XI

Naquela noite não conseguiu dormir de forma alguma. Rolou de um lado para outro tentando pegar no sono, mas todas as suas tentativas foram inúteis. Não conseguia tirar da sua mente que o jantar de noivado entre Phoebe e John havia acontecido. Mesmo que não fosse surpresa alguma um cortejo terminar daquela forma. Mas ele tinha esperanças de que não fosse para frente.

Maldita ilusão, pensou.

Como conhecia a si mesmo, resolveu não comparecer ao jantar; seria difícil rever John, principalmente na situação em que iam se encontrar. Benjamin era um simples humano, não aguentaria presenciar tudo calado, muito menos desejar felicidades para um casal que ele não queria que se formasse. Seria muita hipocrisia da parte dele.

Sua mãe e Victoria aceitaram o convite com entusiasmo; quando anunciou que permaneceria em casa, a condessa exigiu uma explicação. Não conseguiu escapar das garras da mãe, teve que falar a verdade sobre seus sentimentos em relação a Phoebe.

A mulher ficou com a expressão triste e pegou sua mão.

— Sabe filho, fiquei me perguntando se o olhar que notei naquele dia na casa dela era imaginação minha, agora, sei que estava certa. Se preferir, permaneço com você, peço para Victoria ir em nosso nome.

— Não, a senhora precisa ir com Victoria.

— Está bem. Devo dizer algo a Sra. Harrison?

— Apenas que desejo sua felicidade.

Assim, quando estava próximo do horário do jantar, elas partiram para a propriedade Harrison que ficava a poucos quilômetros dali.

Benjamin sentiu seu coração morrer um pouco.

Estava quebrado.

Passou horas em seu escritório. Pensou que se começasse ler um livro, poderia se distrair com a história, porém, era tão desinteressante o enredo, que se rendeu aos seus pensamentos. Estava obcecado acerca daquele assunto, tinha uma leve convicção disso.

Por isso, tinha resolvido dormir, para tentar esquecer por algumas horas do que estava acontecendo; mesmo correndo o risco de os sonhos serem traiçoeiros com ele.

Ouviu quando sua mãe e sua prima tinham chegado do jantar, e ficou tentado ir ao encontro delas perguntar como tinha sido tudo. Se conteve, porque iria parecer um desesperado. No momento do desjejum abordaria a condessa de perguntas, gostaria de saber as novidades, principalmente como estava Phoebe.

Ao ouvir os primeiros cantos dos pássaros, saiu da sua cama, não tinha razão para permanecer nela se não iria dormir. Sempre acordava cedo de qualquer maneira, a única diferença é que costumava dormir bem.

Fez sua higiene pessoal, arrumou-se e desceu para seu escritório. Pretendia rever os livros de contabilidade — algumas coisas precisavam da sua atenção —, enquanto esperava as mulheres da casa para fazerem o desjejum juntos.

Sua mesa estava uma bagunça da noite anterior; papéis e livros espalhados por toda parte. Sabia que aquilo era o efeito da metade de conhaque que havia tomado, como se a bebida fosse resolver o seu problema.

Enquanto devolvia os livros para a estante, ouviu passos no escritório.

— Milorde.

— Sim?

— A Sra. Harrison deseja falar com o senhor.

Ficou paralisado com o livro a caminho da prateleira.

O que Phoebe estava fazendo tão cedo em sua casa?

— Tem absoluta certeza que ouviu certo? — devolveu o livro a prateleira com rapidez.

— Sim, milorde.

Achou que aquilo era confusão da sua mente por não ter dormido, pois achava muito estranho tê-la tão cedo em sua casa.

— Por favor, traga ela até aqui.

— Mais alguma coisa, milorde?

— Peça para preparar um chá.

O mordomo fez uma mesura e saiu do escritório.

Benjamin mordeu os lábios com força, estava nervoso. Seu corpo estava gritando de alegria porque iria ver aquela mulher. Como poderia se controlar, se tinha passado a noite inteira pensando nela?

O cheiro do seu perfume anunciou que estava ali.

E, quando aquela figura vestida com um vestido azul, cabelos presos e olhos brilhantes, entrou em seu escritório, seu coração ganhou um ritmo desesperado. Tentou pedir calma, mas ele estava em festa por causa dela.

Respirou fundo e foi até Phoebe.

— Estou bastante surpreso com sua visita. Ainda mais tão cedo.

Um pequeno sorriso brotou nos lábios dela.

— Lembrei que o senhor gosta de acordar cedo. — estendeu a mão para que ele a beijasse.

— Senhor? — beijou a mão devagar, para que pudesse aproveitar aquele contato o máximo que pudesse. Afastou-se depois de alguns segundos, encarando aqueles olhos verdes tão vivos. — Pensei que tínhamos estabelecido uma intimidade.

— Não sei se realmente estabelecemos. — seus olhos se tornaram assassinos. — Pensei que éramos amigos, ou algo próximo a isso.

— Por que está tão brava comigo?

— Porque não foi ao meu jantar de noivado!

Benjamin engoliu em seco.

— Perdoe-me.

— Eu sei tudo o que aconteceu com vocês...

— Sabe? — ficou atento, porque ele não tinha dito tudo a ela. John teria falado a história completa? Não achava que ele tivesse sido tão sincero com Phoebe, deveria ter omitido muitas coisas.

— Sei, John me contou tudo. — aproximou-se mais dele, fazendo com que seu corpo ficasse arrepiado. — Entendo que deve ser difícil estar brigado com seu antigo amigo de infância, os motivos são plausíveis, não tiro sua razão. Porém, queria que fosse por mim. Tenho muito afeto por você, gostei tanto das nossas conversas, me fez sentir tão bem. Ontem era uma noite na qual eu queria reunir todos que eu gostava para presenciar um momento novo em minha vida; um recomeço. Fiquei tão triste quando vi sua mãe e sua prima, exceto você. A condessa me deu seu recado, desejou felicidade. A felicidade seria maior se estivesse lá comigo.

Benjamin fechou os olhos para ouvir cada palavra que iria sair daqueles lábios tão lindos. Não esperava tamanha consideração da parte dela por ele, e ficou feliz em saber que era alguém importante na vida dela.

Pegou as duas mãos dela e olhou em seus olhos.

— Doce Phoebe, tenho que dizer o quão John é sortudo por ter alguém tão bela, inteligente, carismática, gentil, adorável, ao lado dele. — passou um dedo pela bochecha dela, que estava ficando vermelha; o que ele achou ainda mais adorável. — Não fui para seu jantar apenas pelo motivo que tem conhecimento, havia outra coisa que me impediu de comparecer.

— Qua-qual seria o outro motivo? — gaguejou um pouco.

Pegou seu rosto com as duas mãos, respirou fundo e a encarou.

— Estou completamente apaixonado por você. Seria insuportável para mim manter a compostura em seu noivado. Sinto muito, Phoebe.

Os olhos dela estavam esbugalhados, processando toda aquela informação.

— Também preciso pedir perdão por outra coisa.

— O quê? — murmurou.

— Por não resistir aos seus lábios.

Benjamin afundou sua mão no cabelo dela e puxou seu corpo gentilmente, preenchendo seus lábios nos lábios de Phoebe.

Para sua maior surpresa, Phoebe não resistiu ao beijo; continuou. Assim como ele, a mão dela entrou em seus cabelos ondulados. Aquele toque fez sua nuca ficar arrepiada, uma sensação maravilhosa.

À medida que se passavam os segundos, os beijos ficavam mais intensos e prazerosos. Parecia que estava sonhando, um sonho do qual não queria acordar tão cedo.

Até que Phoebe se afastou.

— Isso não deveria ter acontecido. — ela parecia estar respirando com dificuldade. — Não, deveria.

— Não, não devíamos ter nos beijado.

— O problema de tudo é que eu gostei, coisa que não deveria acontecer. Esse é o momento em que eu daria dar uma bofetada em seu rosto pelo grande atrevimento de beijar minha boca sem consentimento, e pior, por saber que estou noiva. Benjamin, por que tinha que beijar tão bem? Que absurdo!

Respirou aliviado com aquela fala.

— Pensei que fosse me odiar.

— Acho que deveria ser a coisa certa a se fazer. Mas, não conseguiria odiá-lo. Terei que me afastar de você, infelizmente. Não poderia olhar para seu rosto e não lembrar do que aconteceu aqui. Bem, não é um adeus, mas um até logo bem distante.

— Aceitarei a punição.

— Seja feliz, Ben. Lamento não corresponder seus sentimentos.

Beijou sua bochecha demoradamente e saiu do escritório sem olhar para trás.

E, Benjamin, pela primeira vez em anos, chorou.

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