VI

Fazia muitos anos que Benjamin não se deparava com John Parker. Estudaram juntos em Eton, e posteriormente na universidade de Oxford. Eram amigos inseparáveis, acobertavam um ao outro quando aprontavam, passavam as férias juntos — quinze dias na casa de cada um —, e assim foi por muito tempo. Até que Benjamin se casou, e John se distanciou repentinamente.

Ele nunca tinha entendido muito bem o motivo do seu melhor amigo ter se distanciando de maneira tão abrupta. Pensou em todas as possibilidades, e não chegava em nenhuma conclusão. Até que um certo dia quando tinha brigado com sua esposa, resolveu usar a raiva que estava sentindo, e foi atrás de John para confrontá-lo.

Para sua maior surpresa e decepção, quando chegou na propriedade do seu amigo, foi comunicado que ele tinha partido para a França, aprofundar seus estudos em arquitetura sem lhe dizer absolutamente nada.

Benjamin conheceu a falta de consideração e traição naquele dia. Sentimentos que não desejava que ninguém conhecesse e sentisse.

Depois de alguns meses da partida de John, descobriu que aquela não tinha sido sua única traição com ele.

Um dia, enquanto procurava seu anel com o brasão da família que tinha deixado no quarto de Madison, achou uma carta aberta em uma das gavetas dela; imediatamente reconheceu a caligrafia.

Era a letra de John.

Sabia que não poderia ler a correspondência da sua esposa, mas uma pergunta ficou martelando em sua cabeça: por que Madison e John se correspondiam se nunca foram amigos?

Respirou fundo, mesmo que relutante, começou a ler.

Para seu infortúnio, descobriu que Madison e John eram amantes. Eles o traiam aquele tempo todo debaixo do seu nariz, jamais havia percebido qualquer indício. Então o afastamento de John da sua vida começou a fazer sentido.

Fúria, tristeza e indignação tomaram conta do seu coração.

E nunca mais ele conseguiu ser o mesmo com Madison. Seu casamento transformou-se em um completo fiasco.

Jamais mencionou para ela sobre a carta, até a tuberculose chegar.

Benjamin nunca abandonou sua esposa, se manteve ao seu lado até o último suspiro. Sofreu juntamente com ela, mesmo que tivesse traído ele com seu melhor amigo, era um ser humano que não merecia tamanho sofrimento, e não era da sua natureza desejar mal ao próximo.

Em sua última conversa com Madison, foi sincero sobre tudo. Lágrimas brotaram nos olhos dela, e com muita dificuldade pediu perdão por tudo que tinha feito com ele. Benjamin segurou sua mão e a perdoou do fundo do seu coração, por mais que aquilo ainda doesse dentro dele; levaria algum tempo para esquecer.

Deus em toda sua bondade, não deixou que Madison permanecesse por muito tempo sofrendo, a levou na primeira manhã de primavera, sua estação preferida.

Benjamin escreveu uma carta para John comunicando sobre a morte de Madison. Ele não respondeu, no entanto mandou a viscondessa, sua mãe, levar as flores preferidas da sua esposa para representá-lo.

Estar com John naquele ambiente era muito desagradável e sufocante. Precisava de alguma maneira sair dali sem ser mal-educado com sua anfitriã, que não merecia tal comportamento.

Sentiu a mão de sua mãe sobre seu braço, com um olhar indagador.

— Ben, está se sentindo bem?

— Não muito, mãe.

— O que está acontecendo? — sussurrou.

— Não posso explicar agora. Na verdade, não sei se vou conseguir explicar algum dia.

A condessa assentiu, mas a conhecia bem sua mãe, o bombardearia de perguntas assim que chegasse em casa.

— Milady. — John aproximou-se da condessa e depositou um beijo em sua mão. — A senhora continua tão bela quanto antes.

— Não seja tolo criança. — deu uma pequena risada, adorava receber elogios, principalmente de pessoas mais jovens. — Senti muito sua falta em nossa casa, seus elogios sempre foram os melhores. Acredito que nem meu marido conseguia rebatê-lo a altura. Como foi seus estudos em Paris?

— Bastante proveitoso. — sentou-se em uma cadeira perto de Phoebe. — Farei algumas inovações em minhas propriedades com tudo que aprendi por lá. Estou bastante animado para começar, porém, minha mãe não está aceitando muito bem modernizar a propriedade.

— Sarah é muito ligada aos costumes, querido. Tenho certeza de que conseguirá convencê-la a fazer as reformas necessárias. Se minha memória não estiver falhando, o senhor é muito bom sendo persuasivo.

O visconde deu uma pequena gargalhada.

— A senhora nunca esteve tão certa. No entanto, mamãe sabe ser teimosa.

— Não duvide da sua capacidade. Mas posso enviar uma carta para Sarah, convidando-a para um chá em nossa residência, talvez eu consiga convencê-la. — piscou para ele com um sorriso cúmplice.

Benjamin sabia o quão sua mãe adorava John. Era uma das razões de não ter contado toda a verdade para ela. Sempre que perguntava o motivo do afastamento deles, inventava alguma desculpa esfarrapada. Se sua mãe desconfiava, não sabia. Afinal tinha passado muito tempo viajando, e nada ficava oculto por muito tempo.

— Faria isso por mim, milady?

— Claro!

Phoebe levantou-se, fazendo um gesto com a mão para eles não se levantarem.

— Bethany irá servir o chá. — olhou para Benjamin. — O senhor poderia vir comigo? Gostaria de falar algo em particular.

— Claro, senhora.

Benjamin se levantou e seguiu para a porta, onde Phoebe o esperava.

Esperou que ela passasse, seguindo-a logo em seguida.

— Notei que não estava muito confortável com a presença do visconde.

Permaneceu calado.

— Não gosto que meus convidados fiquem desconfortáveis. Por isso chamei para caminhar um pouco, o que acha?

— Será formidável, Sra. Harrison.

— Ora, achei que tivéssemos passado dessa fase, Benjamin.

Não conseguiu deixar de sorrir.

— Acho que passamos, desculpe-me.

— Apenas não achei muito seguro chamá-lo pelo nome diante de todos. Fora que sua prima, aparentemente não gosta muito de mim.

— Por que Victoria não gostaria de você?

— Também não sei, creio que um dia saberemos.

— Do jeito que ela fala bastante, saberemos sim.

Permaneceram em silêncio até chegarem em uma porta, que dava para o lado de fora.

— Sua mãe não sabe que...

— Sabe que apenas nos distanciamos. Os motivos, acredito, ninguém sabe.

— Mas acho que ela notou seu desconforto, porque começou a conversar com o Sr. Parker para amenizar o clima que iria se formar.

— O clima pesado se formou no mesmo instante em que ele atravessou aquela porta.

— Engraçado, ele não costuma me visitar na quarta-feira, é sempre segunda ou terça.

— Há quanto tempo são amigos?

— Cerca de um ano.

— Conheceu ele aqui em Edimburgo?

— Sim, em um sarau na casa dele.

— Raramente a viscondessa oferece alguma coisa em Edimburgo, sempre é em Londres.

— Oh sim, ela gosta bem mais de lá, deixou bem claro.

— Eu imagino. — deu uma risada. — Creio que se dependesse apenas dela, permaneceria o ano todo por Londres.

— O inverno é horrível, bem melhor ir para o campo.

— O visconde nunca deixou que isso acontecesse.

— Espero que esteja se sentindo melhor.

— Estou, obrigado. Acho que é a segunda vez que salva a minha vida.

Phoebe começou a rir.

E Benjamin estava encantado pela melodiosa risada daquela mulher.

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