Capítulo 14
Bai Huowu
Não dormi a noite, listando minérios e os riscando, tentando espremer uma ideia para complementar a lâmina divina e torná-la mais estável. Além disso, não podia ser qualquer material, tinha que ser leve, mas potente; forte, mas estável. Porém, o quê poderia ser?
Comecei a bater minha cabeça contra o tampo da mesa.
– Saia ideia! Saia!
E houve um lampejo em minha mente, como a luz de um relâmpago devassando a noite, era um feixe brilhante quase cegante. Luxxer! Era perfeito, traria força, elegância e transformaria a liga em uma verdadeira obra-prima, digna de ser empunhada por Liu YuanQi.
– Pelos sete céus, é isso!
Catei minha capa e joguei as peças de roupa na minha bolsa qiankun de armazenamento – eu tinha gastado uma larga soma naquela bolsinha diminuta, que cabia na palma da mão, mas esta valia cada centavo, afinal esta possuía uma dimensão interna imensa (poderia guardar toda a forja ali dentro, seu eu quisesse) e não pesava nada. Dentro dela, eu também mantinha oculto certos 'segredinhos', que meu mestre nem imaginava, mesmo em seus sonhos mais audaciosos.
Acelerei para a porta de saída da forja, eu estava dormindo no lugar, num quartinho em anexo. Abri a porta, a luz quase me cegou. Quando amanheceu? Quem se importa?! Fechei a porta atrás de mim, a trancando. Minha mente cogitava alugar um cavalo. Eu já fazia as contas de quanto isso custaria, somava com as despesas em itens para a viagem. Em síntese, fazia uma lista e calculava quanto de ouro seria necessário.
No momento que me virei distraído, trombei com meu mestre, Fei Ying.
– Vejo que acordou. – comentou em seu tom arrastado e azedo de sempre.
– Sim, Mestre. – o saudei. – A que devo a visita?
– Teve algum avanço?
Por que ele queria tanto saber? Isso estava começando a me incomodar, mas deixei de neuras, era apenas um velhote ganancioso, não era uma ameaça.
– Vou à cidade obter um minério.
– Qual seria? Qual as proporções para a liga metálica divina? Já alcançou algum avanço? Talvez se eu desse uma olhada em sua caderneta poderia ajudá-lo.
Com certeza, ele estava estranho, já que o velho nunca ofereceu ajuda depois que comecei a forjar, eu descobri praticamente tudo sozinho. Franzi o cenho. Que esquisito...
– Não. Posso resolver sozinho. Com sua licença.
Me curvei em respeito e me afastei. Ainda precisava arrendar um cavalo e ir para a tal cidade ao norte. Pois uma pedra tão rara, eu só obteria num leilão ou direto da fonte, depois de uma boa barganha, é claro. Por isso, iria direto para a mina de Luxxer.

Os dias passaram como borrões. 1. 5. 10. Formaram 20 dias de viagem. A paisagem tinha mudado de um floresta de bambus para dunas infindas de areia avermelhada, era o deserto escarlate, conhecido por suas areias cor de sangue e pelas lendas de que ali fora o campo de batalha entre os deuses e os espectros, local em que a espada das trevas fora separada de seu dono e devidamente presa em um lugar desconhecido.
Certo arrepio passava pelo meu corpo, talvez o excesso de imaginação fizesse o som dos ventos escaldantes soarem como sussurros de almas desesperadas, desencarnadas após a guerra. Eu tentava não pensar muito nisso e focava no que vim fazer: arranjar o Luxxer.
Minha capa drapejava com a brisa, suor porejava pela minha testa. Eu sentia meu corpo preguento e recoberto por uma fina camada de areia. Isso me incomodava. No horizonte se delineava a cidade de nome Jhakar. A qual se tornou rica, após o descobrimento da pedra rara.
Claro, que eu não iria para um lugar sem saber o que me esperava lá, por isso fiz uma sondagem. A tal cidade, antes aberto para caravanas de negociantes, estava fechado desde da chegada dos imortais, e o comércio das pedras recém-descobertas, subitamente cessou. O que era um fato estranho. Normalmente, o local estaria repleto de mercadores e de um público seleto de nobres, que com certeza desejariam a posse de algo tão incomum e poderoso.
De qualquer forma, sempre haveria meios para quem não tinha medo de gastar um pouco e esse não era o meu receio. Os muros da cidade ficaram maiores e quando os alcancei já era noite. Aproveitando o esconderijo que a escuridão trazia, comecei a rondar o lugar, procurando alguma passagem ou alguém disposto a receber um extra pela minha entrada. No entanto, não achei ninguém, além de uma redoma de energia, como uma cúpula sobre a cidade.
Por que colocariam uma cúpula ali? Isso gastava muito qi, até para um imortal seria um gasto desnecessário.
Tem algo errado.
Minha intuição dizia que eu deveria me afastar dali, mas minha teimosia insistia na busca. Era como uma necessidade viceral, eu precisava entrar, precisava do Luxxer das minas. Não podia falhar ao forjar a espada divina. Era a única coisa que eu me agarrava na vida, meu único sonho...
Forjar um espada divina me faria útil e me transmutaria de um objeto que tem dono, para alguém. Eu viraria uma pessoa assim que a espada fosse forjada. E depois haveria liberdade. Liberdade real, sem precisar me explicar para o Mestre Fei Yin, apenas eu na estrada, sem nada para me preocupar. Sim, liberdade parecia bom.
Outro pensamento se infiltrou em minha mente, a conversa com A Madame retornou "As minas do oeste podem ter secado, mas foi encontrada uma ao norte. É bem recente. Vá, pequeno ferreiro e veja a verdade por si." Verdade? O que haveria além dessa cúpula? O que a líder da Seita demoníaca queria que eu visse?
Tragado por minha insistência, curiosidade e pelo desejo de ser livre, me vi invocando minha adaga semi-divina. Sua lâmina perolada, cintilava como um brilho lunar na noite escura. Apertei seu punho e me virei para a cúpula. Era possível cortá-la, mas assim que fizesse isso, quem a materializou sentiria o buraco feito e viria atrás de mim. Talvez eu tivesse de 15 a 30 minutos de vantagem.
Respirei fundo e comecei a cortar a cúpula, foi relativamente fácil, o material desmanchou em contato com a lâmina, uma fenda foi feita e eu entrei. Agora, diante do muro, fiz um aquecimento, e me coloquei a escalar as pedras. Alcancei o topo sem muito esforço e desci com tranquilidade. Pronto, estava do outro lado, assim puxei o capuz sobre a cabeça e segui pelas ruas sem iluminação. Haviam casas e casas abandonadas, as portas e as janelas abertas batiam sempre que uma lufada de vento passava. O que teria acontecido ali? Parecia que as pessoas tinham fugido do lugar às pressas. Me abaixei para pegar uma boneca de pano largada, a frente havia sapatos, que também tinham sido abandonados.
O que aconteceu aqui?
Será que alguém os arrastou? Mas para quê e para onde?
Sacudi a cabeça e guardei a boneca no cinto, puxando o manto para mais perto do corpo, tentei suportar o frio. Aquele clima era louco demais, de dia um calor escaldante, de noite um frio congelante. Sinceramente, viu?!
Um mal-estar se espalhava pela minha barriga, a revirando. Eu começava a desconfiar o que poderia ter acontecido, mas me negava a crer.
Continuei seguindo em frente, me escondendo nas sombras, cuidadoso, sempre vigilante. Ouvi movimentações e adentrei uma casa, me encostando contra a parede.
– Procurem, ele não deve ter ido longe.
Estavam à minha procura? Já?! E os meus 15 minutos de vantagem?
Vi os dois homens correndo, vasculhando as casas, foi quando ouvi um choro. Choro? O que pelos sete céus? Apurei os ouvidos e para o meu azar vinha de dentro da casa em que eu estava, e uma coisa era certa, se eu ouvia, os cultivadores também ouviam. Aya!
Avancei pela sala, eu não tinha uma visão noturna tão boa assim, então não foi surpresa quando chutei uma mesa, me curvei de dor, lágrimas se acumularam nos cantos dos meus olhos. Pelo grandioso Buda! O pranto cessou de imediato, um pouco mais a frente uma vozinha se elevou:
- Tem alguém aí?
Era uma criança?
– Eu. Quer dizer, sou Bai HuoWu.
– Eu não vou voltar para lá. Eu não quero. – o pequeno voltou a chorar, seu corpo miúdo tremendo, de medo, de frio, de fome? Não sabia ao certo, mas tirei um pouco de pão da minha bolsa qiankun e o ofertei. Eu já estive num situação parecida, já fui pequeno e tive medo, desespero, fome e frio e ninguém tinha me ajudado ou me salvado. No entanto, eu cresci, e o salvaria se pudesse.
- Calma, eu não vou te machucar.
Ele me encarou com temor, mas a fome foi mais forte que seu cuidado e rapidamente, pegou o alimento e o devorou. Me sentei ao seu lado.
– Quer mais pão?
Ele assentiu, o entreguei mais um pedaço e depois lhe ofertei água. Ele era um menino mirrado, de não mais que 4 ou 5 anos.
– Onde estão seus pais?
O menino não respondeu.
– Qual o seu nome? – mais silêncio, assenti e respirei profundamente. – Sou Bai Huowu, como disse antes, vim da Vila Cristal, sabe onde fica?
Ele me olhou com curiosidade e por fim negou com a cabeça.
– Fica bem longe. - eu dei um sorriso e depois um suspiro. - Eu vou cuidar de você, fique tranquilo, tudo bem? Ou eles podem acabar no ouvindo.
Ele assentiu e se manteve em silêncio, apenas o som da sua respiração cortava a quietude.
- Eu estou com medo.
- Eu sei, vai tudo ficar bem. - respirei fundo. - E os seus pais?
– Os adultos, foram levados... – o pequeno soluçou, o abracei desajeitadamente e o consolei, dando suaves batidas em suas costas.
– Está tudo bem. – era uma mentira automática que saia dos meus lábios, uma que eu torcia para que lhe desse conforto.

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