XX
Charlotte tinha dado o veredito que não iria mesmo para o baile de Sky na festa do jardim. Pensou que ela poderia mudar de ideia, mas se enganou completamente. No entanto, estava presente no baile da velha amiga para cumprir a promessa de explicar pessoalmente para ela o motivo da ausência da rainha e se permitir um pouco de diversão.
Andou pelo salão, cumprimentando algumas pessoas que conhecia. Algumas olhavam com espanto, outras com uma certa pena. Phoebe detestava ser olhada daquela maneira, pois acreditava que era o pior sentimento existente. Mas sabia que estaria sujeita a isso, entretanto estava extremamente incomodada.
Vagou seus olhos por todo salão, procurando algum conhecido que fosse mais simpático para se manter uma conversa prolongada. Então seus olhos pousaram em uma pessoa que há muito tempo não via.
Um sorriso se formou em seu rosto, jamais esperava encontrá-lo naquele baile. Não perdeu muito tempo pensando se iria cumprimentá-lo ou não, mesmo lembrando do último encontro dos dois que havia sido um pouco constrangedor. Era uma incógnita se a trataria bem, fazia tanto tempo que não se falavam. Mas no velório de John, enviou flores e sua mãe foi a pessoa mais gentil de todas. Tinha muita admiração pela condessa.
Respirou fundo e sorriu.
— Benjamin?
Virou-se devagar.
— Phoebe. — sua voz falhou um pouco, parecia que estava apavorado em vê-la.
— Estou muito surpresa em vê-lo aqui.
— Não tanto quanto eu, tenha certeza.
Um silêncio constrangedor se instalou entre eles.
Phoebe tinha uma leve impressão de que Benjamin não queria sua presença, mas estava tão curiosa sobre sua chegada. E queria estar enganada sobre sua impressão.
— Quando chegou de viagem?
— Cheguei mais cedo. — seu rosto suavizou um pouco. — Nossa, estou sendo horrível com você. Estou muito feliz por revê-la, não estou demonstrando da maneira mais correta, mas garanto que estou. — pegou sua mão e deu um beijo demorado. — Gostaria de poder abraçá-la.
— Seria bom receber um abraço seu depois de tanto tempo.
— Enquanto não podemos nos abraçar, podemos dançar, o que acha?
— Acharia formidável. — sorriu.
Benjamin a conduziu para o centro do salão, onde uma valsa estava iniciando. Ele posicionou sua mão em sua cintura um pouco forte e trêmulo, como se estivesse com algum receio.
— Algum problema?
— Não, apenas temo em dançar algumas vezes.
— Por quê?
— Por causa do meu par.
Encararam-se por algum tempo.
— Perdoe-me, Phoebe.
Ficou sem entender o motivo do pedido de perdão. Achava desnecessário pedir por algo tão banal. Poderia estar pedindo perdão por não ter comparecido na morte de John?
— Não há problemas, sua mãe esteve presente em todo processo. Tenho uma enorme estima pela condessa.
— Do que está falando?
— Sobre a morte de John.
Benjamin ficou estático, como se alguma coisa o tivesse atingido.
— John está morto?
— Não sabia? — perguntou incrédula.
— Não, não. — a impulsionou a dançar. — Cometi um erro quando fui viajar.
Phoebe permaneceu calada, apenas acompanhando os passos da dança que sabia muitíssimo bem, pois sempre teve muita paixão pela valsa. Seus pensamentos ficaram um pouco distantes depois daquela informação. A condessa tinha omitido esse detalhe.
— Phoebe?
— Sim? — despertou do seu devaneio.
— As coisas entre nós ficaram relativamente conturbadas, então pedi para minha mãe não contar absolutamente nenhuma notícia que fosse sua. Por vezes ela pediu para que eu cedesse, principalmente em uma certa época. Provavelmente na morte de John. Tentei deixar meu orgulho de lado algumas vezes, mas não cedi. Sinto-me meio constrangido em estar diante de você. Deve estar pensando coisas ruins ao meu respeito.
— Benjamin, tudo bem. Jamais cobraria alguma coisa para você.
— O que aconteceu com ele?
— Câncer.
— Não é possível.
— Infelizmente foi possível.
— Ele sofreu muito?
— Poderia amenizar a situação negando, mas ele sofreu muito, Ben. No entanto, não mais que eu. Será que podemos parar de dançar? Não estou me sentindo muito bem.
Phoebe fez uma pequena mesura e saiu rapidamente pelo salão procurando alguma porta que a levasse para o lado de fora. Precisava urgentemente de ar puro para respirar.
Quando achou a porta que levava ao jardim, atravessou sem olhar para trás, sem ao menos para que direção deveria seguir. Havia uma estufa que Sky a tinha levado em sua última visita. Seria um lugar ideal para colocar tudo em ordem na sua cabeça.
As perguntas sobre a morte de John, Melanie e seu bebê ainda afetavam bastante. Algumas vezes tinha reações estranhas, não sabia explicar. Apenas reagia daquela forma, fugia para algum lugar que a deixasse pensar. Pediria desculpas para Benjamin em outro momento, porque seu comportamento tinha sido imprudente.
— Phoebe! — ouviu ele gritar seu nome.
Parou de andar, esperando-o se aproximar.
— Disse alguma coisa para aborrecê-la no salão?
Conseguiu dar um sorriso.
Benjamin continuava o mesmo homem gentil e preocupado.
— Nada a ver com você, o problema sou eu. Às vezes acho que consegui superar todo meu luto, ainda assim, sou surpreendida com reações como essa que tive. Acredito que seja algum mecanismo do meu corpo que grita para eu fugir quando estou me sentindo ameaçada.
— Sinto muito. Se eu soubesse, teria me comunicado por cartas. Sabe, minha amizade com John não era mais a mesma, mas a minha afeição por você nunca mudou. Provavelmente teria voltado somente para garantir se estava realmente bem. Aliás, como estaria bem com a morte do próprio marido? Estou sendo estúpido.
— Não foi apenas o John que morreu.
— O que está querendo dizer?
— Melanie e o bebê que eu esperava também se foram.
— Santo Deus!
Sentiu os braços de Benjamin envolvendo seu corpo com carinho e afeto. Achou aquele gesto tão reconfortante, que poderia ficar daquele jeito por um bom tempo.
— Por quantas coisas passou, Phoebe. — disse enquanto afagava suas costas com carinho.
— A vida nunca foi muito fácil para mim.
— Não, não foi.
Ficaram em silêncio, aproveitando aquele momento genuíno.
— Preciso confessar uma coisa.
— Confesse.
— Senti sua falta todos esses anos longe. Digo-lhe que não queria notícias suas por orgulho, tristeza e fuga. Foi insuportável conviver com a ideia de não poder tê-la, pensar que a tinha perdido para John. Algumas vezes questionei para Deus o motivo de não ter feito com que eu a conhecesse antes dele, mas acho que Ele estava ocupado de mais para me responder.
Phoebe ficou sem reação por alguns minutos, era muita coisa para digerir. Palavras muito fortes e sentimentos de uma pessoa muito querida por ela. Pensava que todas aquelas coisas tinham ficado no passado, mas estava completamente enganada.
— Ben, não sei o que dizer.
Uma bela mulher surgiu, olhando para os dois levemente curiosa.
— Benjamin, quem é essa mulher?
Phoebe se soltou dele um pouco confusa, devido a intimidade que a mesma tinha com ele.
— Francesca, essa é a Sra. Harrison-Parker.
— Ouvi falar muito a seu respeito, senhora. Sou Francesca Bocelli.
— Oh. — olhou confusa para Benjamin. — É um prazer conhecê-la, Srta. Bocelli.
— Igualmente. Peço desculpa por atrapalhá-los.
Phoebe sabia que Benjamin tinha alguma coisa com aquela Francesca, e não era amizade. Sabia quando precisava se retirar de um local quando parecia prestes a entrar em colapso.
— Deixarei vocês a sós, com licença.
— Espere, Phoebe. — Benjamin agarrou seu braço.
— Um outro momento, Ben. — deu seu melhor sorriso. — Até logo.
Phoebe caminhou para dentro do palacete novamente, dessa vez procurando por qualquer bebida que acalmasse aquele coração agitado com toda aquela situação.
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