem esse nome pelo fato da fêmea ter a fama de matar os seus parceiros após o acasalamento. Ainda não se sabe muito bem o porquê, mas ela é realmente letal aos machos.

Ela continuou explicando e permitiu que os alunos vissem o animal de perto. A aranha estava tranquila em seu habitat genérico com terra e um pedaço de galho para simular o ambiente natural. Aquilo seriam as últimas coisas a serem feitas naquele dia de pesquisa e aprendizado a céu aberto, e respirando o verde.

Era noite. Na casa provisória dos biólogos, o aquário estava em uma sala totalmente escura. Não era possível ver exatamente o que havia na sala. Apenas as silhuetas do aquário e de alguns aparatos em volta eram possíveis, pois o iluminar da lua chegava a entrar um pouco pela janela, clareando parte do solo e fazendo um mero reflexo ao teto. A escuridão cessou quando alguém abriu a porta e acendeu a luz. Era Samantha e seus colegas de trabalho.

– Vejam. A nossa bebê está dormindo – disse ela. – Entretanto, como a temperatura pode cair ainda mais durante a madrugada, precisamos novamente manter o ambiente de vidro aquecido.

– Quantos graus mais ou menos, Srta. Collins? – perguntou um dos biólogos.

– A cerca de 20 graus. Está ótimo para ela. E para o vidro também – sugeriu. – Qualquer coisa, um de nós pode vir aqui para checar.

Algumas silhuetas mais próximas ao aquário eram de um equipamento cujos fios interligavam a máquina às duas chapas aquecedoras suspendidas por tripés em cada lado. Um dos profissionais do grupo foi até a máquina, e a ligou. Quando ela começou a funcionar, uma luz amarelada, quase dourada, saía daquelas chapas em direção à parte superior do aquário onde a tampa possuía vários pequenos furos para entrada de ar. O processo assemelhava-se aos bronzeadores artificiais de pele dos dias atuais. Porém, não faziam a tal função. Apenas mantinham o ambiente favorável ao animal. Tal prática de aquecimento não era a primeira vez para manter a aranha sempre climatizada e livre do frio inglês. Já era um procedimento noturno comum desde quando a espécie fora encontrada pelo grupo.

– Ótimo. Agora, vamos cada um ir para debaixo de suas cobertas – disse Samantha, que olhou para o aquário. – Boa noite, senhorita aranha.

O ambiente da sala ficou novamente escuro no apagar das luzes e o fechar da porta, estando apenas o habitat genérico do aracnídeo iluminado ao centro. Aqueles raios luminosos eram mais fortes em comparação à iluminação da lua, que ainda atravessava a janela no fundo. Devido àquela intensidade quase absoluta, era possível ver pequenas partículas douradas e brilhosas a olho nu, que passavam pelos furinhos da tampa junto à luz propriamente dita. A aranha estava exposta àquela radiação, tomando mais um banho de um sol artificial. As partículas brilhosas eram absorvidas pela pele negra do animal normalmente. Mas, naquela noite, tudo seria diferente. O aracnídeo começou a ficar agitado, pois a iluminação começou a ficar mais quente do que o normal por causa de um problema repentino da máquina. O vidro temperado não aguentou tamanho calor, e apenas o som de estilhaços foi ouvido, embora ninguém da casa o percebesse. E ninguém fora à sala ao longo da madrugada.

Amanheceu. Samantha abriu a porta da sala para desligar o equipamento. Mas ela se deparou com o aquário estourado. E onde estaria a aranha?

– Ai, não... – disse ela, colocando a mão na boca.

Nas proximidades da casa dos biólogos, a estudante Isabella e seu namorado estavam andando pelo local que estiveram no dia anterior. Eles haviam faltado à aula para estarem ali. Ambos foram até as mediações de um barranco natural e não muito profundo. Era um pouco – ou totalmente – perigoso, mas o casal estava sentado sobre as folhagens a alguns metros dali, estando abraçados. Era o momento romântico.

– Respirando um ar como esse nos revigora. A cidade apenas nos desgasta enquanto convivemos com a industrialização e urbanização demasiada – comentou Isabella.

– Nossa. Será que você se tornará em uma bióloga no futuro? Vejo que aprendeu muita coisa na pesquisa de campo de ontem – disse o namorado.

– Podíamos ir ao grupo que estava com os professores ontem. Estamos pertos mesmo.

– Claro. Tudo para vê-la feliz – sorriu.

Eles conversavam intimamente sob os sons naturais do lugar. A aranha que escapou dos cuidados dos biólogos apareceu por ali. Isabella estava distraída com uma das mãos apoiada no solo. O animal acabou se aproximando de sua mão. Um movimento crucial dos dedos estimulou o ataque do aracnídeo, que picou a jovem. A sua reação de reflexo jogou a aranha para longe e, imediatamente, o veneno corria pela corrente sanguínea. Entretanto, nenhum sinal era apresentado.

– O que foi, Isa? – perguntou o namorado, preocupado com a reação estranha – Está tudo bem?

– Estou ótima – respondeu, sorrindo.

Isabella apenas começou a beijar loucamente o seu namorado, que correspondeu ao ato. Eles começaram a tirar suas roupas e o clima ficava cada vez mais quente entre eles. E eles apenas eram jovens. Mas tudo acontecia ali. Após quase vinte minutos, eles estavam terminando de colocar suas roupas.

– Isso tem que ficar entre nós, Isabella. Por favor – disse o jovem, abotoando a camisa. – Bem, vamos procurar a casa do grupo de biólogos.

Isabella não respondia, fazendo mistério ao seu namorado. Ele percebeu seu silêncio nada comum da parte dela, e começou a olhar esquisito.

– Isa?

Ela se virou com um olhar e sorriso sínico. Conforme ela andava, ele era forçado a dar alguns passos para trás em direção ao barranco.

– Ainda quer mais, Isa?

– Não. Eu já me satisfiz – respondeu. – Mas falta uma coisa...

Isabella colocou sua mão no peito de seu namorado, e o empurrou de barranco abaixo. Uma ação rápida que não permitiu a defesa dele. Apenas um grito foi dado por ele antes de cair e se chocar com alguns galhos e até pedras. A jovem ainda deu uma olhada. O corpo estirado do namorado refletia em seus olhos, que apresentaram um pequeno feixe dourado em um único movimento circular sobre suas íris e sumindo na sequência.

Era o dia subsequente. Nathaly fez o seu ritual de sempre antes de ter mais um dia de estudos. Ela desceu já arrumada as escadas com a mochila em mãos, colocou sua mochila no sofá e assentou-se na cadeira para ter seu café com os seus pais na cozinha. Então, cumprimentou-os sorridente com um bom dia.

– Filha – chamou-a Clara. Nathaly a atendeu direcionando os seus olhares claros para ela enquanto mordia uma das peras sobre o seu prato raso. – O seu namorado não virá aqui para ir juntos para escola?

– Não, mãe. – Ela notou uma troca de olhares entre os seus pais quando respondeu negativamente. – Quero dizer, ele disse que iria diretamente para lá, pois não daria tempo para arrumar as coisas na casa alugada e vir aqui.

– Perdoe-me por falar assim, mas ele anda muito estranho ultimamente. Principalmente quando ele soube sobre os seus dons – comentou Steven. – Tudo bem que ele teve que aproveitar o tempo que tinha para dar atenção aos pais dele e ficar mais um dia ausente... Mas você não acha isso estranho?

– Cheguei a pensar sobre isso esses dias, pai. – A filha olhou para a aliança em seu dedo. – Mas creio que ele realmente passou por algo delicado e não queria nos incomodar. Sei que não sumiria por causa dos meus dons. Ele tem sido compreensivo comigo.

Após aquela breve conversa e ter chegado à escola, Nathaly estava com Juliana próxima aos seus armários, conversando. Allan, que prometera voltar à cidade no dia anterior, mas não acontecera, finalmente chegava de forma natural.

– Olá, meninas. – Ele beijou Nathaly. – Saudades.

– Oi, Allan – disse Juliana, sorrindo.

– O que houve que você não pôde vir ontem? – perguntou Nathaly, cruzando os braços. Uma pergunta que parecia estar entalada em sua garganta.

– Perdoe-me, Nathaly... Acabei atarefado com algumas coisas mais com os meus pais.

– Mas era só ligar. Meus pais lhe assegurariam apoio.

– Eu agradeço. Mas não era preciso. Aliás, eram questões intrapessoais – explicou. – Vamos para a sala?

Eles foram para sala de aula. Allan abraçava Nathaly de lado enquanto se dirigiam até lá.

Enquanto isso, John saía do banheiro masculino. Ele mal andara e foi recepcionado pela Isabella, a sua colega de classe:

– Olá, John! – Ela abraçou-o.

– Nossa! O que é isso? Parece que ganhou uma aposta ou algo assim. – John se desprendeu dos braços dela. – Mas não precisa me abraçar. Aliás, o seu namorado pode nos ver.

– Não se preocupe. Eu terminei com ele... Tivemos uma briga feia.

John ficou espantado com a notícia, e quis saber detalhes sobre o assunto, já que o assunto foi tocado. Isabella contou sua versão que jamais existira, trazendo comoções falsas ao seu ouvinte. Ela simplesmente puxava o peixe para o seu lado – o que era esperado. – John fez inocentemente a sua parte em acalmá-la, dando palavras animadoras e aconselhadoras. Quando menos esperava, ele se via juntinho a ela.

– Bem... – John encurvava-se para trás para tomar distância dela – É melhor irmos para sala. Já está quase na hora.

– Você é uma pessoa tão boa, John... Sempre quis ter alguém ao meu lado, que me compreendesse tanto como você – disse Isabella, aproximando o seu rosto. – É muito ruim estar só. Você sabe disso, John. Veja que, quando Alice teve que deixar você, você sentiu e tem sentido a falta de uma pessoa ao seu lado. Mas podemos superar isso...

John sorriu tímido e engoliu em seco, olhando nervoso para ela. Isabella abriu um sorriso carente de um amor. Mas aquele sorriso carente se transformava em um sorriso sedutor e malicioso. Os seus olhos se fixaram nos olhos dele, e o poder de sedução foi letal quando aquele feixe dourado apareceu novamente em seus olhos, em uma única volta pelas suas íris. Isabella sorriu de lado, sinalizando algum êxito.

A Butzek Corporation estava muito agitada em trabalhos e novos negócios. A principal sala de reunião da sede local era a mais movimentada, e um pouco lotada, tendo todos os assentos da gigantesca mesa ocupados por profissionais civis. Eduard contratara uma empresa de obras civis para terminar os últimos detalhes no acabamento e instalações internas e externas identificadas naquele prédio de Londres pelos mesmos avaliadores. O intuito da reunião era, evidentemente, tratar sobre os preparativos para dar início às obras que faltam para deixar o edifício pronto para um uso adequado. Luiza estava marcando presença naquela reunião, estando ao lado de seu esposo.

– Será de extrema importância que façamos o melhor para que tal edifício, agora pertencente às propriedades da corporação, esteja devidamente pronto para representar a nova fase da empresa. Estamos evoluindo para algo melhor, em prol do avanço da ciência. Por isso, conto com vocês para nos ajudar a alcançar a meta – discursou Eduard. Ele deu uma olhada para o seu relógio. – Bem, senhores. É hora de darmos uma pausa. Dispensados. Digo, dispensados até o retorno. Portanto, voltem!

Todos se levantaram de suas cadeiras rindo das últimas palavras do cientista, e se dirigiam à porta. Naturalmente, Eduard ia logo atrás, mas Luiza não. Ela o pegou gentilmente pelo braço, fazendo-o voltar.

– É muito interessante o que nós iremos fazer. Mas eu estive pensando... Não será muita logística para ser arcada pela empresa quando terminarmos essa parte, Eduard?

– Eu entendo o seu receio, Luiza. Mas precisamos continuar jogando as nossas cartas na mesa – disse ele. – A empresa está atravessando o melhor momento, e estamos a um passo de algo novo e maior.

Os dois ficaram parados, esperando quem iria à frente. Como cavalheiro, Eduard abriu alas para sua mulher passar, indo atrás em seguida. Quanto à empresa, novas águas passariam por debaixo daquela ponte. Era uma questão de tempo.

No intervalo das aulas, Nathaly estava reunida com o seu namorado e com sua amiga. Eles batiam um papo entre eles, com direito a algumas risadas. Em uma daquelas inevitáveis risadas, Nathaly virou o seu rosto para o lado. Quando fez o movimento, ela viu John se aproximando de mãos dadas com Isabella; aquele brilho nos olhos provocado pelas risadas se perdeu, e seu sorriso desmanchava-se aos poucos. Realmente, era uma cena inesperada. Juliana também parou e ficou olhando; Allan apenas colocou as mãos nos bolsos, sempre tentando ser neutro quando John aparecia.

– Olá, pessoal – disse John, erguendo a outra mão à meia altura.

– Uau. Parece que o cupido flertou o nosso amigo John.

– Isso é bom, Juliana – disse Allan, olhando para ela e tornando a olhar o casal. – Todos têm a sua cara metade, que realmente combine.

Nathaly, que havia dado passos à frente, olhou para trás.

– Para com isso, Allan. – Ela olhou para John. – Ela não tinha um namorado, John?

– Sim. Mas ela acabou terminando com ele. Então, estamos juntos – explicou. – Eu vim aqui para apresentá-la a vocês. Essa é Isabella Patel, a minha nova namorada.

Isabella cumprimentou Allan e Juliana. Quando ela apertou a mão de Nathaly, Nathaly percebeu duas marcas pretas minúsculas em sua mão direita, a mesma mão que foi picada pela aranha. Nathaly remexeu suas sobrancelhas, denunciando uma cisma. O sinal tocou na hora, e todos iam para suas salas. Allan pegou na mão de Nathaly, mas foi ela quem o puxou.

– Você viu aquilo? – perguntou Nathaly.

– O quê?

– Haviam dois furinhos na mão de Isabella.

Os dois trocaram olhares.

Já na hora da saída, John estava recolhendo algumas coisas de seu armário. Novamente, ele foi surpreendido pela Isabella:

– Meu amor!

– Isabella – sorriu.

– Que tal nós fazermos uma trilha romântica naquele lugar onde fizemos a pesquisa de campo?

– Agora?

– Sim. Ou quer perder algo?

– Como o quê?

Ela segurou o rosto dele e o beijou na boca por alguns segundos.

– E isso não é nada em comparado ao que irei lhe mostrar na trilha.

Aquele beijo claramente o convenceu a aceitar aquele pedido da jovem. Ele terminou de pegar as coisas do armário para colocar na mochila e saiu de mãos dadas com a namorada. Mais atrás, Nathaly estava espionando-os ao lado de Allan. A decisão tomada pela própria Nathaly era segui-los. A cisma era muito grande àquele relacionamento tão próximo e rápido.

Eles chegaram ao local onde Isabella levara John. Entretanto, Nathaly e Allan os perderam de vista.

– Melhor voltarmos, Nathaly. Deixa-os felizes. Não é nada demais – disse Allan.

– É tudo, Allan. – Nathaly começou a andar, estando de costas para o namorado. – Sinto que John pode estar em perigo.

– Que intuição mais aguçada. Não creio que seja um de seus dons – comentou, cruzando os braços. – Há uma conexão entre ele e você! A aliança não está servindo de nada...

Nathaly continuou de costas para ele e preparava uma resposta, até que se virou e foi até ele.

– Você tem razão. Há uma conexão entre nós. Mas como amigos – disse ela, olhando nos olhos. – Aliás, por que você disse que essa aliança não está servindo? Não entendi.

Foi a vez de Allan permanecer mudo por alguns momentos, com a diferença de estar de frente de um para o outro. Uma verdadeira troca de respostas raciocinadas antes de expô-las. Entretanto, a resposta de Allan não veio à tona quando Samantha, a bióloga à procura da aranha junto a sua equipe, aparecera naquele local com o intuito de achá-la. Tal assunto fez Nathaly querer ir à casa onde o animal mantinha-se isolado no aquário.

– Nós mantínhamos a espécie aqui, Srta. Kate – disse a bióloga, apontando para porta da sala, que estava aberta.

Nathaly entrou na sala, e avistou a máquina de aquecimento desligada.

– Para que serve isso?

– Nós usávamos essa máquina para aquecer o habitat da aranha. Ela acabou quebrando o aquário onde ela estava durante a noite retrasada – explicou. – Venha. Iremos mostrar como funciona.

Samantha segurava uma das chapas enquanto os outros biólogos ligavam a máquina. Quando ela foi ligada, Nathaly imediatamente reagiu indiferente diante daqueles raios sendo indiretamente emitidos em sua direção, já que a chapa estava inclinada para o chão. Ela deu passos para trás, esbarrando-se em Allan.

– Está tudo bem, Srta. Kate? – perguntou Samantha.

– Sim – respondeu, fazendo uma cara enjoada. – Apenas sou sensível ao calor.

Rapidamente, a bióloga pediu para que desligassem o equipamento. Na hora, Nathaly voltou ao normal.

– A luz é muito forte e amarelada – comentou Nathaly.

– Sim, o aquecedor produz uma energia que vem das pedras de Phenacite industrializada, um mineral dourado – disse a mulher. – As tais pedras estão dentro daquela pequena câmara que alimenta a máquina.

De repente, Nathaly lembrou-se de John, e saiu às pressas com o seu namorado. Naquela altura, Isabella já fizera o que prometera para John. John estava desconfiadamente se arrumando; Isabella pegou uma corda de sua bolsa e foi até ele como se não quisesse nada.

– John. Você seria capaz de fazer algo por amor a mim?

– Sim, claro... – Ele olhou para ela e a viu segurando aquela corda – O que é isso?

– Queria que você fizesse uma loucura por mim.

John arregalou os olhos e começou a andar lentamente para trás.

– Você irá passar essa corda no galho de uma árvore, como essa atrás de você, subirá em uma pedra e colocará a corda no pescoço. E você sabe o restante do roteiro, não é mesmo? – disse Isabella, com um olhar assustador.

John resolveu reagir, tentando lutar contra ela sem feri-la. Por causa desse cuidado em prol do sexo feminino, ele tornou-se vulnerável, sendo contra-atacado por Isabella e jogado contra a mesma árvore que fora sugerida por ela. O impacto o fez desmaiar na hora. Aquele barulho chamou a atenção de Nathaly, que mal imaginava que estava ao derredor do local.

– Ouviu isso, Allan?

– O quê?

Nathaly entrou em ação com os seus poderes. Incorporando a audição aguçada de um animal por cópia em DNA, ela pôde ouvir passos sobre as folhagens e uma respiração profunda. Ela identificou a direção daqueles sons, e olhou para tal sentido. Ainda concentrada, as pupilas de seus olhos cresceram um pouco em seus tamanhos, e uma visão aguçada, ultrapassando as brechas das altas vegetações, a possibilitou a enxergar o momento em que Isabella segurava a corda e indo até o desmaiado John. Nathaly teria usado a poderosa visão de uma águia.

– John... – disse ela, sob um olhar alarmante.

Isabella estava próxima em consumar mais um ato instintivo. Já poderia ser perfeitamente imaginado qual seria o eventual fim do jovem nas mãos dela. Ela segurou firmemente a corda e a puxou para testar sua firmeza. Um olhar determinante fazia dela uma pessoa convicta no que iria fazer ali. Após amarrar a corda em um dos galhos daquela árvore e amarrado à outra ponta no pescoço de John, Isabella colocou sua vítima de pé sobre uma pedra – como a corda dava o sustento, o corpo de John permanecia equilibrado sobre a pedra, estando apenas um pouco inclinado para frente –; e ainda pegou mais uma corda e a amarrou naquela pedra para puxá-la dos pés de John.

Estava tudo pronto para forjar um enforcamento. Distante, Isabella segurava a corda que prendia à pedra e olhava completamente concentrada para John. Enfim, ela fez o movimento para puxar a pedra. Na mesma hora, Nathaly surgiu e viu aquela cena. O tempo parecia parar naquele agonizante acontecimento em curso. No momento em que John caía com a corda em seu pescoço, Nathaly usou sua visão de calor contra o grosso barbante, fazendo-o partir ao meio. Nathaly não deixou que John sofresse o impacto da queda ao chão através de uma rápida agilidade como uma felina, pegando-o e deitando-o no chão.

– Isabella. Você precisa de ajuda – disse Nathaly, colocando-se de pé.

– Como você fez tudo isso? – questionou. – Não importa. Você estará em minha lista também, apesar de não ser lésbica.

Isabella sacou um revólver e mirou em direção a Nathaly. Nathaly ficou estática, esperando o desfecho quando, de repente, a jovem foi atingida por trás e caiu desacordada no chão; Allan a golpeou com pedaço de galho. Quando olhou para Isabella caída ao chão, Nathaly acabou vendo a tal aranha fujona justamente ao lado. Ela pediu para que Allan não se movesse e aproximou-se do animal, agachando-se. Ela simplesmente testou sua comunicação por telepatia para manter a aranha serena e conseguir pegá-la.

– Seus dons são incríveis, Nathaly – impactou-se o namorado.

Ela apenas o olhou, ainda com aquela vergonha em apresentar os seus dons indiscutivelmente incríveis. O silêncio foi interrompido quando eles ouviram os gemidos de John acordando e, na sequência, Isabella retomando sua consciência também.

– Que cachecol mais incômodo – comentou comicamente John, colocando as mãos na corda que ainda estava presa ao seu pescoço.

Nathaly correu para ajudá-lo a tirar aquele agonizante símbolo de seu pescoço, que remetia à morte ou suicídio, dando toda a atenção para o jovem e corajoso rapaz. Claro, sua atenção era nada mais do que uma amigável, de amizade. Talvez, não era o mesmo ponto de vista de Allan, que apenas ficou parado de onde estava enquanto observava aquela cena. De quebra, ele foi o responsável em manter Isabella sob vigilância até que a polícia fosse posteriormente acionada. Tal chamado foi feito da casa profissional daquele grupo de biólogos. Os homens da polícia chegaram minutos depois e prenderam Isabella por tentativa de assassinato – eventualmente, ela seria também indiciada pelos outros crimes cometidos. – Nathaly não se esquecera de devolver a aranha aos seus respectivos donos antes de ir embora para prestar depoimentos.

– Nossa! Como ela está bem comportada em suas mãos – comentou Samantha, referindo-se ao animal que estava nas mãos de Nathaly, em forma de conchinha. – Acho que você tem jeito para ser uma bióloga daqui a alguns anos.

Ouvindo tais palavras de uma mulher experiente na área, cuja ainda nova em idade, Nathaly pareceu estar muito lisonjeada e pensar sobre o comentário em si.

– Ah! Sim, Srta. Collins. Sempre gostei de animais. Talvez, isso me permite ter certa intimidade com eles, desde mansos aos peçonhentos.

Ela não iria falar o que realmente estaria por detrás daquela "hipnose animal" sendo que, na verdade, era um resultado de seu poder telepático exclusivo para afins. Então, sobrou um largo sorriso branco, sem provocar qualquer desconfiança da bióloga. O aracnídeo foi entregue à Samantha, e a própria bióloga repassou os cuidados para um de seus assistentes.

– Obrigada, Srta. Kate. – Samantha sorria com extrema satisfação. – Espero vê-la mais vezes. Gostei muito de sua pessoa. Você tem futuro, menina.

– Eu posso lhe pedir uma coisa, Srta. Collins?

– Claro. O que seria?

Nathaly ficou muda e pensativa por alguns instantes. Ela desviou o seu olhar para o lado, tornando seus olhos para a mulher logo depois.

– Zele bastante por aquela aranha.

Ela sorriu e deu às costas, pois já não havia mais tempo para ficar. As suas últimas palavras soaram como uma intuição à qual sequer ela mesma saberia descrever a intenção em falar aquilo. Por outro lado, poderia ter provocado alguma curiosidade da parte de Samantha. A bióloga observava Nathaly deixando a casa com uma cara pensativa.

Na delegacia, Isabella teria confessado que ela estava matando pessoas por um estranho e repentino instinto nas últimas quase quarenta e oito horas, e os alvos seriam apenas homens. A informação veio aos ouvidos de Nathaly e os demais presentes na recepção, como John e Allan. John achou a tal história muito esquisita enquanto Allan estava encaixando as peças em seus pensamentos por influência das teses dadas pela sua namorada; também em pensamento, Nathaly já teria tido a certeza que aquilo envolvia os dois furinhos na mão de Isabella e, consequentemente, concluir que a aranha teria sido a responsável por estar contaminada com os raios de luz à base de Erionite modificado, onde a picada não se resumira a simplesmente a um risco comum de uma picada. No entanto, permaneceu como uma débil diante dos oficiais.

Na saída da delegacia, Allan ia à frente e Nathaly vinha atrás enquanto John vinha logo na sequência, sendo o último a sair. Quando desciam as escadas, John chamou Nathaly, que parou educadamente para ouvi-lo.

– Queria agradecê-la por tudo, Nathaly. Acabei me envolvendo erradamente. E não sei como – disse John, passando a mão sobre sua cabeça. – Só falta a Isabella ser uma das pessoas com dons maldosos. Ela tinha uma ótima lábia – riu, mostrando aquele sorriso simpatizante.

– Você disse muito bem. Ela apenas teve lábia – disse ela, sabendo que não era.

– Não era para eu estar vivo se não fosse por um anjo. Você foi o anjo a me salvar – reconheceu. – Sabe... Desde quando nos conhecemos, você sempre trouxe boas energias, às quais têm livrado a nós mesmos de algo pior com tantas coisas estranhas acontecendo por aí afora.

Nathaly já ficou com os seus olhos brilhando devido às lágrimas que queriam escapar, mas eram seguradas. Distante, Allan gritou o nome dela, pedindo que ela terminasse de descer as escadas para que ele a levasse para casa o mais breve. Ela deu às costas para John, e desceu os últimos degraus; o rapaz não se moveu, e apenas a olhava descendo.

– Vamos. Seus pais já devem estar preocupados e... – Allan notou as lágrimas presas aos olhos de Nathaly – O que John lhe disse para fazê-la chorar? Ele foi mal agradecido com você?

– Não. Ele seria incapaz de fazer isso – respondeu. – Eu apenas me emocionei com os seus agradecimentos. Apenas isso.

Allan olhou para John. Tentando aderir-se de um olhar mais neutro, ele abraçou Nathaly de lado e saíram andando. O olhar de John correspondia ao olhar recebido, estando sério com as mãos no bolso. Novas faíscas poderiam estar surgindo entre eles, mostrando que nada estava em um mar de rosas.

Era noite. Em seu cantinho preferido da casa, o seu quarto, Nathaly olhava o seu livro de Biologia. Folheando-o, ela estava a pensar novamente nas palavras da bióloga Samantha. Ela fechou o livro e deixou sobre sua escrivaninha, indo se sentar na cama. Agora, começou a recordar das palavras ditas por John na porta daquela delegacia. Pensando, ela sorriu por um tempo, mas o desmanchou quando considerou a impossibilidade de se abrir com ele e contar que ela é mais do que apenas uma pessoa de boas energias. Ela achou que a mesma compreensão que aconteceu com Allan não se repetiria com John, apesar de saber quão compreensivo ele era. As incertezas por ser uma pessoa com dons ainda queriam matá-la por dentro.

De repente, uma forte dor de cabeça veio. Nathaly colocou as duas mãos sobre a cabeça, na tentativa de criar resistência às dores. Não funcionando, ela levantou-se da cama e correu para a varanda, e apoiou-se no parapeito. Quanto menos esperava, as dores sumiram, ficando apenas com a cabeça um pouco dolorida. Ela respirava fundo ali. Os sintomas ocorreram na mesma hora em que os cientistas da Butzek Corporation na Floresta Amazônica teriam acabado de realizar uma nova tentativa de explorar o cristal-diamante, usando uma forte dose de leitura magnética sobre o raro mineral. Porém, sem êxito esperado graças às novas defesas impostas pelo cristal.

– Esse cristal só pode ter um dono... – comentou o cientista líder, olhando fixamente para o diamante azulado, chegando a refletir em seus olhos.

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