Capítulo 10
Bai Huowu
Voltei minha atenção para o forno. Não houve nenhuma explosão ou estalo. Isso é um bom sinal. Ansioso, coloquei o molde da espada na posição, trouxe o balde de água para mais perto. Depois me virei para o forno, já com as luvas reforçadas, retirei o recipiente de fundição com auxílio da pinça, e lá estava o líquido acinzentado, que emitia uma sutil energia. Contudo, conseguia ser mais potente do que tudo que eu já fizera antes.
Analisei a quantidade, era pouca demais para fazer uma espada, ao contrário dos meus cálculos a substância perdeu em volume. De qualquer foma era apenas um protótipo, eu nem sabia se dessa vez daria certo. Peguei um molde de adaga, despejei a liga no molde, agreguei meu qi. A energia azul ondulou saindo de mim e sendo direcionada para o metal fundido, fazendo com que a liga esfriasse mais rápido.
Com as duas mãos espalmadas, uma sobre a outra, me concentrei em invocar meu martelo. Separei as mãos. Houve um brilho e o instrumento se materializou, era feito de ferro negro, sem adornos, mas carregava em si todo o influxo de energia cultivado durante 10 anos. E assim, comecei a martelar a lâmina, essa esquentava devido ao qi que eu infundia. Coloquei na água por um tempo e voltei a martelar.
A tarde se tornou noite. Eu só parava meu trabalho para comer, como ferreiro devidamente treinado, eu poderia passar dois dias ininterruptos sem dormir e sem qualquer pausa para descanso, tudo para terminar o trabalho no prazo mais curto, mas ainda com qualidade.
De qualquer forma, a adaga estava pronta por volta da meia-noite, suor porejava pela minha testa e dorso, foi um dia cansativo. No entanto, ainda não havia acabado, tirei o avental de Mefoi, o qual protegia das irradiações do metal que poderiam ser tóxicas ao corpo se exposto por longos períodos. O coloquei no gancho e ainda de costas falei em voz alta:
– Quando exatamente vai sair das sombras para me cumprimentar? Estou começando a ficar encabulado. Talvez eu comece a corar.
Eu sabia que ele estava ali, sua energia poderosa de imortal era indisfarçável. Cruzei os braços e me apoiei contra a minha mesa de trabalho, a qual estava devidamente limpa e organizada, como costumo fazer no fim do serviço.
– Não queria atrapalhar.
– Uma beldade nunca atrapalha, na verdade, costuma revigorar as forças.
Liu YuanQi manteve seu rosto inexpressivo, pelo visto retornou ao comportamento "lago congelado". Fascinante. Ele usava um hanfu num tom mais escuro de verde, seus cabelos longos estavam ordenados e caiam como piche por seus ombros. Talvez algo em suas bochechas altas ou no sinal perto de sua boca, me fez estremecer e pensar em um milhão de formas de provocá-lo.
– Elogios são palavras vazias. – replicou se aproximando.
Seus olhos avelã, estavam fixos nos meus. Quando ele se aproximou, sua atenção se firmou na adaga no interior da caixa.
– Vejo que teve sucesso, mas achei que me faria uma espada. – um sobrancelha reta e elegante foi erguida.
– E farei, é apenas um protótipo, mas é ferro divino, sem dúvida.
– Posso?
O encarei, sentindo meu coração bater forte contra a caixa torácica.
– Claro, tudo aqui é seu, até eu se quiser. – fechei a boca, o que diabos estava dando em mim? E, porque eu estava falando tudo que vinha a mente sem nenhum filtro?! Eu não costumo ser tão descarado assim!!!
Ele pareceu abismado, o lago congelado foi trincado e eu vi o começo de um rubor.
– Atrevido! Sou um imortal, deveria ter mais cuidado com suas palavras! – ele soava atônito e isso me divertiu.
– Eu deveria ter mais cuidado com muitas coisas, mas sou do tipo que prefere ver tudo pegando fogo. – dei de ombros.
O imortal me ignorou e tomou a adaga, seu fio reluzente se tornou brilhante com a concentração do poder que Liu Yuanqi fazia permeá-la. Seus cabelos escuros ondulando, sua face de beleza incomensurável cintilando, como uma estrela, havia admiração preenchendo seus olhos claros.
– Nunca vi nada igual. Um verdadeiro amplificador, um dos mais potentes que já tive contato. E é tão leve.
– E afiada, aqui. Tente cortar essa barra de ferro negro. – apontei para o metal escuro, o qual era conhecido por seu alto grau de dureza.
Liu YuanQi desferiu um golpe, a lâmina da adaga cortou o ferro como uma faca cortando manteiga. Vi suas sobrancelhas se erguendo em surpresa.
– Poderia partir uma espada semi-divina ao meio? – perguntou boquiaberto.
– Hipoteticamente, sim. Embora ainda seja imperfeito. – me aproximei, nossos corpos lado a lado. – Ver a ranhura aqui. – minha voz saiu baixa. – É uma fragilidade na liga, ainda precisa de um quarto elemento para fortalecê-la.
– Entendo. E o que fará? – ele me encarou, curioso.
– Ainda não sei. É uma liga divina, mas imperfeita e um pouco desajeitada para as mãos de um imortal tão elegante. – comentei, ainda me aproveitando da proximidade para encostar meu braço ao seu.
– Não precisa continuar me provando ser um corta-manga, Bai HuoWu. – ele se afastou, seu rosto carregado de seriedade.
– Eu não estou provando nada, estou dizendo fatos. – repliquei, dando meu melhor sorriso.
– Pois os guarde para si. – ele me encarou com um tom sombrio em sua feição.– A coisa que mais detesto é ser lembrado de minha maldição.
– Maldição, a que se refere? - indaguei, confuso.
– Eu poderia levar a adaga? – ele mudou de assunto.
– Se é do seu gosto, leve-a. – falei querendo agradá-lo. – A caixa da adaga e a bainha, posso fazê-lo se desejar. Estaria pronta em três dias.
– Eu ficaria agradecido. – ele colocou a adaga na caixa simples e a fechou. – Nos veremos em três dias.
Ele me saudou educadamente e se afastou. Então parou no meio do caminho, ainda de costas, comentou:
– Entre a luz que ilumina seu sorriso como o sol e a tempestade que se forma em seus olhos, qual seria o real?
– O quê? – perguntei, sentindo o sorriso em meu rosto evaporar.
– Seus sentimentos reais, são o sorriso em seus lábios ou a tristeza em seus olhos?
Pisquei. Senti meus músculos tensos. Ele viu além do meu escudo. Ele viu, mas como? Nervosismo e medo foi impulsionado pelas minhas veias. Não podia acontecer. Eu me senti desprotegido e exposto ao ar gélido de uma manhã invernal. Então, o imortal se virou, seus olhos intensos se focaram em meu rosto. Minha agitação morreu.
– Seja o que for, que seja honesto, sobre o que sente. Se deseja chorar, chore. Se deseja sorrir, sorria. Prender emoções, desequilibra os meridianos e pode acarretar num desvio de qi.
O imortal voltou a se direcionar para porta e sem barulho, a abriu e a fechou. Minhas emoções estavam agitadas, mas uma lágrima deslizou por minha bochecha. Com isso, senti cada grama de tristeza e deixei que o choro irrompesse a casca que criei. Eu precisava deixar que as emoções fluíssem e no final, quando os soluços vieram e o pranto secou, eu estava melhor. Muito melhor.
Notas:
Desvio de qi: quando a energia interna se desequilibra e gera uma espécie de parada cardíaca, é 100% fatal.
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