Capítulo Três: Às cegas

| Conteúdo atualizado em 21/04/2018 |

A turma de Nathaly e Juliana teria aula de Biologia no laboratório da escola como a primeira aula do dia, na qual a atividade consistiria sobre anatomia animal na prática. Como cobaia dessa atividade, os alunos levaram simples peixes frescos para serem estudados, além de roupas e luvas apropriadas para a realização; os utensílios cortantes foram cedidos pela escola.

No banheiro feminino, Nathaly e Juliana estavam terminando de se assumar, colocando os seus jalecos. Nathaly parou e ficou olhando para o espelho. Ela ainda pensava sobre aquelas coisas que o seu pai tera contado a ela sobre a suposta origem de seus dons; a imagem do antigo carro da família não saía de sua cabeça. No meio daqueles pensamentos, uma mão passava na frente de seus olhos.

– Nathaly? Oi, oi – chamou Juliana.

– Sim, Juliana – respondeu, olhando lentamente para ela.

– Vamos. – Juliana a olhava desconfiada enquanto se dirigia lentamente até a porta. – Senão, chegaremos atrasadas para a aula no laboratório.

Nathaly deu mais uma olhada para o espelho antes de sair.

Elas chegaram ao laboratório e se acomodaram em seus lugares, com suas mesas uma ao lado da outra. Estando tudo pronto, a aula começou.

Com a aula já avançada, Juliana demonstrava menos resistência à experiência proporcionada:

– Sério. Nunca imaginei que um dia estaria fazendo isso – disse Juliana, que estava com uma cara de nojo a cada momento em que mexia no animal.

– Relaxa, Juliana – disse Nathaly, tentando segurar aquele riso tímido. – Aliás, por ser filha de dois cientistas, já deveria estar ciente que eles mesmos estão sujeitos a isso. Portanto, caso queira seguir essa área, aproveite essa experiência.

– É. Mas está muito difícil para mim. Sente esse cheiro. Eca!

– Aguente firme – pediu. – Daqui a pouco, a aula acaba.

Me parece que ainda durará uma eternidade – disse ela. – Não sei como você tem aguentado todo esse tempo.

– Talvez, porque estou somente me concentrando na aula.

Nathaly mantinha-se firme no que estava fazendo. Ela começou a explorar mais afundo todo o peixe, fazendo cortes aqui, incisões ali... A jovem estava em total entrosamento com a tarefa e bastante concentrada. Em meio a isso, ela começou a observar as membranas finíssimas e bem transparentes nos olhos do peixe – como muitos sabem, ou quem não sabe, essas membranas protegem os seus olhos do contato direto com a água. – A concentração foi tanta que, de repente, as mesmas membranas do animal surgiram em seus olhos em fração de segundos.

– Nathaly? – perguntou Juliana, que percebeu uma esquisita reação da parte da amiga.

– Sim? – respondeu, levando uma de suas mãos aos olhos para cobri-los de vista.

– Está tudo bem aí? Há alguma coisa em seus olhos?

– Tudo bem, sim. Não se preocupe. Estou apenas coçando os olhos. Parece que entrou algo.

– Deixe-me ver, Nathaly.

Juliana aproximou-se para dar uma olhada. Mas o sinal tocou, finalizando a aula e iniciando o intervalo.

– Olha, o que você queria aconteceu. Essa aula acabou – distraiu Nathaly. – Vamos ajudar a professora a arrumar as coisas para irmos ao intervalo.

Depois de dar uma despistada em Juliana, Nathaly pegou um pequeno espelho, que estava à disposição na mesa, para se olhar. Ao fazer isso, viu as membranas nos olhos e, quando deu mais uma piscada, elas sumiram, voltando tudo ao normal.

– Nathaly? – chamou Juliana. – Você acabou de dizer para ajudar a professora com as coisas e você está aí, parada?

– Ah! Desculpa... Estava pensando em algumas coisas aqui.

– Olhando para um espelho? Depois você me ensina essa técnica – brincou. – Vamos lá.

Nathaly rapidamente guardou o espelho e voltou à realidade para ajudar na organização do laboratório junto com a sua amiga e toda a turma.

Finalmente, Nathaly saiu do laboratório, sendo a última. Quando saiu, John a viu:

– Nathaly? Eu não tinha lhe visto hoje.

– Oi, John – disse ela, com o seu sorriso meigo. – Como você está vendo, hoje eu tive que me preparar para uma aula de anatomia animal na aula de Biologia, usando um simples peixe.

Ele a olhou dos pés à cabeça enquanto ela falava.

– O que foi, John? Se eu estiver cheirando mal, me desculpa. Não tocarei em você sem que antes me limpe.

– Não Nathaly, não – riu e abriu um sorriso. – É que você está muito bonita como uma bióloga.

– É... Como está a sua namorada? – Sem graça, ela mudou de assunto. – Eu soube que ela precisou ficar em observação no hospital.

– Ah! É verdade – lembrou. – Então, Alice está se recuperando bem. Ela machucou um dos braços. Inclusive, ela já saiu do hospital para repousar em casa sob os cuidados do irmão, que ficou em casa hoje.

– Ótima notícia! – alegrou-se.

– E preciso agradecer Juliana por ter nos ajudado naquele dia... Ela está no laboratório?

– Ela foi ao banheiro para se lavar.

– Eu a espero pacientemente. E não digo isso porque ela está "suja" – brincou.

A conversa estava agradável quando algo chamou suas atenções. Três garotos estavam zombando com um tímido aluno pelos corredores, quando este esbarrou neles.

– E aí, Rowan. Ainda vive esbarrando nos outros por causa da sua visão? – ironizou um.

– Peço desculpas, pessoal. Eu apenas não quero ter problemas por causa disso.

O garoto ia saindo sorrateiramente da presença deles quando foi impedido.

– Então, todos os dias de sua vida, você deverá pedir desculpas – disse o outro do grupo.

– Eu tive uma ideia que irá ajudá-lo a não sofrer mais com sua visão – disse o terceiro da turma. – Vamos fazer um teste rápido com ele!

Os três passaram a brincar com ele, pegando a mochila dele e passando de um garoto para o outro, jogando-a.

– Ei! Devolve-me a mochila! – suplicou.

Nathaly e John foram de encontro a eles para ajudar o inocente garoto. John deu um gritou de modo a ser imperativo, para espantar o trio.

– Vamos embora, pessoal. A festa acabou. Ao menos, por enquanto – disse um dos garotos.

Eles correram quando ouviram aquela voz autoritária, apesar de ser apenas uma ordem de um aluno como John. Antes de fugirem, eles ainda empurram o inocente jovem.

– Olá. Está tudo bem com você? – perguntou Nathaly.

– Oi... Obrigado por intervirem – agradeceu. – Estou bem agora.

– Qual é o seu nome?

– Meu nome é Rowan. Rowan Ward.

– Prazer, Rowan. Sou Nathaly, e esse é John.

– Prazer, pessoal. – Ele os olhava com uma extrema dificuldade.

– O que aconteceu? Por que eles fizeram isso com você?

– As pessoas sempre me caçoam por estar com a visão comprometida. E os médicos dizem que o meu caso é bem sério.

Rowan Ward era um estudante que apresentava problemas visuais sérias. Ele vivia sendo zombado e excluído por muitos jovens por estar perdendo a visão gradualmente.

Ele começou a dar detalhes sobre o seu caso, a ponto de John o aconselhar em primeiro se tratar para depois voltar aos estudos normalmente. Mas Rowan mostrava resistência contra isso, pois gostava de estudar, e não queria perder para sua limitação física.

– Cheiro de peixe... Da onde é? – disse o garoto.

– Aí, desculpa. Eu estava na aula de anatomia em Biologia – sorriu Nathaly, envergonhada.

De repente, ele começou a ver escuro, até perder totalmente a sua visão. A sua reação foi segurar no braço de Nathaly, que estava mais próxima dele.

– Meu Deus! Não estou enxergando mais nada... Não estou enxergando! – apavorou-se. – Me ajudem, por favor! Ajudem-me!

– John, pede ajuda para ele. Rápido!

– Ok, Nathaly.

– Como isso pôde acontecer comigo? Por quê?! – questionou o garoto. Ele chorava de medo.

– Calma, Rowan. Calma.

John trouxe ajuda quando chamou os funcionários da escola. Por suas vezes, eles pediram que Nathaly tomasse distância. Entretanto, John fez questão de ajudar. Assim, devido à ocorrência e muita movimentação em pleno intervalo, vários estudantes preocupados se aglomeraram próximo para ver o que estava acontecendo. Juliana era um deles.

– Nathaly, o que está havendo aqui? Escutei o tumulto do banheiro – disse Juliana.

– Aquele garoto perdeu a visão de repente – disse Nathaly, apontando. – Ele precisa muito de uma ajuda.

Após algum tempo, o socorro médico chegou. Logo na sequência, os pais do garoto chegaram bastante preocupados. Eles acompanharam todo o atendimento e também a ida ao hospital. O diagnóstico do estudante não era nada agradável:

– Sr. e Sra. Ward? – chamou o médico.

– O que acontece com o nosso filho, doutor? – perguntou o pai.

– Olha, o seu caso é bastante sério. Ele perdeu totalmente sua visão por causa de uma lesão agravada na córnea – revelou. – Como vocês disseram, o filho de vocês já tinha um tratamento contra isso, mas, mais cedo ou mais tarde, iria se agravar. E foi hoje.

– O que faremos agora, doutor? – perguntou a mãe, arrasada.

– O único jeito de haver uma esperança de Rowan voltar a enxergar é realizando uma rara cirurgia nele, que custará muito caro – sugeriu, mas sabendo que era bastante delicada a situação, pois era um procedimento que custava muito.

– Eu quero ver o nosso filho voltar a enxergar o mais rápido possível – contestou o pai. – Pode preparar tudo. Eu pagarei pela cirurgia.

A cirurgia delicada foi realizada, levando algumas horas – tudo poderia acontecer: ou ele sairia enxergando ou ficaria cego em definitivo. – Após isso, Rowan estava no quarto de observação com dois esparadrapos prendendo os algodões em seus olhos.

– Bem, Rowan. Chegou à hora de tirarmos os esparadrapos – disse o médico, ao entrar no quarto.

Sob a supervisão dos pais, o médico tirou-os dos olhos do garoto. Em alguns segundos, ele começava a enxergar para a felicidade de todos. O médico trouxe um espelho para ele ver os seus olhos, e percebeu que eles estavam esverdeados. A cor de seus olhos era, na realidade, azul.

– Nossa. Que demais! – alegrou-se o paciente.

– Por que a cor dos olhos dele é assim? – perguntou o pai.

– Não se preocupem. Nós usamos um material à base de uma pedrinha, em forma de uma fina membrana circular, para colocar nas córneas. – Ele tirou a pedra do bolso e mostrou. – Essa pedrinha se chama Fluorita. Vejam como é verde sob a luz.

A Fluorita tinha sido o material usado na recuperação do jovem Rowan – por estar na lista dos minerais perigosos, ela certamente passou por modificações em sua composição para uso humano. – Tudo ocorrido bem, ele teve alta naquele mesmo dia.

No dia seguinte, ele e seus pais estavam tomando o café da manhã antes de ir para escola com um novo visual. Ele estava com a autoestima alta.

– Filho, como se sente nesse segundo dia do pós-operatório? – perguntou o pai.

– Estou ótimo, pai – respondeu-o entusiasmado.

– Percebe-se – notou a mãe. – Dê uma olhada nesse novo visual do nosso garoto.

– Obrigado, mãe – sorriu.

De repente, ele começou a ver tudo embaçado de novo, e sua visão voltava a escurecer.

– Ai, não... O que está acontecendo?

– Filho? Está tudo bem? – perguntou o pai já preocupado.

Essa autoestima começou a se tornar uma ilusão para Rowan, por voltar a sentir os sintomas de sua cegueira, e ele levou as mãos ao rosto.

– Deixe-me ver o que há em seus olhos – pediu o pai.

O pai foi o primeiro a se levantar da mesa para ver o que se passava com o filho. Mas ele teve uma surpresa: quando o garoto olhou para ele, sua visão foi sugada pelos olhos do filho.

– Aí, meus olhos! Estou cego! – queixou-se o pai. – O que você fez, filho?!

– Meu Deus! Querido? – A esposa se aproximava.

Assustado por ter sugado a visão do seu pai e voltado a enxergar em poucos segundos de olhar, Rowan se afastou dele, completamente assustado.

– O meu filho se tornou uma aberração! – exclamou o pai enquanto a mãe tentava acalmá-lo.

O medo tomou totalmente conta do garoto, após ouvir tais palavras do pai, e saiu rapidamente da casa com sua mochila. No lado de fora, ele olhava para os lados com um olhar fissurado, provocado pelo medo. Dalí, ele sumiu.

Nathaly e seus pais terminavam os seus cafés. Nathaly parecia pensativa na mesa.

– Filha? – chamou Clara.

Ela olhou para a mãe, atendendo o chamado.

– Você parece pensativa... Preocupada com o garoto da escola?

– Também... Mas eu fiquei curiosa sobre o que aconteceu comigo na aula de anatomia.

– Bem, pelo o que você nos contou ontem, me parece que você acabou recriando aquela característica do peixe, usando inconscientemente dos seus dons – presumiu Steven. – Essa pode ser o esclarecimento de sua dúvida.

– Faz sentido... Será que eu posso copiar DNA's dos animais no simples olhar? – perguntou a si mesma em voz alta.

– Como você disse que, quando aconteceu isso, estava concentrada, acredito que você possa reproduzir não apenas com um olhar, mas também através de seus pensamentos, bastando ter o conhecimento necessário – opinou o pai ao ouvir o questionamento da filha.

Nathaly mostrava-se processar o que fora dito para ela. Certamente, sua expressão era de receio; mas, ao mesmo tempo, havia uma curiosidade sobre o seu próprio dom.

Enquanto isso, Rowan caminhava visivelmente com medo pelas ruas em direção à escola. No meio do caminho, houve uma nova crise da visão, e ele começou a enxergar com muita dificuldade, enquanto tentava seguir à diante, se apoiando nas paredes. Para piorar, aqueles três garotos que mais zombavam dele apareceram em seu caminho, e eles o viram.

– Olha o nosso amigo Rowan aí, gente – disse um deles. – Mais uma vez, sofrendo com a sua visão. Que judiação.

– Saiam do meu caminho – ordenou, ao colocar suas mãos no rosto e ter abaixado a cabeça. – Não quero machucar vocês.

– Olha só isso, pessoal. Hoje ele quer briga – riu. Mas depois, ficou sério. – Então, terá.

Quando os garotos ouviram aquela ameaça do garoto que, na realidade, essa ameaça era para manter distância deles devido à situação passada por ele, eles partiram para cima do jovem para batê-lo. Mas eles foram surpreendidos quando Rowan mirou o seu olhar em cada um deles. Em poucos segundos, suas visões foram tragadas para os olhos do garoto, para desespero dos outros que ficaram completamente cegos.

– O que está havendo? O que é isso?! – Os três diziam para si mesmos bastante aterrorizados.

Rowan viu uns óculos escuros pendurados em uma das golas deles e os pegou para usar enquanto escondia seus olhos roubadores de visões. Ele ficou olhando os garotos desesperados. E foi embora.

Aguardando a hora da aula, Nathaly e Juliana estavam conversando quando John chegou:

– Bom dia, meninas – saudou o rapaz.

– Bom dia, John – responderam-no.

– Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer a você pelo o que fez pela minha namorada, Juliana – disse ele. – Depois da correria de ontem com aquele garoto, acabei me dispersando pela sua procura.

– Não há de quê, John – sorriu. – Como está ela?

– Está se recuperando bem em casa. Obrigado.

Ele também se lembrou da situação do estudante Rowan.

– Alguém de vocês sabe se Rowan está bem?

– Não o vimos ainda – respondeu Nathaly. – O caso dele era bastante sério pelo o que presenciamos ontem. É bem provável que ele não apareça hoje.

– Qualquer notícia dele, me avisem. Preciso ir agora. Tchau.

Ele se retirou. Logo, Rowan apareceu inesperadamente na escola usando dos seus óculos escuros, para a surpresa de Nathaly e Juliana.

– Olá, Nathaly – disse ele, sorridente. Mas estava um pouco acanhado.

– Oi, Rowan – disse Nathaly bastante feliz em vê-lo. – Como você está? Você recuperou a visão?

– É... sim, sim – respondeu desconfiado. – Eu operei os meus olhos.

Nathaly quis tirar os óculos dele para ver como os seus olhos ficaram após a cirurgia, com toda sua educação. Mas ela tomou um susto quando ele a impediu de fazer tal ação dizendo um "não" de forma rude.

– Me desculpe. É... Não posso tirar os óculos por causa da luz. Faz parte do pós-operatório.

De repente, ele observou os olhos de Nathaly.

– Que olhos bonitos você tem. Naquela vez que você me ajudou, eu não pude reparar nisso.

– Ah! Eu ia me esquecendo – lembrou Nathaly, para mudar de assunto sobre os seus olhos. – Essa é Juliana, minha amiga e colega de classe.

– Prazer Rowan. – Ela apertou a sua mão. – Que bom que está melhor depois daquele susto.

– Obrigado pela preocupação, Juliana – agradeceu. Ele tornou a observar. – Você também possui olhos lindos.

– É... São azuis – disse ela, sem graça.

– E da sua amiga são verdes – comentou, ao olhar novamente para Nathaly. Por sua vez, ela já estranhou.

A conversa entre eles não durou muito, pois o sinal havia tocado. Era a hora dos estudos. Para Nathaly, seria a melhor oportunidade de ela revelar o seu estranhamento com os comentários esquisitos e repentinos dele com relação aos seus olhos e aos de sua amiga. Entretanto, ela guardou os seus pensamentos para si.

– Vá à frente. Eu preciso pegar mais algumas coisas no armário – disse Juliana.

– Ok, esquecida. Espero que não seja impedida de entrar na sala – brincou. Nathaly virou-se, e foi em direção à sala de aula.

– Muito engraçado, Nathaly – disse a ela mesma, desaprovando o comentário, embora achasse engraçado.

Juliana ficou sozinha pelos corredores. A estudante jurava não haver mais nenhum aluno vagando pela escola quando Rowan ressurgiu inesperadamente, assustando-a:

– Juliana? – chamou-a quando a toucou pelo ombro.

– Aí! – gritou.

– Calma. Sou eu, Rowan. Lembra?

– Sim. Mas não costumo lembrar das coisas ou alguém através dos sustos – repreendeu. – aconteceu alguma coisa?

– Na verdade, não. Eu apenas fui ao banheiro e, quando saí, eu ainda lhe vi aqui.

– Eu estou pegando algumas coisas do meu armário, que ia me esquecendo.

O garoto escorou-se no armário vizinho e observava minuciosamente Juliana pegando as suas coisas de dentro do armário.

– Olha... Você está bonita – comentou.

– Obrigada – riu timidamente. – Mas você apenas veio aqui para dizer isso?

– Mais do que isso. – Ele pegou um pedaço de papel e o entregou a ela. – Digamos que eu gostaria de conhecê-la melhor.

Ela estava sem palavras com o recebimento do papel.

– Espero que aceite esse encontro de logo mais.

Juliana fez uma expressão como se estivesse se garantindo.

– Tenho que ir para aula agora. Tchau – retirou-se.

– Tchau. – Ele acenou discretamente. Depois que Juliana tomou certa distância, ficou sério. – Espero que a minha visão dure até lá.

Sob os óculos escuros, foi possível perceber um pequeno feixe brilhante esverdeado emitido pelos seus olhos, que surgiu e se desfez em poucos segundos na lente escura.

Durante o intervalo, Juliana e Nathaly estavam usando uma das mesas do pátio para adiantar uma lição da matéria de língua inglesa.

– Tudo bem que cresci aqui, mas, às vezes, ficou muito confusa com a gramática de vocês – comentou Juliana.

– Isso é uma indireta para a nossa cultura? – riu muito.

– Não. Eu apenas estou com uma dificuldade com o seu idioma – justificou-se.

– Relaxa, Juliana. Eu mesmo, como uma inglesa, não tenho muito domínio com a língua. Então, é normal sua dificuldade.

– Pensando melhor, é verdade o que você falou.

Ela começou a paginar o livro gramatical. Enquanto fazia isso, deixou cair aquele pedaço de papel dado por Rowan. Nathaly percebeu a folha caindo e resolveu pegá-la.

– O que é isso, Juliana?

Ela começou a ler o que estava escrito no papel, que dizia:

...Encontre-me na sorveteria do bairro, depois da aula.

Rowan Ward, o ex-cego.

– Não é nada, amiga – disfarçou.

– Bilhete de Rowan? – questionou. – Juliana, me parece que esse garoto me esconde algo... Não aceite esse convite até que podemos descobrir o que ele esconde.

– Por que você só está me contando isso depois de saber que ele me convidou? – estranhou e pegou o papel das mãos da amiga. – Deve ser inveja da sua parte.

– Não é questão de inveja, Juliana – negou. – Precisamos analisar bem as coisas. Você mal o conhece.

– Quer saber de uma coisa? Dê-me licença.

Decepcionada, Juliana fechou o livro, se levantou da mesa, pegou os seus demais materiais e saiu, deixando Nathaly sozinha.

– Juliana? Juliana!

Deixada sozinha na mesa, Nathaly estava pensando em que fazer. Mas ela chegou à conclusão de que poderia ser uma mera bobagem, tendo errado com a sua amiga. Então, ela se levantou da mesa e andou pela escola enquanto não dava à hora para voltar à sala.

Quando caminhava próximo ao corredor deserto, ela se deparou com uma cena: Rowan carregando uma estudante desmaiada em direção à porta de um depósito com certa dificuldade devido à sua visão já enfraquecida. Diante daquela porta, o garoto agachou-se e tirou os óculos. Abrindo cada um dos olhos da vítima, ele ceifou a sua visão. Depois, com uma visão mais lúcida, ele a colocou dentro do depósito, que estava com a porta encostada, e a fechou com ela dentro. Nathaly ficou surpresa pelo o que viu.

No momento que ela mudou de posição para observar melhor, um feixe de luz solar, vinda de uma janela, refletiu na letra N de sua corrente e foi aos olhos desprotegidos de Rowan quando ele se virou, ofuscando-o e gerando um desconforto. Percebendo isso, Nathaly saiu dali para não ser pega por ele.

Em passos largos, ela acabou se esbarrando em John:

– Opa! O que foi, Nathaly? Parece tão assustada.

– Desculpa, John. Mas que bom que você apareceu.

– Por quê?

– Rowan... Eu acho que ele está aprontando algo.

– Ele veio hoje?

– Sim. E ele tem convidado Juliana para sair.

– Ok. Deixe-me entender. Conte-me tudo.

Ela começou a contar para ele sobre o que tem acontecido envolvendo Rowan e sobre o seu envolvimento com Juliana. E, claro, a discussão entre ela e a amiga foi uma pauta da conversa. Entretanto, ela não revelou detalhes em respeito às coisas sobrenaturais vistas no garoto.

Os dois foram até o corredor onde Rowan estava, e ele já havia sumido. Mas John foi junto com Nathaly para ver a estudante que fora deixada no depósito. Ele abriu a porta e acendeu a luz. John rapidamente se agachou para atender a estudante.

– Por que eu não consigo enxergar nada? O que aconteceu comigo? – questionou a vítima.

John olhou para Nathaly.

– Como ela pôde perder sua visão com aquele garoto?

Nathaly simplesmente ficou sem saber o que dizer para ele, permanecendo calada com aqueles olhos verdes estando arregalados para o amigo. Mas algo dava sinal de que ela contaria o que realmente teria sido.

A hora da saída chegou.

– Você não contou para aquela garota e nem para ninguém sobre o que eu lhe falei, certo? – perguntou Nathaly.

– Não se preocupe. Não contei – garantiu John. – O pessoal acha que ela pegou alguma doença, e ela não se lembra de muita coisa.

– Ótimo.

– Mas isso é muito sobrenatural: roubar as visões dos outros... – disse ele. – Cadê Juliana?

– Ela ainda está brava comigo. Ela simplesmente sumiu.

– Ela já foi para aquele lugar se encontrar com Rowan – disse a si mesmo. – Irei atrás deles. Você vai para casa, Nathaly.

– Deixe-me ir com você. Pode ser perigoso ir apenas um.

– Não – discordou. – Será mais perigoso se você for comigo. Vá para casa agora.

Sabendo do endereço, John foi atrás de Rowan e Juliana para livrá-la das mãos dele. Nathaly ficou inquieta por pensar que ia ficar de braços cruzados enquanto o seu amigo se arriscava em enfrentar o garoto sozinho, sem conhecê-lo direito. Isso era perceptível em seu olhar.

Juliana estava pelas ruas do bairro procurando a tal soverteria mencionada por Rowan no papel que estava em mãos. Depois de algum tempo, conseguiu achar o lugar de encontro. Mas esse lugar era bastante estranho.

– Eu achava que essa sorveteria era mais atraente – brincou consigo mesma, ao olhar para a velha fachada do estabelecimento. – Deve ser uma referência.

De fato, era uma sorveteria. Porém, o que mais chamava a atenção era sua aparência. Claramente com sinais de abandono, o estabelecimento estava com as portas fechadas e toda sua fachada estava velha, sem cor, e quase caindo aos pedaços. Era evidente que a garota tomou um susto ao ver onde ela foi levada para se encontrar com o garoto. Assim, observando toda a frente do lugar, ela viu uma folha pendurada em uma das maçanetas das portas, com os seguintes dizeres:

Entre aqui, por favor.

Juliana se sentiu atraída pelo pedido do recado de forma tão educada, e estava certa de que Rowan já estava por ali. Foi o suficiente para ela perder o receio e adentrar à abandonada soverteria, inocentemente.

– Meu Deus – espantou-se quando entrou. Ela andava lentamente em meio ao ambiente pouco iluminado e empoeirado, fazendo-a espirrar. – Deveria demolir este lugar ou ao menos limpar. E por que Rowan me chamou para cá?

Como o lugar estava muito quieto, ela começou a chamar por Rowan:

– Rowan? Eu já estou aqui como combinado – disse ela, enquanto olhava para os lados. – Se estiver aqui, diga alguma coisa.

Não demorou muito, e Rowan apareceu por trás, surpreendendo-a com um mata leão. Na outra mão, ele segurava uma faca, com o objetivo de dominá-la.

– Alguma coisa – respondeu-a, ironizando.

– O que está fazendo, Rowan? – Sua feição já mudou, assustada com a situação em que se encontrava naquele exato momento.

– Quieta – repreendeu-a, falando em seu ouvido. – Se tentar reagir, custará sua vida. Apenas obedeça.

Tendo esse domínio, ele a levou para os fundos do estabelecimento onde havia mais a luz do dia e estava afastado do movimento lá de fora. Ao chegar lá, Juliana foi amarrada em uma cadeira, totalmente imobilizada, com a sua cabeça imóvel e amordaçada.

Lá fora, John chegou ao local. Ele também viu aquele mesmo recado, que estava na maçaneta da porta, caído e já pisoteado no chão, e entrou. Após entrar, a primeira coisa que ele fez foi observar o lugar por completo, e achou o ponto de encontro muito sinistro. Embora ele tentasse evitar qualquer barulho que poderia despertar a atenção de alguém, acabou pisando em falso em uma parte do piso que era feito de madeira, tal que a mesma deu uma leve afundada com o pisar dele. Isso provocou um intenso barulho, gerando eco aos fundos; Rowan, por sua vez, o ouviu.

– Ouviu isso, Juliana? Parece que veio visita. – Ele se aproximou de Juliana, apoiando-se com suas mãos nos braços da cadeira onde ela estava, e olhou para ela firmemente usando os seus óculos. – Torço para que seja a sua amiga, que tem os olhos, digamos, suculentos. Ou qualquer outra pessoa, pois não posso perder tempo em nenhum momento.

Felizmente, John conseguiu tirar um dos seus pés do buraco e não se machucou. Menos preocupante, ele seguiu em frente à procura de Juliana, estando certo de que ela estava por ali – e ela realmente estava. – Por precaução, pegou um pedaço de uma velha madeira escorada na parede para se defender de algum ataque.

Novamente lá fora, Nathaly apareceu próximo ao endereço indicado. Ela ficou um pouco perdida, e precisou de máxima concentração para se localizar no bairro.

John chegou à porta onde Juliana estava sendo mantida presa. Ele viu que a porta estava apenas escorada e entrou lentamente. Vendo Juliana totalmente imóvel e sem poder falar, ele rapidamente decidiu se aproximar dela. A jovem tentou avisá-lo de alguma coisa, mas já era tarde. Rowan o atacou por trás, desarmando-o, começando uma luta acirrada entre os dois. Nenhum dos dois economizava deferimento de socos em prol do domínio da situação.

Paralelamente, Nathaly ainda estava procurando pela sorveteria, achando que era uma em funcionamento, e não imaginava que se tratava de um estabelecimento abandonado, estando desfigurado em sua vista. Do outro lado da rua, nem imaginava que estava de frente ao antigo comércio.

– Onde está você, soverteria? – perguntou-se.

Ela já estava ficando tensa e bastante preocupada. Mas ela não se entregou a isso, e resolveu pensar. Foi então que lembrou sobre o que o seu pai havia dito em relação ao seu poder recém descoberto. Vendo um cachorro passando pela calçada, ela o olhou com extrema concentração para provocar algo semelhante ao que já tinha acontecido na aula de anatomia. E o poder foi despertado novamente nela, pegando os principais instintos do animal, sendo um deles a audição e pressentimento aprimorado, o pressentimento de pânico. Nisso, ela passou a ouvir e pressentir tudo em sua volta com mais precisão, até que ela identificou pessoas bastante ofegantes e com sensação de luta física vinda de sua frente.

Nathaly agiu rápido. Quando tinha que atravessar a rua bem movimentada, ela pulou e atravessou sobre os carros que estavam passando na hora. Todos na rua ficaram impressionados com a extrema agilidade e atitude incomum presenciada ali, enquanto os motoristas se assustaram com o barulho no teto de seus carros, e eles a chamavam de louca e sem noção. Nada mais era do que a parte de suas habilidades.

A luta entre Rowan e John continuava intensa, até que Rowan levou a melhor: ele tirou os óculos e atacou a visão do seu oponente, e depois o jogou contra a parede; John permaneceu caído, completamente cego.

– Agora, é a sua vez para prolongar ainda mais a minha visão, Juliana – disse Rowan, determinado.

Ele foi em direção à indefesa Juliana para deixá-la cega e obter-se de uma visão ainda mais consistente, em uma cobiça visual interminável. Juliana ficou desesperada por não entender nada e ter visto o que tinha acabado de acontecer com John. Rowan forçou Juliana a abrir os olhos, e obteve êxito, deixando-a também cega.

Nathaly apareceu em um momento crucial e bastante delicado da situação. O que restava naquele momento era de um diálogo para convencer o garoto a desistir daquela vida:

– Rowan! – chamou da porta.

– Nathaly? – Ele virou tranquilamente enquanto colocava os seus óculos. – Sabia que viria atrás deles, principalmente da sua amiga.

– Rowan – Nathaly olhou para John, que estava agoniado no chão sem poder fazer nada devido à cegueira, e olhou para Juliana, que estava imobilizada e também cega. Ela percebeu tudo isso –, não é fazendo isso com outras pessoas que você terá o bem para sua saúde.

– Como eu não deveria fazer isso? Esperei por muito tempo para enxergar sem se preocupar que um dia eu pudesse ficar cego para o resto da minha vida! – Eram percebidas algumas gotas de lágrimas saindo debaixo dos óculos. – Meu pai me acha uma aberração quando eu fiz isso com ele sem querer. Quanto mais a minha mãe, para defendê-lo. A única maneira é viver assim, e longe deles; não há mais saída para mim.

– Não pense assim, Rowan. – Com aquelas palavras, pensamentos vieram à sua cabeça, pois ela também era uma pessoa diferente. Então, ela começou a se aproximar dele calmamente. – Nesse momento, estou certa que eles se importam com você, e querem lhe achar para ajudá-lo. Considere-me como uma mediadora disso.

De repente, ele começou a sentir os sintomas, precisando tragar mais visão antes que ficasse cego por completo. Aproveitando a oportunidade que Nathaly estava próxima, ele a atacou. Nathaly conseguiu se afastar, empurrando-o, e pegou um maçarico que estava largado no ambiente. Quando ele foi empurrado, os seus óculos caíram e acabou pisando em cima deles, quebrando-os.

– Droga! Os meus óculos – reclamou, quando levou as mãos aos olhos. Entretanto, riu. – Não tem problema, porque você está mais vulnerável contra mim.

Rowan viu aquilo como uma oportunidade para pegar a visão de Nathaly quando esta estiver próxima a ele. Simplesmente, ele forçou essa aproximação. No momento que ele correu com os seus olhos bem abertos, Nathaly apenas entrou em ação com os seus poderes: ela ficou parada, esperando-o, e seus olhos criaram aquelas membranas protetoras dos peixes, protegendo-os da ação mortal de Rowan. Ele a pegou pelo pescoço e tentou tirar a vista de Nathaly.

– Eu... Eu não estou conseguindo absorver sua visão – espantou-se. – Há algo especial em seus olhos verdes.

– Acabou, Rowan. E desculpe-me – disse Nathaly.

Dando certo, Nathaly empurrou mais uma vez o garoto e usou o maçarico diante dele. A intensidade da claridade e calor do fogo produzido pelo equipamento foi o suficiente para penetrar nos olhos de Rowan. A intensa luz e calor provocaram o derretimento da modificada Flourita que estava implantada em forma de material em suas córneas.

– Não! – gritou quando sentiu os efeitos do maçarico.

Ele ajoelhou-se e inclinou sua cabeça. O que era visto foi o mineral esverdeado derretido sendo derramado ao chão, e os olhos do jovem voltaram às suas cores naturais.

Esse acontecimento provocou também uma quebra do mal feito por Rowan: o pai, os três garotos, a garota largada no depósito da escola, Juliana e John, antes todos cegos, voltaram a enxergar simultaneamente. Como ênfase, o pai e a garota que estavam nos hospitais surpreenderam os médicos com a cura repentina, para a felicidade da esposa e dos pais, respectivamente; e os três garotos, cada um em sua casa, surpreenderam os seus familiares.

Com relação a Rowan, infelizmente, ele voltou a ficar cego. Quando Nathaly se aproximou dele para dá-lo atenção, a pequena radiação, provocada pelo calor, do mineral derretido no chão começou a ser absorvido pela sua pele, provocando incômodo. Esperta, ela colocou o maçarico em cima, e pôde continuar perto do garoto.

– Estou cego de novo – disse ele, chorando.

– Calma. Tudo vai ficar bem – acalmou-o, ao abraçá-lo. Com a cabeça sobre um dos ombros dele, ela mostrava-se aliviada.

John levantou-se imediatamente para ajudar Juliana. A partir dali, Nathaly percebeu que a visão fora devolvida a eles, e tudo voltou ao normal.

No hospital, Juliana e John já tinham sido examinados para checar se realmente estavam bem. Juliana estava ao telefone conversando com o seu pai aos fundos enquanto John e Nathaly estavam juntos no corredor.

– Nossa. Foi uma experiência horrível ficar cego – relatou John.

– O importante que tudo passou, John. – Nathaly tentou fazê-lo esquecer da má experiência.

– É verdade, Nathaly. – concordou. – Depois de hoje, devemos ficar atentos quanto essas coisas bastante sobrenaturais.

– E por que diz isso?

– Sabe... – Ele pausou por alguns segundos – Você não acha perigoso conviver com uma pessoa à qual mal sabe que ela obtém-se de um dom? Essa pessoa pode ser igual aquele garoto, que escondeu e o usou para fazer o mal.

– Você falou bem. Ele apenas fez o mal com o seu dom. Mas lembre-se que há o lado oposto: pode haver pessoas assim para praticar o bem... Não acha? – Nathaly retorceu suas sobrancelhas quando olhava para ele.

– Não sei, não. – Ele levou a mão ao queixo, estando pensativo e desconfiado. – De qualquer forma, eu não conviveria com um.

Na conversa com John, Nathaly ficou um pouco triste e com receio dentro de si, pois ela era uma pessoa com dons. Ela já imaginava como seria se ele soubesse sobre o seu segredo, bem como outras pessoas. Um novo conflito pessoal surgia, já considerado como seus demônios pessoais.

Juliana se aproximou naquele momento.

– Pessoal, eu já estou indo – avisou. – Me pai me deu uma bronca... E está me esperando lá embaixo.

– Boa sorte – desejou Nathaly.

– Eu a acompanho. Preciso ir também – disse John. – Você vem conosco, Nathaly?

– Agora não. Eu ainda vou esperar a situação de Rowan, e depois ligo para o meu pai ou minha mãe me buscar.

– Ok. Tchau.

Juliana e John foram embora, e Nathaly ficou no corredor. Quando ia se sentar para esperar notícias do garoto, ela acabou sendo chamada pelo pai dele. O garoto havia pedido que Nathaly entrasse no quarto.

– Meus pais, eu posso ficar um pouco a sós com ela? – perguntou Rowan.

– Claro, filho – concordou a mãe. – Vamos, amor.

Ele e Nathaly ficaram a sós no quarto.

– Dê-me sua mão, por favor. – Ele pediu à Nathaly, e ela concedeu. – O que eu não posso lhe passar pelo o meu olhar por estar cego, eu posso fazê-la sentir com o segurar da minha mão.

– Diga, Rowan. Estou a todo ouvido.

– Primeiramente, me desculpa pelas precipitações. Eu fui muito cabeça dura.

– Todos nós erramos. E você não estava preparado para manter aquele dom com você.

– Concordo – disse ele. – Eu gostaria muito de estar enxergando e continuar os meus estudos normalmente; mas, você, Nathaly, me impediu de cometer algo pior: destruir a minha própria vida por algo tão pequeno como é a capacidade de enxergar. Obrigado mesmo.

Nathaly sorriu, sem palavras para dizer.

Quando terminou a conversa em particular, Nathaly saiu do quarto.

– Nathaly – chamou o pai do garoto –, queríamos agradecê-la por tudo. Você recuperou a integridade do nosso filho.

– Realmente. Você foi um anjinho para nós e, principalmente, para ele – completou a mãe.

– Não há de quê, Sr. e Sra. Ward – sorriu. – Agora, vão atrás dos responsáveis em ter transformado o filho de vocês usando de um elemento de forma errada.

– Já estamos abrindo um processo contra isso, e recuperar o nosso investimento nesse tratamento absurdo – garantiu o pai.

Uma sensação de dever cumprido queria tomar conta do ser de Nathaly, mas aquela parcela de aflição quanto aos comentários de John deixava-a bastante pensativa. Nesse meio tempo, ela olhou para o relógio que havia na parede e viu que estava mais do que na hora de ligar para casa e explicar toda a situação.

John, quando chegou em casa, viu uma carta deixada debaixo da porta, e ninguém estava em casa para recebê-la. Ele olhou para os lados, a pegou do chão e entrou.

Abrindo essa carta, leu:

Oi, John.

Primeiramente, eu queria dizer que estou bem melhor. Porém, precisei ficar em casa mais uma vez, como você sabe. Mas também venho lhe dizer que não é porque estou em leito que você deve fazer o que bem entende por aí.

Percebendo sua ausência, soube que estava muito atarefado com a Nathaly hoje, sua "incrível" amiga. Achou que eu não ia querer saber de você? Esteve enganado. Agora, vejo que ela foi mais importante do que eu...

Atenciosamente,

Alice Taylor, sua abandonada namorada.

Realmente, John não a visitou em nenhum momento do dia por causa das coisas ocorridas, abrindo mais uma brecha para Alice demonstrar toda sua decepção com ele quando se trata de Nathaly. Entendendo essa indireta escrita em carta, ele somente colocou uma das mãos na testa, reconhecendo o seu vacilo para com ela.

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