I

Começou a chover fortemente em Edimburgo. Benjamin não esperava que isso fosse acontecer, não tinha percebido o céu nublado. Mas aquelas coisas aconteciam sempre, então resolveu parar de reclamar, e voltou a seguir o seu caminho. Ainda faltava muito para chegar em sua propriedade, precisava achar algum lugar para ficar até a chuva passar.

Avistou a propriedade do Sr. Harrison que tinha falecido há alguns anos. Seu filho havia herdado o local, pediria para ficar lá, tinha certeza de que não lhe seria negado esse favor. Deu impulso em seu cavalo para chegar mais rápido, não aguentava mais ficar exposto a chuva.

Quando chegou na propriedade, amarrou seu cavalo debaixo de uma árvore, assim que fosse possível, pediria para algum dos empregados levá-lo até o estábulo, Hefesto merecia o mesmo conforto que ele.

Correu até a varanda da casa, e bateu na porta com certa urgência. O mordomo abriu a porta e o olhou como se estivesse tentando lembrar dele de algum lugar.

— Boa noite, sou o conde de Bunmore. Estou chegando de viagem agora, poderia pedir ao seu senhor para me deixar passar essa noite aqui, até a chuva passar?

O homem finalmente o reconheceu e relaxou seu rosto.

— Senhor, pode entrar. A Sra. Harrison no momento não se encontra, mas tenho certeza de que não irá se opor em abrigá-lo devido a tempestade.

— Não sabia que Frederick tinha se casado. — lembrou-se de uma carta da mãe dizendo que o senhor e a senhora Harrison haviam morrido.

— Ah, o senhor não sabe. — seu rosto ganhou uma seriedade maior. — Ele faleceu faz alguns meses.

Benjamin ficou assustado com aquela notícia. Frederick ainda era muito jovem para estar morto, mas não se surpreendia com mais nada. Depois que sua esposa havia morrido precocemente, aquelas coisas pareciam mais normais. Sentia pela esposa ter ficado viúva tão jovem.

O mordomo abriu caminho para ele passar. Entrou na sala que estava bastante iluminada, tudo estava quieto. O homem pegou seu casaco, seu chapéu e sua luva. Passou a mão pelo cabelo molhado e respirou fundo.

— Levarei o senhor para a sala branca. Pedirei para servirem um chá para o senhor, a lareira está acesa, poderá se aquecer.

— Obrigado. Poderia pedir mais um favor?

— Claro, senhor.

— Poderia pedir para alguém levar meu cavalo até o estabulo? Não quero deixá-lo debaixo da tempestade.

— Falarei com um dos cavalariços, senhor.

— Mais uma vez, obrigado.

Ele apenas assentiu.

O mordomo o levou até a sala e o deixou sozinho logo em seguida. Benjamin se sentou em uma poltrona em frente a lareira, deixando seu corpo relaxar, como precisava fazia algum tempo. Fechou os olhos e começou a pensar em como sua mãe iria reagir ao vê-lo depois daquele tempo longe. Não tinha comunicado a ela que voltaria, queria fazer uma surpresa a condessa viúva de Bunmore.

Quando ouviu uma voz feminina, pensou ser a empregada que o mordomo tinha dito que serviria o chá para ele. Mas pela empolgação da conversa, não era uma empregada. Então pensou que poderia ser a Sra. Harrison. Levantou-se da poltrona e caminhou em direção das vozes, gostaria de falar com ela para agradecer a hospitalidade.

— Oh, Jack, é um lindo bebê!

— Imagino, senhora.

— Um belo menino!

— Então temos um novo príncipe?

— Sim!

— Como está Sua Majestade?

— Minha irmã está bem. Muito feliz pelo primeiro filho dela. A propósito, como estão os meus filhos?

— Estão dormindo, senhora. Robert demorou a dormir essa noite, disse que estava tendo pesadelos com o pai.

— Oh, meu pobre menino.

Então Benjamin enxergou a mulher perto do mordomo. Seu cabelo castanho claro estava preso em um penteado completamente bagunçado, sua roupa completamente molhada, mas seus olhos brilhavam como uma luz. Sentiu um incômodo, não saberia dizer o que era. Acabou fazendo barulho, o que acabou chamando sua atenção.

— Senhora, eu ia lhe comunicar que o conde de Bunmore pediu abrigo até a tempestade passar.

Ela abriu um pequeno sorriso.

— É um prazer tê-lo em nossa casa. Chamo-me Phoebe Harrison. — ofereceu a mão nua para ele.

— Benjamin Lawson, senhora. — beijou a mão dela.

— Sempre fui curiosa para conhecer o conde de Bunmore. Disseram-me que está viajando por algum tempo. — olhou para Jack antes dele poder respondê-la. — Peça para servir um chá para nós.

— Já pedi, senhora. Pedirei para colocar mais uma xícara.

— Obrigada. — olhou para ele novamente. — Vamos?

— Claro.

A mulher andou em sua frente, parecia estar exausta. Mas, mesmo assim, decidiu fazer companhia a ele e tomar uma xícara de chá. Passou a admirar aquela mulher que pouco conhecia. Deveria ser forte como uma rocha, adorava conhecer pessoas assim, porque queria ser no mínimo metade delas. Quando mais precisou ser forte, fugiu em suas viagens durante anos voltando somente naquele momento porque a mãe tinha implorado.

— Retornando da viagem hoje, senhor?

— Sim, senhora.

— Veio para ficar ou apenas veio passear? — deu um sorriso, pegando uma cadeira para colocar ao lado da poltrona na qual ele estava sentado minutos antes.

— Para ficar. Acho que fiquei muito tempo longe de casa. — deu um sorriso finalmente.

— Conhecer o mundo deve ser algo formidável.

— Muitas coisas diferentes, é uma experiência interessante.

— Acho que devo imaginar. — sentou-se na cadeira, respirou fundo e se abaixou para tirar as botas. — Importa-se?

— Não.

O resto do penteado que ainda restava se desfez completamente assim que ela terminou de tirar as botas e ficou somente com as meias.

— Perdoe-me, acabei ouvindo a sua conversa com o mordomo. O rei se casou novamente?

— Sim, com minha irmã do meio. — sorriu. — A minha irmã mais nova é rainha da Inglaterra.

— Santo Deus! — espantou-se.

— Eu sei, é muito inusitado isso.

— Com certeza. Primeira vez que conheço uma irmã de duas rainhas.

Ela deu uma pequena gargalhada, pendendo o pescoço de lado.

— Muitas coisas aconteceram em Edimburgo durante a sua ausência.

— Minha mãe deve estar ansiosa para me contar. — revirou os olhos.

— Conheci a condessa no casamento da minha irmã, uma pessoa adorável.

— Fico feliz que tenha gostado dela.

— Ela estava reclamando sobre sua ausência. Confessou-me que não se importa com ela. — começou a rir. — Não sei se era apenas drama da parte dela, ou dizia a verdade. Se for tudo verdade, tem sido um filho mau para sua mãe. — sua risada ficou ainda mais melodiosa.

Se fosse outra pessoa, teria se aborrecido com o que tinha acabado de ouvir. Mas, ela tinha falado de maneira tão inocente e risonha, que não conseguiria reagir dessa forma com a Sra. Harrison. Muito pelo contrário, começou a rir junto com ela.

— Sabe que minhas viagens começaram a ser feitas depois da morte da minha mulher?

— Acho que ouvi alguma sobre isso, mas não quis me aprofundar muito no assunto.

— Acho melhor deixar essa conversa para outro dia. — ela concordou com a cabeça. — Vamos voltar a falar do quão minha mãe falou mal de mim.

Phoebe soltou uma outra gargalhada.

— Vejo que foram muitas coisas.

— Oh, sim, foram muitas coisas. — disse entre risos.

A criada entrou dentro da sala e serviu o chá acompanhado de biscoitos. E continuaram a conversar durante o resto da noite. 

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