Capítulo 15
Bai Huowu
Como desconfiava, havia algo errado naquela cidade.
Embora, eu precisasse averiguar mais sobre toda aquela situação bizarra, e também cogitava a existência de outras crianças no estado do pequeno que eu carregava nos braços, ou seja, esquálido, sujo e faminto.
Por Buda Grandioso, o que tinha acontecido?
Chegamos ao muro, não teria como uma criança escalar aquilo. Eu precisava fazer um buraco entre as pedras plumbeas. O coloquei no chão, fiz um sinal para fazer silêncio, espalmei as mãos juntas e evoquei meu martelo de forjar. Menos de 2 segundos se passou e quando separei as mãos o martelo se materializou. Era feito de ferro obsid resistente e poderoso, capaz de potencializar qi e com isso impregnar a lâmina que se está sendo formada. A usei para canalizar energia o bastante e bati contra a pedra. Houve um tremor. Uma rachadura se formou. Pedras desmoronaram. E por fim, um buraco surgiu no muro, era grande o bastante para o garoto passar.
Me virei para ele, o pequeno tinha a boca semi aberta em admiração.
- Você é um cultivador?
- Não, sou algo muito melhor. Um ferreiro. - respondi com as mãos na cintura.
- Uau. Parece incrível.
Ajeitei seus cabelos lisos, os retirando do rosto. O menino tinha olhos brilhantes como dois sóis resplandecentes de admiração.
– Agora, me escute com atenção. Você verá um cavalo baio quando sair, quero que fique perto dele. – retirei a capa e o coloquei em seus ombros estreitos. – Fique seguro, tudo bem? Se eu não voltar ao nascer do sol, quero que suba no cavalo e vá embora. O animal é treinado, vai ajudá-lo a subir em suas costas, depois é só deixá-lo conduzir, o equino sabe o caminho de volta.
– Não volta lá, Bai Huo! Não volta! Vamos embora, por favor! – lágrimas desciam por suas bochechas descarnadas.
– Eu preciso ir.
– Por quê? – o menininho se agarrava a mim, com força. Seus dedos fechados, como algemas em meu pulso esquerdo.
– Se houver como ajudar, não posso virar as costas sem fazer nada. Talvez seja um pouco tolo, mas... Eu realmente preciso ver o que está acontecendo aqui.
O menininho me olhava confuso, eu não esperava que ele entendesse, sendo bem sincero, nem eu entendia a razão de voltar, quando poderia fugir com o garoto e denunciar os estranhos eventos do lugar para uma das torres de vigília dos imortais.
Aiya, Bai Huowu, o que você está fazendo? Você não é um herói. Suspirei.
– Vá. – mais uma vez, acariciei o topo da cabeça do garoto, o qual aos poucos me soltou, olhos cheios de lágrimas, soluços sendo silenciado por sua boca bem fechada.
– Volte rápido. – pediu com a voz tremida.
– Eu prometo. – garanti.
Ele assentiu e eu me levantei. O vi sumindo pela abertura e me virei, encarando a rua de pedra. Bai Huowu, o que você está fazendo?
Assim, avancei.
Verifiquei as ruas da cidade, estavam todas do mesmo jeito. Sapatos abandonados, casas com portas abertas que batiam numa canção sinistra, seguindo a batuta do vento. Havia roupas nos baús e panelas sobre o fogão a lenha, algumas casas tinham até comida no prato, claro que já estavam podres, mas era um sinal.
O que havia acontecido ali, se deu de forma abrupta.
Num momento sentado numa mesa para o almoço, no outro sendo arrastados da moradia.
No entanto, para onde tinham sido levados?
Uma palavra surgiu na minha mente, como um fantasma brota da escuridão, Luxxer. A preciosa pedra tinha surgido e trazido dinheiro e depois, o quê? O local foi fechado por uma Seita de Cultivação... Mas eles nunca machucariam o povo inocente. Eram heróis, seres especiais abençoados com o entendimento das artes marciais, cultivação e toda uma série de conhecimentos ocultos. Não haveria como eles serem os culpados. Não. Devia ter o dedo podre da Seita Demoníaca, assim como tudo de terrível que acontecia no continente Han.
Sim, só pode ser isso.
Resolvi parar de vasculhar as residências e me foquei em rumar em direção a mina. Segui pela rua de pedra até uma estrada de areia, que subia pela encosta. Caminhei em frente, me orientando pela intuição, era quase como se eu sentisse uma força, como um sinal de fumaça, me puxando. Me atraindo.
Subi o aclive e me deparei com uma guarda de homens em roupas prateadas com o símbolo no peito, de uma flor bordada em fios de prata. Ver aquilo foi como levar um soco. Aquele era a insignia da Seita Rosa da Lua.
Eles estão trabalhando com a Seita Demoníaca?
Sacudi a cabeça. Não. Cultivadores são homens honrados.
Não são?
Me empurrei para as sombras das árvores do entorno e os vi passar, era 12 deles. E, decididamente, eram cultivadores e quando havia um, havia muitos outros. Talvez até um pequeno exército estivesse patrulhando os arredores da mina.
Ótimo.
Se eu quiser invadir, tenho que criar uma distração. Mas o que eu poderia fazer? Então lembrei de dois segredinhos que poderiam me ajudar. Abri meu qiankun e retirei meus autômatos, eram dois leões de bronze. Os forjei quando Shifu Yin passou um mês "sumido" (na verdade, ele estava num bordel e havia deixado uma criança de 13 anos sem nenhuma vigilância), eu estava entediado, então cogitei possibilidades.
O ferro, quando fundido, formava um líquido escuro, que poderia virar qualquer coisa. Sendo assim, cheguei a assombrosa conclusão, que o que limita a criação é a barreira de sua imaginação e foi dessa forma, que os autômatos nasceram.
De qualquer forma, influi energia em corrente, a qual inundou os filamentos de ouro que seguiam por seu interior, servindo como veias. Ambos estremeceram e esquentaram, em seguida abriram os olhos e se espreguiçaram, como gatinhos gigantes sonolentos.
– Olá, meus bebês.
Eles ronronaram – ou quase isso, era um ruído metálico estranho, que interpretei como um ronronar – enquanto se esfregavam em minhas pernas.
– Eu também amo vocês, mas preciso que me ajudem.
Os leões pararam, em perfeita sincronia, e me encararam, seus olhos dourados fixos em mim. Aguardando.
– Leve todos os cultivadores para longe!
Eles assentiram, eram autômatos espertos, afaguei suas cabeças rígidas e frias, como um pai orgulhoso.
– Vão!
O par de leões de bronze se mexeram, eram ágeis. Ambos subiram o aclive, ouvi seus rugidos e um som de gritos.
– Invasores!!
Espadas foram desembainhadas, elas não seriam páreas para a camada de fuhjin, que revestia o bronze, nem para o fogo que eles cospem, mas isso os pobres cultivadores descobririam depois, bem depois. Com um meio sorriso de satisfação, esperei para me imiscuir na mina.
Quando me senti mais confiante, me levantei do meu esconderijo e segui pela estrada de areia. Ventos frios uivavam aos meus ouvidos, como uma matilha de lobos. Eu estremecia, agora, sem a capa, o ar gélido perfurava a carne e fazia meus ossos congelarem. Meus dentes batiam, mas avancei, alcançando a entrada da mina, movido puramente a teimosia.
Barulho de picaretas contra as rochas, me faziam as saudações de "boas-vindas". Caminhei, descendo pelo corredor até alcançar a caverna central, seguindo a direção da zoada.
Estagnei.
Pequenas formas golpeavam, com seus alviões, às pedras.
Formas volumosas, sacudiam chicotes no ar.
Os trabalhadores, cansados, continuavam entre lamentos de dor, enquanto o flagelo descia em suas costas.
Corpos esquálidos e empoeirados.
Um deles ergueu o olhar para mim.
Era uma criança! Eram crianças que trabalhavam entre chicotadas! Pelos sete céus!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top