IX
Benjamin nunca se arrependeu tanto de não ter seguido o conselho da sua mãe de evitar ouvir uma conversa atrás da porta. Talvez se tivesse ouvido o conselho, naquele momento não estaria tão angustiado e triste. Dois sentimentos que juntos não eram muito bons.
Quando ouviu a viscondessa viúva dizendo para sua mãe que seu antigo amigo havia pedido para cortejar Phoebe, seu mundo virou de cabeça para baixo. Sabia que havia algum interesse na visita de John à casa dela naquele dia, mas não imaginava que ele seria tão rápido.
Não poderia negar que gostava de Phoebe, alguma coisa nela o atraia. Em seus sonhos mais frequentes, aquele cabelo castanho-claro estava em suas mãos, sendo acariciados e beijados. Desejava tanto ter sua pele junta com a dela, nariz com nariz, olho com olho, mas agora aquela possibilidade estava distante.
Respirou fundo e se afastou da sala onde sua mãe estava com a viscondessa.
Gostaria de saber quais eram os planos de Deus em fazer aquilo novamente com eles. Gostar da mesma mulher duas vezes era muito estranho, para não dizer uma completa loucura. Era aterrorizante estar em uma situação semelhante ao passado que tanto queria esquecer, para continuar sua vida em paz.
Como já estava vestido para cavalgar, decidiu partir para o estábulo imediatamente e pedir para selarem um cavalo para ele. Adorava esse tipo de atividade, mesmo que o clima não estivesse muito adequado para isso. Por enquanto, não estava se importando muito com esse detalhe, porque a adrenalina ganharia força em seu corpo fazendo com que sentisse calor ao invés de frio.
— Benjamin, vai cavalgar em um tempo como esse? — a voz de Victoria veio do fundo do corredor, aparentemente não estava fazendo parte do chá, o que fez com que se surpreendesse; ela vinha da biblioteca.
— Sim, caso comece a chover muito forte, retorno para casa imediatamente. — ofereceu um pequeno sorriso para a mulher em sua frente. — Não a convido porque o tempo não está bom, como você mesma disse.
— Certamente eu não aceitaria, pelo medo que tenho de montar um cavalo. — fez uma careta. — Tenho muito medo de cair e morrer, prefiro evitar.
— Está certa, não se deve fazer algo com medo. Não lembrava que tinha medo de montar, muito pelo contrário, era uma exímia amazona.
As bochechas de Victoria ficaram coradas.
— Presenciei um acidente, talvez eu tenha ficado com uma espécie de trauma. E você está sendo gentil, eu não era uma exímia amazona, apenas conseguia me manter bem montada em um cavalo.
Benjamin deu uma pequena risada lembrando da última vez que passou as férias com seus tios. Victoria havia pegado sem permissão no estábulo uma égua que ainda não era para montar, e saiu disparada pela propriedade se exibindo para todos. Ninguém nunca conseguiu compreender o motivo do animal ter sido tão obediente a ela. Lembrou-se perfeitamente da sua tia desmaiando, seu tio praguejando todos os palavrões possíveis e seu primo gargalhando da situação da mãe. E ele, completamente sério, pensando o quão irresponsável aquela menina era.
— Benjamin?
— Estava lembrando daquela vez que pegou Pandora para cavalgar.
Seus olhos ficaram arregalados.
— Santo Deus, eu realmente fiz isso. — colocou a mão na boca. — Quando lembro disso, tento lembrar o que eu tinha em mente.
— Apenas queria atenção dos seus pais. — era tão notável perceber que Victoria se sentia isolada pelos pais. E o rosto dela confirmava tudo. — Perdoe-me se fui grosseiro.
— Não foi grosseiro, apenas verdadeiro.
Benjamin percebeu que em vez de cavalgar, poderia ter uma tarde agradável conversando com sua prima. Muitos anos tinham se passado, gostaria de conhecer a mulher que tinha se tornado. Certamente era muito bonita, mas conhecia tantas que eram bonitas e vazias por dentro.
— Sabe, poderíamos tomar um chá. — sugeriu.
— Não cancele seus planos por minha causa. Deve estar achando que estou chateada com o que acabou de falar, mas não estou. Sempre foi claro para todo mundo que eu queria ao menos a metade da atenção que meus pais davam para meu irmão. Ele cresceu e nem se tornou tudo aquilo que eles esperavam, mesmo assim eu recebo as críticas mais pesadas. Ainda não estou casada, cortejada por poucos homens, e muitos meu pai não aprovou. — suspirou. — Agora eu que peço perdão, de alguma forma precisava desabafar.
— Tem certeza sobre a recusa ao meu convite? — ofereceu o braço para ela.
— Não. — colocou seu braço sobre o dele e entraram em outra sala. — Consegue ser bem persuasivo.
— Não muito, gostaria de ser bem mais. — tocou a campainha dos empregados. — Por que veio para Edimburgo?
— Precisava sair da companhia da minha família.
— Acho que não obteve muito sucesso. — disse ironicamente, pois era seu primo.
Ela revirou os olhos e caminhou até a janela.
— Estou um pouco cansada da Inglaterra. Pensei em tia Lílian, sempre foi a melhor de todas da família. Mamãe me deu um prazo para voltar, ela me fará casar com qualquer homem, nem que seja um que tenha idade para ser meu avô.
Uma criada entrou na sala, e Benjamin pediu para trazer chá e biscoitos.
— Por favor, peçam para fazer uma torta de maçã para o jantar.
— Sim, milorde.
A mulher assentiu, saindo rapidamente da sala para atender ao pedido do conde.
— Acho que tia Ellen está exagerando.
— Sua mãe tentou conversar com ela, convencer de que é uma péssima ideia me casar com alguém muito mais velho. Acha mesmo que a condessa de Wessex desiste das suas decisões? Meu pai é ainda pior.
— Meu pai também não era uma pessoa fácil. Sabe que fui obrigado a me casar, provavelmente.
— Papai mencionou, achou correta a atitude do falecido conde. Claro que ele achou uma ótima atitude, adora quando os pais tomam decisões que eles acham acertadas para os filhos. Não fez isso com meu irmão, porque sempre se confrontaram, e Michael nunca acataria uma ordem como essa. Apesar de ser um libertino assumido, acredita que se casará por amor ou algo parecido.
— Nunca esperei uma atitude dessa vinda de Michael. — estava admirado com o desejo do primo. — Antes de partir para minhas viagens, encontrei com ele perto da minha casa. Estava bastante apressado, confessou-me que iria encontrar alguém por quem estava apaixonado.
— Deveria ser Elisa. — cruzou os braços e se encostou na parede. — Ele ainda está muito apaixonado por ela.
— O que impede deles ficarem juntos?
— O marido dela. — Victoria deu uma risada quando percebeu que Benjamin estava boquiaberto. — Ora, Michael tinha que errar em algum detalhe para deixar meu pai enlouquecido. A sorte dele é que aparentemente o marido dela é bastante velho e vive doente, não vai demorar muito para que ele morra. E meu amado irmão estará de braços abertos para se casar com ela.
— Santo Deus!
Victoria soltou uma pequena gargalhada.
— Precisa se atualizar de tantas coisas, querido.
— Realmente preciso, tudo muda quando estamos longe.
— Sabe, queria perguntar algo a você. — sentou-se em um dos sofás da sala. — Espero que não seja algo muito inconveniente.
Benjamin arqueou a sobrancelha curioso.
— Foi feliz em seu casamento?
Sabia que sua prima era um pouco curiosa, não negaria responder aquela pergunta. Mesmo que não quisesse relembrar o passado naquele momento, alguma coisa fazia com que aquele assunto se repetisse volta e meia. Na verdade, desde o seu retorno, o passado estava assombrando sua vida com mais frequência do que gostaria. Fugir com certeza não era uma opção, teria que enfrentar sempre situações desagradáveis, ninguém era imune a isso, principalmente ele.
Madison e Benjamin sempre seriam um casal considerado trágico e curioso.
— Não, não fui feliz. E nem sei se poderia ter sido, mesmo se continuasse viva.
Um silêncio preencheu a sala, ela parecia ponderar na resposta dele.
Depois, uma criada chegou com a bandeja de chá e biscoitos. Serviu a ambos e se retirou logo depois.
— Pretende se casar novamente?
Queimou os lábios com o chá diante daquela pergunta abrupta.
— Talvez.
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