XII

Chegou em sua casa completamente atordoada. Ainda não sabia como não tinha fraquejado em sua caminhada, porque suas pernas tinham ficado tão moles diante daquela situação na qual havia se envolvido sem perceber. Ou, estava negando a si mesma que não tinha percebido. Porque seu corpo correspondeu ao toque de Benjamin.

E se tinha uma coisa que não mentia, era as reações do corpo.

Colocou as duas mãos sobre seu rosto e respirou fundo tantas vezes, que por um momento achou que estava à beira de algum surto. Com toda certeza ela tinha direito a ficar desse jeito, pois alguma coisa tinha mudado dentro dela.

A incerteza.

Será que realmente gostava de John? Não estava sendo muito precipitada? Por que na noite anterior tinha tanta certeza do "sim", e agora, depois daquele beijo com o conde, estava confusa?

— Maldição! Estou ficando realmente louca!

— Filha, praguejando? — seu pai se aproximou com um enorme sorriso no rosto. — Se bem me lembro, reclamava com suas irmãs quando elas faziam isso.

— Alguém tinha que colocar juízo nas cabeças delas. — aproximou-se do duque, dando-lhe um beijo na face e agarrando o braço dele. — Não que isso tenha acontecido, claro. — seu pai deu uma risada, o que a fez sorrir um pouco.

— Para onde foi tão cedo?

Mordeu os lábios, se controlando para não dar uma risada nervosa diante do pai. Como diria a ele que tinha acabado de beijar o antigo amigo do noivo? Teria vergonha de olhá-lo depois, o julgamento do seu pai era extremamente importante em sua vida. Jamais o decepcionou, e não queria começar depois de velha.

— Visitar um amigo. — conseguiu dizer.

— Qual amigo?

Seu pai não sabia, mas estava tornando aquela conversa tão difícil.

— O conde de Bunmore.

— Oh sim. Foi pessoalmente interrogá-lo pela ausência dele ontem? — o duque disse em um tom divertido.

— Talvez eu tenha assustado ele bastante. — tentou fazer graça com aquela situação também.

— Com certeza ele virá ao casamento.

Não conseguiu se conter, deu uma gargalhada.

— Perdoe-me, disse algo muito engraçado?

— Oh papai, definitivamente não. — respirou fundo, limpou uma lágrima que caiu do seu olho. — Benjamin e John não são muito amigos. Na verdade, estou sendo gentil, eles não se dão nada bem. Por isso o conde não veio ontem para o meu jantar de noivado.

— Minha filha, não deveria se envolver nesse assunto. Desconheço os motivos do conde e o visconde não se gostarem, mas não deveria ter ido até o conde exigir uma explicação pela ausência dele se conhecia o motivo.

— O conde se tornou um amigo do qual eu gosto bastante, a presença dele seria muito boa.

— O clima ficaria ruim, foi bem melhor ele não ter vindo.

Afastou-se do pai, encarou aqueles olhos verdes que tanto amava, que tanto transpirava amor e carinho, e começou a chorar.

— O que aconteceu, Phoebe? — enxugou as lágrimas que teimavam em cair no seu rosto. Conhecia aquele gesto, tinha visto diversas vezes; seu pai estava preocupado.

— Acredito que fiz algo muito errado essa manhã.

— Phoebe, errar é a coisa mais humana do mundo. Desde pequena, devido a morte da sua mãe, nunca viveu como as outras garotas da sua idade. Nunca deixei que ficasse com as responsabilidades de uma duquesa, esse foi um dos motivos para contratar a Sra. Turner. Mas não surtiu muito efeito. Não importa o que tenha feito hoje, sei que haverá perdão.

Relutou um pouco em contar a ele, mas se não desabafasse, enlouqueceria.

— Eu... Bem... — fechou os olhos. — Beijei Benjamin esta manhã. — disse tão rápido, que mal sentiu as palavras saindo da sua boca.

Para sua surpresa, ouviu a risada do seu pai.

— Bem, isso foi uma atitude muito estranha, afinal, estamos falando da filha com mais juízo que possuo. — passou o dedão pela bochecha dela, ficando com a expressão séria. — Porém, devo lhe perguntar uma coisa.

— O que, papai?

Aproximou-se ainda mais, ficando na altura dos olhos dela.

— Como foi o beijo?

— Papai! — sentiu seu rosto ficar quente.

— Não se arrependa do que foi bom, apesar do contexto em que se encontra. — abraçou a filha com carinho. — Eu a amo, estarei aqui para qualquer coisa. Sempre.

— Também o amo, papai.

Quando se soltaram do abraço, Phoebe deu o braço para o pai e começaram a caminhar para dentro de casa.

— Ainda não respondeu minha pergunta. — o duque disse depois de alguns minutos em silêncio.

Phoebe conseguiu dar um sorriso.

— Perfeito, papai.

❀❀❀❀

Tinha achado estranho o convite repentino de John para ir à propriedade dele. Ainda não conhecia o lugar por dentro, mas sempre imaginou que deveria ser bonita e diferente das outras casas seculares, por causa da paixão do visconde por arquitetura. Porém havia se enganado, era igual a todas as outras casas seculares.

Sabia que a viscondessa viúva era contra a modernização da casa, deveria ser esse o motivo de nada ter sido mudado.

Estava sentada em um canapé esperando pelo noivo. O criado havia servido chá com biscoitos, dizendo que ele logo viria.

— Phoebe.

Ouviu a voz de John e sorriu.

— Devo dizer que estou surpresa pelo convite tão repentino.

— Precisamos conversar.

O sorriso morreu no rosto de Phoebe quando percebeu a aparência abatida e séria do visconde. Um pressentimento ruim se apossou do seu corpo.

Alguma coisa estava errada.

Em um impulso, se levantou indo até ele.

— O que está acontecendo, querido?

— Está acontecendo faz algum tempo, mas... — fechou os olhos ao pegar a mão dela. — Não importa o que pensei, porque me iludi ao ponto de achar que estava curado da doença. — puxou Phoebe novamente para o canapé, que estava pálida devido ao choque de ouvir aquelas palavras. — Por favor, meu amor, espero que entenda.

Phoebe reuniu todas as forças para fazer uma pergunta. Não conseguiu, começou a chorar descontroladamente.

— Não meu amor, não chore. — a puxou para um abraço. — Por favor, não consigo vê-la chorar. Phoebe, tenho algum tipo de câncer.

— Como não percebi? — seu corpo tremia. — Como?

— Achei que estava bem, as dores tinham cessado. Consultei um médico, não me resta muito tempo. Então, precisava ser honesto com você, meu amor. — agarrou o rosto dela com as duas mãos. — Seria ruim me casar com você e deixá-la fadada a ser viúva novamente. Porém, estivemos juntos muitas vezes, pode estar esperando um filho meu. Jamais iria me perdoar em deixar seu nome manchado, caso eu morresse.

— O que quer dizer?

— Quero me casar com você em Gretna Green*.

Gretna Green?

— Sim, podemos partir amanhã pela manhã, basta aceitar.

— Aceito.

Phoebe disse sem pensar, porque se pensasse muito, poderia desistir daquela ideia tão inconsequente. Mas John estava doente, eles tinham feito amor muitas vezes, e ela poderia sim estar grávida. Então aquela decisão era a mais acertada.

Que Deus a ajudasse, seria casada por um ferreiro.

❀❀❀❀

Gretna Green: lugar onde as pessoas costumavam fugir para se casar rapidamente.

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