XIV
O vento frio atingiu o rosto de Phoebe assim que ela colocou seus pés fora de casa. Estava tão cansada, todo seu corpo implorava por uma cama quente e uma lareira acesa, porém, precisava ficar um pouco exposta ao frio para pensar. Aqueles meses estavam mais cansativos do que podia ter previsto. Não estava sendo fácil ver John moribundo em cima de uma cama, delirando de febre, e ficando cada vez mais cadavérico. E, como se não bastasse, sua filha vinha apresentando constantes dores de cabeça, mas o médico ainda não sabia dizer o que era; o que a deixava atormentada de uma maneira indescritível.
Tinha aceitado a inevitável morte do marido desde o dia em que ele contou que estava com câncer. Ficaria bastante triste, porque John era um homem novo e não merecia todo aquele sofrimento. Apenas ficava receosa se ele descobrisse que estava grávida, o maior motivo daquele casamento ter acontecido. Escondia de todas as maneiras sua barriga, no entanto, crescia cada vez mais ao passar dos dias. Sua sogra percebeu rapidamente, ficando completamente extasiada por provavelmente o título de visconde se manter em alguém com seu sangue.
Ainda não tinha contado a Melanie que estava grávida, estava esperando pela melhora dela, para que fosse uma notícia alegre. Ela sempre tinha pedido por outra irmã, porque afirmava que Robert era insuportável. Essa lembrança fez Phoebe rir um pouco, passando a mão pela barriga, desejando que aquela criança viesse com saúde.
— Senhora?
A voz de Bethany estava bastante estranha.
— Aconteceu alguma coisa com Melanie?
— Apareceram manchas pelo corpo dela.
— Santo Deus! — entrou pela casa esbaforida. — O que pode ser isso?
— Não sei, mas tenho muito medo do desconhecido.
Phoebe também tinha muito medo do desconhecido. Principalmente quando esse desconhecido estava atingindo sua pequena criança.
— Chamou o médico? — perguntou enquanto subia as escadas rapidamente.
— Sim!
— Ótimo.
Phoebe abriu a porta com desespero e puxou a coberta da filha.
Estava completamente manchada na região do tronco.
— Meu Deus, Melanie! — sacudiu o corpo febril da menina levemente. — Por favor, acorde.
Ela começou a abrir os olhos lentamente.
— Ma... — começou a tossir. — Dói.
— Onde dói, querida? — tentou manter sua voz calma, para não a assustar.
A mão dela foi em direção a barriga, que fez com que Phoebe percebesse que estava inchado. Começou a chorar, aquilo era um péssimo sinal. Não sabia como iria aguentar perder sua menina que tanto amava.
— O que pode ser? — murmurou.
Sentiu uma mão apertando seu ombro devagar.
Conhecia aquele toque, era sua irmã.
— O que está fazendo aqui, Scarlett?
— Mandaram me avisar no palácio, não vou deixá-la.
— Irmã, não sei que tipo de doença está acometendo Melanie, não posso sujeitá-la a qualquer risco.
— Trouxe o médico do palácio. — fez um gesto com a cabeça para que o homem pudesse entrar. — Ele saberá nos dizer ao menos alguma coisa.
Phoebe assentiu e se afastou da cama para que ele pudesse se aproximar.
— Uma doença está acometendo muitas pessoas. Quando Vossa Majestade mencionou o que a menina estava sentindo, suspeitei de tifo. Estou correto em minha suspeita, é tifo. Essas manchas são características, o baço inchado. Sinto muito em informar que ela não sobreviverá.
Apoiou-se em sua irmã, não estava sentindo as pernas. Parecia que aquele médico tinha tirado o ar dos seus pulmões, seu chão, tudo. Como poderia suportar a ideia de perder Melanie? Nunca mais vê-la correndo pela casa, ou fazendo milhões de perguntas. Como poderia aceitar aquela partida tão repentina?
— Por que, meu Deus? Por quê?
— Phoebe...
— Não posso aceitar, não posso. — mais lágrimas começaram a descer pelo rosto dela. — Minha Melanie, uma das poucas coisas boas que Frederick me deu. Como vou suportar essa dor, Scarlett? Como?
O desespero tomou conta do seu corpo, assim como da sua mente.
— Realmente não existe nada a ser feito?
— Sinto muito.
Seu mundo começou a desmoronar mais uma vez.
A primeira vez tinha sido quando sua mãe morreu.
A segunda quando foi agredida pelo marido que acreditava ser o amor da sua vida e sofreu um aborto.
A terceira vez estava sendo naquele momento, perdendo sua filha sem poder fazer nada.
Sentiu tudo ficar preto.
E desmaiou.
❀❀❀❀
Estar diante da duquesa viúva depois de meses na França, era no mínimo engraçado para Benjamin. Tinha perdido as contas de quantas vezes ela tinha torcido a boca quando falava alguma coisa. Se não tivesse sido bem-educado por sua mãe, tinha dito bons desaforos para aquela mulher tão mesquinha e insuportável.
— O dinheiro que estou recebendo não está sendo o suficiente para o meu padrão de vida.
— Vossa Graça não se cansa de gastar tanto? — perguntou ironicamente.
A mulher o fuzilou com os olhos.
— Sabe que eu odeio brincadeiras desnecessárias, Benjamin.
— Pensei que tínhamos feito um acordo antes da minha viagem.
— Tudo mudou, preciso renovar meus vestidos, comprar novas joias...
— Entendi, Vossa Graça. Aumentarei sua mesada, não se preocupe.
— Resolva tudo antes de voltar para um dos seus navios malditos.
Benjamin respirou fundo e apontou para a porta do seu escritório.
A duquesa se levantou com sua elegância arrogante, caminhando para a porta com o queixo erguido.
— Meu Deus, nem a rainha é dessa forma. — murmurou.
— Eu ouvi isso. — Sienna olhou para ele com desdém. — Sou bem melhor do que ela.
Quando ela deixou completamente o recinto, respirou o ar puro novamente. O clima ficava completamente pesado com a presença dela, era incrível. Por isso, evitava ao máximo encontrá-la. Mas, sabia que sempre teria o desprazer de vê-la enquanto fosse viva.
— Querido, suas coisas estão prontas para a viagem. — sua mãe entrou com a expressão triste. — Deveria ao menos ficar mais tempo comigo, ficou apenas duas semanas aqui. Sabe como é doloroso para uma mãe ter o único filho viajando pelo mundo?
— Sinto muito mamãe, mas prometo que é a última. Irei sossegar, tentarei achar uma esposa, ter filhos e ser feliz. Mas, nesse momento, eu preciso viajar. Ficar longe de casa vai me fazer bem. — andou em direção a sua mãe. — Pretendo passar um ano na Itália, estabilizado, mandarei notícias sempre para a senhora não ficar tão preocupada. — colocou a mão na bochecha dela. — Eu a amo muito.
— Também amo você, meu filho. — uma lágrima desceu pelo rosto dela.
Ele passou o polegar pela lágrima devagar.
— Filho, sei que me pediu para não falar mais sobre Phoebe, mas eu soube de uma coisa grave.
— Mãe, não quero saber.
— Mas filho...
— Não, mãe. Vou resolver algumas coisas no Parlamento, volto mais tarde. — beijou o rosto dela. — Tenha um bom dia.
Benjamin saiu do escritório nervoso.
Mesmo depois de meses longe, em outro país, conhecendo outras mulheres, ainda não conseguia esquecê-la; ela ainda estava em seu coração, tinha criado raízes fortes. Era seu maior tormento, perdendo até mesmo para a duquesa Sienna.
Gostaria de poder esquecer logo, pois doía muito.
Por isso pediu para sua mãe não dizer absolutamente nada sobre ela. Absolutamente nada.
Porque assim, viveria em paz.
Ou, achava que sim.
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