I. A Partida
Creio que tudo começou lá pelo mês de julho. É, já faz alguns meses, então já de antecedência peço desculpas se a memória me falhar.
Naquela ocasião, fui chamado por uns amigos relativamente próximos para fazer uma viagem para comemorar o nosso primeiro ano de estudo na faculdade. E foi com muita insistência de Sara e Lorena que decidi acompanhá-los.
Era um daqueles dias em que não sentia vontade de fazer nada, nem me levantar da cama. Não em questão do conforto da posição do sono — que tive pouco à noite —, mas de desânimo mesmo. Me sentia pesado e claustrofóbico. Eu teria dado tudo para ter ficado em casa, de verdade. Só que acabei me forçando a me levantar e a tomar um café da manhã reforçado que mal comi.
Então, depois de um banho curto, vesti uma túnica longa e meio solta que meu pai tinha comprado de uns mercadores nômades no Bazar Central e sandálias de couro. Também peguei a mochila que tinha preparado no dia anterior e empanturrei ela de remédios, comida em conserva, biscoitos, umas garrafas de água e, a contragosto, minha varinha. Até sei fazer feitiços, mas não gosto de ter esse tipo de contato com a magia.
Feito os preparativos, parti enquanto meus pais ainda dormiam. Decidi aguar as plantas do nosso quintal dessa vez, algo que não faço tão rotineiramente por medo de afogar as coitadas. Não me imagino sendo capaz de zelar por uma vida, sabe.
Daí peguei minha bicicleta e parti para a universidade, que não é assim tão longe de onde moro.
Se não me engano, o senhor nunca esteve em Brasas do sul, não é? Pois saiba que não é à toa que a cidade tem esse nome. Ela fica realmente na entrada do Deserto das Dores e só existe por causa dos rios Tannin e Nar que nutrem e hidratam quem mora lá. Cinquenta mil habitantes morando nesse fim de mundo, pasme!
Até que não é um povoado de gente simples perdido no deserto. Tanto é que também chamam a cidade de Estrela dos Oásis, pela vegetação verde de palmeiras que cerca os rios e agora pela cor dourada e branca das casas, a maioria com um, dois andares.
Mas no caso da minha família, que divide um prédio com quatro outras famílias nos andares em cima, moramos nos barrancos do rio Nar, com sua cor anil. Nossos vizinhos aos lados e na outra margem também têm casas parecidas, com janelas quadradas pequenas, pilastras e toldos de tecido claro. Quando era pequeno, adorava ficar vendo as canoas de passageiros e pescadores passarem, na época que a água era ainda mais cristalina e refletia bem um céu tão mais limpo.
Nesse horário, não tinha quase ninguém nas ruas, então não precisei enfrentar um trânsito caótico de carroças e diligências. Atravessei a velha Ponte dos Gerbilos, que alguns anos antes ainda era de pedra, e fui na direção do centro.
No caminho, também dá para ver alguns dos vários montes que cercam a cidade. No topo do maior deles fica o Forte Jalali, de paredes de pedra vermelha que acompanham o relevo e que foi construído na época que os primeiros colonizadores daqui do norte chegaram. Hoje, funciona como uma escola de arte. É lá que a minha amiga Lorena estuda, inclusive.
Seguindo em frente e virando algumas ruas, finalmente cheguei na avenida principal, a General Farias. Duas faixas nos dois sentidos, uma fileira de palmeiras com um jardim de flores ao meio. Fora as ruas marginais, esse com certeza é a melhor parte da cidade. No térreo dos prédios geralmente ficam os restaurantes e comércios e o restante dos andares é residencial.
Mas não só de casas é feita a avenida. Lá também fica o Jardim Botânico com um lago bem limpo no meio e a estação ferroviária central, que leva trabalhadores para as minas de ouro e viajantes para o litoral ao norte.
Peço desculpas se estiver sendo muito prolixo. Falar sobre a cidade onde nasci é uma das poucas coisas que gosto de falar sobre.
Enfim. Seguindo bem em frente e pegando um retorno, finalmente me vi na frente da Universidade Rei Amarate II, que sinceramente dispensa apresentações.
Fachada linda de arenito cheia de arcos imensos, janelas em formato de porta, paredes que de tantos detalhes mais parecem esculturas e o interior ainda melhor, com um pátio interno aberto com as plantas mais verdes que você pode encontrar no Deserto das Dores. Mais para o interior da instituição também existem algumas torres bem altas caso o senhor a visitasse. Lá é onde ocorrem as aulas de feitiços e magia teórica.
Entrei pelo portão sempre aberto ao público para o pátio e fui ao bicicletário. Para me acalmar da ansiedade de encontrar os velhos rostos, dei uma boa tragada num cigarro que acendi. O primeiro de muitos que viriam naqueles dias.
Despretensioso, comecei a perambular, analisar as flores e olhar para o céu que já não estava escuro às 7 da manhã, como indicou o relógio de uma igreja distante. De repente, senti um aperto no meu ombro e me virei, dando de cara com Sara. Era daquele jeito que gostava de me cumprimentar.
Todos os outros a chamam de Sarinha, mas, sabendo que ela não gostava, eu chamo pelo nome mesmo. Admito que ela é bem bonita, com aquele cabelo preto curto meio encaracolado, pele extremamente branca e olhos verdes que por Ruperto! Estava, assim como eu, usando roupas leves de cores claras, estando com o cabelo coberto pela vestimenta. O sol castigaria ela demais, então logicamente optou por usar aquelas roupas que tanto odeia, como me confessaria depois.
É uma menina interessante. Eu tenho 19 anos e ela é um ano mais nova que eu. Nos conhecemos alguns meses antes em uma festa chata da faculdade em que nós dois estávamos sozinhos. Eu lia um livro quando ela puxou assunto, me perguntando como diabos eu conseguia ler no meio de tanto barulho.
E disso surgiu uma conversa que me lembro até hoje, mesmo sem saber exatamente das palavras. Desde então nos falamos quase todo dia, o que sinceramente é uma raridade para as poucas amizades que tenho. Me sinto estranhamente leve, solto perto dela, é difícil de explicar. Até consigo tolerar ficar ouvindo sobre suas ocasionais opiniões republicanas que de modo algum incomodam! Só não tenho interesse pela política.
Depois desse aceno inicial, ficamos jogando conversa fora. Questionada, respondeu que chegara quinze minutos antes e ficara lendo um livro que pegou emprestado da biblioteca, "Sobre Elfos e Homens". Descreveu um pouco da história, da qual me lembro de alguns fragmentos. Algo sobre um elfo e um camponês que eram explorados em minas do Império Malgaja durante a guerra.
Alguns minutos depois, foi interrompida pela chegada de mais duas figuras, Lorena e Ferreira. Pela primeira fui recebido com um abraço, do segundo apenas um aceno frio de cabeça. Vou falar de um de cada vez.
Tirando o mais desinteressante do caminho: Ferreira é pelo menos três anos mais velho que eu e Lorena e estuda arquitetura. Jovem alto — bonito, odeio admitir — e um cabelo estilo militar que é a grande moda dos rapazes da região. Usava uma roupa semelhante à minha, mas com mais colares e anéis nos dedos. Francamente, não faço ideia de como ele e Lorena ficaram amigos, sendo que não têm quase nada em comum.
Ele com seu jeito de falar todo exaltado e metido a moralista versus a meiguice contida de minha amiga. Diz ela que ele foi a primeira pessoa que a incentivou a se abrir mais a outras pessoas. Como se eu também não tivesse tido papel nisso.
Certo, Lorena. Lorena Josefina, seu nome composto, mas ninguém chama ela desse jeito. Tem um cabelo loiro longo e uma pele tão branca que chega a ser cômico o número de vezes que ela relatou ter se bronzeado enquanto esperava por um ônibus na sombra. Ao contrário de Sara (a quem deu um caloroso abraço), estava de túnica como eu e tinha um chapéu de passeio e óculos escuros de armação dourada.
Já falei que ela estuda em uma academia de artes e pinta muito bem. Mesmo conservadora, é adepta ao movimento Geometrista de pintar múltiplas perspectivas geométricas em uma mesma tela, não sei se o senhor sabe. Aquele que luta incessantemente para renovar os princípios rígidos do Comitê de Belas Artes de Venetogrado.
É uma pessoa divertida de se estar perto, dispondo de uma dose perfeita de ironia, humor, gentileza e terapia. Considero ela minha melhor amiga, apesar dela quase nunca responder às minhas cartas. Sempre a chamo para caminhar no Jardim Botânico ou conversar mesmo. Ela diz que não responde por preguiça e genuinamente lhe dou razão, pois a pilha de cartas com selos ainda intactos no seu dormitório não é para amadores.
Retornando ao bate-papo. Falávamos coisas do tipo: você viu que ele terminou com a namorada, seus óculos estão lindos, seu capuz também, já passou seu tonel de filtro solar, vê se não se queima na sombra dessa vez, haha. E o bom e velho Ferreira querendo direcionar a conversa para os projetos dele comissionados pela prefeitura, apesar de ser só um estudante, etc, etc.
Finalmente, para o meu alívio, ouvimos de longe uma discussão acalorada entre dois rapazes que quase gritavam um com o outro. É claro, não podiam ser outros senão Alphonsus e Tomás. O primeiro com um vozeirão e meu amigo com uma voz mais fina.
Me desculpe o linguajar, doutor, mas é que o jeito que os dois discutem política é hilário. Sempre é algo nas linhas de:
— Me polpe! Essa putaria no parlamento nuuunca aconteceria em uma república. Com uma população capaz de eleger todos os seus representantes diretamente, nunca íamos ter de lidar com a Alta Câmara discutindo por que a esposa do Lorde fulaninho NÃO DEVE MOSTRAR O TORNOZELO!
— Francamente, você está exagerando. Foi uma baixaria o que a madame-
— Baixaria é eles gastarem dinheiro do reino dando opiniões ultrapassadas e alheias sobre a vida pessoal de uma mulher.
— Mas essa mulher representaria em nosso Estado de Direito todas as outras e serve como um modelo para...
— Mulheres andarem cobertas igual um cone de trânsito? Pare de ser tão teimoso, Tomás meu garoto!
— Me chama assim de novo e eu te mato no próximo cruzamento seu...
Acho que o senhor entendeu. As coisas que um fala para o outro às vezes os fazem parecer com inimigos que se odeiam mortalmente. Mas, na prática, tudo termina com uma boa risada.
Não sou tão próximo de Alphonsus, que é estudante de história assim como Sara, Tomás e eu. Um ano mais velho, foi convidado para o passeio por Tomás, sendo que tudo começou com a iniciativa de Lorena e os esforços ajuntados por Ferreira, por ele ter um irmão que trabalha perto das ruínas que iríamos visitar.
Sobre Alphonsus, prefiro não opinar tanto, apenas por ele ser um mero conhecido meu. Mas em suma, ele tem a pele negra e cabelos cacheados, vestido à moda masculina para o deserto como eu e os outros. É um cantor incrível e toca a viola melhor ainda. Até assinou um acordo com uma gravadora local para fazer seu primeiro álbum! Mas ao lado da sua sensibilidade artística, estava a teimosia e espírito briguento de republicano voraz.
Ao lado dele, vinha um velho conhecido meu, desde a época de escola. Excelente em fazer feitiços e atlético, Tomás, 19 anos, de corte militar, só faz o curso de história para entender mais sobre as guerras e a história dos nossos reis que qualquer outra questão. Quer saber como essas duas coisas influenciaram e influenciam na nossa cultura de hoje, pois é um frequentador assaz de teatro e bastante leitor. Também é muito habilidoso em fazer feitiços do seu elemento principal, o fogo.
Não acredito, tenho CERTEZA que foi a arte que aproximou aqueles dois. Acho que só a arte pode nos unir no meio desses tempos tão caóticos de conflitos e separação de famílias e amigos por política.
Se aproximando de nós, nos cumprimentaram casualmente como se nem estivessem brigando antes. Tomás, em especial, me ovacionou com um de seus apertos de mão fortes:
— Raimundo!
É estranho dizer isso agora para o senhor, mas me senti tão estranho sendo chamado pelo meu próprio nome pela primeira vez naquele dia. Raimundo, nome que meus pais deram para o seu único filho. Não sei, parece que esse nome de gente velha ficou em mim que nem uma marca maldita. Condenado a ficar refletindo demais sobre tudo e todos.
Com tanta gente conhecida (minha e entre si), me senti encolhido e toda a mínima vontade de me comunicar com os outros desapareceu. Fiquei ouvindo estático as palavras vãs trocadas um pelo outro.
Feito isso, finalmente saímos do pátio central da universidade e fomos para um estábulo ao lado, onde alugamos três camelos para a viagem, ficando dois para cada um. Divididos os custos, lentamente nos afastávamos do centro da cidade na direção do deserto infinito.
Dividi meu camelo com Sara. Teria preferido ficar com Lorena, mas prontamente Ferreira a reteve. Como estava me sentindo tonto, falei que ela podia conduzir o camelo, ao que ela me respondeu:
— Tudo bem. Mas não fique choramingando se a gente se espatifar na primeira duna que aparecer pela frente.
Seu senso de humor me ajudou a relaxar um pouco diante da pressão de manter conversas no grupo.
Indo para a periferia, já às sete e meia, o frescor do alvorecer já tinha sido substituído pelo mormaço usual do deserto. Sorte a sua que o senhor não tem que tolerar um calor desses todo dia, doutor.
As casas foram ficando menores e cada vez mais simples. As ruas mais estreitas e cobertas por grãos de areia. Casinhas de taipa em meio às últimas plantações praticamente dominavam a paisagem depois de um certo tempo.
E então demos adeus a Brasas do Sul depois de uma última rua sem saída que já não era asfaltada. Nenhum muro nos separou do Deserto das Dores e seguimos por lá sob um sol terrível de queimar a pele. Poucos minutos dentro das dunas e exclamações das garotas já eram ouvidas.
Ao contrário do Deserto do Triunfo ou as Estepes de Ruperto, o Deserto das Dores não tem tantas elevação de relevo. As dunas são relativamente baixas também, então o deslocamento não é difícil. Mas o que dificultou a conquista dessas terras pelos colonizadores foi justamente a falta de qualquer fonte hídrica por quilômetros e quilômetros! Raríssimos são os oásis. E a cidade a que nos dirigíamos, Carmela, fica no maior deles. Ferreira nos guiava até lá, pois, segundo ele, fizera o percurso trocentas vezes com o irmão mais velho.
Apesar do calor, as conversas corriam soltas. Tomás contava para o grupo, mas principalmente para seu companheiro de camelo, que fora ver uma peça dramática em Venetogrado chamada "Haia", em que história em si não era lá essas coisas, mas as melodias providenciadas pelo Gregório Pinheiros eram monumentais...
— NÃO ME DIGA QUE VOCÊ OUVIU GREGÓRIO PINHEIROS EM PESSOA!
É o sonho da vida de Alphonsus conhecer o compositor. E é incrível como ele sempre fala das peças, filmes, radionovelas e até da carreira solo de Gregório. Provavelmente ele deve conhecer mais as músicas do pianista que o próprio artista em pessoa.
— Por que não me levou junto?!
— Não sou assim tão rico, sabia?
Ao ímpeto, juntou-se Lorena, que implorou para ir em uma viagem com Tomás ao norte. Desde que saiu de sua cidade natal, Grasa, está morando sozinha em Brasas do Sul porque gostou do clima artístico de lá, enquanto as duas irmãs mais velhas e o pai, funcionário público, foram para Karáchio. Ela nunca mais teve dinheiro para pegar um barco e atravessar o mar que separa o nosso continente do de vocês. Então a conversa continuou:
— Dependendo do meu humor, talvez você possa vir na mala. Ou melhor, por que não aprende a voar uma vassoura?
— E você acha que eu tenho esse talento para magia? Nem morta! Quase não entrei na academia de arte por quase zerar na prova prática de feitiços.
Depois, inserindo-se onde não foi chamado, Ferreira disse que magia não era assim tão difícil. Era só uma questão de técnica, ler apostilas e eis que finalmente você sabe fazer vinte feitiços!
Voltando-se para mim, Sara revirou os olhos. Dei um riso abafado. Eu já tinha lhe contado o motivo de eu ter tanta apatia por Ferreira. De como ele fingiu ser seu amigo para falar mal de mim pelas costas e se aproximar de uma amiga por quem na época me interessava, namorar ela para então terminarem só uns meses depois. Desde então, não quero mais ter notícia de nenhum dos dois. Além de ser um autocrata nos projetos extracurriculares da faculdade, é certo que ama ser o centro das atenções.
Decidi parar de prestar atenção naquela conversa. O dia mal havia começado e eu já me sentia exausto. De quê? Nem me pergunte, doutor, porque nem eu mesmo.
Me sentia cansado de todo aquele absurdo. De ficar ouvindo todos eles falando as mesmas besteiras, cantando as mesmas canções e eu ali só como mero observador, sem vontade de falar nem de existir. Daria tudo para estar de volta no meu quarto, ficar debaixo das cobertas vegetando.
É engraçado como esse sentimento fica mais forte quando chega o recesso de fim de ano. Me sinto sem propósito, vazio, vazio, mesmo que eu tenha todo o direito de relaxar, visitar amigos, viajar, ler. Ainda assim, não consigo relaxar, doutor. Juro!
Fiquei encarando o nada, sentindo as lufadas de vento quente chegando no meu rosto, o calor queimar os meus braços. Me forcei a tomar um gole de uma das garrafas e acendi mais um cigarro, sob protestos dos outros, que condenam profundamente o fumo. Se eles entendessem o quanto fumar me tranquiliza, tenho certeza que até me incentivariam.
Duna após duna, a apatia permanecia. Meio desperto, meio em êxtase, ouvia Sara continuar o relato do livro que ela estava lendo soltando uns grunhidos de afirmação, um risinho aqui e acolá. Queria desesperadamente estar em casa.
Como não havia o menor sinal de sombra sequer, não fizemos paradas para almoço ou lanches. Comemos em movimento mesmo. Afinal, a viagem de 50 quilômetros demora 11 horas para ser feita de camelo. E que longas horas de puro tédio essas foram.
Troquei umas palavras escassas com Lorena e Tomás, que mal me responderam e foi isso. Sara até me perguntou se estava me sentindo bem e respondi que era só o enjoo. Por algum motivo, eu nunca quis lhe mostrar o meu lado melancólico, de desabafar, ao contrário do que já fiz com Lorena e minha antiga amiga de quem fui enamorado.
Hoje já não me abro tanto para evitar estresse aos outros. Eu sei que todos precisamos desabafar com alguém, mas simplesmente não me vejo mais fazendo isso. Todas as outras pessoas já têm seus próprios problemas e servem de apoio emocional para outros. Que direito eu tenho de entrar nessa pilha, de ficar panfletando meus problemas, que nem sei se são reais ou imaginários!
Meu maior medo é alguém, na maior sinceridade, dizer que estou imaginando coisas. Que minha solidão, as críticas que minha consciência faz em tudo que eu faço ou visto são caprichos. Que deveria focar em viver minha juventude, fazer amigos, seguir em frente. Mas como diabos vou seguir em frente sem nem saber o que eu quero da vida?!
É estranho falar isso para alguém, mesmo sabendo que o senhor trabalha justamente para ouvir e ajudar pessoas como eu. Eu sinto como se não tivesse expressado o que eu realmente sinto da forma certa. É meio besta, mas é verdade. Não sei usar palavras para dizer o que eu realmente sinto, nem o que eu queria sentir. O sentido de eu sequer existir.
Peço desculpas por me desviar novamente da história. Mas voltando. Não me lembro das conversas que tivemos naquele longo percurso, então posso pular algumas horas para o momento que vimos Carmela no horizonte. Como era verão e a latitude era alta, ainda pegamos a cidade em um pôr do sol amarelo e laranja que preenchia o céu.
Senti vontade de chorar. Quem sabe não veria naquela noite meu primeiro céu estrelado.
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