Capítulo 12

Liu YuanQi

Havia verdades e mentiras misturadas, como claridade e trevas numa noite de lua cheia. Assim é a vida, ao menos, assim sempre foi a minha vida. Olhar para o passado era devassar uma escuridão quase infinda, era como encarar um precipício e eu tinha medo, tinha medo de cair de novo, de me envolver com aquele que fui antes e com todas crueldade e maldade que fiz. Eu fiz muitas coisas, tinha muitos esqueletos em tumbas profundas da minha mente. No entanto, se era necessário abri cada cova para tê-lo, para fazê-lo ficar, eu o faria sem pensar duas vezes.

Minhas mãos apertaram as suas, a palma dele era quente e reconfortante. Meu ferreiro. Agora, meu dragão. Seu rosto e essência continuavam igual. Respirei fundo, organizando em minha mente o que seria revelado e o que se manteria no escuro. Ele não podia saber tudo, não, ainda não. Ou ele fugiria. Eu não vou perdê-lo de novo.

- Sou uma impossibilidade. Antes dos deuses caírem em seu sono profundo, amores impossíveis foram vividos, promessas foram feitas e nunca compridas e com elas vieram as primeiras maldições. Minha mãe tinha uma dessas. Meus antepassados maternos tiveram uma ligação com o Segundo deus, do segundo céu: Meytrin, senhor de toda beleza. Ele se encantou pela família Kang e tomou uma das mulheres da família como amante. De casos de romance em noite escuras, vieram filhos e assim, as gerações se passaram, o sangue se misturou e diluiu. Embora, a chama divina nunca se arrefeceu. A Beleza ainda era uma maldição a ser carregada. Embora ser a família mais bela e poderosa do continente Han, não fosse a melhor das ideias. Já que alguém sempre almeja a posição dos poderosos e o que é belo, sempre será invejado. Com as tramas certas, todos os Kang foram acusados de traição e foram degolados, por sorte ou azar, minha mãe sobreviveu. Ela se virou como pode, era talentosa e passou a fazer parte de um bordel, apenas dançando e cantando, até conhecer meu pai. Ele a visitava, noites e noites. Em algum momento, se entregaram a paixão, mas no dia em que fui concebido, não foi meu pai que adentrou o quarto. Dizem que os deuses dormem, mas os demônios permanecem muito bem acordados. Uma noite de paixão e as consequências foram terríveis.

Minha boca se fechou. As palavras arranhavam na garganta para sair, engoli em seco. Contar a verdade e me ver desnudo em sua frente era mais assustador que ter o hanfu aberto e ter sido tocado pelo meu dragão. Não obstante, ele precisava saber, entender exatamente em que estava se metendo.

- E uma impossibilidade nasceu. Eu. Meu pai tentou se livrar da minha mãe, estava com receio do que aquilo poderia simbolizar, embora muitos são aqueles que dizem que não existiu demônio e sim, um homem covarde que não queria levar uma puta para a família Liu. Não queria manchar sua honra. Posso dizer com certeza, que os dois estão certos. Eu não sou totalmente humano. Sem um sangue incomum, as provações teriam me matado. - dei uma risada, um tanto desdenhosa. - Isso meio que justifica o que aconteceu depois, a morte da minha mãe apedrejada, os maus-tratos da minha avô e pai, acho que mereci, por ter nascido conspurcado. Podre. Eu fiz muita coisa ruim, com muita gente. Posso listar em ordem alfabética se quiser ou cronológica. Você pode escolher sair por aquela porta e nunca olhar para mim, que está tudo bem. Eu.

Ele me beijou, foi um suave encostar de lábios. Embora tenha sido suficiente para lavar toda autocomiseração.

- Não vou fugir. Todos temos um passado e você não vai ser o único e nem o último a ter feito muitas escolhas ruins. Eu fiz um monte delas.

- Eu matei meu pai e cada um naquela casa maldita. Comecei guerras, muitas delas. E eu acolhi aquele que o matou. Eu adotei Fei Yin, é culpa minha que.

- A culpa das ações de Fei Yin, nunca se albergaram em seus ombros. - ele me interrompeu para em seguida me beijar, foi um pouco mais demorado, sua língua brincava em minha boca o suficiente para me deixar aéreo e desejoso por mais. 

O mundo se silenciou. As estrelas no céu testemunhavam o amor que se acendia como a luz mais brilhante no universo. Aquele humilde universo formado de nós dois.

Só havia eu e ele. E só isso importava.

A noite era como uma venda escura, principalmente pela ausência do luar, já que a lua estava em sua fase minguante. O brilho das estrelas eram ocultas pelas nuvens pesadas, havia uma promessa de chuva pesada no ar. Galhos de salgueiros-chorões eram balançadas, copas se curvando ante o vento frio e impiedoso.

Eu estava à beira do rio, meu banho finalizado.

Sabia que Lei LongWei estava dormindo agora, toquei meus lábios. Ainda podia sentir o calor dos seus beijos. Fechei os olhos revivendo cada troca de carícias e sorrisos. Eu sabia que havia mais, porém ainda não me sentia pronto para os próximos passos. Tal precisasse de uma leitura instrutiva. Cogitar comprar livros eróticos, nunca me pareceu tão certo.

Senti a aproximação de Sênior Guan. Ele parou a poucos passos de mim. Minhas considerações foram deixadas de lado e prestei atenção nas palavras que viriam.

- As movimentações dos aliados já estão em andamento. - começou o sênior Guan.

- Todas as Seitas virão? - indaguei para o sênior Guan.

- Não, nenhuma delas deseja arriscar. - ele me respondeu.

Assenti com a cabeça, fazia sentido. Afinal que Seita se lançaria contra o Grande Ancestral.

- E a tropa imperial?

- Está longe ainda. As tropas pararam de marchar na planície do lago cristal.

Em outras palavras, eles não virão. Mesmo com o apoio do esposo do Imperador, é perigoso demais se lançar contra alguém tão poderoso como Pei FuXian. Não, todos vão se sentar e esperar, como covardes, enquanto observam a luta e  aguardam o vencedor, para que se aliem a quem ganhar. Sorri com desdenho, bem, parecia a mesma estratégia usada durante a extirpação dos dragões.

- Entendo. Tiveram alguma informação sobre o Ancestral? - me voltei para o espião que há pouco tinha surgido de entre a mata, esperando na penumbra sua vez de narrar os fatos descobertos.

- Ele se instalou na rede de túneis das montanhas e está recebendo mais ajuda de outras seitas de cultivação, além de alguns mercenários. - falou o número 14, ele usava uma máscara de madeira à semelhança de um tigre azul sobre o rosto.

- E quanto aos dragões? - minha atenção se fixou em sênior Guan, que deu um suspiro pesado.

- Os cultivadores demoníacos foram mortos ou capturados, infelizmente não agimos rápido o suficiente. Sinto muito, Élder.

- Entendo. -- Meus olhos focaram o chão, LeiLongWei ficaria arrasado quando soubesse. -- Os capturados foram mortos em seguida?

- Não, estão vivos e reunidos numa cela bem no meio da instalação. - quem me respondeu foi o número 14.

- Uma isca. - deduzi, a preocupação rompeu minha concentração.

Se Lei LongWei soubesse que seus soldados estavam vivos, ele iria tentar salvá-los, nem que fosse a custo da própria vida e isso não pode acontecer. Não posso perdê-lo uma segunda vez. Vou mantê-lo no escuro por mais algum tempo.

Me perdoe, meu dragão, mas eu irei mentir para você.

- Devo ressaltar. - começou o espião reconquistando a minha atenção. - Que o Ancestral mostra sinais claros de loucura.

- Sinais, como?

- Ele tem delírios acentuados, que assustam aos cultivadores sob seu serviço. -- iniciou o espião.

- Seria a consciência culpada cobrando seu preço? - murmurei.

- Seja o que for, ele está instável e não conseguiria manobrar os cultivadores sozinho. -- terminou o número 14.

Minhas mãos se apertaram, meus pensamentos correram, há tempos cogito a hipótese de um comparsa agindo no escuro e manobrando o próprio Ancestral, mas quem poderia ser? Havia uma gama de possibilidades, tanto entre os próprios cultivadores, quanto entre os nobres e até mesmo traições, pois a sedução da imortalidade é certamente fatal aos humanos que tanto temem a morte.

- Entendo. Observe a situação dos reféns de perto, os proteja e promova uma fuga assim que a oportunidade surgir.

- Teria que ser uma grande oportunidade, ou não conseguiremos uma fuga efetiva. - pontuou o espião.

- Eu sei, precisamos de uma boa distração.

- Élder, já tem alguma ideia? - inquiriu Sênior Guan me encarando em expectativa.

- Ainda não, mas algo logo surgirá. Mantenham todos alerta, um confronto é inevitável e não podemos cair até a ajuda do imperador chegar. - avisei.

- Sim, Élder.

- Sim, Mestre.

Assim, o espião se curvou em respeito e sumiu nas dobras obscuras da noite. Seus passos não eram mais ouvidos, era como se fosse um perfeito fantasma. Sênior Guan também se foi e eu fiquei ali, meditando sobre minhas próximas ações.

VOLTEI!!!!!!

Enfim, estava meio sem inspiração e muito, muito ocupada. Mas, as férias vieram para me salvar e aqui estou, com esses dois capítulos. Como é possível sentir, o livro está seguindo para a reta final, muitas surpresas virão!

Eu tentei uma coisa erótica, mas eu sou péssima nisso, então apaguei. Talvez em outro livro. Dar de ombros.

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