II

O homem que ficou conversando com ela durante a madrugada era muito bonito. Já tinha ouvido falar sobre Benjamin Lawson, mas eram apenas fofocas banais. Ele era bem mais do que tinham falado, era um homem muito interessante, capaz de conversar sobre qualquer assunto. Estava encantada com seu novo vizinho, e muito feliz por ter alguém interessante por perto para conversar.

Apesar de ter escolhido permanecer na Escócia com seus filhos, sentia-se solitária muitas vezes. Algumas vezes visitava Scarlett, mas não gostava de incomodá-la, sabia que a vida de uma rainha era ocupada, fora que sua irmã não tinha apenas o filho que tinha acabado de nascer; tinha os três filhos do marido.

— Senhora, deseja alguma coisa?

Sua aia entrou em seu quarto silenciosamente, como sempre fazia.

— Deveria estar dormindo, Bethany. Não se preocupe comigo, consigo cuidar de mim.

— Tem certeza?

— Absoluta. — deu um sorriso para ela.

— Não me sinto confortável em deixá-la sozinha para se despir e se preparar para dormir.

— Sempre tão preocupada comigo, querida.

— Vou desabotoar seus botões.

— Consigo...

— Deixe-me ajudá-la. Como pode ser tão teimosa?

— Acho que é de família. — deu uma pequena risada, enquanto a aia começava a ajudá-la com o vestido. — Creio que Charlotte seja a mais teimosa.

— A senhora disse que era Sua Majestade Scarlett.

— Está vendo? Não consigo nem me decidir qual das duas é a pior.

— Duas rainhas teimosas. — ouviu a risada da mulher. — Bem, isso é interessante.

— Bastante.

— Será que o conde ficará para desjejum?

— Depende o horário que ele vai acordar, não cheguei a perguntar.

— Creio que se levantará tarde.

— Verdade. — suspirou. — Vontade de fazer o mesmo.

— A senhora pode fazer isso.

— As crianças ficarão alarmadas.

— Ficamos com elas, dizemos que está cansada. Senhora, eu sei que gosta de ser uma mãe presente, mas precisa pensar um pouco em você. Fico muito feliz que tenha deixado o vestido lilás para trás.

— Ao mesmo tempo que eu o amava, eu não o amava, consegue me entender? — virou-se para Bethany assim que ela terminou de desabotoar o vestido. — Amá-lo foi como o início de uma música, calmaria. Então, com o decorrer dessa música, ela foi ficando rápida antes que eu pudesse perceber, e veio o ápice. Mas não um ápice bom, um ápice ruim. Na verdade, acho que não posso compará-lo com uma música. — sua voz saiu fraca quando falou. — A música nunca me fez sofrer, ao contrário dele.

— Gosto quando a senhora toca flauta, parece o som dos pássaros.

— Fazia muito tempo que eu não tocava, acho que Charlotte sempre foi mais ligada a música. Até hoje ela não desgruda do piano, é como se fosse uma parte dela, sem sombra de dúvidas. Inclusive, ela tocou no meu casamento divinamente.

— Imagino.

Phoebe tirou o vestido e entregou para Bethany. Pegou sua camisola que estava em cima de uma poltrona, como sempre deixava todas as noites, e vestiu depressa, precisava dormir imediatamente.

— Agora, Bethany, assim como eu, você também vai dormir. Acho que vou seguir seu conselho, dormirei até o meu corpo dizer que é o suficiente. — bocejou. — Minha cama nunca pareceu tão aconchegante. — tirou a colcha e se deitou. — Ah, que maravilha.

— Acho que sua lareira precisa de mais lenha.

— Não precisa. — Phoebe respondeu sonolenta.

— Precisa sim. — Bethany puxou as cobertas em cima dela. — Não pode pegar nenhum resfriado, é horrível ficar doente.

— Sim, é péssimo. — fechou os olhos sem dificuldade alguma.

Começou a ouvir a voz de Bethany cada vez menos, o sono estava envolvendo-a cada vez mais. Era engraçado, porque não tinha percebido que estava tão cansada e sonolenta. A conversa com o conde de Bunmore estava tão agradável, devia ter sido por isso que não tinha percebido seu cansaço.

E então dormiu tranquilamente.

❀❀❀❀

Esfregou os olhos lentamente para acordar. Espreguiçou-se e bocejou. As cortinas do seu quarto ainda estavam fechadas, aparentemente nenhum empregado tentou acordá-la, e com absoluta certeza Bethany tinha alguma coisa a ver com aquilo. Agradeceu internamente por ela ter feito isso, realmente precisava ter dormido um pouco mais.

Tirou a coberta de cima dela e levantou-se bem-disposta. Começou a abrir as cortinas, e parou para observar como estava o céu; estava nublado. Provavelmente iria chover novamente, o que deixaria o clima ainda mais frio. Afastou-se da janela e vestiu um vestido bem simples para fazer seu desjejum.

Desceu as escadas rapidamente e entrou na sala de jantar.

Então ela viu Benjamin Lawson.

Seu coração acelerou um pouco, ficou feliz que ele tivesse ficado.

— Sr. Lawson.

— Sra. Harrison. — levantou-se. — Desculpe-me abusar da sua hospitalidade, mas acabei excedendo em meu sono. E a Sra. Gibson sabe ser bastante convincente.

— Oh, ela sabe sim. — ficou ruborizada quando percebeu o olhar dele examinando todo seu rosto. — Espero que tenha dormido bem. — sentou-se na cadeira em frente a dele.

— Sim, consigo me adaptar em todas as camas possíveis. — sentou-se depois dela. — No entanto, tive um pesadelo. — sua expressão ficou sombria. — Eles são muito frequentes.

— Pesadelos são sempre ruins. — pegou um pedaço de pão açucarado. — Tive muitos quando minha mãe morreu. Acordava suada e gritando, para depois cair em prantos.

Ele ficou em silêncio, deixando o ar estranho.

Phoebe mordeu o pão fechando os olhos, deliciando cada mordida. Adorava coisas doces.

— Meus pesadelos são com minha esposa.

Ela abriu os olhos e o encarou.

Os olhos azuis estavam focados nela, o que a deixou envergonhada. Limpou os cantos da boca com os dedos e terminou de mastigar o pão.

— É um assunto delicado para o senhor, não precisa falar sobre isso.

— Acho que deixei a senhora constrangida.

— Apenas o silêncio que se formou. — ofereceu um pequeno sorriso para ele.

— Eu gostaria de ser mais aberto com as pessoas, porque isso me sufoca faz tanto tempo. Creio que as cenas dela doente em minha mente...

— Tente lembrar apenas as coisas boas dela.

— Eu gostaria apenas de esquecê-la. — bebeu um pouco do chá da xícara dele.

Aquela fala a espantou, sempre achou que ele fosse completamente apaixonado pela esposa, devido aos boatos. Mas a voz dele carregava um pouco de desprezo e mágoa. Seu rosto também tinha ficado bastante severo, parecia estar pensando em algo bastante aborrecedor.

— Não era feliz ao lado dela? — sua curiosidade a venceu.

— Um pouco. O casamento foi praticamente arranjado entre meu pai e o pai dela.

— Sinto muito, infelizmente é bastante comum. Meu pai sempre foi contra esses casamentos arranjados, para minha sorte.

— Seu pai é admirável.

— Sim, papai é.

Bethany entrou na sala com um sorriso.

— Senhora. — fez uma mesura. — Precisa de alguma coisa?

— Por enquanto não.

— E o senhor? — virou-se para o conde.

— Estou satisfeito, obrigado.

— Vou deixá-los a sós.

— Antes de ir, meus filhos estão na sala de brinquedos?

— Estão, senhora.

— Perguntaram por mim?

— Sim.

— Obrigada.

Bethany saiu e assentiu.

— Vejo que é muito preocupada com seus filhos.

— Sim, eles são minha vida. — respondeu orgulhosamente.

— Admirável.

— Amar meus filhos?

— Cuidar deles tão de perto, normalmente as senhoras deixam tudo aos cuidados de uma babá.

— Realmente, mas estar com eles é melhor do que qualquer outra coisa.

— Está certa, senhora.

— Não estou deixando o senhor comer.

— Benjamin.

— Como? — arqueou a sobrancelha.

— Prefiro que me chame de Benjamin.

— Então, Phoebe.

— Perfeito, Phoebe.

Sorriram juntos e pegaram o mesmo pão açucarado.

— Como anfitriã vou deixá-lo comer.

— Mas, como fica o meu cavalheirismo?

— Vamos esquecer por uns minutos.

Benjamin deu uma pequena gargalhada mordendo o pão.

Phoebe começou a observá-lo melhor. Quando ele sorria, apareciam rugas em seus olhos. O cabelo castanho claro era tão bonito, e sua barba era aparada. O sorriso era encantador, como se fosse capaz de levar alguém para o paraíso.

Tentou deixar aquele pensamento de lado, mas estava se tornando quase impossível com ele encarando de volta daquele jeito tão intimidador.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top