Capítulo Seis: Cabeça Virada
Alice se arrumou para um encontro com John em um restaurante ao anoitecer de uma sexta-feira. Esse encontro tinha sido promovido pelo próprio rapaz que ainda queria se redimir daquele episódio com Nathaly, mesmo que tinha sido algo involuntário. O convite seria definitivamente para esquecer.
– Você está chique, maninha – elogiou Ryan.
– Eu concordo com o seu irmão, Alice – disse o pai. – Eu até me recordei dos tempos que eu tinha uma forcinha dos meus pais para passar a sós com a sua mãe, não é amor?
– Definitivamente, querido – sorriu a esposa.
– Obrigada, pessoal – agradeceu. – Bem, eu já vou indo. Não posso deixar John esperando por muito tempo.
– Filha – chamou o pai.
– Sim?
– Não invente de ficar até tarde fora de casa – aconselhou-a. – Fora isso, aproveite.
Ela se despediu de todos da casa e saiu. Mal Alice tinha andado um quarteirão, e ela encontrou suas três amigas de escola, sendo a amiga mais próxima chamada Lauren Dixon.
– Meninas? O que fazem por aqui? – perguntou Alice.
– Nós estávamos indo à sua casa para convidá-la para uma festinha entre amigas – respondeu Lauren.
– Legal. Mas agora eu não posso – recusou. – Eu tenho um encontro marcado com John.
– Aquele que traiu sua pessoa publicamente? – recordou propositalmente – Será mesmo que ele merece tal chance de uma garota tão centrada, decidida e, principalmente, bonita como você?
– Eu preferi dar uma nova chance para ele – justificou, mas sem dar muitos detalhes sobre o que realmente havia acontecido com John.
– Você não é uma pessoa de entregar os pontos, Alice. Não é, meninas? – disse a jovem. E as demais concordaram com ela. – Ele tem mostrado suas fraquezas sentimentais, e você não depende dele. Veja que ele nem veio à sua casa para lhe pegar.
Era muita pressão sendo originada aos ouvidos de Alice, fazendo-a estar sem argumentos. Poderia ser um clássico sinal de dúvida entre as palavras de John e das suas colegas mais chegadas.
– Alice, nós precisamos mostrar aos garotos que não somos bobas como eles acham que somos – argumentou a outra amiga. – Você quem sabe.
– Então, vamos ter o nosso lazer em nossa festinha? – convidou Lauren mais uma vez, como a última tentativa de convencer Alice a mudar de rota.
Alice facilmente foi induzida pelos argumentos delas. Em sua própria cabeça, essa festa era uma incógnita por ser um convite tão rápido e em cima da hora. Apesar disso, resolveu acompanhá-las.
No restaurante, John estava bem arrumado e sentado em uma mesa na janela, próximo da entrada do estabelecimento, onde era possível visualizar a rua movimentada. Os minutos foram passando, ele olhava para o relógio, depois olhava para a janela, quando não era o suficiente, ele ainda se levantava e, de pé em frente à mesa, observava todos os lados do lugar, tentando encontrar Alice possivelmente perdida pelo restaurante. Mas nada adiantava, e tornou-se a sentar.
– Onde está você, Alice? – perguntou-se.
As garotas levaram Alice com os olhos vendados a uma casa. Segundo elas, fazia parte da brincadeira da festa. Quando essa venda dos seus olhos foi tirada, ela viu a sala de estar totalmente arrumada com muitas guloseimas em cima de um centro de mesa. Uma verdadeira fartura.
– Que comece a nossa festinha! – anunciou Lauren, abrindo os braços.
A princípio, a festa não havia nada demais, e as perspectivas eram boas. Alice, juntamente com as garotas, conversou, se divertiu e, claro, comeu muito. Mas Lauren foi até a cozinha e voltou com alguns pequenos recipientes cheios de um gel avermelhado e, ao mesmo tempo, brilhante.
– O que é isso, meninas? – perguntou enquanto se levantava lentamente do sofá.
– Relaxa, amiga. Essa é a melhor parte da festa – disse Lauren, oferecendo um recipiente. – Apenas passe nos dois pulsos.
Confiando na amiga mais próxima, pegou um daqueles recipientes. Como orientado, ela umedeceu bastante os seus dedos e começou a passar o gel ao redor de seus pulsos. O gel começou a trazer uma ardência. Era a química reagindo e sendo absorvida pela pele. De repente, uma das amigas tentou golpeá-la com um pedaço de madeira, mas Alice reagiu com extrema agilidade, pegando a madeira com força.
– Impressionante... – disse Alice, sorrindo.
– Bem vinda ao clube, Alice – disse a jovem. – Agora, o time está completo para trazer movimento a essa cidade.
Formando uma equipe forte, todas vestidas de roupas escuras e encapuzadas, elas roubaram um carro e saíram pelo mundo afora, sob uma adrenalina. A diversão tornou-se crimes e mais crimes, roubando até mesmo bancos pela cidade, utilizando-se dos poderes gerados daquele gel. Elas ainda chegaram em frente à mansão da família Butzek. Naquela altura, já era um pouco tarde.
– Tem certeza que aqui há mais dinheiro, Alice? – perguntou Lauren, que era a motorista do carro.
– Com toda a certeza – assegurou. – Os pais dessa aluna da nossa escola são empresários e cientistas.
– Ótimo – disse ela. – Ponham os capuzes. É hora de mais um show.
Juliana estava sozinha naquele momento, pois seus pais ainda estavam na empresa. De repente, ela se assustou com o arrombo das portas e viu que era uma invasão a domicílio. Ela tentou reagir, mas foi pega pela própria e mascarada Alice, dando cobertura às suas comparsas.
– Leva-nos ao cofre – ordenou Lauren à indefesa Juliana. – E não vou perguntar mais uma vez.
Ela foi forçada a conduzir o grupo até uma sala escondida onde havia um cofre de porte médio escondido lá. Estava apregoado na parede, mas elas não tiveram dificuldades para isso. Uma delas esmurrou os lados do cofre até se desprender do concreto. Feito isso, pegaram o cofre pesado sem nenhuma dificuldade. Juliana ficou perplexa com o que viu. Então sobrou para Alice fazer sua parte, que era para desmaiar Juliana para não originar perseguição ou ela pedir ajuda. Mas Alice olhava-a muito e demorava em executar o plano final.
– Vamos logo! – gritou Lauren, pressionando-a.
Nesse intervalo de tempo, Juliana parecia reconhecer aquele olhar. Por estar sendo pressionada, Alice decidiu dar um murro nela para desmaiá-la, deixando-a no chão, próximo do lugar onde ficava o cofre. O grupo saiu tranquilamente, e mais um assalto foi realizado naquela noite.
Amanheceu. Na casa dos Kates, Nathaly pegou o jornal do dia que foi jogado pelo entregador na entrada da porta. Ela lia a primeira manchete enquanto voltava à mesa para terminar de tomar o café da manhã com os seus pais.
– Vejam só isso: "Polícia investiga roubos em série pela cidade. De acordo com testemunhas, se trata de um grupo formado por quatro pessoas misteriosas." – leu Nathaly. – Impressionante isso. Como pode assaltar tanto em uma única noite?
– Cada dia que passa, as coisas pioram, filha – comentou Clara.
– Eu posso até concordar com a sua mãe, mas esse caso poderá ser apenas um dos acontecimentos estranhos que rondam essa cidade ultimamente – opinou Steven.
– Eu gostaria de ajudar a polícia a resolver esse caso com as minhas habilidades – desejou.
– Filha, nos entenda em uma coisa: a sua intenção é boa, isso é um ótimo sinal de sua pessoa. Mas eu não sei se todos estão prontos em saber quem você realmente é – disse Steven. – Não estamos querendo diminuir você, embora suas habilidades a definam.
– Eu sei, pai... – Ela se lembrou daquela conversa que teve com John, que revelou receio das pessoas que possuem alguma habilidade sobre-humana, considerando um exemplo. – Bem, deixa a polícia resolver isso.
Na frente da mansão da família Butzek, carros da polícia estavam estacionados. Eles foram acionados para registrar queixa do ocorrido e recuperar de alguma forma o cofre. Eduard estava com sua filha enquanto sua esposa estava na empresa cuidando das coisas.
– Dei-nos licença, Sr. Butzek. – O policial entrou à casa com os demais oficiais, e olhou para Eduard, reconhecendo-o de outra situação envolvendo o seu nome. – Você é o cientista que foi interrogado sobre um minério que explodiu e originou toda aquela situação, não é mesmo?
– Sim, senhor policial – confirmou sorrindo. Mas ele pareceu não gostar. – Mas, com todo respeito, eu acho que a ocorrência não é essa. O caso agora é recuperar o meu dinheiro e as coisas confidenciais da minha empresa que foram juntos. Isso tem que ser resolvido logo.
– Leve-me à testemunha do ocorrido.
Ele levou os oficiais até Juliana, que ainda estava abalada pelo o que aconteceu, para coletar informações primordiais sobre o roubo.
– Srta. Butzek, nós estamos aqui para ajudá-la – tranquilizou-a o policial. – Conte-nos o que aconteceu ontem à noite, sem medo.
Sentada em uma cadeira, ela contou o que tinha acontecido para o oficial, que anotava as informações que faria parte da queixa e investigação. Mas ela não mencionou que uma das assaltantes usou dos próprios punhos para quebrar o concreto em volta do cofre.
– Hm... E você sabe se essas pessoas eram homens ou mulheres, ou ambos os sexos?
– Sim, eu pude decifrar... – hesitou-se, baixando a cabeça.
– Pode falar, Srta. Butzek.
– As quatro eram mulheres, na faixa da minha idade.
– Elas são jovens, certo?
– Sim, senhor policial – confirmou, olhando rapidamente nos olhos do policial e novamente baixou a cabeça.
– Deve ser o mesmo grupo que assaltaram os bancos ontem à noite – presumiu. – Obrigado pela colaboração, senhorita.
O policial encostou uma das mãos nas costas de Eduard e o levou para outro cômodo, longe de Juliana, enquanto os demais policiais faziam suas partes no local exato do crime.
– Sr. Butzek... Algo me intriga – disse ele, levando sua mão ao queixo.
– E o que seria, senhor?
– Me parece que sua filha nos esconde algo.
– Como assim?
– Não sei se o senhor percebeu, mas ela parecia muito nervosa e tentando dispersar de algo quando eu falava com ela.
– Senhor policial, entenda que ela está abalada pelo ocorrido, e não por estar escondendo algo – discordou. – Ela já lhe deu informações necessárias.
– Desculpe-me. Mas acabei dando a atenção ao meu instinto profissional – disse ele, desculpando-se. – Porém, se ela se lembrar de mais alguma coisa, por favor, nos chamem.
– Tudo bem.
– Vamos continuar prosseguindo com o caso.
Ele bateu no ombro de Eduard e já ia se distanciando dele para acompanhar os seus subordinados.
– Senhor policial – chamou-o.
– Sim?
– Eu só quero que recuperem aquele cofre e prenda essas jovens o mais rápido possível.
– Conte conosco, Sr. Butzek.
Alice chegou a sua casa com a mesma roupa que havia saído para não levantar suspeitas. Para sua infelicidade, não foi o suficiente enganar aos seus pais e seu irmão – quanto menos ao seu namorado, que ficou esperando por horas no restaurante. – Primeiro, ela foi avisada que não deveria chegar tarde da noite em casa, e ela passou muito do horário, aparecendo no dia seguinte; segundo, John estava à sua espera em sua casa e bastante desapontado. Resumindo, todos estavam na casa, e Alice deu de cara com todos eles.
– E aí, gente? – Ela observou todos reunidos e olhando para ela. – Houve festa aqui também? Por que não me chamaram? John?
– Porque você não chegou conforme eu havia lhe ordenado a chegar – disse o pai, ironicamente.
– E você não compareceu ao nosso encontro para eu lhe avisar da "festa", Srta. Taylor – completou John com os braços cruzados.
– Onde você esteve, filha? – perguntou a mãe, quase implorando.
– Ah! Mãe... Eu encontrei algumas amigas da escola, e elas me convidaram para uma festa. Então, eu aceitei.
– Quem são elas? – perguntou. – Dificilmente, você apresenta as pessoas para nós.
– Mãe, eu já estou grandinha para ficar dando satisfações a você pelas coisas que eu faço – disse a filha, com má criação.
O pai, já impaciente, não aguentou ver sua filha com o mau comportamento diante de sua esposa e fez o movimento de bater no rosto dela com uma tapa, para impor respeito logo no começo de conversa. Mas ela reagiu com sua agilidade, segurando no punho do pai. Os demais ficaram sem ação, e Ryan percebeu que os pulsos da irmã estavam brilhando.
– Você não vai fazer isso comigo – disse Alice, segurando firme o punho do pai.
Alice segurou com tanta força o pulso do pai, que a mão dele começou a formigar. Impressionantemente, já estava prendendo a passagem de sangue. A filha percebeu que estava perdendo o controle naquele momento, e largou o pai, que logo segurou seu pulso afetado e a esposa foi ajudá-lo.
– Até mais – despediu Alice, já medrosa, e saiu.
Ryan virou-se imediatamente para John.
– As meninas fizeram alguma coisa para a minha irmã agir desse jeito. Talvez Nathaly possa nos ajudar nessa.
John ficou olhando-o e impressionado por ouvir dele que Nathaly poderia ajudá-los com aquele problema.
Eles foram até a sua casa. Estando sozinha, ela os atendeu.
– John? Ryan? Vocês aqui?
Como consequência, eles explicaram todos os detalhes com relação à Alice e revelou o motivo deles estarem lá.
– Deixe-me ver se eu entendi: vocês precisam da minha ajuda?
– Como você sabe, a ideia foi dele – apontou John ao Ryan. – A princípio, não queria envolvê-la.
– Exato, Nathaly – confirmou Ryan. – Precisamos da sua ajuda.
– Vocês têm ideia o que pode estar provocando isso? – perguntou Nathaly, já mais séria.
– Eu tenho quase certeza que as amigas a levaram para o caminho errado, e ela está usando uma coisa brilhosa e esquisita nos seus pulsos, dando força a ela – disse Ryan.
– Força?
O telefone tocou, e Nathaly atendeu. Era Juliana na linha, bastante nervosa. Após ouvir o que ela tinha para dizer, ela desligou o telefone. Olhando para os garotos, os convidou para acompanhá-la até a residência da amiga.
Alice chegou a um abandonado ferro velho. Era lá que ela e suas amigas ficavam escondidas, pois elas tornaram-se foragidas na cidade. Elas a viram chegar, e Lauren propôs uma missão a ela:
– Srta. Taylor, nós temos uma missão para você.
– O que seria? – perguntou.
– Não conseguimos abrir o cofre. Precisamos da senha dele – disse a amiga. – E você é a escolhida para voltar à casa dos Butzeks.
– Meninas, olhem... Parece que essa vida não é para mim – concluiu Alice, aparentando-se bem cansada fisicamente e suando. – É melhor eu cair fora.
– Hm... Bem, eu acho que os efeitos do gel devem estar perdendo suas forças – notou a amiga e líder do grupo recém-formado.
Ela fez um gesto para as outras duas pegarem Alice, e pegou um recipiente do gel.
– Não se preocupe. Há mais gel para lhe revigorar.
– Não. Não façam isso mais! – implorou.
A resistência de Alice à aplicação do gel foi grande, mas a força das garotas venceram-na, e o mucoso líquido foi passado nos seus pulsos, devolvendo aquela cega adrenalina. Estando domada, Lauren chegou perto dela e olhou em seus olhos.
– Agora, vai lá e nos traz essa bendita senha.
Sem mais questionamentos, Alice teve que voltar à mansão dos cientistas em busca da senha do cofre que fora roubado por elas. O grande perigo se aproximava mais uma vez da residência da família.
Nathaly e Cia. haviam chegado à casa de Juliana. Eles se acomodaram para que ela pudesse falar sobre o que tinha acontecido lá na noite anterior. Sua revelação foi impactante para Ryan e John, sendo que Nathaly já sabia dessa revelação por telefone. Por isso, Nathaly fez questão que eles fossem com ela para conversar com Juliana.
– Alice envolvida com o crime? – perguntou John, não acreditando – Isso é um absurdo!
– Infelizmente, é isso – disse Juliana. – Quando ela me rendeu para dar cobertura às outras três comparsas, eu pude olhar em seus olhos e a achei familiar. Mas, quando eu tive que dar o depoimento à polícia, não quis dizer que ela estava envolvida. Eu tive mais medo do que eu simplesmente acusar sem ter certeza.
– Espere um momento... Você disse que era ela e mais três pessoas, certo? – disse Nathaly.
– Sim – confirmou Juliana.
– Então, ela não participou apenas desse crime, mas de outros – concluiu.
– O quê? – disse John, olhando espantosamente para a Nathaly, ainda incrédulo da situação.
Nathaly contou sobre a matéria dos roubos a bancos e estabelecimentos que ela havia lido mais cedo, e comparou a quantidade de pessoas envolvidas nas ações com o roubo feito dentro da mansão Butzek. Certamente, foi difícil ela chegar a tal conclusão para que chegasse aos ouvidos de Ryan e, principalmente, de John.
– Portanto, quer dizer que a minha irmã... – pensou Ryan.
– Sim, Ryan. Sua irmã tornou-se uma foragida da polícia.
– Não pode ser – lamentou John.
Quando eles menos esperavam, Alice apareceu encapuzada, entrando bruscamente pela janela, assustando-os. Nathaly tomou à frente para contê-la, mas ela era mais forte, e a pegou pelo pescoço com apenas uma mão e colocou-a na parede, erguendo-a. A partir dali, Alice usou Nathaly como refém.
– Se não disserem a senha do cofre que roubamos, essa garota aqui vai morrer – ameaçou. – Cada minuto que vocês demorarem a responder, mais eu apertarei o seu pescoço.
Ryan viu a vantagem numérica, e planejava um ataque com Juliana e John. Nathaly sabia que era Alice, e achou estranho ela não ter a chamado pelo nome ao invés de "garota", percebendo que ela estava fora de si naquele momento.
– Não façam nada! Fiquem onde estão, por favor – pediu Nathaly, quase sem ar. – Alice, eu sei que é você por detrás desse disfarce. Você não teria coragem de matar alguém. Eu sei que há uma pessoa boa em seu mais íntimo.
– Fica quieta! – ordenou-a, e apertou ainda mais o pescoço de Nathaly.
– Alice... – Ela tentava puxar fôlego – Essa não é sua vida. Você está sendo manipulada... Você vai trocar o amor de seus pais, do seu irmão e do seu namorado por uma vida qualquer com aquelas amigas? Lute contra isso!
A agitação de Alice estava tão alta que os efeitos do gel começaram a diminuir, colaborando para Nathaly ter êxito com aquela conversa. Alice recuperava sua consciência, e viu que estava segurando Nathaly pelo pescoço. Logo, a soltou. Ela tirou o seu capuz e olhou assustada para todos.
– Eu preciso de ajuda – disse Alice, com os olhos arregalados e suando.
Alice retornou ao ferro velho quase que desfilando. Lauren a viu chegando daquela maneira.
– Voltou Alice? – perguntou sinuosamente – Olha só, você não morreu na missão. Seus poderes a garantem vantajosa.
– É. Foi muito fácil – disse Alice, sorrindo de lado.
– Vamos direto ao assunto: Cadê o nosso troféu? – A amiga estendeu a mão para receber a anotação da senha. – Temos planos para aplicar esse dinheiro.
– Aqui está.
Alice entregou o papel. Quando o recebeu de sua comandada, Lauren desdobrou-o e leu a seguinte mensagem:
SENHA: A polícia está a caminho.
Ela ficou bastante desapontada e irritada, amassando o papel e jogando-o fora. Alice passava a contar com a ajuda do seu irmão e do namorado, que a acompanharam e estavam escondidos atrás das velhas ferragens.
– Você brincou muito com a nova fase da nossa amizade, Alice. Não deveria ter ousado a fazer isso.
– Eu fiz que fosse certo.
Alice fez um gesto facial para que Ryan e John surgissem. Mas eles estavam demorando com a execução.
– Mas não tem problema. Eu também tenho cartas na manga, amiga – disse Lauren, convencida.
O que era planejado para encurralar foi desfeito. A líder do grupo já desconfiava que Alice pudesse enganá-la, e as outras garotas já haviam rendido seu irmão e o namorado.
– Esse era o seu melhor? – debochou, apontando para trás da Alice.
– Como soube? – perguntou, olhando para trás.
– Simples: desconfiava da sua pessoa.
Em um vacilo, Alice também foi segurada pela a enganada amiga. Ela tentou utilizar de uma força que já não existia mais em seu corpo, porque o efeito do gel já havia passado. E a vingança contra ela estava apenas dando início pela sua amiga traída.
– Vamos à punição: primeiro, você sofrerá ao ver seus queridos irmão e namorado sendo esmagados naquela prensa, que está em perfeita condições. Depois, você será a próxima – disse a criminosa.
– A polícia está chegando, Lauren.
– Eu posso até ser detida, Alice. – Ela aproximou sua boca do ouvido de Alice. – Mas será que haverá tempo de salvá-los? – perguntou com extrema frieza para aterrorizá-la.
As comparsas que renderam Ryan e John golpearam-nos por trás, desmaiando-os. Então, elas os pegaram e os deixaram lado a lado sob a prensa de esmagar latarias, e a máquina foi ligada. Vendo aquela agonizante cena, Alice se debateu para tentar se soltar da oponente e salvá-los. Irritada, a amiga jogou-a contra uma parede próxima a elas. Com o impacto, ela caiu desacordada.
– Não há problema você não presenciar a execução deles – disse a amiga. – O preço da traição tem que ser pago da alguma forma.
Nathaly apareceu em um momento crucial. Presenciando a cena, ela viu a prensa descendo sobre as vítimas e, olhando para o alto, observou uma jaula vazada por baixo suspensa no meio do lugar. Em um raciocínio rápido, ela usou sua agilidade sobre-humana, passando pelas três garotas criminosas e levando-as ao meio, miradas à jaula, e jogou com extrema força uma barra de ferro em direção à corrente que suspendia a jaula, quebrando-a e fazendo a jaula cair sobre as criminosas. Então, ela foi impedir a prensa, que já estava quase a dois palmos de Ryan e John, segurando por debaixo da chapa em movimento com uma mão ao utilizar uma força animal para ter a resistência necessária enquanto a outra acionou a alavanca, retrocedendo a atividade. Por fim, ela os tirou debaixo da máquina.
Ela ainda viu uma mesa de rodinhas com alguns recipientes transparentes com o gel. Vendo que era bem avermelhado e viscoso, pegou um para usar da sua visão microscópica, e percebeu que havia dois tipos de composições minerais: um que dava o brilho prateado, assemelhando-se com glitters, e o outro dava o tom avermelhado. Ela não pensou muito, e resolveu jogar todos aqueles recipientes em meio a uma brasa acesa dentro de um forno, ao inclinar a mesa com toda força para lançar o que estava em cima; e saiu de perto para se proteger do calor intenso produzido pelo forno.
Nathaly ouviu a polícia chegando, e temeu. Então ela saiu dali. Quanto às garotas enjauladas, elas recuperaram as suas consciências e se levantaram para sair da jaula, mas não conseguiam. Seus poderes perderam a tal validade.
A patrulha chegou a peso ao ferro velho, invadindo o lugar. Junto aos oficiais, Eduard estava com a sua filha. Eduard veio para testificar do cofre; já sua filha veio para conduzir as autoridades ao local. A cena que todos viram foi as três garotas presas na jaula, Ryan e John acordando dos seus desmaios e Alice já ficando de pé. Aquela jaula chamou bastante atenção de Eduard, e ficou abismado consigo mesmo de como ela teria caído bem em cima daquelas jovens infratoras, e viu a corrente repartida no alto.
– Mãos para cima, Srta. Taylor – ordenou um dos policiais. – Você também está presa por roubo.
Ela simplesmente obedeceu às ordens dadas e foi algemada. Sua feição demonstrava um profundo arrependimento.
– Pai, não permita que Alice venha ser presa por causa daquelas garotas.
– Filha, ela fez a sua escolha de se juntar àquelas meninas – disse Eduard.
– Sim, mas ela se arrependeu e trouxe-nos aqui para acabar com essa situação – argumentou. – Por favor, considere ao menos isso.
– Está bem – cedeu. – Mas ela terá que passar pela justiça antes. Aí, eu chamarei um advogado para ela.
– Obrigado, pai – sorriu mais aliviada.
A compaixão de Eduard trouxe à Alice uma ótima notícia sem ainda ela saber, pois estava sendo conduzida ao carro policial. Nesse trajeto, ela ouviu as seguintes palavras de Lauren na jaula:
– Não sei o que houve para você escapar do meu plano, mas você ainda irá me pagar – jurou. – Sua prisão não é o suficiente para me conformar. Traidora!
Alice ficou temerosa com aquelas palavras da sua amiga, que agora se pode dizer como ex-amiga, devido o tamanho desentendimento entre as duas.
Eduard foi saber mais informações sobre o paradeiro do tão zeloso e preciso cofre para ele. Um dos policiais levou-o até onde o cofre estava escondido – graças à Alice mais uma vez, por ter confessado. – O cofre foi colocado em cima de uma mesa. Quando o dono do cofre o abriu, o oficial pôde se certificar de todo o dinheiro que estava lá. Depois, ele teve que abrir os documentos do cientista.
– Ops! – Eduard gentilmente pegou os documentos do policial.
– Sr. Butzek, eu estou apenas querendo vistoriar e ver se não roubaram nada do cofre, caso elas conseguiram abri-lo.
– Eu entendo perfeitamente o seu trabalho, senhor policial, mas esses documentos são confidenciais – explicou. – E tenho certeza que eles estão do jeito que eu havia os deixado. Elas queriam mesmo essa quantia de dinheiro.
– Ok, Sr. Butzek. Eu entendo sua posição – compreendeu.
– Ótimo – sorriu, batendo levemente os documentos em seu colo. – E vocês fizeram um ótimo trabalho.
– Estamos à disposição. – O policial saiu da presença dele.
Nathaly retornou à cena como se ela estivesse realmente chegando, e de forma atrasada. Enquanto John estava dando as últimas palavras com Alice antes de ela ser conduzida à delegacia, Juliana e Ryan estavam conversando, e Ryan achou estranho Nathaly ter chegado depois de Juliana:
– E aí, gente. Tudo sob controle? – perguntou Nathaly, fingindo.
– Você chegando agora, Nathaly? – disse Ryan, erguendo uma sobrancelha – Você não viria com a Juliana?
– E ela viria junto comigo. Mas, sei lá, uma crise de preocupação, a fez querer vir antes de nós – explicou Juliana, atropelando a Nathaly na hora de responder. – Agora, está aí, chegando atrasada. Eu disse que seria melhor manter a calma e vir conosco de carro.
– É... É isso aí – concordou Nathaly, apontando para sua amiga e sorrindo.
Ryan cruzou os seus braços e olhava de uma forma misteriosa para Nathaly.
Vistoriando o local por completo, os policiais encontraram dois médios sacos fechados escondidos em um setor do abandonado ferro-velho. Eles os abriram, e viram pedras de Galena em um saco enquanto a outro havia pedras de Cinábrio. Embora aparentassem naturais, apenas extraídos, os minerais estavam modificados pela nova produção industrial.
Na delegacia, o advogado de Eduard conseguiu diminuir a pena na prisão de Alice, devendo ficar presa por alguns dias. Os seus pais, seu irmão Ryan e o namorado John estavam lá para acompanhar.
– O meu advogado conseguiu reverter a situação de pena maior por roubos. Porém, ela deverá ficar alguns dias detida – disse Eduard.
– Bem, é melhor do que ficar um bom tempo aqui – contentou-se o pai. – Obrigado por ter compaixão de nossa filha, Dr. Butzek. E desculpa por essa vergonha.
– Não se preocupe, Sr. Taylor. Já está desculpado – sorriu. – Vida que segue.
Nathaly chegou em casa e encontrou seus pais à sua espera. Ela teve que contar o que estava fazendo fora de casa por tanto tempo. Os relatos foram nos mínimos detalhes. Nada foi escondido deles. Nenhum deles teve argumentos para chamar a atenção da filha mais uma vez por causa do tamanho perigo em se envolver nas coisas. A impressão deixada era não colocar novos conflitos na mente de Nathaly, se é que os velhos já foram vencidos por ela; eles poderiam enlouquecê-la.
Ao final do dia, Eduard estava colocando o seu cofre no lugar, mesmo estando destruído por causa do roubo. Juliana apareceu, e estava observando o seu pai fazendo aquilo.
– Não seria melhor refazer a parede com o novo encaixe para o cofre?
– Filha. Você está aí. – Virou-se para dialogar. – Essa arrumação é algo temporário.
Eduard percebeu que sua filha estava um pouco tensa.
– Aconteceu algo que eu não sei, filha? Parece nervosa – presumiu. – Se é o sistema de segurança da casa, eu já irei providenciar...
– Não, pai. Não é isso. – Ela se aproximou do pai com os braços cruzados. – Preciso lhe contar uma nova coisa...
Juliana começou a contar que uma das garotas do grupo criminoso foi capaz de arrebentar aquela parte da parede para a retirada do cofre da casa com apenas a força física, e deduziu que as outras duas também poderiam ter a mesma habilidade; sobre Alice, ela não conseguiu ter o mesmo ponto de vista. Seu pai olhava perplexamente tanto para ela quanto para o buraco.
Enquanto isso em seu quarto, Ryan abriu uma das gavetas de sua cômoda e fuçava suas próprias coisas. Debaixo delas, ele pegou uma foto de Nathaly que havia tirado do mural de estudantes da escola com a sua câmera. Sentando-se sobre a cama, ele observava aquele sorriso branco e os olhos inconfundíveis na foto. A sua observação indicava alguma coisa a mais.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top