IV

Arrumou o cabelo em um belo penteado naquela bela manhã, adorava como seu cabelo obedecia rapidamente aos grampos. Estava bastante animada para passear com as crianças e depois cavalgar pelos campos, o clima estava bastante agradável para atividades ao ar livre. Phoebe sentia-se um pouco mais livre de alguma maneira, não saberia explicar.

Ou talvez, sim.

Jurou perante a Deus e a Igreja que o amaria até sua morte. Mas como amar alguém que só lhe maltratava? Esses questionamentos retornavam todos os dias quando pensava em Frederick. Porque ela nunca conseguiu aceitar que um homem tão bom tivesse se tornado um monstro.

Sua irmã, Scarlett, sempre dizia que ele era assim, apenas mostrou as garras depois do casamento e quando seu título de duque de Cambridge estava sendo ameaçado, surtou. E a verdade, por mais dura que fosse, era que Scarlett tinha absoluta razão.

Olhou-se no espelho, enxergando uma Phoebe diferente de anos atrás; não havia mais inocência em seus olhos, e seu rosto tinha envelhecido por causa do sofrimento que escondia da família. Tinha sido tão tola, porque se dissesse ao seu pai tudo o que estava passando, algumas coisas teriam sido evitadas.

Nunca se perdoou por seus filhos presenciarem as cenas de brigas. Todos os palavrões, os gritos, as agressões. Ele nunca pensou nos filhos, nunca.

Respirou fundo antes de se levantar da sua penteadeira e descer para tomar seu desjejum.

— Sra. Harrison, bom dia. — o mordomo deu um pequeno sorriso. — Está um belo dia para cavalgar.

— Pensei o mesmo, Jack. — ela fazia questão de chamar os criados pelos nomes, mesmo que eles não fizessem o mesmo com ela. — Bom dia! Acho que podemos fazer tortas doces para a tarde, o que acha?

— Pretende ir para a cozinha hoje, senhora?

— Pretendo, nunca mais fui me arriscar na cozinha. Espero não colocar fogo na casa.

E os dois começaram a rir.

— Senhora, o desjejum está pronto. — Bethany apareceu com seu sorriso habitual. — Pedi para fazerem seu pão preferido.

— Não acredito! Pão de frutas silvestres? — perguntou animada. — Oh, Bethany! Às vezes, tudo o que uma mulher precisa, é de pães com frutas silvestres!

A aia olhou para ela com carinho e deu um sorriso. Ambas caminharam lado a lado até chegarem na sala de jantar.

Os pães chamaram a atenção de Phoebe imediatamente, antes mesmo de se sentar à mesa, pegou o pão e deu uma mordida com vontade. Logo sua boca foi preenchida por um sabor incrível. Ela nunca conseguia descrever em palavras as sensações de comer aquele pão.

— Está muito bom. — mordeu mais um pedaço.

— Adoro ver a senhora comendo esse pão.

Phoebe engoliu o pedaço de pão que estava em sua boca e olhou para Bethany.

— Por quê? Pareço apenas uma louca comendo.

— Não, parece uma criança feliz por finalmente ter o que tanto queria. Seus olhos brilham, o rosto fica mais relaxado, é como se todas as suas preocupações fossem embora.

Phoebe apoiou o cotovelo na mesa, mesmo sabendo que estava fora das etiquetas; estava em casa, ninguém se importaria de qualquer forma.

— Acha que estou preocupada?

— Quando não está? — Bethany serviu o chá para ela.

Ponderou sobre a pergunta e pegou a xícara em sua frente.

— Acredito que as responsabilidades me seguiram desde criança. — deu uma risada sem graça. — Quando penso que vou fugir, caio em outra responsabilidade. Acho que não tenho salvação. — bebericou o chá. — Acho que terei mais calmaria quando Robert assumir o lugar de papai e Melanie estiver casada. Por enquanto, sigamos assim.

O silêncio ganhou força total quando Phoebe terminou de falar. Bethany fez uma mesura tristonha, saindo da sala de jantar aparentemente decepcionada. Não sabia o que ela poderia esperar, nada se resolvia tão facilmente. Ainda tinha mágoa e tristeza em seu coração. No entanto, ainda tinha esperança.

Esperança de dias melhores, em que seu coração fosse livre novamente, em que sua alma voltasse a brilhar, que seus sorrisos fossem mais frequentes, e pudesse amar novamente.

Sim, ela desejava amar novamente; descobrir como era o verdadeiro amor, coisa que realmente nunca teve, mas achou que um dia tinha encontrado.

Phoebe conhecia o amor quando George olhava para Charlotte com total devoção, ou quando Adam entrelaçava a mão na de Scarlett, mesmo que fosse errado demonstrar tanto afeto na frente de todos. E jamais poderia se esquecer do maior exemplo de amor que teve em sua vida: seus pais.

Desde que tinha deixado o luto, o visconde de Falkland começou a demonstrar certo interesse por ela. Mandava cartas, algumas vezes a visitava, mandava flores todas as quintas-feiras.

Ela gostava de John, era um homem agradável, bonito, olhos redondos azuis que brilhavam quando ria, conseguia falar sobre diversos assuntos, não se importava — pelo menos não aparentava — quando discordava das opiniões dele sobre política ou cultura.

Esperava que os encontros continuassem, para que o cortejo começasse.

Não o amava, nem sentia paixão.

Mas poderia sentir futuramente.

— Bom, espero que tudo ocorra bem.

❀❀❀❀

Uma verdade absoluta que Benjamin conhecia era: nada poderia impedir sua mãe quando ela queria fazer alguma coisa. Reconhecia que era uma pessoa teimosa, mas a condessa superava qualquer pessoa que conhecia. Seu pai dizia que era impossível discutir com ela e ganhar; o conde nunca esteve tão certo.

Benjamin achava muito precipitado fazer uma visita para Phoebe sem avisar. Poderia estar no palácio, ocupada com seus filhos, ou simplesmente sem vontade de receber visitas.

Não houve escapatória, quando percebeu já estava na carruagem com sua mãe e sua prima em direção a casa de Phoebe.

— Como é a Sra. Harrison? — perguntou Victoria assim que a carruagem parou.

— Adorável. — respondeu a condessa com bom humor. — Oh, querido, acha mesmo que ela não está em casa?

— É uma possibilidade, mãe.

— Espero que esteja errado.

— Sim.

E como ele esperava que estivesse errado.

Queria rever os olhos esverdeados, ouvir o som daquela risada, sentir seu perfume adocicado, e beijá-la.

Sim, ele queria beijá-la até fazê-la perder o fôlego. Passar a mão pelas curvas do seu corpo que haviam sido reveladas naquele desjejum, que o levou a sonhar com Phoebe nua em sua cama.

Passou a mão pelo cabelo para tentar dispersar tais pensamentos.

Abriu a porta da carruagem e desceu.

— Benjamin.

Sua mãe estava com a mão estendida para ele ajudá-la a descer.

— Desculpe-me, minha senhora.

— Muito engraçado. — a condessa desceu olhando tudo ao redor. — Um belo lugar. Ajude Victoria também.

— Eu sei, mãe. — revirou os olhos e ajudou Victoria a descer, que lhe ofereceu um sorriso.

Ouviu um relincho de cavalo e olhou para trás.

Lá estava Phoebe parecendo uma amazona em toda sua glória.

— Milorde, milady... — Phoebe olhou para ela tentando reconhecer seu rosto. — Desculpe-me, não reconheço a senhorita ou senhora.

— Sra. Harrison essa é minha sobrinha Victoria, veio passar uma temporada comigo.

— Oh, bem-vinda.

— Usa sempre seu cabelo solto? — Victoria olhou para Phoebe com estranheza.

— Raramente.

— Victoria, que indelicadeza. — a condessa deu uma pequena risada sem graça. — Perdoe-me por isso, querida.

— Sem problemas, imagino que ela é inglesa, bem conheço a moda. Aqui eu posso abusar um pouco da etiqueta senhorita. Bem, estou surpresa e feliz com a visita. Podem ir na frente, levarei o cavalo até o cavalariço e os encontro lá dentro. Tudo bem?

— Certamente. — Benjamin assentiu.

— Obrigada.

Phoebe cavalgou em direção oposta a eles.

— Não nego, ela tem estilo. — sua mãe disse enquanto caminhavam para a casa.

— Achei terrível o cabelo dela estar solto. — Victoria disparou.

Benjamin nada dizia, apenas tinha em sua mente a bela mulher que morava naquela casa.

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