IV. A Espiral
Nesse momento, a minha vida se revelou como aquele poço sem fundo.
Não sei por quanto tempo caí. Percebia o som do ar passando pelos ouvidos como se voasse em sonho e ficando cada vez mais distante do topo iluminado da caverna espiral. Alucinava, quase. Pareceu que eu cairia por horas.
Mas finalmente dei por mim e girei para ficar de barriga para baixo, tentando desesperadamente com movimentos aleatórios da varinha amortecer a queda. Nada saía. Os acontecimentos da viagem foram se avolumando na minha cabeça e pensava que realmente morreria sem darem pela minha falta...
Até que, quase atingindo as rochas, fiz surgir uma esfera de ar a alguns centímetros do chão e caí. Fiquei ofegante por bons minutos, encarando os arredores sem me ater a detalhes. Aos poucos, voltei a ter sangue frio e analisei o que tinha de alimento na mochila. Sanduíches, umas frutas, duas garrafas de vidro com água, uma toalha e vários maços de cigarro. O suficiente para sobreviver por alguns dias.
Poderia ter colocado muito mais na mochila, se soubesse fazer os feitiços de encolher objetos. Me senti um completo imbecil por ter recusado a ajuda de Tomás mais cedo. De qualquer forma, não saberia como colocá-los em seu tamanho normal.
É claro, aproveitei aquele momento para fumar e refletir. Estava todo dolorido das quedas. Ninguém por perto. Preso no fundo de um buraco imenso, que tinha as paredes rochosas em formato espiral e iluminadas por cristais arroxeados. Surpreendentemente acolhedor, acredite se quiser.
Tive raiva dos meus amigos. E foi justamente isso que me deu motivação para tentar me tirar dali por conta própria. Pelo menos no início.
Respirei fundo, me levantei e fui escalar, pedra por pedra. Pelo que percebi, o poço espiral tinha vários "andares", em que poderia escalar por um segmento e descansar depois do esforço. E assim o fiz, segurando com muita força aquelas pedras ásperas e apoiando com desleixo os pés na parede. Mesmo com o peso, fiz um bom avanço e saí no primeiro solo plano depois do paredão.
Comi um sanduíche e me deleitei com a nicotina, até perceber o quão pouco, na realidade, subi do solo e minhas mãos já doíam tanto! Tomei um pouco de água e, tocando as paredes do meu setor, percebi o quão úmidas eram. Pelo menos tinha o suprimento de líquido garantido.
Descansado, prossegui na subida. Notei que, como regra geral, quanto mais alto ficava, maiores eram os andares de segmentos planos. De fato, como uma espiral. Vários filetes de sangue saíam das mãos e das unhas no meu arranhar pelas pedras.
Era tão estranho aquele cheiro metálico. Ao mesmo tempo, tranquilizador. Não consigo explicar o sentimento de forma exata. Ao que parece, me sentia naquele momento mais vivo que em qualquer outra parte do dia. Tinha controle de mim mesmo. Do meu sangue. E assim foi, andar após andar.
Cheguei, depois de um paredão particularmente imenso, num andar de teto amplo, mais escuro que os outros. O vão me impedia de continuar escalando, então precisei caminhar pelo setor até chegar a outra parede. Estava tão escuro que não vi que ali era o local onde dormiam os morcegos. Acho que o senhor sabe onde quero chegar.
Voaram no meu rosto e fiquei tão desesperado a ponto de cair alguns andares abaixo! Parte considerável do meu progresso desperdiçada, junto de minha sanidade. Desleixado, amorteci minha queda, sentindo só um pouco de dor. Fiquei menos melancólico que irritadiço, a ponto de tentar lançar uma lufada de vento nos morcegos, mas nada saiu da varinha. Completamente frustrado. Só de pensar nessas horas sinto raiva. Parecia mesmo que o Universo estava contra mim.
Voltei a escalar e foi muito mais penoso do que da primeira vez. Voltando ao ponto de onde parei, cuidadosamente me arrastei pela toca dos morcegos, para evitar que a mesma situação se repetisse. E funcionou. Fiquei revoltado de não ter pensado antes nessas precauções.
Seguindo a luz fraca dos cristais da parede, numa rota circular, cheguei no outro lado da espiral, já vendo novamente o o topo, minúsculo diante da minha visão do fundo. Chegava a ser ridículo o quão pouco avancei. Sentia muito frio.
Me enrolei na toalha enquanto sentia as fortes dores daquele esforço e, por incrível que pareça, fui adormecendo quando apoiei a cabeça na mochila.
Talvez seja importante descrever alguns dos sonhos que tive enquanto estava preso, por terem me afetado até demais. Espero que o senhor não se importe tanto.
Naquele em específico, eu estava novamente no dia da minha formatura de conclusão do ensino básico, há cerca de dois anos. Mas, nesse caso, o local da cerimônia seria na periferia de Brasas do Sul. Não sabia que roupa precisava usar e por isso demorei a me arrumar.
Um cocheiro veio me buscar e ficamos num vaivém entre a minha casa e a de meus avós, de épocas diferentes em lembranças caóticas que se mesclavam. Aquele aconchego de criança que sentia no sofá e nos quadros, não existia daquela vez. Uma das poucas épocas em que realmente posso me dizer feliz.
Novamente troquei de roupa, dessa vez para o uniforme militar (estudei em uma escola assim por vários anos). Chegando lá, o bar, imenso, ainda estava meio vazio. Felizmente, estava com a roupa certa e os colegas tiravam fotos, conversavam em rodas, se embebedavam.
Foi lá que encontrei Sara e estávamos muito próximos um do outro, no canto de uma mureta em formato de L. Beijos e abraços ocasionais. Uma ternura e felicidade que há muito não sentia. Indescritivelmente linda. E quando fui declarar meus sentimentos... acordei, a coluna me matando mais que a solidão.
Não ter noção se era dia ou noite, se os outros já voltaram para onde morávamos e se eles se esqueceram de mim realmente me angustiava.
De resto, depois de comer, continuei escalando, ainda que bem mais lentamente. Minhas unhas sangravam com abundância e vários arranhões das mãos e pés escorregarem também tinham seu efeito em mim. Não gostaria de imaginar minha aparência, a barba por fazer, o corpo dilacerado, ensanguentado. Não foram poucas as vezes que desejei que aquele sofrimento acabasse logo, de qualquer forma que fosse. Contanto que saísse de lá.
Nas subidas, fragmentos da infância apareciam para mim, como que estivesse enfeitiçado. A menininha que me pediu em casamento, a festa a fantasia na escolinha, minha avó lendo histórias para eu dormir, meus amigos indo me buscar quando ficava embaixo do escorregador da praça chorando, o tédio em esperar meus pais fazerem as compras no mercado, minha mãe dizendo como eu era um bom menino. Essas banalidades naquele momento me tocaram especialmente, momentaneamente me transportando para aqueles tempos em que ainda sonhava em ser adulto, crescer, me apaixonar pela primeira vez...
Então, a melodia de uma orquestra invadiu meus pensamentos. Profundamente romântica, sentimental, não tinha a menor noção de onde a ouvi quando criança. Música de casamento? Interpretei que sim, mas sempre imaginava a princesa Kitty da história infantil vagando sozinha pelos campos durante uma forte nevasca, resistindo contra todo o vento sozinha. Aquela progressão de sons graves e agudos tirou lágrimas de mim. Que saudade eu tenho da minha criança.
E assim, naquela decepção de ser quem eu era, o inevitável veio, quando estava quase na metade do percurso: peguei uma pedra em falso e caí! E que queda, doutor.
O alívio que esperava sentir, não veio. Tive raiva. Todo aquele esforço foi para nada! Mais, se fosse minimamente competente em magia, seria tão fácil sair de lá e reencontrar os amigos. Amigos não, me corrigi. E pensei em Lorena com uma dor aguda.
Devo ter caído bem um terço do que subira desde o setor em que tive meu encontro agradável com os morcegos. Amorteci a queda desleixado como sempre, aterrissando de ombro. Foi muita sorte nada ter quebrado, mas não era nisso que pensava. Lorena não devia nem estar dando por mim. Nem parece que a gente se conhece há anos.
Devia estar agarrada com o amor dela e todos os outros deviam estar em Carmela brindando pela felicidade do casal e pela viagem do grupo, Alphonsus tocando mais uma de suas valsinhas e as duas garotas da cidade mais próximas dos meus amigos que até eu mesmo. Óbvio que iriam me abandonar. Eu nunca consigo expressar o que realmente quero, pôr sentimento onde é necessário e só desabafo o que realmente não me incomoda. Nunca consigo ter conexões, conversas profundas. Só monossilábicos que de vez ou outra riem. "Ninguém mais feliz que eu e você", escutei da voz de Alphonsus. Essa era minha linha de raciocínio.
Fiquei deitado em cima da mochila olhando para cima para me acalmar, pensando na forma como eu agia com os amigos e como eles agiam comigo. Não era a primeira vez que me sentia excluído, nem a primeira em que não conseguia pensar em nada para falar com eles, acompanhar suas conversas. Não era ciúme o que sentia, doutor. Sei disso. Nunca fui apaixonado por Lorena. Mas, como amigos, sinto que gosto mais dela que ela de mim. E isso dói muito. É uma constante das minhas amizades, esse amor nunca correspondido e expresso.
Para que sair daqui? Pela primeira vez, surgiu em mim o questionamento. O que vai ser de mim depois que sair? Voltar àquela rotina imbecil de rever as mesmas pessoas que, por um momento, sim fariam perguntas de onde estive e o que passei, mas que logo mais voltariam a me tratar como antes, sem a menor cerimônia. Voltaria a ser esquecido.
E até agora, não sei como evitar isso! Não consigo ser quem eu quero ser, doutor. Quem eu POSSO ser. Toda a minha personalidade se resume a ser um coitado. Aquele cara divertido, inteligente? Uma farsa. Sou um palhaço. Posso acender um cigarro? Obrigado.
Lá também fumei para tentar me acalmar. Um cigarro. Dois, três, quatro. Mas o mar de inquietações continuava na minha cabeça. Talvez tivesse algum ferimento oculto que infeccionasse e morreria em questão de dias. Ou faltaria comida. Não teria direito a um funeral e a um último adeus a Lorena. Passamos o dia inteiro brigados. Talvez ela nem tenha se importado com meu sumiço. Pensei o mesmo sobre Sara, minha oportunidade de amor perdida para sempre.
Mas, finalmente, consegui dormir pelo cansaço e a escuridão mórbida e acolhedora da caverna.
Mais um sonho. Estava deitado no colo de minha mãe, ela me acariciando. Eu encarava a janela do quarto. Era tardezinha. Sentia seus cabelos pretos nos ombros e meu coração inalava amor. Então, numa voz fria, escutei um conselho que ela me deu:
— Mudinho — Era assim que ela me chamava. Sempre falei pouco, mesmo novo — Mudinho, não tem para onde correr. Não importa o que você vai ser quando crescer, as roupas que usar, os amores que tiver, a casa ou apartamento que comprar, as cores que quiser escolher. Escolha qualquer cor, contanto que seja azul. Azul é sua cor, não existe outra. Você foi cunhado em azul, sua louça e seu amor, frio e azul. Dorme bem, meu amor.
Subi a cabeça e, encarando ela, vi que não tinha rosto.
Acordei assustado, claro. Azul, uma cor triste. Minha própria mãe dizendo o que seria do meu futuro, como que profetizando. Que mais poderia fazer depois daquilo? As lembranças dos dias anteriores foram aflorando. As atitudes de Ferreira, indiferença de Lorena, a minha dificuldade de fazer e manter amigos na faculdade. Meu martírio nas festas, sem ter ânimo nem para me entregar à bebida para tentar me enturmar. Porque falharia, como sempre falhei.
Lá vou eu, doutor, usando palavras fatalistas. Tudo, nada, ninguém, sempre, nunca. Por favor, tenha paciência. Até eu me canso às vezes de andar em círculos.
Passei muito tempo deitado. Impossível dizer quanto. Várias horas? Dias? O suprimento de comida, pouco a pouco acabando. A água, nas últimas e a dor simplesmente não passava. Realmente se esqueceram que estava com eles. Por que continuar? É uma questão de tempo para que eu morra. Era o que eu conjecturava nesses instantes. Rostos e nomes misturados. Vergonhas, esquecimentos, tristezas, afastamentos. Tantas situações chatas em todos esses anos. Nenhum amigo ou amor como no dos romances para me abraçar, aconselhar. Alguém em que pudesse apoiar a cabeça e só chorar. Lá me contentei em chorar um pouco, sozinho em minha espiral.
Um pensamento sempre leva a outro, pior e pior. Uma espiral que se torna nova espiral que me engole cada vez mais para o fundo da caverna. O topo, infinitamente distante. Eu, infinitamente atado ao chão. Não vão sentir sua falta. E fiquei preso nesse ciclo, como tantas vezes fiquei antes.
Mas acredite se quiser, doutor, nunca passou pela minha cabeça acabar com a própria vida naquela caverna. Lançar um feitiço que atravessasse minha cabeça. Por mais que eu pense quase todo dia no alívio que seria deixar de sentir dor e de me achar um coitado por nunca ter conquistado nada de tão significante. Nada de prêmios, amores, um tantinho de reconhecimento que fosse.
Eu sempre me senti um coitado, mesmo que não tivesse o menor motivo para isso. Sou um bom filho, estritamente obediente e amado pelos pais. Tenho amigos na medida do possível, estudo numa faculdade, tenho privilégios que nem todos têm, não tenho qualquer diagnóstico de distúrbios mentais até agora!
Mas mesmo assim, tudo parece tão sem sentido. Por que estudo? Por que sofro? Por que tenho tanto medo de amar? Por que não deixo que Lorena se apaixone por quem ela quiser? Por que me incomoda tanto eu não ser o melhor amigo de nenhum dos meus amigos, de sempre precisar me esforçar tanto para manter uma conversa e ter que lidar com eles literalmente me dando as costas no meio da conversa quando aparece alguém mais interessante?!
Qual o padrão? Qual o meu problema? Se todos que eu conheço fazem isso comigo, a culpa é minha. Doutor, o que eu faço para merecer isso? Não falo isso só agora da boca pra fora. Faz anos que guardo mágoa dessa gente que não me faz sentir pertencente a nada. O grêmio estudantil mais parece uma perda de tempo, jogada às traças pelos arruaceiros. Isso passava pela minha cabeça enquanto ficava caído no chão, sentindo a pior dor da minha vida.
Sim, autopiedade é ruim, etc. A cada dia na lama, você perde um dia para se melhorar. Repito, se melhorar para quê? Vamos todos morrer. E sinceramente, sendo nada eterno, todos merecem um pouco de pena! Todos têm sua história de tragédia, sacrifício, amor que não deu certo ou a não chegada do amor, não saber o que quer de futuro. Quem diz não precisar de abraços e beijos está mentindo. É impossível viver sozinho, por mais que às vezes eu pense em só me isolar. E que é só nesses momentos que eu me sinto como Eu. Sem máscaras, sem fazer papel de palhaço, fingir simpatia, conversar sempre as coisas deles, abrir mão de minhas opiniões por medo deles discordarem e se afastarem de mim!
E o que tenho com isso, se é carência? Todos têm! Pelo menos alguma vez na vida, quero me sentir amado. Espero demais que eles me façam felizes? Talvez. Mas por Ruperto! Pelo menos uma vez queria ter uma festa surpresa. Que se lembrassem do meu aniversário sem eu precisar falar, um abraço sem eu pedir. De que me adianta ser um bom ouvinte se não sou ouvido? Pelo menos uma vez poderiam tornar as coisas mais simples. Não é justo só para mim ser tão difícil, tão custoso!
Talvez seja esse o ponto. Eu quero que a dor e a raiva que eu tenho dos outros pare, não deixar de existir para sempre por odiar viver. Querendo ou não, existem tantas coisas que desejo fazer e que não desgosto.
O desejo de morrer é o coitado dentro de mim anunciando ao mundo que sou um imprestável e que ninguém sentiria minha falta se eu morresse. Nem meus pais, que vivem sempre preocupados com o trabalho. E de qualquer forma, para que lutar? Vivi já um quinto da minha vida do jeito errado, o que impede dos outros anos não serem iguais?
Por que, doutor? Fora daquela caverna, aqueles mesmos rostos sem graça me receberiam. Daqui a uns meses, estaria de volta à solidão, às aulas arrastadas do professor Inocêncio do Departamento de Ciências Humanas. Só verei as costas dos meus colegas, tendo que me contentar com fantasias amorosas quando estiver debaixo dos lençóis.
Sempre que penso na forma como queria que os outros me tratassem, penso em Lorena. Como ela consegue ser tão simpática quase o tempo todo? Como ela pode ter tantos amigos que querem desesperadamente ter sua atenção, ficar perto dela, ter seu amor? Ela diz ser tímida, não saber falar para multidões. E ainda assim, consegue ouvir e se fazer ouvida.
O senhor não tem ideia de como desejei estar na pele dela e ainda desejo, doutor. Mesmo morando longe da família em uma cidade no meio do deserto, ela ainda consegue ser feliz, conhecer pessoas, estudar e lutar por um sonho. O que me falta? Não sei se algum dia vou ter a pergunta respondida.
Mas voltando à caverna. O mais assustador é pensar que a decisão de morrer ou não cabia a mim e a mim somente. Não existiam espíritos para me abençoar. Sara e Lorena não estavam lá para me reconfortar. Mamãe não me abraçaria, nem papai daria um olhar de aprovação. A minha vida só depende de mim mesmo. E isso é tão assustador. Porque só eu sou capaz de desperdiçar o tempo como desperdiço.
Naquele momento, me lembrei de um poema que li em algum lugar, de um poeta desconhecido. E eu comecei a me lembrar da minha vida toda de novo. A pensar: a partir de que instante comecei a me sentir apático e alheio? A ser fatalista, a ponto de usar as palavras "tudo" e "nada" como se nada fossem. "Tudo" odiava, "ninguém" me amava. O poema foi permeando a vista e pude sentir o papel nas mãos quando o toquei as letras no ar.
As flores do deserto não são mais as mesmas
Nem o alaranjado céu que se despede do Sol.
Nem o amor, por incrível que pareça.
Pendurado sobre o abismo, penso: eu sou.
O que sou? Eu sou. Sou o quê?!
Já na metade da descida, entendo finalmente:
Sou sagrado. Não devia ter me abandonado
Mas é tarde para nadar contra a corrente
A vista do fundo fica cada vez mais perto
E Pela primeira vez na vida, desperto
E tudo é uno, tudo é preto, preto, preto
Minha intuição se recusava a me deixar morrer. Me pressionava a me levantar, continuar escalando até cansar de novo. E se caísse, que subisse de novo. Em algum lugar, deve existir alguém que me ame. Com certeza ela existe. Só precisamos nos conhecer, tocar na alma um do outro. Meu sucesso enquanto historiador, idem.
Tive o pensamento infantil de Ruperto em pessoa me lançando presentes em forma de feitiços brilhantes. Todas as coisas que já desejei e ainda desejo. Um futuro em que sou forte e tenho filhos. Mas não podia ficar nessas tentativas de me confortar para sempre, ainda que tenham funcionado. E percebi isso aos poucos.
Infelizmente, só dependia de mim e de mim somente. Queria rever meus pais, continuar estudando, ter um futuro. Não conseguia ver bem por aquelas lentes azuis que fazem meus pensamentos serem prolixos, inúteis, que não levam a nada. Uma vez mais, consegui me acalmar. Tanto tempo depois.
E apesar de muita resistência do meu corpo cansado e dilacerado, decidi seguir minha intuição. Comi outro sanduíche, apaguei o cigarro e finalmente me levantei.
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