XXIV

Depois da cena humilhante que Francesca Bocelli fez com ela, as lágrimas que a fez derramar, resolveu sair com Bethany para poder se distrair. Por um momento tinha pensado em ficar em casa, porque as palavras da mulher ficaram rondando em sua cabeça como um tormento. Ainda não compreendia aquele ataque completamente desnecessário e agressivo da parte dela. E nem queria entender.

Seu passeio pelas lojas com Bethany tinha sido uma ótima distração. Comprou diversos vestidos, sapatos, chapéus, luvas e fitas, estava precisando se arrumar mais. Também presenteou sua amiga com alguns vestidos e sapatos novos. Sem nenhuma dúvida, a melhor coisa foi ver a felicidade de Bethany estampada no rosto.

Foram para uma confeitaria, divertiram-se provando algumas tortas e tomando um pouco de chá. Contou tudo o que havia acontecido mais cedo para ela, que imediatamente ficou irritada querendo ir atrás da Srta. Bocelli. Aquela proteção fez Phoebe dar risada, jamais a deixaria fazer qualquer coisa contra aquela mulher. Por um momento tinha pensado em procurar Benjamin para falar sobre aquela situação, mas tinha desistido assim que pensou no constrangimento.

Quando retornaram para casa, o mordomo veio imediatamente em sua direção. Parecia assustado, como se alguma assombração tivesse aparecido para ele.

— Aconteceu alguma coisa?

— Sua Majestade aguarda a senhora em seu antigo quarto.

— Charlotte está aqui? — ficou surpresa ao saber da presença da irmã naquele horário.

— Sim, e com Suas Altezas.

— Edward e Daniel? — aquilo a deixou preocupada. — Não é possível.

— Eles estão com a Sra. Turner, juntamente com seu filho.

— Entendi. — olhou para Bethany. — Peça ajuda para carregar as compras, depois falarei com você. Verei o que minha irmã está fazendo aqui.

— Sim, senhora.

Phoebe subiu as escadas temendo o que poderia ter acontecido no palácio. Esperava que não fosse nada grave, e fosse apenas um delírio da sua mente. Mas dado aos fatos do que vinha acontecendo algumas semanas, poderia ser algo grave sim. Mesmo que tivesse esperança de ver sempre o lado positivo, não poderia ser tola para achar que tudo era flores.

Andou pelo corredor até chegar ao antigo quarto da sua irmã caçula, estava entreaberto, provavelmente esperando por sua chegada. Abriu sem muita cerimônia, avistando Charlotte adormecida na cama, com muitos baús espalhados pelo chão.

Esboçou um pequeno sorriso, aquela sonolência era por causa do seu novo sobrinho ou sobrinha que estava sendo gerado.

Sentou-se na cama, passando a mão no rosto dela delicadamente.

Logo um par de olhos azuis se abriram devagar e bocejou.

— Pensei que não fosse voltar nunca das compras.

Phoebe deu um sorrisinho.

— Estou surpresa por estar aqui. — apontou para os baús. — Principalmente com toda essa bagagem.

— Precisava sair do palácio.

— Suponho que George não saiba da sua decisão, principalmente com as crianças aqui.

— Minha sogra está ciente de tudo, é o bastante.

— Sabe muito bem que não é o bastante.

— Estou pouco me importando para o que ele pensa ou deixa de pensar. — revirou os olhos. — Edward e Daniel precisam mais da mãe.

Phoebe respirou fundo, às vezes se esquecia de como a irmã era completamente teimosa.

— Não vai demorar muito para ele aparecer aqui.

Charlotte se encostou na cabeceira da cama, dando um pequeno sorriso.

— Não pretendia permanecer aqui por muito tempo. — começou a mexer em um babado da saia do seu vestido. — Pretendo ir para Cambridgeshire assim que amanhecer.

— Está maluca?

— Nunca estive tão certa em minha vida. Sem preocupação por alguns dias, voltarei cedo para Londres. George não sentirá minha falta.

— Essa briga entre vocês está passando dos limites. — Phoebe se levantou da cama, andando de um lado para o outro. — Deve haver alguma maneira de contornar essa situação, Charlotte. Se amam, basta passar algum tempo ao lado de vocês para perceber.

— Nosso amor não parece o suficiente para ele me perdoar. — murmurou.

— Entendo que esteja magoada...

— Estou muito além de magoada! — explodiu de repente. — Estou triste, quero o homem que eu amo novamente ao meu lado. Estamos errando, preciso desse tempo, ele também. Somos muito explosivos, irmã. Teimosos em um nível absurdo.

Phoebe olhou para sua irmã cuidadosamente, ponderando cada palavra dita por ela. Não a deixaria ir sozinha para Cambridgeshire.

— Sua expressão está igual quando ia me dar alguma bronca quando éramos crianças.

— Talvez esteja merecendo essa bronca. — apoiou as mãos no rosto.

— Sabe que não.

— Partiremos amanhã. Pedirei que Bethany prepare minhas coisas.

— Não posso acreditar que esteja planejando ir comigo.

— Ora, que tipo de irmã mais velha seria eu se a abandonasse?

— Eu a amo!

Charlotte a abraçou de repente.

Retribuiu o abraço, beijando sua cabeça.

— Eu faria muitas coisas por você, minha menina.

A verdade é que sua irmã estava sendo uma ótima válvula de escape para esquecer o que tinha ocorrido mais cedo. Focalizar em um problema que não estava totalmente direcionado a ela, seria bem melhor. Além do mais, Charlotte precisava do seu apoio, e Francesca não merecia seus pensamentos.

❀❀❀❀

Tinha perdido a conta de quantas vezes tinha batido na porta de Francesca sem obter nenhuma resposta. Estava começando a ficar preocupado com aquela falta de resposta, mas não poderia deixar para outra hora. Estava sentado no corredor em frente a porta dela como um idiota. O que era muito constrangedor.

Levantou-se, recompondo sua postura e bateu na porta mais uma vez, dessa vez mais forte.

— Francesca, pelo amor de Deus, abra essa maldita porta!

Não obteve resposta mais uma vez.

Aquilo o deixou furioso.

— Se não abrir essa maldita porta, irei arrombá-la!

Esperou alguns minutos, depois ouviu o barulho da porta sendo destrancada.

— Não precisava ameaçar dessa forma. — ela abriu a porta devagar. — Apenas precisava ficar um tempo sozinha.

— Minha mãe estava furiosa quando veio falar comigo.

— Por favor, entre. Essa conversa não será rápida e não é adequada ser feita no corredor.

Benjamin entrou no quarto, e se deparou com várias roupas pelo chão, algumas coisas quebradas, como se tivesse passado um furacão naquele lugar. Aquele não era um comportamento típico dela.

— O que aconteceu aqui?

Francesca não respondeu absolutamente nada, apenas se sentou na cadeira que ficava na penteadeira.

— Benjamin, não se preocupe. Vou arrumar minhas coisas e partirei no próximo navio para a Itália. Sei que fui completamente ríspida com a condessa na casa dela. Eu tinha acabado de fazer uma coisa que está me envergonhando até agora. Minha consciência pesa tanto, acho que por isso minha cabeça está doendo. — deu uma pausa longa, olhando apenas para o chão. Benjamin queria que ela olhasse em seus olhos. — Fiz algo muito ruim ontem.

Cruzou os braços esperando que continuasse. Tinha uma leve impressão que não gostaria do que seria dito logo em seguida.

Respirou fundo, dizendo logo em seguida:

— O que você fez?

Lágrimas começaram a descer pelo rosto dela.

— Eu... Fui atrás de Phoebe Harrison.

— Como? — perguntou incrédulo.

— Disse coisas ruins para ela. Estou muito arrependida do que fiz, Phoebe não merecia ouvir o que eu disse.

— Maldição! — disse exasperado. — Magoou uma pessoa sem necessidade alguma! Do que a chamou? — pegou seus braços, fazendo com que olhasse para ele. — Por Deus, o que disse?

Francesca estavam com os olhos esbugalhados, mas pouco importava o que ela estava sentindo naquele momento. Sua mente estava completamente bagunçada, apenas pensando em como pediria perdão diante daquela atitude da sua amante.

— Chamei ela de viúva-negra.

Ele ficou paralisado.

Aquilo tinha sido muito humilhante. Nem queria imaginar a reação e o que Phoebe estava sentindo.

— Por quê?

— Eu precisava fazer alguma coisa! — começou a chorar desesperadamente. — Se quiser me odiar, vou entender completamente.

Benjamin respirou fundo, colocando uma mão na cintura.

— Mesmo que eu quisesse, não conseguiria odiá-la.

— Peço apenas para me ajudar a sair daqui.

— Arranjarei um hotel para você ficar até ter um navio para Itália. Comprarei sua passagem, deixarei tudo organizado para terminar sua estadia aqui em Londres. Afinal, é minha responsabilidade seu bem-estar. — Preciso encontrá-la.

— Benjamin...

— Conversaremos quando eu for alojá-la no hotel. Antes disso, melhor evitarmos nos falar. Estou muito decepcionado, Francesca. Eu não a conheço mais.

Saiu do quarto dela transtornado, pensando unicamente em chegar na casa dos Harrison o mais rápido possível. 

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