Capítulo Dez: A Relíquia
Cidade de Belfast, Irlanda do Norte. Era noite. No mais importante estaleiro do Reino Unido, o proprietário de uma empresa de indústria pesada inglesa, George Jenkins, fazia seu retorno ao local. Ao seu lado, estava um projetista carregando uma planta de seu recente trabalho realizado para a empresa, enrolada em mãos.
- Espero que a minha vinda até aqui não seja em vão, Sr. Smith. E que nem decepcione os demais investidores - disse George. - Foram quase três anos de espera.
- Pode estar certo que o senhor não se arrependerá se quer no investimento feito.
- Confio em você, senhor Dylan Smith. Pois sei muito bem que sua competência é imensurável.
- E pode confiar. O que está aqui, nessa planta, se materializou - garantiu. - Não propus a ideia à toa.
Dylan Smith, além de projetista, era um arquiteto. E não se limitava em projeções marítimas. Ele estava em ascensão em sua vida profissional.
Juntos, caminhavam até o local onde o projeto tinha sido feito e conservado. Dois dos funcionários do estaleiro estavam esperando-os na porta dupla. Vendo-os chegar, esses a abriram para dar acesso ao imenso lugar coberto, especialmente feito para tal obra.
- Muito bem. O primeiro passo foi dado. Já consigo ver silhuetas - comentou o empresário. - Falta o acender das luzes.
Dylan fez um sinal para aqueles dois funcionários para iluminar o ambiente, acendendo todas as luzes disponíveis.
- Sinto que você me esconde algo, Sr. Smith - disse ele, vendo uma extensa lona amarronzada cobrindo o novo projeto.
- Faz parte da surpresa, senhor.
Os suspensórios foram acionados para tirar a lona de cima do trabalho arquitetado. Quando foi descoberto completamente, enfim George pôde ver o navio.
- Impressionante, Sr. Smith - impactou-se.
Em seus olhos, que brilhavam ao ver o resultado, refletia o imenso navio projetado, mostrando características únicas e bem peculiares.
- Duas vezes mais rápido, é mais resistente, atualizado... Mas obedecendo as suas clássicas características e conforto. - Dylan abriu os braços, olhando para a embarcação. - Bem-vindo ao Relic Titanic!
O histórico navio ressurgia a partir daquela apresentação pessoal no estaleiro. Um modelo totalmente idêntico, em seus mínimos detalhes - claro. Havia melhorias, e mais meios capacitados. - Parecia ser o original de anos atrás na frente deles.
- Ótimo! E prepare sua família. - George virou o rosto para o projetista. - Lancemos ao mar o mais breve possível!
Os próximos dias foram agitados nos bastidores do mais novo navio, com testes no mar e suas últimas verificações para a aprovação do governo britânico, com o local de registro diferente do primeiro, sendo na própria cidade de Southampton, em homenagem à Dylan, nascido na cidade. Nesse período de tempo, a embarcação foi anunciada à imprensa inglesa, que publicaram notícias sobre o projeto, espalhando por toda a Inglaterra e, até mesmo, repercutindo aos demais países, com um único título noticiário: "O 'inafundável' está de volta"; os ingleses eram que estavam mais felizes e esperançosos para a nova etapa marítima britânica - ou se não, o recomeço.
Quanto à sua primeira viagem, Relic Titanic teria o mesmo trajeto que o seu irmão, de Southampton à Nova York, no único objetivo: terminar o que, um dia, começou anos atrás. Para quem residisse em um dos países do Reino Unido, esses teriam a oportunidade de serem escolhidos aleatoriamente para essa viagem, através das distribuições limitadas dos tickets promocionais gratuitos em meio às correspondências pelos correios, consistindo da seguinte maneira: Gold Ticket para primeira classe, Silver Ticket para segunda classe e Bronze Ticket para a terceira classe. Todas com um selo original da cor correspondente ao que estava escrito. Sabendo disso, todo mundo estava ansioso e torcendo para ser um dos passageiros a bordo, independente do selo.
As distribuições dos tickets começaram a todo vapor. Algumas pessoas, que não se continham em suas ansiedades, mal podiam ver um carteiro que esse se tornava alvo delas, tomando a atitude de tentar roubar as cartas. Graças à segurança especializada, elas acabavam presas por tamanha ousadia.
A frente da escola estava bem movimentada. Era o término de mais um dia de aulas.
- Espero que eu seja uma das passageiras desse navio - disse Juliana enquanto lia a manchete do jornal sobre a aguardada viagem. - E você, Nathaly?
- Ah... Tanto faz. Sendo uma escolhida ou não, serei a mesma pessoa - respondeu, ríspida.
- Ora, amiga. Fala sério. - Ela fechou o jornal e o dobrou. - Imagine você estando em um navio como esse. Algo que não tivemos a oportunidade de sequer ver o primeiro.
- Não vejo nada demais nisso. Mas espero que você consiga.
- Nossa, Nathaly. Você tem estado tão estranha ultimamente - percebeu. - Minha amiga não é assim. O que houve?
Nathaly respirou fundo naquele momento e olhou para a amiga. Mas quando ia esboçar para contar, elas e todos ouviram gritos. Esses gritos eram de um carteiro sendo vítima daqueles roubos promovidos por algumas pessoas. Nathaly, vendo aquilo, se aprontou para ajudar o homem.
- Ei. - Juliana a segurou pelo ombro. - O que deu em você? Não se preocupe. Eles estão sendo protegidos por aqueles seguranças esses dias.
Ela ficou sem graça quando se tocou na atitude automática que ela ia tomando em frente a todos. Por pouco, não se expôs às pessoas, que poderia custar o seu próprio segredo. Por outro lado, os seguranças fizeram suas partes.
- É... Quando eu disse que estava estranha, não queria dizer a esse ponto - brincou. - Meu pai chegou... Tchau!
- Tchau - despediu-se, olhando para baixo, totalmente desconfiada.
Naquele pensamento repentino em tentar ajudar o carteiro esquecendo-se de tudo, fez Nathaly estranhar até ela mesma. De longe, Juliana a via coçando a cabeça. Era evidente que ela estivesse preocupada com Nathaly. E entrou no carro.
Nathaly ia para casa sob uma feição retraída. Quando chegou à sua casa e entrou, deparou-se com os seus pais felizes pela sala, comemorando entre eles.
- O que está acontecendo aqui? - perguntou olhando de lado, estranhando aquilo.
- Filha... Você não imagina! - disse Steven, aproximando-se dela todo sorridente.
Ela sorriu sem muita graça e passou pelo pai olhando para a mãe. Ele rapidamente desfez o sorriso quando o seu olhar acompanhou a filha indo à Clara.
- O que eu não imagino, mãe?
- Olha. - Entregou três daqueles tickets em suas mãos. - Fomos escolhidos para fazer parte da viagem inaugural do novo Titanic.
Nathaly leu e se certificou do que ela falara - inclusive, os três tickets eram do selo bronzeado. - Ela andava lentamente de costas para os pais enquanto olhava aquelas passagens. Até a sua mãe desmanchou o seu sorriso ao ver a filha tão calada para uma simples análise dos bilhetes.
- Bacana. Vocês dois merecem ter uma lua de mel como essa.
Clara olhou para o marido e tornou a olhar para a filha.
- O que você quer dizer com isso, minha filha?
A filha virou-se, levantou a cabeça, mas a baixou novamente, olhando para as passagens.
- Não pretendo ir com vocês.
- Mas por quê?
- Eu serei uma ameaça constante dentro daquele navio. Não posso ir.
Ela deixou os tickets na mesinha de centro e subiu para o quarto, para pegar novas roupas para tomar banho. Tanto Clara como Steven ficaram paralisados com a reação adversa dela. Clara colocou a mão no ombro do marido para tentar convencê-lo a conversar com a filha, mas ele fez um leve sinal negativo com a cabeça, demonstrando naquele momento sua incapacidade de reatar aquela sintonia que tanto os dois apresentavam e deixava a esposa admirada.
Clara se dispôs a ir até o quarto da filha. Chegando lá e a porta estando aberta, Nathaly estava vendo um vestido no guarda-roupa para usar em casa.
- Nathaly?
- Pode entrar, mãe.
Sob permissão, ela entrou no quarto.
- Filha, para ser honesta, eu nunca vi essa casa tão dividida. Estou me sentindo muito mal com sua postura para com o seu pai.
- Imagina eu, mãe. Quão mal eu estou em saber que ele guarda um veneno para mim naquele porão sem que eu tivesse sabido antes.
- Mas o seu pai quer lhe ajudar a entender com sua alergia, e não fazer mal - disse ela. - E não contou nada a você para lhe proteger.
Nathaly parou o que estava fazendo e olhou bem nos olhos da mãe.
- Mãe... Eu só tenho você. Não se adere a esse discurso.
Clara se aproximou e pegou em suas mãos, para também olhá-la em seus olhos.
- Deixa isso de lado, amor - aconselhou. - Vamos conosco nessa viagem. Faça isso por mim. Você é a minha família, também.
Nathaly olhou meigamente com aqueles olhos verdes para a mãe. Aquilo parecia uma resposta positiva ao apelo de Clara. A pequena mudança em seu semblante era também para ser considerado um sinal positivo.
Os premiados tickets também alcançaram as famílias Taylor e Butzek. Aos Taylors, os pais não poderiam ir com Ryan e Alice, cabendo a Ryan cuidar da irmã por ser maior de idade. Mas sua responsabilidade passou a ser dividida com John, da mesma idade dele, que foi presenteado pela a própria namorada com um dos tickets destinados aos pais. Os tickets eram da classe Bronze; já na família Butzek, Eduard, sua esposa e sua filha estavam todos prontificados a ir com a classe Gold, deixando a empresa sob o controle dos funcionários.
O grande e esperado dia chegou. A Cidade de Southampton estava cheia de pessoas das demais cidades da Inglaterra, com um intenso deslocamento dos carros para o porto. A movimentação era maior do que no dia da inauguração do primeiro navio, em 1912. No porto, a situação era a mesma: muita gente em um só lugar. Foi preciso uma organização promovida pela polícia e por alguns dos tripulantes do navio para conduzir devidamente os passageiros à parte interna da embarcação enquanto outras levariam seus veículos na viagem, e precisavam de uma atenção maior.
George e Dylan estavam na lateral do convés da proa, observando aquela movimentação de uma posição bem privilegiada.
- Está vendo isso, Sr. Smith? É o meu sonho particular sendo realizado - disse o orgulhoso dono da empresa. - Tudo isso está sendo possível graças a você.
- É um recomeço de 25 anos atrás, Sr. Jenkins.
- É... Parece que o seu "bicho" pelo o trabalho está garantido. - Ele batia no ombro do projetista com muita satisfação. - Entretanto, Sr. Smith, temos que agradar os nossos empresários, que apoiaram e investiram nesse projeto.
- Garanto que, não somente será lucrável para mim, mas, principalmente para todos envolvidos.
- Marcarei um jantar com eles na primeira classe durante a viagem. E você está mais do que convidado a esse jantar - avisou. - Então, teremos a avaliação final.
Eles continuavam batendo o papo entre eles.
Todos bem arrumados, a família Kate admirava o imenso navio antes de embarcar. Se Clara e Steven não tiveram uma oportunidade dessas antes, quanto mais Nathaly, nascida anos mais tarde do primeiro e lendário navio. Tinha que ser observado de ponta a ponta - se é que era possível fazê-lo devido à sua magnífica grandeza.
Nessa fração de tempo, Juliana reconheceu sua amiga em meio à multidão.
- Nathaly?
Ela se virou para atender o seu chamado.
- Oi, Juliana.
- Mudou de ideia, foi?
- Sim.
- Ótimo! - sorriu. - E não lhe disse que eu seria uma das passageiras?
Na oportunidade, os pais de Nathaly voltaram a se encontrar com Eduard, e com uma novidade: conhecer a esposa do cientista, Luiza.
- Enfim, essa é a família Kate, minha querida - apresentou Eduard.
- Prazer, pessoal - cumprimentou-os Luiza.
Não perdendo tempo, eles embarcaram rapidamente no navio, cada família tomando seu rumo à classe.
No convés, o dono da empresa e o projetista ainda estavam lá, desfrutando. O imediato do navio, Harry Lloyd, foi até eles.
- Sr. Smith?
Ele olhou para o funcionário da tripulação.
- O capitão quer lhe ver.
- Espero que já não seja o primeiro sinal negativo, Smith - disse George, olhando para Dylan.
Tanto ele como George foram para a ponte de comando se encontrar com o experiente capitão, chamado Callum James.
- Algum impasse, capitão James? - perguntou George. - Diga agora, ou não haverá viagem.
- Pelo ao contrário, Sr. Jenkins. Estou encantado como o navio foi bem projetado. É idêntico ao primeiro. E até melhor. - O capitão olhou para Dylan com satisfação. - Parabéns, Sr. Smith. É hora de irmos.
O gigante dos mares se preparava para uma nova e, ao mesmo tempo, velha jornada rumo à Nova York. Um dos oficiais do navio fazia a última chamada para o embarque na subida à prancha, utilizando-se de um megafone. Os irmãos Ryan e Alice, e John, chegavam naquela hora.
- Nós estamos atrasados. E o meu sonho está bem ali - lamentou Ryan.
- Sabem correr? - perguntou John.
- Sim - respondeu.
Quando Alice ia responder àquela pergunta do namorado, os rapazes correram com malas e tudo, deixando Alice a ver realmente navios.
- Meninos! Que loucura é essa?! Vocês não veem que estou de salto?
- Vem logo, maninha. Esqueça do salto. Vem! - gritou Ryan, olhando para trás já muito distante.
- Ai... Vou contar para os meus pais sobre esses maus tratos - disse consigo mesma.
Ela não teve outra escolha a não ser correr como podia também, desviando ao máximo da multidão e segurando o seu chapéu.
Aquele oficial, que estava anunciando a breve partida do navio, já estava se aprontando para subir à rampa, após se certificar que ninguém mais chegaria. Porém, ele viu Ryan e John correndo.
- Espera! - Eles alcançaram o oficial. - Falta nós.
- Já estamos de partida, jovens.
- Por favor, deixa-nos embarcar.
- Está bem. Subam rápido.
Eles correram para a parte interna. Logo atrás, Alice chegava bastante ofegante.
- Ei, moço - chamou. - Eu estou com eles.
O oficial nem preferiu comentar, e apenas fez um gesto com a cabeça, pedindo para subir. Paciência era bem-vinda para aquele homem. Apressadamente, ele entrou para subir a prancha em definitivo.
- Senhor capitão. O navio já está pronto ao seu comando - avisou-o esse oficial.
- Entendido. - O capitão James direcionou-se aos telefones da ponte de comando. - Atenção a todos daí, dos rebocadores: o Titanic já vai sair.
Os barcos rebocadores foram avisados da partida do navio do porto. Os funcionários que cuidavam do funcionamento interno também foram avisados e instruídos. Assim, a buzina ensurdecedora foi tocada, anunciando oficialmente a partida.
Os rebocadores começaram a puxar o gigante para o lado lentamente enquanto o marinheiro virava cautelosamente a roda do leme - o timão - na mesma direção. E os passageiros a bordo se despediam daqueles que ficavam olhando suas partidas, até que o navio passou a estar independente dos seus rebocadores a certa distância, soltando-se dos cabos de aço que o prendiam. Relic Titanic iniciava seus primeiros passos rumo ao mar afora, com os seus imponentes motores a todo o vapor, sendo movidos a litros e mais litros de diesel; as quatro chaminés expeliam suas primeiras fumaças pelo ar. Sim. A quarta chaminé da nova versão do navio não era decorativa, como foi a do primeiro navio, trazendo uma imponência redobrada com o visual somado ao desempenho de propulsão.
No mesmo dia, o navio chegou à Cherbourg, na França, para a transição entre os passageiros. Depois que deixou o solo francês, o navio surgia em Queenstown, na Irlanda do Norte, ao começo do dia seguinte, com o soar da buzina para anunciar sua chegada. Aqueles que o esperavam no porto olharam de modo a brilhar os olhos dos irlandeses.
- Estou começando a achar que o Titanic não afundou - comentou um dos novos passageiros, esperando.
Ninguém conseguia comentar outra coisa a não ser dizer que o Titanic não havia afundado há 25 anos, quão impressionante era o visual em suas vistas.
Muitos quilômetros já foram percorridos desde que o navio deixou o último porto, estando literalmente em alto mar. Naturalmente, o clima ficava cada vez mais frio em meio às águas bastante geladas do Oceano Atlântico. Isso mostrava que, durante o percurso, surpresas poderiam ser encontradas no mar. Naquela altura, o navio estava sob uma velocidade média, ainda considerada rápido.
Em uma sala da primeira classe, Dylan estava conversando com os empresários que investiram no atual projeto enquanto George não chegava. E ele chegou.
- Senhores. - Ele fechou a porta cuidadosamente. - Desculpe-me pela a demora. Eu estava trocando algumas palavras com o capitão.
- Aconteceu alguma coisa, Sr. Jenkins? - perguntou Dylan.
- Não, Sr. Smith - respondeu. - Mas entramos em uma região bastante fria, e podemos nos deparar com os famosos icebergs.
- Não se preocupe, senhor. O navio é bem mais resistente aos impactos dessa natureza. Além disso, iluminadores nos auxiliaram à noite - lembrou-o. - Nada dará errado.
- Ótimo marketing diante dos nossos convidados a essa sala. Mas, de qualquer forma, pedi ao capitão James que diminuísse a velocidade - insistiu. - Agora, vamos tratar do nosso jantar.
Enquanto George falava sobre o jantar na primeira classe à noite, para avaliação final daqueles colaboradores do projeto, o projetista demonstrava-se incomodado por aquelas palavras do dono. Tais palavras poderiam ter soado como uma falta de confiança da parte do empresário quanto ao projeto.
Para essa mesma noite, a família Butzek também planejava um jantar em família a bordo do inigualável navio. Mais o jantar acabaria sendo mais que um em família:
- Pai. E se nós convidarmos Nathaly e seus pais para jantarem conosco?
- Ótima ideia, filha - aprovou Eduard. - O que você acha, Luiza?
- Eu também aprovo. Eu preciso conhecer mais essa família.
- Eu também... - disse Eduard.
Juliana foi a passos largos para ir à cabine onde os Kates passavam a viagem. Steven a atendeu e foi convidado por ela. E, claro, ele aceitou lisonjeado.
Anoiteceu. O casal Kate se arrumava para participar do jantar com os Butzeks na primeira classe.
- Cadê a nossa filha? - perguntou Steven.
- Ela já saiu - respondeu. - Talvez, ela esteja com a amiga.
Steven chegou perto da esposa.
- Obrigado pelos esforços que você tem feito em prol de manter a família unida.
- Eu apenas quero a nossa filha conosco, em total harmonia - disse Clara. - Depois de anos nos dedicando a ela, não quero perdê-la logo agora, Steven.
Nathaly, que já estava pronta para o jantar especial entre as duas famílias, estava indo em direção à parte dianteira externa do navio. Durante esse percurso até lá, ela passou pela imensa sala de jantar da classe alta, que já estava com algumas mesas tomadas. Em uma dessas mesas, Ryan, Alice e John estavam desfrutando do momento (eles deram um jeito de estar no salão da classe), até que John viu Nathaly passando de longe.
- Nathaly? - questionou-se, baixinho.
Olhando às estrelas e enfrentando um frio inimaginável, Nathaly estava na proa, pensando na vida. Ela resolveu ir até a ponta, e ficou olhando adiante das intermináveis águas do oceano sob o vento gelado. Aquela cena trazia uma sensação de que ela estava guiando o navio ao destino.
- Não está muito frio para uma pessoa estar aqui fora? - disse John para chamar a atenção dela com sua voz.
Ela olhou rapidamente para trás enquanto ele ia ao se encontro com as mãos no bolso devido ao frio.
- John... Você está aqui - sorriu timidamente.
- E só foi possível porque a minha namorada cedeu um daqueles tickets para mim.
- São detalhes que demonstram o amor dela - comentou.
Nathaly ficou muda de repente, não tendo nenhum assunto a tratar com ele. Mas ela o olhava com um olhar triste e incomodado.
- Alguma coisa aconteceu, Nathaly? - Ele notou que o seu olhar queria dizer algo. - Não é de hoje que você está assim.
- Nada, John. - Ela cruzou os braços, mostrando resistência, e inclinou um pouco a cabeça. - Estou bem.
- Esses olhinhos não mentem. Aproveite a oportunidade. - John levantou a cabeça dela ao tocá-la no queixo para olhá-la. - Confia em mim.
Finalmente, Nathaly abriu seu coração para um dos seus amigos. Mas não revelando detalhadamente sobre sua decepção com o seu pai que durava há dias, inventando outros pretextos para manter o segredo. De repente, John foi abraçado por ela, que chorava em seu ombro. Ele tomou até um susto com a rápida atitude da amiga, mas depois ele acabou a confortando em seu aquecido abraço. Aquilo tudo foi presenciado pela neutra expressão de Ryan, que estava bem distante dos dois.
Ryan parecia cansar da cena, e voltava sorrateiramente para o salão. Mas deu de cara com sua irmã.
- Ela também está a bordo do navio, não é? - perguntou-lhe indiretamente.
Ele apenas olhava para Alice sem dizer nada; já ela o olhava esperando por uma resposta.
Um dos oficiais avistou Nathaly e John naquele setor do navio, e pediu que eles saíssem das extremidades da proa e voltassem ao interior da embarcação para se protegerem do intenso frio e evitar algum acidente.
- Bem, é hora de irmos - disse John, enxugando as lágrimas dela. - Agora, dê uma retocada na maquiagem de seus olhos e vá participar desse jantar. Estarei torcendo ali perto.
- Está bem. Obrigada - sorriu.
- Depois, me conte como foi.
Quando John voltou à mesa, encontrou apenas Ryan sentado.
- Onde está Alice?
- Ela pediu que eu desse um recado - disse ele, sem graça para falar.
Em sua cabine de primeira classe, Dylan se aprontava de frente ao espelho para reunião a ser realizada no jantar. Sua esposa o ajudava.
- Eu tenho que impressionar aqueles poderosos do Sr. Jenkins, valorizando o meu projeto, não apenas em meu visual.
- Por que você está tão afoito com isso, querido? Calma.
- Depois que eu ouvi os comentários do proprietário, senti uma desconfiança da parte dele.
- É normal sermos precavidos. Ele não falou aquilo por desconfiar do seu projeto.
Ele virou para esposa e a segurou na altura dos seus antebraços.
- Nada pode contra esse navio! Eu garanto isso, pois foi eu quem o constitui.
A filha deles inocentemente via seu pai fazendo aquilo.
- Vocês estão brigando, papai? - perguntou a criança.
Dylan olhou para ela e mudou sua postura, estando calado. Ele voltou a olhar para o espelho para terminar o que estava fazendo. O ambiente ficou ruim com aquilo, estando sua esposa estática.
Todos reunidos à mesa, os Kates e Butzeks trocavam conversas entre eles durante o jantar. Ambos conheciam mais sobre suas vidas.
- Então, você é um metalúrgico, Sr. Kate?
- Exatamente, Sr. Butzek - confirmou.
- Você deve ser um profissional de mão cheia, meu caro.
- A filha de vocês é muito bonita. Os seus olhos são chamativos, não? - comentou Luiza. - Vocês sabem por quê?
Como sua esposa havia tocado no assunto sobre a Nathaly, Eduard esperava ansiosamente pelo o que os Kates iam dizer, pois era uma de suas curiosidades. Steven parou por alguns instantes, olhou para Clara, formulou uma resposta e, quando ia expor a desculpa, Nathaly chegou com a maquiagem renovada, que destacava seus olhos, e bem mais arrumada.
- Nathaly. Até que enfim! - alegrou-se Juliana.
- Olá, pessoal.
- Falando nela... - disse Eduard.
Juliana estava quieta durante todo o jantar. Só foi sua amiga chegar para se soltar.
Nathaly tomou assento entre seus pais. Seu pai, respeitando-a, preferiu não dirigir a palavra. E a filha percebeu isso. Olhando sua feição discretamente triste, realmente tentando entender o que ele teria feito para estar naquele clima paterno indesejável, Nathaly deu-lhe um abraço que todo pai queria ter de seu filho, e ainda o beijou no rosto.
- Nossa. Que cena linda! - comentou Luiza. - De onde tirou tanta empolgação?
- Não é empolgação. Eu queria mostrar a vocês o quão eu amo o meu pai - disse Nathaly, sorrindo para Steven.
Steven demonstrava-se agir normal com o carinho da filha em frente à outra família, dando um sorriso de pai. Mas apenas ele sabia o que se passava dentro do seu ser naquele momento. Uma coisa era certa: ele estava muito feliz por aquilo. E Clara sorria, aliviada por dentro e contente pelo reatamento entre pai e filha.
- Bem, isso merece um brinde! - sugeriu Eduard, segurando sua taça.
John caminhava em direção à cabine em que ele e os irmãos Taylors estavam hospedados. Chegando à porta, leu o seguinte recado colado nela:
"Bata, antes de entrar!"
Ele bateu e já foi mexendo na maçaneta. Mas estava trancada.
- Quem é?
- Sou eu, Alice. John.
Alice levantou-se da poltrona e abriu a porta. Depois, trancou para estar a sós com ele. Ela respirava fundo antes de iniciar a conversa.
Dylan estava tendo o jantar com os investidores junto com o seu contratante. Com certeza, ele estava nervoso. Ali, eles tinham conversas para descontrair e desfrutar de mais uma noite no navio. Mas a principal pauta daquele jantar não demorou muito a ser tocado.
- Sr. Jenkins. Eu gostaria de dar os meus parabéns ao Sr. Smith pelo feito alcançado - disse um dos empresários. - Todos nós estamos muito satisfeitos com o resultado.
- Obrigado, senhores.
- Mas não alcançou a temida missão de tornar um navio indestrutível ou "inafundável" - continuou. - Quem dera já termos esse resultado. Mas é pura e mera fantasia.
George olhava para Dylan satisfeito com a avaliação. Mas o projetista do navio parecia não se agradar dos comentários fúteis ao projeto em sua cabeça. Ainda o encasquetava.
- Se me permitem comentar isso, eu preciso dizer uma coisa: se esse navio tivesse esse dom, invulnerável, eu pagaria mais por isso. - O investidor pegou sua taça de champanhe. - De 9.5 de nota, eu aumentaria para 10.
- Então, vamos comemorar com um brinde - sugeriu George. - Viva ao Titanic!
Dylan brindou com eles nada satisfeito com a avaliação feita, pela a forma como as palavras foram colocadas no contexto geral.
O capitão do navio estava incansavelmente na ponte de comando acompanhando o trabalho do marinheiro e dando apoio aos vigias que estavam na gávea e protegidos do frio, graças à cabine especial projetada para eles, pois a embarcação estava na zona perigosa e traiçoeira naquela noite de céu limpo.
O seu imediato, Harry, apareceu:
- Capitão?
- Sim, Sr. Lloyd.
- Ocorrências no setor de funcionamento do navio chegaram ao meu ouvido. E chamaram o senhor.
- O que será que houve? - questionou-se. - Bem, fique aqui. E evite qualquer ordem de aceleramento até que eu volte.
Harry fez aquela famosa posição de sentido em obediência àquelas ordens e para a passagem do comandante titular. Rapidamente, ele desfez todo aquele ritual visivelmente nervoso, e pediu que aquele marinheiro desse uma saída dali. Ele parecia esperar alguém, que logo apareceu na porta.
- Está feito, Sr. Smith.
- Ótimo.
Dylan passou por ele, indo aos controles do navio.
- Mas o senhor não quer mudar de ideia? Olha, são muitas pessoas envolvidas para um teste em alto mar.
- Até você está incrédulo, Sr. Lloyd? - Ele virou, olhando em seus olhos. - Não há o que temer: além de você receber parte do dinheiro, todos estarão seguros.
O tripulante olhava para ele ainda nervoso, pausando nas palavras por alguns instantes.
- Vire mais à esquerda, senhor. E terá uma oportunidade para o teste.
Ele assinalou pedindo que o imediato saísse dali para vigiar o entorno da ponte de comando. Estava tudo esquematizado para um plano do projetista. Esse não hesitou, embora estivesse com muito medo do plano.
Sozinho, Dylan começou a executar o plano. Ele desligou os dois imensos refletores, colocados nas laterais da proa, que eram capazes de auxiliar a tripulação na detecção de coisas sobre o mar.
- Ué? O que aconteceu? - estranhou um vigia.
- Dever ter faltado força - respondeu o outro. - Já, já volta. Olha o tamanho desse navio para distribuir volts e mais volts pelos compartimentos.
Depois, ele virou a roda do leme na direção que fora orientada, e avistou minutos depois um iceberg há alguns metros. Somente ele percebeu, pois observava ao máximo. Quando ele levou sua mão à alavanca que acelerava o navio - outra novidade interessante nos moldes de controle do novo Titanic -, aquele mesmo receio encontrado no imediato começou a confrontar o seu íntimo, pensando especialmente em sua família e em todos que estavam a bordo. Mas as vozes das cédulas de dinheiro e a oportunidade de alavancar ainda mais a carreira naquele caminho sujo falaram mais alto, fazendo-o acelerar o navio.
A mudança das atividades do navio foi percebida no setor maquinário onde o capitão titular estava presente.
- Sr. James. Deve ter havido um equívoco. Não há ocorrência alguma aqui - disse o principal dos operadores. - Veja que os motores do navio estão todos em perfeito funcionamento.
- Nessa tamanha velocidade?
O operador olhou para trás e viu os motores descompassados para aquele momento.
- Eu vou ver o que está acontecendo. Obrigado - disse o capitão, virando-se. - O que você está fazendo, Sr. Lloyd?
O navio chegava a sua velocidade máxima, acendendo a luz vermelha no painel. Uma velocidade que não tinha sido acionada na viagem até então. Nathaly percebeu, observando uma leve tremulação do vinho em uma das taças sobre a mesa.
Paralelamente, Alice e John ainda estavam discutindo mais uma vez o relacionamento:
- Aquele jantar era um momento nosso, apesar de que meu irmão estivesse junto. Não com aquela garota.
- Quer saber, Alice? Eu já estou cansado de ser ditado e aturar sua pessoa!
Alice arregalou os olhos para ele, estando sem reação à rara postura do namorado.
- Alice? - Ele chegou perto da namorada, colocando as mãos nos ombros dela. - O que você tem? Alice!
John percebeu que sua companheira começava a perder os seus sentidos. Ele imediatamente a sentou de volta na poltrona.
- Aguente firme, Alice. Eu vou buscar ajuda.
Devido ao desespero, ele acabou quebrando a chave no miolo da porta, deixando-os presos na cabine.
Lá fora, o navio se aproximava cada vez mais do iceberg. Dylan apertou um botão funcional extra do Titanic implantado por ele, que acionou o aquecimento da imensa chapa metálica que contornava internamente toda a extensão do casco.
Os vigias começaram a ver aquele imenso iceberg à frente. Imediatamente, um deles ligou para a cabine da ponte de comando. Dylan apenas ignorava o toque do telefone.
- Ninguém nos atende. Eu vou descer lá.
Quando pensaram em descer da gávea para avisar, a porta da cabine que dava acesso as escadas já tinham sido trancadas por Dylan em um comando interno da ponte.
- Foi um prazer conhecê-lo, amigo - disseram entre eles.
Na sala de jantar, Nathaly não comia nada da mesa, estando apenas marcando presença.
- Srta. Kate. Você não vai comer nada? - perguntou Eduard.
De repente, o navio, em alta velocidade, acertou em cheio a gigantesca pedra de gelo. O impacto assustou a todos, e interrompeu a dúvida do cientista. A esposa e a filha do projetista, que estavam sozinhas na popa, torcendo pelo resultado da avaliação, foram lançadas para fora do navio pela força do impacto; a mãe ainda segurou em um dos ferros da grade, com ela sendo agarrada pela a criança nas pernas. Uma tensão se estabeleceu naquele momento.
- Mamãe! Eu tenho medo de água! - gritou, chorando copiosamente. - Não me deixa cair!
- Segura na mamãe. Não vou permitir isso - acalmou-a. - Socorro! Alguém nos ajude!
O iceberg se partiu ao meio com o impacto certeiro e o auxílio das chapas superaquecidas para o seu derretimento. Mas um dos lados da proa não resistiu ao choque térmico, e uma fissura de alguns metros foi aberta diagonalmente no casco, rompendo as camadas e a chapa. Uma pequena parte dessa fissura encontrava-se submersa, dando passagem à água gradualmente.
No painel de controle, Dylan viu a luz amarela acusando a detecção de inundação em um dos compartimentos. Naquele instante, ele via seu plano indo definitivamente por água abaixo.
- Droga!
Ele destravou a porta dos vigias, diminuiu a velocidade, acionou as luzes de emergência e saiu da cabine em um ato de desespero.
O oficial chefe o avistou saindo, e Dylan reagiu empurrando o tripulante para fugir dali.
- Eu disse que era para vigiar o entorno - disse ele, sentindo a ausência do imediato Harry.
O oficial se levantou e entrou desesperadamente na cabine, e viu a notificação da inundação. Olhando pela janela, ele identificou algumas pedras de gelo sobre o convés. Os vigias apareceram logo atrás.
- O Titanic está vulnerável. - Ele olhou temerosamente para eles. - O sonho está afundando mais uma vez, senhores.
Os passageiros estavam apavorados com as luzes de emergência acesas nos compartimentos. O capitão Callum passava apressadamente pela sala de jantar.
- O que acontece, Sr. James? - perguntou George, que cercava o capitão junto aos empresários.
- Eu não sei, senhores. - Ele olhou para as demais pessoas aflitas no salão. - Acalmem-se, pessoal! Acalmem-se.
Enquanto a maioria estava com medo, Nathaly já ficou atenta àquela situação.
- Para onde você vai, Nathaly? - perguntou Juliana, percebendo seu levantar.
- Eu preciso ir ao banheiro. Já volto.
A mulher já não estava mais aguentando segurar o ferro por conta de seu peso somado a da filha.
- Meu amor... A mamãe te ama muito, assim como eu amo seu pai - despediu-se, sem esperança.
Ela decidiu largar aquele ferro. Fechando os olhos para cair no mar, uma mão a segurou, impedindo a queda. Quando abriu os olhos, ela viu Nathaly a agarrando. Nathaly usou uma força suficiente para puxá-las para dentro da popa, a ponto de aparecer algumas veias em seu braço.
- Obrigada! Você... Você salvou as nossas vidas! - agradeceu a mulher.
Dois dos seis oficiais apareceram para alertar da emergência e depararam-se com aquela cena.
O oficial chefe encontrou o capitão Callum, e avisou do processo de naufrágio do Relic Titanic. Então ele ordenou que parasse completamente as atividades motoras do navio, preparassem os coletes, os botes salva-vidas para lançar ao mar com os passageiros, utilizar os sinalizadores, acionar as portas automáticas para impedir a água de invadir os demais andares e iniciar o envio de mensagens por telégrafo o mais breve possível.
- Antes... Você tem ideia do que realmente aconteceu? - perguntou o capitão.
Ele teve que contar o inacreditável ao capitão.
O tumulto logo tomou conta da área externa do navio para garantir seus botes. As famílias Kate e Butzek se separaram em meio à multidão.
- Estou preocupada com a Nathaly, querido - comentou Clara.
- Ela sabe se virar, querida - disse Steven. - Logo, logo, ela estará conosco.
Trancados, John já ficava desesperado com a situação de Alice, e agora preocupado com o que estava acontecendo lá fora. Ele gritava por ajuda, mas o barulho nos corredores e o desespero externo não permitiam que alguém pudesse ouvi-lo.
Correndo em meio às pessoas, Nathaly se arriscava a tomar o rumo contrário delas, indo em direção à parte interna. Alguém a segurou pelo braço durante o percurso.
- Aonde você vai, Nathaly? - perguntou Ryan.
- Onde está sua irmã e John?
- Eu não sei... Nem sei mais onde estou - disse ele, confuso e nervoso. - Tenho medo de morrer.
- Ninguém vai morrer, Ryan.
- Você é mesmo muito corajosa e otimista - reconheceu. - Caso eu morra, queria sentir uma coisa...
Ryan a beijou como se fosse o primeiro e último ato de sua vida. Logo, Nathaly afastou-se dele e deu uma tapa em seu rosto.
- Não faça mais isso! - advertiu-lhe.
Ele a olhou entrando nos compartimentos adentro. Depois, tornou-se a focar no salvamento de sua vida e na esperança de poder encontrar sua irmã e John por ali.
No tumulto, Dylan encontrou Harry e o levou para longe do barulho. Ambos ficaram frente a frente, próximos da segunda chaminé.
- Não me diga que você chamou aquele oficial para a ponte de comando. Chamou, Sr. Lloyd?
- Fiz bem em alertar - confessou. - Olha a encrenca que você nos deixou!
- Não devia ter feito isso.
- E continuarei fazendo, Sr. Smith. - Ele sacou um revólver, segurando com as duas mãos. - O entregarei às autoridades desse navio. É o mínimo que posso fazer agora.
- Não. A minha carreira não pode findar agora.
Uma luta física começou entre eles, com o projetista segurando o revólver e mirando-o para o alto. O imediato resistia a ele, disparando várias vezes para cima. As pessoas ouviram os tiros, e se apavoraram ainda mais.
Ainda disparando, as balas acertaram e romperam os cabos de aço que sustentavam a chaminé. Perdendo a instabilidade, o grande escapamento se desprendeu da superfície, inclinando-se para o lado deles. Dylan agiu rápido, deixando Harry na mira da chaminé. Então, ela caiu em cima dele e de algumas pessoas, levando-os para o fundo do mar. Todos entraram em pânico com a tragédia.
- Sr. Smith. Você está preso! - renderam-no os policiais a bordo.
O projetista, não vendo saída, colocou as mãos sobre a cabeça e se virou lentamente; ele foi levado até o capitão e ao dono da empresa. Depois, conduzido à sala apropriada para prender suspeitos no penúltimo andar do navio por um tempo. Logo que foi deixado na cela, Dylan percebeu que, naquele setor, havia a continuidade da fissura, quase se abrindo com a pressão da água.
Em um corredor já vazio, Nathaly procurava por John e a namorada dele, além de mais pessoas. Ela achou a porta deles quando aquele recado colado na porta chamou sua atenção. E bateu na porta.
- Há alguém aí?
- Nathaly? - John se levantou para ir à porta. - Nathaly. Sou eu, John. Estou trancado aqui!
Depois de mais detalhes passados, ela pensou em como fazer para abrir a porta. Arrancando uma escapa da porta, se esforçou para destorcê-lo com as próprias mãos, provocando sua força. Ela pegou um martelinho de emergência, encostou a ponta do ferrinho destorcido no miolo e deu uma só martelada, abrindo a porta.
- Vocês precisam ir logo à superfície - aconselhou Nathaly. - Eu já vou em seguida.
Carregando Alice meia desacordada, John ficou preocupado, mas seguiu à orientação dela. Então Nathaly incorporou o instinto auditivo animal para captar algum sinal pelo navio, e ela ouviu gritos de Dylan. Ela foi atrás dele.
Dylan já estava temendo a uma nova abertura na fissura. A água já escorria com velocidade.
- Não vai durar muito tempo - determinou.
Ele se agachou quando a parede se rompeu definitivamente. Nathaly apareceu na mesma hora do acontecimento, arrombando a porta de ferro. Em fração de segundos, ela pegou a porta do chão e jogou em direção à ruptura, e soldou o material com a sua visão de calor.
- Como você fez isso? - questionou Dylan, olhando a porta já soldada na parede.
- Apenas saia daqui.
Nathaly abriu a cela e o libertou. Ele saiu às pressas dali. Ela aproveitou para observar a continuidade da fissura. Logo, desceu ao último andar. Quase inundado, Nathaly enfrentou a água gelada e foi até o escorrimento. Lá, ela soldou o buraco principal com sua visão de calor.
Voltando, ela ouviu pedidos de socorro de um senhor. Ele estava preso, sozinho em um elevador enguiçado. Ela foi ajudá-lo e não teve como esconder os seus poderes por causa do tempo, usando sua visão de valor mais uma vez para derreter a fechadura do portão do elevador.
- Você é um anjo, mocinha - admirou-se o homem, sem mais palavras. Depois, correu.
Estando de volta à superfície, Nathaly foi para um lugar isolado do navio e emitiu os raios ópticos pelo o horizonte. Um comandante de um navio comercial viu aqueles raios anormais e ainda alguns golfinhos inesperados. Nathaly havia se comunicado à distância com os mamíferos para chamar a atenção.
- Senhor. Os nossos transmissores detectaram pedidos de ajuda de um navio britânico, intitulado como Relic Titanic - avisou um tripulante.
- Sim. Certamente, deve estar bem ali - disse o comandante, apontando.
Eles não hesitaram, e direcionou o navio em alta velocidade ao lugar.
A maioria dos passageiros já estava nos botes, tomando distância do navio. A frente da embarcação parou de ser submergida pela a água, estando apenas 10% abaixo da água, graças a Nathaly.
Em um dos botes já distante, Eduard estava com sua família, admirando aquela cena.
- Parece que o navio parou de afundar, como se estivesse apenas enguiçado a algo - notou o cientista, levantando-se.
- Senhor. Sente-se! O bote não aguenta muito peso! - advertiu um oficial.
Nathaly procurava pelos seus pais. Felizmente, ela os achou aguardando pelo lançamento de mais um bote.
- Mãe, pai... Enfim, os achei - abraçou-os, deixando-os aliviados.
- Nós vamos sair dessa, filha - disse Steven, colocando as mãos nos ombros dela.
- Já saímos, pai. Na verdade, todos nós saímos - disse ela. - Esse navio não vai mais afundar.
Ela explicou a eles os detalhes do que ela tinha feito para inibir uma nova tragédia fatal.
Enquanto isso, o navio vizinho ia apressadamente para ajudar. Vendo de uma visão panorâmica, percebia-se que já estava próximo do Titanic.
- Não hesite na velocidade! Continue a seguir aqueles golfinhos! - ordenou o comandante.
A tripulação ia à velocidade máxima do modelo do navio. Mas o perigo em se chocar com alguma rocha de gelo ou algo semelhante não seria um problema para eles. Sem saberem, os golfinhos estavam guiando-os a um caminho totalmente limpo. Mais de meia hora depois, eles conseguiam alcançar o navio.
- Meu Deus. Isso é um verdadeiro milagre! - comemorou o capitão Callum, que ainda estava no Titanic ajudando as pessoas.
Os botes foram direcionados àquele navio, que começou a receber os passageiros e funcionários. Conforme os botes esvaziavam, esses retornavam ao Titanic para adiantar o resgate. E todos puderam ser salvos.
O navio que resgatou as pessoas e toda tripulação chegou ao porto de Southampton em dois dias, onde familiares das vítimas já estavam agonizadas pela a espera. As vítimas desceram correndo de encontro a eles. A mãe de Alice e Ryan estava os esperando ali no meio, até que eles apareceram com John:
- Eles estão salvos, Sra. Taylor - disse John.
- Mãe! - disseram os irmãos, abraçando-a.
- Meus filhos.
Depois do abraço, Alice olhava para os lados, sentido falta de algo.
- Mãe... Cadê o nosso pai?
A mãe respirou fundo quando olhou para ela e depois para Ryan.
- Filhos, eu precisarei contar uma coisa para vocês. - Ela olhou para John também. - Você também precisa ouvir, Sr. Mitchell.
A família Kate estava feliz e mais unida como nunca, estando de volta salvos ao país. Steven estava abraçado com sua família.
- Só faltou eu dar um jeito para trazer as nossas bagagens de volta - comentou Nathaly.
Ele riu com aquele comentário da filha.
- Se um dia voltar ou não, não me importa. O que importa é que eu recuperei um bem especial naquele navio: você, filha - declarou.
- Espero ouvir mais de suas frases poéticas. Mas também para mim - cobrou Clara, brincando.
- Vocês duas são as minhas bagagens que não pesam em minha vida: tive uma esposa e filha certas.
A família ia embora para ir para casa e descansar do estresse que o impasse da viagem lhes deu.
Dylan foi recapturado e levado à viatura presente no porto.
Dias depois, no hospital de Manchester, Alice e John esperavam seu irmão Ryan sair do quarto. Quando ele saiu lentamente e pensativo do quarto, eles entraram, e visitaram o Sr. Taylor. Ele estava inconsciente desde quando sofreu um acidente de carro quando voltava sozinho do trabalho; Alice segurava a mão do pai com tamanho afeto com uma mão e a outra segurava a mão de John.
Na mesa, a família Kate conversava:
- É... Ficou claro que sua pessoa não era uma ameaça naquele navio; ela salvou muitas vidas - disse Clara, olhando para Nathaly.
- Sim, mãe. Mas é bem provável que muitos ficaram admirados por ele ter parado de afundar tão de repente. E espero que ninguém saiba demais sobre...
Enquanto isso, nas águas do Atlântico, toda uma equipe em um navio e três barcos rebocadores estavam no local onde o Relic Titanic estava imóvel desde aquela noite. Os cabos de aço estavam sendo amarrados ao navio. Eduard acompanhava tudo do outro.
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