Capítulo Doze: Vidência
Nathaly estava a passeio de final de semana com seus pais na zona central de Manchester – nada como um momento em família para deixar um pouco de lado a rotina. – No meio desse passeio, eles passavam por uma praça da região, passando por uma senhora, que aparentava ter alcançado os seus sessenta anos, assentada à mesinha bem arrumada. Seus aparatos identificavam-na como uma cigana.
– Que família linda que estar a passar em minha frente – comentou aquela senhora, acompanhando-os em seu olhar.
Eles pararam e olharam para ela.
– Eu faço questão de fazer uma consulta com vocês, de graça – ofereceu. – Por favor, meus queridos, aproximem-se.
A família chegou perto dela, atendendo ao pedido. A senhora observava mais a Nathaly do que seus pais, propriamente.
– Eu vejo algo nos olhos dela – disse ela, apontando para Nathaly. – Sente-se, e dê-me sua mão, minha jovem.
A cigana estendeu as mãos com as palmas para cima, esperando o seu tocar. Steven já começou a ficar desconfiado com a conversa quando percebeu a tamanha atenção dada à filha. Isso o fez colocar as mãos no ombro da filha. Nathaly olhou lentamente para o seu pai, que a olhava no pretexto de recusar o pedido. Mas ela acabou sendo atraída pelo "algo" visto em seus olhos, acreditando ser mais do que os seus próprios poderes; ela resolveu se arriscar.
Lentamente, Nathaly sentou-se na cadeira e deu as suas mãos a ela.
– Seus olhos são lindos, minha filha – elogiou, olhando-a mais diretamente. –Agora, feche-os, por favor.
Ambas fecharam os olhos. Nesse ato, a senhora começou a ver o dia que seus pais receberam a notícia da gravidez e a alegria entre eles, esperando ansiosamente pela sua chegada. Nesses momentos, Nathaly sorria parcialmente, pois ela também via o que a cigana estava vendo. Mas o seu sorriso transformou-se em apreensão. Depois daquele momento, Nathaly revivia o traumático dia de seu nascimento, vendo toda a apreensão dos momentos antes de vir ao mundo e o momento em que o carro da família havia sido atingido pelo raio na tempestade. Depois, a visão percorria entorno da vida dela e via o seu futuro próximo. Enquanto tinham a visão, a cigana dizia as seguintes palavras:
– Seus dons são únicos e incríveis. Mas eles são muito maiores para salvar somente pessoas. Você surgiu para inibir a tamanha ignorância e desequilíbrio que têm crescido na Terra, que está levando-a aos últimos dias de sua existência. Porém, o seu medo e indecisões têm impedido-a de tomar posse de seu verdadeiro destino, que já lhe espera pronto, amordaçando uma voz íntima que apenas você pode ouvi-la, mais ninguém pode...
De repente, ela ficou calada. Sua visão compartilhada com Nathaly chegava a um cenário bastante brilhoso, ofuscando suas vistas no submundo. Em meio ao brilho, via-se um pouco do formato de uma coroa bem distante. Por outro lado, duas silhuetas de mulheres surgiram. Uma daquelas mulheres ofuscadas pelo brilho começou a se aproximar, até que a sintonia entre a Nathaly e a cigana foi interrompida, voltando com suas consciências àquela praça.
– Aí... – queixou-se a mulher, levando a mão à cabeça.
– Senhora? Que visão foi aquela? – perguntou Nathaly, apreensiva.
A senhora pegou fôlego para respondê-la, de tão forte que foi aquela visão.
– Eu não posso revelar muita coisa, pois há um bloqueio muito forte que me impede de avançar – disse ela. – Entretanto, a coroa simboliza o seu destino promissor; as mulheres representam duas mães.
Tais respostas foram mais enigmáticas do que esclarecedoras. Apesar das lacunas, ela e seus pais ficaram perplexos da visão tida. Mas a conversa pós-consulta não durou muito tempo quando homens da polícia vistoriavam o lugar.
– Eu preciso sair...
– Por quê? – perguntou Nathaly.
A mulher entregou para ela um cartãozinho com as suas informações.
– Não são permitidas essas coisas em praça pública – justificou. – Ciganos ainda são bastante perseguidos. Vão embora. Rápido!
Eles rapidamente obedeceram e tomaram distância dela. A cada passo que dava, Nathaly olhava para trás, extremamente curiosa com as revelações; já a cigana desmontava suas coisas ligeiramente para não pegarem-na em serviço.
Na cozinha, Steven e Clara comiam na mesa enquanto Nathaly ingeria algumas uvas de frente para pia e olhando para a janela.
– Ainda pensando no que aconteceu na praça, filha? – perguntou Steven.
Ela se virou para os pais.
– Sim, pai. Há muitas coisas que me chamaram atenção.
– Talvez, aquela visão foi um equívoco. Como pode você ter duas mães? Clara é apenas uma.
– Não, pai. A mesma visão que ela teve, eu tive – rebateu. – Eu pude ver o meu próprio nascimento, que corresponde exatamente ao que você me contou.
– Então, as visões foram verídicas mesmo – disse Clara, confirmando.
– Sim. – Ela olhou para o nada. – Estou começando a concluir que realmente os meus poderes não surgiram em mim por acaso.
A cigana chegara em sua casa. Sentada no sofá, ela estava a pensar nas visões que tivera com Nathaly quando uma jovem mulher entrou na casa, interrompendo seus pensamentos.
– Cheguei, vovó Alexandra. – Ela fechou a porta e ia até sua avó. – Aconteceu alguma coisa, vó?
A senhora se levantou vagarosamente, devido a idade, e ficou diante de sua neta.
– Katie... Eu não costumo falar sobre as experiências que tenho como cigana, mas acho que você precisa saber de algo, já que é a pessoa com quem tenho mais confiança.
Katie Harvey era o nome e sobrenome da neta daquela senhora, que tinha o mesmo sobrenome dela. Katie aparentava ter aproximadamente vinte e sete anos por sua postura madura, e morava com sua avó.
Elas ficaram se olhando sob o silêncio que surgiu no ar por causa da hesitação de Alexandra.
Nathaly se encontrava na casa de Juliana. As duas haviam combinado de estudar juntas lá, já na preparação das provas de final de ano. Elas estavam em uma mesinha preparada no quarto.
– Apesar de ainda termos tempo, são muitas matérias para encaixar na cabeça, não acha?
Juliana percebia Nathaly muito pensativa olhando o seu livro.
– Nathaly? Isso já são os efeitos colaterais para as provas? Você está estática aí.
– Eu com medo das provas? – Ela olhou e depois voltou a paginar. – Isso não passa de uma impressão sua.
– O que você anda pensando, então?
Nathaly tornou a olhar para amiga e pensou por alguns instantes se iria ou não contar sobre aquela mulher da praça.
– Você acredita em previsões?
Com toda a atenção, Juliana ouvia sua amiga contar que ela esteve assentada com uma cigana para ver o seu próprio futuro.
– Nossa. Deve ser o máximo – comentou Juliana. – Mas o que ela viu sobre você?
Nathaly hesitou àquela pergunta, rindo ao se levantar e ficar de costas para a amiga.
– É uma coisa bem engraçada, sabe...
Juliana também se levantou.
– Eu já sei: ela disse que você é uma jovem muito sortuda e tem futuro promissor lhe esperando.
Aquelas palavras soaram como algo familiar à Nathaly, e ela virou-se espantada.
– Como você sabe? – perguntou.
– É normal muitos médiuns dizerem isso. Não querendo ser cética, claro – explicou. – Mas o seu espanto ao meu comentário mostra que ela viu isso... O que era, especificamente?
Nathaly pegou o livro de Biologia da mesa.
– O meu futuro promissor se encontra aqui – apontou. – A Biologia é o meu futuro. Basta eu não desistir.
– Hm... Não é à toa que seu desempenho na matéria é alto.
De uma para outra, ela precisou ir embora. Quando arrumava suas coisas, colocando-as na mochila, aquele cartãozinho caiu no chão sem Nathaly perceber. Quando ela saiu do quarto, Juliana pegou o cartão e leu as informações e contato da cigana. Ao invés de devolver, ela preferiu ficar com o cartão.
Eduard chegava à mansão, aproveitando o tempo disponível para ver a filha. Quando chegou à porta, ela se abriu.
– Nathaly? Que surpresa! – surpreendeu-se. – Tudo bem?
– Tudo, Sr. Butzek. Mas agora preciso ir.
– Fique mais um pouco. Você está em casa.
– Obrigada, Sr. Butzek. Mas deixa para próxima.
Nathaly passou apressadamente por ele, despertando uma estranheza da parte do cientista, que foi diretamente para o quarto da filha.
– Aconteceu alguma coisa com a Nathaly, filha? Ela saiu tão apressada daqui.
Juliana comentou sobre o comportamento e reação estranha da amiga depois que ela tocou no assunto sobre o que a cigana tinha visto para a vida dela. Foi então que ela entregou o cartão da mulher para o pai analisar.
À noite, Alexandra recebeu a visita do cientista em sua casa.
– Acomode-se, Sr. Butzek.
– Obrigado, Sra. Harvey. Mas eu vou ficar de pé.
– Sua postura já mostra ser um homem resistente – comentou. – Mas o que lhe traz aqui?
– Soube que uma jovem teve uma consulta com você. Ela se chamada Nathaly.
– Oh! Sim. Por sinal, ela é uma jovem muito esperta e bonita – elogiou, olhando para o lado e entrelaçando os dedos das mãos. – Fiquei encantada com ela.
– É. Mas fiquei preocupado com sua pessoa, que tem agido de forma receosa desde quando ela se consultou com você.
– Eu estou certa aonde você quer chegar, Sr. Butzek. Mas as visões que eu tenho são de caráter particular entre os meus clientes e mim.
– Desculpe-me, Sra. Harvey. Não era a minha intenção em invadir o seu trabalho. E muito menos da vida pessoal de sua cliente – riu mansamente. – Como eu disse, fiquei apenas preocupado com a Srta. Kate.
A cigana olhou para ele, observando sua pessoa dos pés à cabeça.
– Sabe, Sr. Butzek? Há algo em sua pessoa que me incomoda.
– Bem... – Ele arrumou seu terno – O que seria?
– Suas energias revelam uma pessoa muito curiosa, embora seja algo normal para a ocupação profissional em que você está. Mas essa curiosidade tornar-se-á em uma ambição nada favorável se você não tiver o devido controle dela. Pois isso não é o seu caminho a ser trilhado; permita que as coisas se resultem naturalmente, conforme o tempo. A pressa humana nos cega, Sr. Butzek. Quando nos damos conta, já é tarde demais.
Eduard ficou, obviamente, abismado dentro de si. Seus olhos o acusavam disso quando olhava a mulher de forma diferente.
– Com todo respeito às suas dádivas Sra. Harvey, mas essas palavras parecem querer me assustar.
– Não, Eduard Butzek. Minhas previsões e conclusões não costumam falhar. A não ser que a própria pessoa evite ou combata o lado negativo.
A seriedade dela aumentou com a insistência contrária do cientista. Ele resolveu se despedir dela, agradecendo pelo recebimento de sua visita. Já estava ficando um pouco tarde.
– Boa noite, Sra. Harvey – disse ele, colocando o seu chapéu na cabeça.
– Até mais, Sr. Butzek.
A senhora fechou a porta. Em poucos passos dados pela sala, as luzes da casa se apagaram. Quanto menos ela esperava, pessoas estranhas apareceram no cômodo e pegaram-na sem chances de defesa. Um ataque repentino. Para piorar, sua neta não estava na casa.
No dia seguinte, Steven pediu à Nathaly que ela fosse à padaria para comprar alguns pães naquela ocasião. Passando no caixa, ela viu um cartaz pendurado na parede com o dizer "desaparecida" e a foto da cigana e informações dela, como nome, profissão e número para contato, além de valores de recompensa e o endereço em minúsculo.
– Moço. Você tem informações do que aconteceu com aquela senhora? – apontou.
– Não – respondeu. – Apenas sei que ela sumiu ontem.
Ela saiu cismada do comércio com aquilo. No caminho de volta a casa, ela notou outros cartazes espalhados pelas ruas. Ela retornou para casa com um daqueles em mãos.
– Pessoal... – Ela colocou a folha na mesa junto com o saco de pães. – A mulher da praça desapareceu. E soube que foi ontem, justamente no dia que nós tivemos o único contato com ela.
Steven pegou o anúncio e analisou o retrato e as informações com sua esposa.
– Quer dizer que o sumiço está ligado...
– Exatamente, mãe – interrompeu. – Temo que seja por minha causa.
Nathaly pressentiu mais alguma coisa, e foi ao seu quarto procurar pelo cartão de visita da mulher. Ela se lembrara de ter deixado-o no meio de um dos livros. Mas não o encontrou nem em meio deles nem em suas coisas. Aquilo despertou uma desconfiança.
Com a cabeça encoberta, Alexandra se encontrava presa a uma cadeira antiga. Uma das pessoas que a sequestraram tirou o capuz de sua cabeça. Ela observava em sua volta um lugar com características medievais e de pouca iluminação, dependendo de velas. Depois, ela percebeu oito pessoas trajadas de monge em sua frente, sendo que um estava mais próximo dela – que foi quem tirou o capuz.
– Onde estou? Quem são vocês?
– Somos a esperança desta Terra – respondeu-lhe. – E precisamos da sua ajuda para a consumação de uma missão.
– Esse não é um método de pedir ajuda. Não me convém a ser uma.
O líder colocou as mãos nos braços da cadeira e olhou para ela.
– Há uma enviada entre nós, vinda para nos fazer reféns de uma nova doutrina na Terra. E você, Sra. Harvey, esteve frente a frente com essa pessoa.
– Eu não sei sobre o que você está falando – disse ela. – Quem os fez pensar em me sequestrar? E para quê?
– Ok. Já perdemos muito tempo para chegar esse dia. – Ele se afastou dela. – Não se preocupe. Isso terá menos impacto em sua saúde. Ao menos, por enquanto.
Um pouco de água foi jogada em um dos braços da cigana. Depois, uma chupeta elétrica improvisada e conectada à caixa de energia foi pega por um dos monges. Após pronunciar palavras estranhas com os demais, o líder do grupo autorizou o início da sessão de tortura, eletrocutando-a no braço, em baixa voltagem, mas o suficiente para tentar forçar uma confissão. O grito da mulher era indescritível.
Nathaly foi à mansão dos Butzek tratar do sumiço do cartão e o desaparecimento da cigana no mesmo dia. Quando Juliana disse que ela havia entregado o cartãozinho ao seu pai, Nathaly acabou sendo obrigada a suspeitar do cientista.
– Nathaly... O que você falou é muito greve! – disse Juliana. – Como pode definir o meu pai como um sequestrador?
– Não quero dizer isso do seu pai, Juliana. Mas tudo indica algum envolvimento.
– Meu pai nunca seria capaz de fazer tal coisa – defendeu-o. – Ele apenas se preocupou com você, e foi à casa dessa mulher.
Ela ficava calada, apenas ouvindo Juliana desabafar.
– Afinal, por que tanta preocupação com aquela cigana? Há algo de sua pessoa que você teme vir à tona?
Juliana se aproximou da Nathaly, olhando em seus olhos. Mas sua amiga mantinha-se quieta, pois ela não poderia falar o que realmente estava em jogo.
– Lembra daquele seu ensinamento, que muitos tiram as piores conclusões do povo alemão por ainda viverem no passado? Eu acho que você se tornou uma dessas pessoas.
– Juliana...
– Eu preciso estar sozinha agora.
Ela abriu a porta para a passagem de Nathaly. Respeitando-a, ela foi embora. Juliana estava bastante sentida sobre a última visita da amiga.
Nathaly decidiu ligar de um estabelecimento para o número descrito no cartaz. Quem atendeu foi Katie, a responsável pelas buscas de Alexandra. Então, ela foi à casa onde a senhora morava com a neta.
– Olá, Srta. Harvey. Sou a pessoa da ligação – apresentou-se Nathaly.
A mulher olhou rapidamente de um jeito diferente para Nathaly.
– Sim! Entre, Srta. Kate.
Acomodando-se na sala, as duas conversavam sobre a situação. A cada momento em que era a vez de Nathaly para falar, Katie a olhava frisadamente.
– A polícia lhe deu mais notícias sobre o caso, Srta. Harvey?
– Ainda não... – respondeu. – O fato é que minha avó não merecia passar por isso, Nathaly.
A neta levantou-se do sofá e foi até o barzinho para pegar uma bebida, estando de costas para Nathaly. Ali, ela também abriu um mini baú que continha um bracelete de metal.
– Lamento por essa situação. Mas ela vai aparecer, Srta. Harvey – tranquilizou-a Nathaly, que se colocou de pé e aproximou-se, pondo a mão no ombro da pessoa.
– Mas isso só aconteceu por uma causa...
Katie mudou seu semblante e se virou para Nathaly, colocando o bracelete no punho dela. E não era qualquer bracelete: para a má sorte de Nathaly, o acessório era fundido com um dos minerais modificados, gerando uma reação dolorosa com o aparecimento de suas veias que, aos poucos, subiam para o braço.
– O que você está fazendo? – perguntou, agachando-se em meio às dores.
– Sabia que você viria atrás da minha avó para manter-se infiltrada na humanidade.
– Eu não sei o que se trata, mas deve haver algum equívoco.
Nathaly recebeu uma tapa no rosto.
– Mentira! Agora, entregarei você para ser consumada, e tirar o mundo de suas mãos.
Nathaly não entendia nada daquelas palavras, mas já mostrava que a neta da cigana escondia algo. Mesmo sem muita força, ela reagiu indo para cima dela, e lutava como podia. Até que conseguiu empurrá-la para dentro de um escritório e trancá-la lá. Com o braço, onde o bracelete estava, já quase dormente e bastante fraca, Nathaly foi até ao telefone da casa cambaleando para pedir ajuda.
No mesmo momento, Steven e Clara estavam preocupados entre si pela demora de Nathaly voltar para casa ou dar alguma informação. E o telefone tocou.
– Alô? – disse Steven, atendendo.
– Pai... Ajuda-me... Venha rápido.
Nathaly caiu ao lado da mesinha do telefone, deixando-o fora do gancho.
– Nathaly? Filha?
Steven desligou o telefone e passou por Clara apressadamente.
– O que foi, querido?
– A nossa filha está em perigo. Preciso ir.
Ele pegou o cartaz que estava no lixo para usá-lo para chegar ao endereço, deduzindo que a filha tinha ido lá.
O carro particular da família Butzek chegava em frente à porta de entrada da Butzek Corporation, na zona central de Manchester. O motorista particular daquele carro saiu e foi abrir a porta traseira do veículo, para o desembarque de Juliana.
– Por sua segurança, não deveria ter trazido-a aqui, Srta. Butzek – disse o motorista, preocupado com uma possível bronca, enquanto segurava a mão dela.
– Não se preocupe. Eu assumo a culpa para não estragar os seus anos de trabalho em nossa família.
Juliana passou pela segurança e recepção do edifício e chegou à sala executiva de seu pai, que estava com sua mãe naquele momento, conversando.
– Faz um tempo que não venho aqui – disse ela, entrando. – E não mudou muita coisa.
– Juliana? O que faz aqui? – estranhou. – Eu não tenho avisado ao motorista para não andar contigo para cima e para baixo?
– É verdade que você está envolvido no sumiço dessa mulher? – perguntou-lhe, mostrando o cartaz.
– O que significa isso, Eduard? – questionou Luiza, olhando para ele, surpresa.
Ali, Juliana explicou toda a situação ocorrida no dia anterior e o atual momento, ressaltando as acusações de sua amiga, que colocou o pai como um suspeito de sequestrar a senhora por interesses próprios. Luiza ficou de boca aberta com o que sua filha falara, e Eduard ficou sem ter uma expressão à sua própria reação.
Steven chegou a casa endereçada no enunciado. Ele nem pensou muito para adentrar à residência, abrindo logo a porta. À sua frente, ele viu sua filha caída no chão, de barriga para cima, sendo corroída do braço com o bracelete à altura do pescoço. O pai não teve dúvidas o que estava ocasionando aquilo, e identificou que viera do acessório de metal. Então, ele pegou o pulso dela e encontrou outro problema: precisava da chave. Olhando para todos os lados, aquele pequeno baú aberto chamou sua atenção, indo até lá e encontrando a chave; voltando, abriu e guardou o acessório no bauzinho.
Ajoelhado, ele mantinha o corpo da filha junto ao seu, mantendo a calma e esperando alguma reação dela, que não vinha.
– Vamos, princesa. Sei que você é forte!
Quando olhou para uma janela, ele se lembrou de uma coisa crucial que poderia ajudá-la naquele momento: a luz do sol, que estava raiando naquele instante. Deixando Nathaly sobre um dos sofás, Steven pegou um espelho do banheiro e fez a luz solar refletir da janela para a filha. Em alguns segundos, os raios começaram a acelerar a regeneração das regiões afetadas pelo o contentor e venenoso bracelete, encobrindo as feridas e estabilizando a corrente sanguínea no desaparecer de algumas veias que estavam sob pressão. Quando Nathaly abriu os olhos e os piscou algumas vezes, viu o seu pai.
– Que bom ver os seus lindos olhos novamente – disse ele, sorrindo.
Na porta do escritório onde Katie tinha sido trancada, Steven e Nathaly estavam contando para destrancá-la e pegar a mulher de surpresa. Abrindo rapidamente, não a encontraram mais lá, e a janela estava aberta. Mas um papel e um bilhete ferroviário foram esquecidos no chão. Nathaly os pegou.
– Esse deve ser o lugar onde a Sra. Harvey está – concluiu, quando leu o documento, que aparentava ser uma ficha recrutadora. – Você está pensando o que eu estou pensando, pai?
Os dois se olharam antes de tomar uma atitude.
Alexandra já estava fadigada por causa da tortura interminável.
– Essa é última chance, Sra. Harvey. Já estamos no limite da voltagem – avisou o líder. – Mais uma, você poderá não aguentar. Portanto, diga-nos quem é essa pessoa!
– Eu já disse que não conheço essa pessoa.
O monge olhou para os seus companheiros e baixou a cabeça.
– Que os nossos deuses tenham misericórdia dessa mulher.
Eles já se preparavam para dar um curto mais intenso, que poderia custar à vida da cigana. Ela foi totalmente molhada, e ela fechou os olhos para esperar o impacto mortal.
– Ela não tem mais idade para ser interrogada, rapazes! – disse Steven.
Steven apareceu trajado com uma roupa similar ao do grupo para não ser identificado de imediato.
– Eu não me lembro de você – disse o líder, desconfiado.
Seis dos sete monges servos atacaram-no, e ele se defendia como podia. O outro que segurava a chupeta elétrica continuou a receber ordens de seu líder para terminar o que ia fazer. Quando ele fez o movimento para eletrocutar Alexandra em força máxima, Nathaly, também disfarçada e ainda encapuzada, apareceu-lhe para segurar a ponta da chupeta. Ela resistia aos altos volts em sua mão, e usou a sua visão de calor para partir o fio ao meio, interrompendo a passagem de energia.
– É você – impactou-se o líder, ao dar passos para trás, percebendo que era a pessoa que tanto procurava.
Nathaly pegou aquele monge que ia matar Alexandra e lançou-o com sua força em cima de seu líder. Depois, ela começou a desprender a senhora da cadeira arrancando os braceletes de couro das mãos e pés. Medrosos, o grupo fugiu, sendo impossível de alcançá-los por os membros terem ido a direções diferentes e estratégicas.
– Você veio salvar-me, menina. Obrigada – disse a cigana, identificando Nathaly só em olhar em seus olhos.
Alexandra levou a mão ao peito e começou a pressionar.
– Tudo bem, Sra. Harvey? – perguntou Nathaly.
– Leve-me ao hospital, filha. Foi um dia muito puxado para mim.
Steven aproximou-se delas, e Nathaly já o alertou da necessidade da mulher ser levada ao hospital. Preocupado, ele rapidamente ajudou a filha a conduzi-la ao carro. Feito isso, pai e filha ainda tiraram um tempinho para tirar os seus capuzes e comemorar o êxito na missão, com o famoso "bate aqui".
– Parabéns, filha – congratulou-a. – Você conseguiu.
– Na verdade, nós conseguimos, pai – sorriu.
Eles se abraçaram. Mas estavam sendo observados de longe. O líder acabou por identificar a pessoa de Nathaly, a pessoa que procurava, e os via indo embora no carro.
Na estação de trem, a foragida neta caminhava-se a uma das bilheterias para se refugiar em Londres. Quando chegou à catraca, percebeu que perdera o bilhete e a folha. Carros da polícia chegaram na sequência pela a denúncia feita por Steven e Nathaly, graças ao bilhete deixado.
– Não a deixem passar! – gritou um policial. – Mãos à cabeça, Srta. Harvey. Você está presa!
Os polícias aproximavam dela, mirando suas armas em direção a ela.
– Como sabem que sou essa pessoa?
Um da corporação mostrou um porta-retrato com a foto dela com sua avó.
– Parece-me que a senhorita está um pouco desinformada – ironizou.
Ali mesmo, ela perdeu a batalha, obedecendo às ordens, em um brilhante trabalho realizado pela polícia inglesa.
No hospital, Nathaly estava na sala de espera com o seu pai, esperando notícias do estado de saúde atual de Alexandra. Uma enfermeira apareceu.
– Srta. Kate?
Pai e filha olharam-se, curiosos pelo chamado da assistente.
– Sim.
– Acompanhe-me até o quarto, por favor.
Nathaly se levantou. Steven também foi ao mesmo embalo, atrás dela.
– Desculpe, Sr. Kate. – A enfermeira o barrou com um gesto. – Mas a Sra. Harvey quer ver apenas sua filha.
Ela conduziu Nathaly até a porta, abrindo-a e fechando-a para ela, estando ela e a cigana sozinhas. Nathaly a via muito abatida.
– Me chamou, Sra. Harvey?
– Sim, minha filha – confirmou, com a voz já enfraquecida.
A mulher estendeu o seu braço e fez um gesto, chamando-a para perto. Quando a jovem aproximou-se da cama, ela a pegou pela mão.
– Eu queria tanto poder acompanhá-la nessa sua missão... Pena que já não há mais tempo – lamentou-se.
– Não diga isso – disse Nathaly, apertando a mão da mulher. – E como eu poderia lidar com essa tal missão? Eu quero mais detalhes dessa incógnita em minha vida.
– Como eu lhe disse, estou impossibilitada por um bloqueio – relembrou. – Mas você precisa amadurecer em prol do seu destino, sem se agarrar ao seu medo e perturbações interiores, como agora que você está expondo a mim. Vença a si mesma, Nathaly!
– Mas, às vezes, penso que é impossível. Até mesmo para aceitar quem eu sou.
– É possível, sim. Vejo uma coragem em ti – alegou. – E muitos virão atrás de você por muitas coisas. Por isso, você tem que abandonar esse perfil acanhado para estar preparada contra isso também, e dar sequência ao que foi lhe dado.
Nathaly apertava mansamente a mão de Alexandra mais uma vez, chegando a segurar com as duas mãos, enquanto ouvia aquelas palavras. Depois, as mãos da mulher foram ao seu rosto.
– Menina. Não deixe que o brilho desses lindos olhos venha se apagar. Você veio para ajudar muita gente...
Aquelas mãos foram escorregando lentamente do rosto, e os olhos foram fechando; Alexandra Harvey, a cigana e pessoa que esteve mais afundo no íntimo de Nathaly, entrava em óbito naquele momento. Nathaly ainda tentou falar com ela, e, sob o efeito nada agradável de presenciar a morte de uma pessoa, chamou a enfermeira.
– Calma, Srta. Kate – pediu. – Isso já era esperado. Seu coração sofreu muito com as descargas recebidas. Lamento dizer agora.
No carro, indo de volta para casa com o seu pai, Nathaly ainda estava um pouco ressentida pelas reviravoltas ao longo do dia.
– Não fique assim, Nathaly. Ela não morreu sem que antes você viesse salvá-la, como ela mesma a definiu – disse Steven, dando uma olhada para a filha.
– Isso é, pai. Mas eu a via como uma auxiliadora para a minha vida, e tentar entender o seu recado.
– Não se preocupe, minha filha. Nem eu nem sua mãe somos um médium, mas vamos tentar decifrar o que tanto lhe incomoda, após o que Alexandra falou.
Aproveitando que estava de carro, Nathaly pediu ao seu pai que a levasse à mansão dos Butzeks. Ela chegou e entrou sozinha.
– Que bom que você me recebeu, depois de tudo, Juliana.
– Estou a todo ouvido para você – disse ela, cruzando os braços.
Nathaly começou a contar que ela cometera um grande equívoco quanto as suas suspeitas contra Eduard, e mencionou o real causador daquilo tudo, sempre não entrando em detalhes.
– Por fim – respirou fundo –, queria pedir desculpas...
– Eu lhe desculpo, Nathaly.
– Amigas novamente, então? – perguntou, estendendo a mão.
Juliana se aproximou dela vagarosamente e olhou para mão estendida e para sua colega. Isso durou alguns segundos sob um silêncio absoluto, para o temor de Nathaly.
– Acho que um aperto de mão ainda seria muito pequeno para o nosso reatamento.
Ela nem triscou na mão, e sim apertou totalmente Nathaly em seu abraço, que culminou em mais uma etapa superada na amizade das duas. Que alívio para Nathaly!
– Mais que amigas, Nathaly!
Os pais de Juliana apareceram na sala, presenciando aquele abraço.
– Juliana! O que ainda faz com essa jovem? – questionou Luiza, descontente. – Esqueceu que ela caluniou o seu pai?
As duas se afastaram uma da outra. Nathaly ficava quieta e cabisbaixa, pois estava consciente do erro cometido de modo a justificar a decepção da mãe da amiga. Juliana olhou para a mãe e depois para Nathaly. Então, ela contou o motivo da visita e justificou o seu abraço nela, defendendo-a da rejeição.
– É assim, um reatamento tão repentino? Olha o grau da situação que ela provocou! Mais um passo, seu pai poderia ser preso agora, injustamente.
– Calma, querida. Você está muito alterada – disse Eduard. Ele olhou para Nathaly. – Eu também lhe perdoo, apesar de em nenhum momento estar contra você.
– Mas Eduard...
– Deixa, Luiza.
O cientista foi até Nathaly, e ficou olhando-a. Depois, estendeu a mão para apertar a mão dela, como um gesto de ceder o seu perdão. Ele ficou olhando para sua esposa, esperando algo dela. Demorou um pouco, mas Luiza fez a mesma coisa que o seu marido, porém, de forma mais objetiva.
Tomando distância das jovens, Luiza tornou a comentar:
– Aquilo foi uma hipocrisia.
– Negativo, Luiza. Não foi uma hipocrisia.
– Depois que ela quase lhe colocou na prisão, é sim uma estupidez de isentar a situação tão facilmente – contestou. – Até parece que não somos sua família, à qual tem que defender o nome.
Eduard parou. Ela parou também.
– Que atire a primeira pedra quem nunca erra.
Ele colocou a mão no ombro dela, abrindo um mero sorriso para ela. A sua frase-chave e a postura mantida fizeram Luiza repensar e tentar aderir de uma mente mais aberta para compreender o caso.
Na delegacia, Katie estava em sua cela compartilhada com outra mulher. Elas estavam conversando:
– Eu jamais aceitaria uma neta ou neto dessa laia, tendo a coragem de forjar um sequestro para satisfazer um pedido da sua seita religiosa, contrária da avó – disse a mulher, desaprovando a atitude. – Por isso que, também, não me envolvo com essas "organizações".
– É que você não sabe de um perigo iminente que esteve com a minha avó. Um perigo que rodeia a todos nós enquanto não eliminarmos.
– Nossa... Agora você falou como uma verdadeira serva religiosa – espantou-se. Mas não muito, pela a cara. – O que seria essa tão grande ameaça em suas profecias?
Quando ia contar, um carcereiro apareceu na cela e levou Katie. Ela soube que tinha sido liberta por uma desconhecida pessoa, e que os policiais a levariam para essa pessoa.
– Como é bom estar livre! – comemorou no banco de trás da viatura.
Onde o carro havia parado era uma área que tinha mais matos do que casas e iluminação. Ela desceu do carro sob condução dos policiais, que estavam bastante sérios em serviço.
– Nossa. Essa pessoa mora em um lugar... tão incomum – disse ela, erguendo uma de suas sobrancelhas.
O líder daquele grupo de monges, bem como os servos, saíram do meio dos matos. Ela ficou temerosa com a presença do também seu líder.
– Foi você quem me tirou da prisão, senhor. Obrigada – disse ela. – Mas por que me trouxe aqui?
– Os nossos deuses estão muito desapontados contigo pela a falha em sua missão, Srta. Harvey – revelou. – A pedido deles, você será útil de outra forma.
Um policial que estava atrás bateu com o cassetete nas dobras das pernas dela, fazendo-a ficar de joelhos. Sob as luzes dos faróis do carro, ela foi atingida por tiros nas costas. Os policiais tinham sido, de alguma forma, atraídos para auxiliar o grupo em tal plano.
– Agora, esperar que a nossa alvo esteja em nossas mãos.
Todos entraram no carro e foram embora. Katie estava debruçada na grama ao lado do revólver usado. Embaixo da arma, havia uma folha com um desenho de um rosto com os dizeres "me vinguei com as próprias mãos".
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top