XV
Melanie tentou sobreviver bravamente durante oito dias. Poderia perceber a luta da filha para tentar respirar, abrir os olhos, se comunicar com o irmão, mesmo que fosse algo muito difícil. Todos os dias Phoebe chorava em seu quarto baixinho, para que ninguém ouvisse. Estava cansada e infeliz. A sensação de que a felicidade não era algo que podia obter, crescia cada vez mais. Mas tinha que ser forte, afinal, quem mais poderia ser por ela?
Scarlett resolveu permanecer com ela por alguns dias para ajudá-la. Insistiu para que voltasse ao palácio, tinha um bebê para cuidar, filhos adotivos que a adoravam e o marido que sentiria sua falta. Mas não houve argumentos que fizessem a rainha voltar. Internamente, Phoebe agradeceu a teimosia de Scarlett, precisava de alguém da sua família.
Não soube quando ela tinha enviado cartas ao seu pai e sua irmã mais nova, só veio ter conhecimento quando algumas carruagens entraram em sua propriedade, e ela pôde perceber pela quantidade que era Charlotte.
— Não posso acreditar que eles tenham vindo.
— Somos sua família, Phoebe. — Scarlett disse enquanto caminhava até os recém-chegados. — Nunca se esqueça disso.
Quando observou seu pai com a mesma expressão de quando havia perdido sua mãe, seus olhos ficaram cheios d'água. O sentimento de luto estava presente, mesmo que tenha renegado em todos os momentos em que sua mente fazia questão de recordar.
Ao abraçar o duque, conseguiu desabar. Era aquele abraço que precisava para ficar mais tranquila; para se sentir em paz. No entanto, quando suas irmãs se juntaram para o abraço, sentiu-se em casa, finalmente.
Os dias que se sucederam foram difíceis, mesmo com o apoio deles em volta dela. E, quando Melanie deu o último suspiro, uma parte dela foi embora também.
Inicialmente não soube o que fazer, ficou estática segurando a mão da menina com o crucifixo. As lágrimas vieram de maneira descontrolada, agarrou-se aquele corpo tantas vezes, que em algum momento, seu pai a puxou para longe de Melanie, prendando-a em seu corpo com um abraço. Tentou lutar para se livrar dos braços que a cercava, mas ele conseguiu se manter forte para impedi-la.
Sem muita delonga, Melanie foi enterrada em uma manhã chuvosa de domingo.
Ajoelhou-se diante do túmulo, dando seu último adeus para sua pequena filha. Lembrando de cada detalhe dela, cada travessura, cada sorriso, cada pergunta, e como sentiria saudade de tudo aquilo. Não havia um adjetivo para descrever o que estava sentindo. E, ainda teria que lidar com outra morte em breve.
Respirou fundo e abaixou a cabeça.
— Mamãe, Melanie vai virar uma estrela?
Olhou para o filho, que estava um pouco molhado, pois foi para perto dela. Pegou a pequena mão dele, acariciando devagar.
— Sim, meu querido. Sua avó Sophie deve ter recebido ela de braços abertos. Agora estão juntinhas olhando por nós.
— Elas tinham mesmo que ir?
Phoebe deu um pequeno deslumbre de sorriso em dias.
— Sim.
— Por quê?
— Não saberia responder sua pergunta com exatidão, mas aprendi que as coisas devem acontecer, sem muitos questionamentos, apenas aceitar que deve haver uma resposta para tudo isso que acontece. Procure pensar nos bons momentos com sua irmã, posso ajudá-lo anotar suas lembranças, porque um dia elas serão vagas ou esquecidas. — levantou-se devagar, olhando todos em volta, com suas sobrinhas. Assentiu para que todos começassem a voltar para casa. — Sabe, Robert, quando eu tinha mais ou menos a sua idade, minha mãe virou estrela. — abriu sua sobrinha e deu a mão para ele segurar. — Sempre achei que poderia me recordar de tudo que tínhamos feito. Pobre de mim, não me recordo nem da voz dela. Apenas tenho a sensação de que me acalmava quando estava inquieta. Pessoas que amamos podem partir a qualquer momento, infelizmente não temos o controle da vida.
— Acho que vou sentir falta dela para sempre, mamãe.
— Todos nós, querido. Todos nós.
— Agora, as outras estrelas vão ficar brincando com a Melanie no meu lugar. Será que ela vai sentir minha falta?
— Como não sentirá falta do melhor irmão do mundo? — deu uma piscadela para o menino enquanto ficavam para trás. — Robert, preciso pedir uma coisa, espero que entenda meu desejo.
Robert olhou para ela com curiosidade.
— Preciso colocar tudo no lugar novamente, aqui não é um bom ambiente para você. Por isso, conversei com seu avô, passará uma temporada em Londres até ficar tudo bem. Sei que não parece apropriado, mas é necessário por hora. Espero que aceite essa minha oferta.
— Gosto muito do vovô.
— Eu sei, querido. Por isso pedi para que ele ficasse com você uma temporada. Papai vai voltar a frequentar a casa de campo em Cambridgeshire, tenho absoluta certeza de que amará.
— Quero ir, mamãe. Quando vai para Londres?
— Em breve.
Até John viver, pensou.
❀❀❀❀
Deitada em sua cama, observando as expressões de Charlotte enquanto lia uma carta que George havia enviado para ela, Phoebe começou a sentir alguns desconfortos. Estava completamente agoniada, sem saber explicar o que poderia ser. Achava que era o excesso de estresse passado naqueles dias; morte da sua filha, partida dos seus familiares e o agravamento do estado de saúde do marido.
— Oh Deus!
Charlotte colocou a carta sobre o colo.
— Alguma coisa grave aconteceu?
— Millie vai se casar com o príncipe Alejandro. — sua voz tinha um tom surpreso.
— Não esperava por isso?
— Ela me confessou que estava apaixonada por ele, e fez o mesmo com George. Só que as reações foram bastante diferentes; eu fiquei feliz, ele angustiado. Claramente fui questioná-lo o motivo dessa reação tão contrária, porque por um momento pensei que fosse ciúmes. É algo muito maior do que pensei.
Phoebe ficou encarando a irmã curiosa, era bom ouvir alguma história diferente para se distrair.
— Lembra quando George ficou um tempo na Espanha?
— Sim.
— Ele e Alejandro ficaram bons amigos, consequentemente se tornaram confidentes. Sem muitas delongas, existe um amor do passado na vida do príncipe espanhol que não foi resolvido. George teme que Millie sofra caso essa mulher volte. Eu o entendo.
Remexeu-se desconfortável.
— Vamos rezar para que George esteja errado. — uma cólica começou a ganhar vida dentro dela. — Santo Deus, estou sentindo uma dor horrorosa.
Sua irmã se aproximou rapidamente dela.
— Acha que é o bebê?
Phoebe fechou os olhos com força, pois a dor estava ficando intensificada.
Agarrou o braço de Charlotte.
— Chame um médico. — um líquido começou a descer por suas pernas. — Acho que estou...
Parou de falar por um momento, esperando a cólica passar.
— Estou perdendo o bebê.
Charlotte puxou as cobertas com o olhar assustado.
— Por favor, não olhe para...
Mesmo que não quisesse presenciar aquela cena novamente, seria inevitável. Estava completamente suja de sangue, como tinha sido da última vez que tinha perdido seu filho.
Mais uma vez, em poucos dias, perdia alguém que amava.
— Oh Deus, dê-me um pouco de paz.
E uma lágrima desceu por seu rosto.
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