Os Quatro Cavaleiros

Os quatro feéricos tentavam se recompor do perigo iminente que quase os vencera. Greta, ainda em choque, não sabia ao certo como conseguira desacelerar o tempo — mas, lá no fundo, sempre soubera que tinha essa capacidade. Se pudesse acelerar o crescimento das plantações e a fertilidade da terra, talvez o mesmo fosse possível com o tempo. E, para sua surpresa, havia funcionado!

Aos poucos, o som da floresta começou a preencher o silêncio que antes envolvia o lugar. Greta olhava ao redor, maravilhada; a névoa e a escuridão haviam escondido uma floresta magnífica, repleta de plantas e árvores de espécies diversas, que agora revelavam sua beleza vibrante.

Depois de livrarem a floresta das sombras, o cenário ao redor se transformou em um espetáculo de vida e cor. A névoa densa e fria havia desaparecido, dando lugar a uma clareza suave que permitia ver os raios do sol filtrarem por entre as copas das árvores. As folhas, antes pálidas e ressecadas, agora reluziam com tons vivos de verde e dourado, como se tivessem sido renovadas pela magia feérica. Flores exóticas desabrochavam nos troncos das árvores e nos arbustos próximos, algumas brilhando em tons iridescentes, outras emitindo leves fragrâncias de frutas e ervas.

Pequenas criaturas mortais, como coelhos, raposas e pássaros de plumagem colorida, saltitavam de um lado para o outro, explorando a nova calma da floresta. Borboletas de asas translúcidas e insetos de luz suave pairavam pelo ar, como pequenas estrelas dançando entre os troncos. Mais adiante, um cervo de olhos brilhantes e pêlo claro apareceu silenciosamente, observando-os por um instante antes de desaparecer entre as árvores.

A floresta agora parecia um sonho entrelaçado de reinos feéricos e mortais, onde a natureza havia encontrado novamente sua harmonia — uma lembrança viva de que a magia e a beleza do mundo ainda podiam florescer, mesmo nos cantos mais escuros.

— Uau! — O tom de surpresa e admiração na voz de Art dizia tudo, refletindo o que estava estampado no rosto de todos enquanto olhavam a floresta agora transformada.

— Bem melhor que aquela floresta moribunda de antes. — Vixen murmurou, recobrando aos poucos suas forças.

Dentre os quatro, Vixen fora a mais afetada pelo confronto com os seres das sombras. Art também tivera suas dificuldades, mas para a princesa do reino do Verão, a ausência de luz e o peso da escuridão pareciam esgotar suas energias de maneira implacável.

— Você está bem, Vixen? — Kohan perguntou, ele mesmo ainda recuperando o fôlego.

— Estou... Acho que não lido bem com lugares escuros e úmidos. Na verdade, nem me lembro de um dia ter ficado em algum lugar sem luz solar. — Ela desviou o olhar, como se ainda processasse o que sentira.

Respirando fundo, ela lançou um olhar aos companheiros e confessou: — Agora eu entendo o que a Deusa queria dizer ao proibir a travessia entre reinos. Senti meu poder enfraquecer... fora de controle, mesmo.

Greta assentiu, o rosto ainda carregado de preocupação. Kohan, segurando sua espada com firmeza, olhou para o caminho adiante e concluiu:

— Então vamos sair daqui antes que mais alguma dessas criaturas resolva tentar nos matar de novo!

Enquanto seguiam para longe das sombras que haviam vencido, Greta percebeu algo brilhando em sua mão. Era a bússola, que voltara a emitir sua suave luz dourada, os ponteiros finalmente girando para apontar o caminho certo. Com o coração acelerado, ela ergueu o artefato, e todos seguiram em silêncio pela trilha que se abria à frente, uma passagem clara para fora da floresta.

Ao deixarem as últimas árvores para trás, encontraram-se diante de um vilarejo modesto e pitoresco, um cenário completamente diferente da paisagem sombria da floresta. No limite do vilarejo, um garoto mortal olhou para eles boquiaberto, seus olhos arregalados de espanto ao ver os quatro saindo vivos do lugar onde ninguém ousava entrar.

O garoto, um menino magro e com o rosto sujo de terra, avançou hesitante em direção ao grupo, os olhos arregalados fixos neles. Não devia ter mais que seus doze ou quinze anos. Seus cabelos emaranhados caíam sobre a testa, e uma cicatriz ainda avermelhada descia perto do olho direito, um sinal de que não havia sido poupado das dificuldades de sua própria vida. Ele parou a poucos passos de distância, respirando rápido, como se nem acreditasse no que estava vendo.

— Vocês... — ele começou, a voz quase um sussurro incrédulo. — Como... como saíram da floresta? Vocês derrotaram os Lugravos?

Os quatro trocaram olhares, surpresos com a reação do garoto.

— Essas coisas tem nome? — Art fez uma cara de enjoo ao lembrar das bestas.

— Derrotamos, sim — respondeu Greta, cautelosa. — Mas como você sabe sobre eles?

— Todo mundo sabe! — exclamou o menino, balançando a cabeça como se fosse óbvio. — Eles... eles devoram qualquer um que entra lá! Não tem sido seguro faz anos, ninguém volta depois de passar por aquelas árvores. — Ele engoliu em seco, ainda encarando-os, como se tentasse se convencer de que eles eram reais.

Kohan trocou olhares sérios com os amigos, mas Art, sem conter o alívio, soltou um gritinho de felicidade, pulando de leve.

— Pelos deuses, conseguimos! — comemorou ele, sorrindo largo. — Somos os maiorais!

— Ainda não sabemos de nada — cortou Kohan, com um tom mais controlado, assumindo a postura firme de um líder. — Precisamos evitar chamar atenção. Vamos tentar conseguir comida e informações, mas com cuidado.

Todos assentiram, o estômago roncando e o receio do desconhecido superando as comemorações. Durante um breve momento, a tensão diminuíra entre eles, mas o garoto à frente parecia ainda mais intrigado, observando-os com olhos ainda mais arregalados.

— O que são vocês? — ele perguntou, a voz tremendo entre o maravilhamento e a curiosidade. Sua pergunta era inocente, mas o peso dela era claro. Responder poderia gerar confusão — e talvez muito mais.

Os quatro se entreolharam, e foi Greta quem quebrou o silêncio com uma resposta diplomática.

— Somos viajantes, apenas... buscando um destino seguro.

O garoto continuou a fitá-los, ainda sem esconder a fascinação em seu olhar.

— Meu nome é Finn, e... talvez eu possa ajudar. Se me seguirem, há um lugar onde podem comere descansar. Acho que o alto sacerdote da vila vai querer falar com vocês também.

Com um aceno breve, os feéricos concordaram e seguiram o menino pelas ruas estreitas e empoeiradas. Os moradores os observavam com olhares desconfiados e murmurinhos, e os quatro sentiram-se como estranhos em um mundo novo.

Algumas crianças corriam para se esconder ao vê-los, enquanto idosos cochichavam, franzindo a testa. Greta e Vixen andavam lado a lado, trocando olhares cautelosos, enquanto Art absorvia cada detalhe da vila, fascinando-se com as diferenças entre o mundo feérico e o dos mortais.

Finn os conduziu a uma espécie de salão central, onde uma fogueira ardia ao centro, iluminando um espaço amplo e rústico. Lá, um homem alto, de cabelos grisalhos e olhar penetrante, os aguardava. Ele se levantou ao vê-los entrar e acenou para Finn se afastar.

— Forasteiros... — O homem parecia pesar cada palavra. — Não costumamos receber muitos, e muito menos aqueles que cruzaram a Floresta Sombria e sobreviveram aos Lugravos.

Os quatro trocaram olhares breves. Kohan, sempre cauteloso, inclinou a cabeça respeitosamente.

— Nós só queremos descansar e talvez encontrar algo para comer. Atravessamos a floresta em busca de respostas.

O homem acenou e fez um gesto para que se sentassem junto ao fogo. Pratos de pão rústico e carne foram trazidos, e cada um dos feéricos tentou disfarçar a fome que os consumia.

— Meu nome é Edmar. Sou o responsável por essa vila e por manter nossos poucos habitantes em segurança. Vocês são sortudos por terem saído vivos de lá. Poucos conseguem... — Ele suspirou, os olhos se estreitando. — De que lugar vocês vieram?

Greta engoliu em seco a resposta que quase pulou para fora da sua boca. Eles não conheciam nada desse novo mundo e com certeza revelar seu lugar de origem não era uma boa ideia.

— Não somos daqui se é isso que gostaria de saber. — Greta soltou antes que algum dos amigos se adiantasse.

— Há uma antiga profecia — disse o velho mexendo na fogueira atiçando o fogo — Fala de quatro cavaleiros, vindos dos confins do mundo, que enfrentariam ameaças ocultas. — Ele os observou atentamente, como se tentasse identificar algo de especial neles.

Vixen franziu o cenho, olhando para Greta com um misto de curiosidade e desconforto.

— Não somos cavaleiros! Mas o que mais diz essa tal profecia sobre isso? — perguntou Art, curioso, recostando-se para ouvir mais.

— Ah, não muito. — Edmar ergueu a mão num gesto cansado. — Mas algumas coisas começaram a acontecer de uns tempos para cá.

Edmar voltou a sentar em seu "trono" de madeira e voltou a falar sem rodeios.

— E agora vocês quatro saindo de uma floresta que era praticamente mortal a qualquer um que entrasse lá. Isso é de se questionar, não?

— Lamento senhor, mas acho que nossa missão não tem nada haver com sua profecia. — Vixen disparou para ele com um tom de deboche na voz.

— Nos últimos anos, além dos lugravos, outros seres surgiram. Criaturas estranhas que atacam humanos. O clima parece instável, como se o mundo estivesse se preparando para algo. E ainda tem a Montanha dos Gritos.

— Montanha dos Gritos? — Greta perguntou, intrigada.

— É uma montanha antiga, ao norte daqui. Dizem que às vezes estremece e emite som de gritos profundos, como um lamento. As pessoas evitam chegar perto. É como se a própria terra estivesse inquieta, ou enfurecida.

Kohan absorvia cada palavra com intensidade, enquanto Art mantinha um olhar atento, ocasionalmente fitando Vixen e Greta para captar suas reações. Para eles, essas histórias traziam à tona mais perguntas do que respostas.

— E o que as histórias falam sobre o que tem na montanha? — Greta perguntou com medo da resposta.

Edmar suspirou, e um olhar sombrio tomou conta de seu rosto.

— Dizem que há algo antigo lá, algo que nunca deveria ser perturbado. — Ele hesitou, como se estivesse pesando as palavras. — Algumas histórias falam de uma criatura aprisionada. Outras, de uma porta para um reino perdido, onde moram os horrores da noite.

Os feéricos trocaram olhares tensos, e Greta sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha.

— Essas histórias começaram a circular muito antes dos lugravos — Edmar continuou, a voz baixa, quase um sussurro. — Mas nos últimos tempos, o som que a montanha faz tem ficado mais frequente. E sempre que ela treme, os lugravos ficam mais agressivos. Não sei se é coincidência... ou se algo lá está prestes a despertar.

Vixen, que até então mantinha um ar destemido, apertou o punho ao ouvir aquilo, desviando o olhar para o fogo.

— E vocês nunca tentaram investigar? — ela perguntou, embora a própria ideia parecesse perturbá-la.

Edmar riu, sem humor.

— Já houve uma pequena organização aqui, alguns dos nossos melhores caçadores. Eles formaram um grupo para enfrentar essas ameaças. Tentaram descobrir mais sobre a montanha... mas ninguém voltou. — Ele olhou para cada um deles, os olhos refletindo a luz das chamas. — Vocês realmente são diferentes, posso ver isso. E se não forem os tais cavaleiros da profecia... são pelo menos os únicos que já vi vencerem os lugravos.

Greta estreitou os olhos, absorvendo aquelas palavras com cautela.

— Talvez tenhamos que descobrir por nós mesmos o que está acontecendo — ela murmurou, mais para os companheiros do que para Edmar.

— Vocês são loucos se querem se arriscar naquela montanha, mas quem sou eu para impedi-los, não é mesmo? — Edmar sorriu, mas não era um sorriso de aprovação. Greta sentiu um desconforto com aquele olhar; havia algo ali que ela não conseguia identificar, mas que a deixava inquieta.

Kohan, no entanto, parecia ignorar o tom dúbio, encarando Edmar com uma determinação quase ingênua.

— O senhor pode nos levar até a montanha? — ele perguntou.

Edmar soltou uma risada baixa, balançando a cabeça.

— Não, eu com certeza não posso. Estou velho demais para aventuras dessas que talvez terminem sem volta.

Antes que alguém pudesse responder, Finn, o garoto que os guiara até ali, ergueu a mão, empolgado.

— Eu posso levá-los até o início da trilha! — exclamou, cheio de entusiasmo. — Se o senhor permitir, Alto Sacerdote.

Todos se voltaram para Edmar, que ponderou a oferta com um olhar sério. Mesmo sentado, sua presença era imponente, o alto encosto do trono improvisado mal cobria sua figura.

— Tudo bem, Finn. Você pode acompanhá-los... — Ele deu uma pausa, seu olhar perscrutando os feéricos. — Mas somente até a Estrada do Norte. A partir de lá, eles devem seguir sozinhos.

Finn sorriu, satisfeito. Greta deu um leve suspiro de alívio, agradecendo com uma reverência discreta.

— Obrigado, senhor — ela disse, virando-se para sair, ansiosa para começar a jornada.

— Esperem, ainda precisam se alimentar e descansar, não acham? — Edmar interrompeu, sua voz soando mais suave, quase paternal.

Art, com uma mão no estômago que roncava, riu sem jeito.

— Eu... bem, acho que meu corpo concorda com o senhor.

Kohan suspirou, relutante, mas acabou assentindo.

— Sim, precisamos estar em nossa melhor forma — disse ele. — Mas depois, partimos de imediato.

****

Finn guiou os quatro até uma casa modesta no fim de uma das ruas principais da vila, uma construção de madeira antiga com detalhes em pedra que falavam do tempo em que aquele lugar fora mais próspero. A vila de Pedra Fina, como eles descobriram pelo garoto, era famosa por suas lendas. Diziam que, em noites de lua cheia, pedras brilhantes se erguiam na entrada do vilarejo, iluminando-se quando seres encantados dançavam ao redor delas. "É claro, essas lendas eram só histórias para assustar crianças, não é?" pensou Greta, embora não deixasse de sentir um certo fascínio.

As ruas de Pedra Fina eram simples e sombrias, mas cheias de vida. As casas tinham varandas com plantas secas penduradas, um cheiro constante de fumaça de lenha pairava no ar, e os moradores lançavam olhares furtivos para os quatro forasteiros, curiosos e desconfiados. Muitas pessoas usavam roupas rústicas, e algumas crianças corriam em volta, observando-os com olhos arregalados e curiosos, enquanto sussurravam entre si.

Enquanto andavam, Kohan aproveitava cada oportunidade para fazer perguntas a Finn, que parecia se alegrar em ser o guia e responder tudo com entusiasmo:

— E quem é a autoridade daqui? Vocês têm um rei? — perguntou Kohan, tentando entender como aquele mundo mortal funcionava.

— Bem, nosso líder é o Alto Sacerdote Edmar — explicou Finn, com uma admiração evidente. — Ele é como... como uma ponte entre o povo e os deuses. Não temos um rei, mas ele nos guia com as bênçãos divinas. Ou guiava aparentemente.

Finn também contou sobre as tradições religiosas do vilarejo, detalhando como os moradores acreditavam em deuses antigos da terra, das colheitas e dos ventos. Nas noites de celebração, especialmente quando a colheita era farta, os aldeões faziam oferendas de grãos e flores nas pedras sagradas à entrada da vila, um ritual para proteger a vila de qualquer escuridão que se aproximasse.

— E vocês realmente acreditam nessas oferendas? — perguntou Vixen, tentando esconder o ceticismo.

— Talvez — disse Finn, sorrindo de forma enigmática. — Pedra Fina já não é mais o que era... — murmurou ele, sua voz assumindo um tom melancólico. — Antes, as colheitas eram fartas, e os campos, verdes e saudáveis. Nossos animais eram robustos e abundantes, mas agora... — ele hesitou, o rosto perdendo o brilho animado. — Agora, nada cresce como antes. As plantações murcham, os animais adoecem e morrem. E os deuses... eles simplesmente pararam de nos responder.

— Desde quando isso começou? — perguntou Greta, tocada pela tristeza evidente nas palavras do garoto.

— Desde que os lugravos surgiram — ele respondeu, lançando um olhar sério a todos. — Foi como se algo obscuro tivesse rompido a paz, e desde então, nossos rituais e preces não parecem mais alcançar os céus. É como se algo... bloqueasse a voz do nosso povo. Houve um tempo em que os ventos estrondaram e a terra estremeceu... e depois disso, surgiram os lugravos. Quem sabe os deuses ainda estejam atentos?

Greta olhava ao redor, absorvendo cada detalhe — as construções simples, as faces cansadas, mas determinadas dos moradores. Finn então os levou para dentro da casa, que cheirava a ervas secas e ao calor da lenha, onde poderiam descansar e, enfim, provar um pouco da comida dos mortais.

A casa era simples, modesta como todas as outras que eles haviam visto na vila, mas tinha uma aura de abandono que pesava no ar. Greta observou o ambiente ao redor, sentindo a melancolia daquele lugar que parecia ter congelado no tempo. A cozinha, com seu fogão rudimentar que emergia do chão, tinha o essencial, mas transmitia um vazio, uma falta de vida. Ao lado, um espaço para lavar utensílios e uma pequena mesa de madeira com marcas e lascas de uso constante, mas agora intocada.

Nos quartos, as histórias de quem já vivera ali se tornavam ainda mais presentes. Um dos quartos parecia não ter sido usado há muito tempo; o outro, onde brinquedos envelhecidos se amontoavam no canto, carregava uma tristeza inexplicável, como se aguardasse o retorno de quem os deixara ali. Havia também um pequeno banheiro, modesto, mas organizado, o que dava a entender que alguém ainda tentava manter aquele lugar funcionando.

— Finn, quem mora aqui? — perguntou Art, jogando-se na cama de um dos quartos com um suspiro. O estrado rangeu, e Greta se perguntou por um momento se resistiria ao peso do príncipe da primavera.

Finn desviou o olhar, os ombros tensos, e murmurou, a voz embargada:

— Essa casa... ela é minha. Agora, pelo menos. Meu irmão... — Ele parou, as palavras presas na garganta. — Ele desapareceu há alguns meses. Desde então... — Sua voz sumiu, e ele mordeu o lábio, as lágrimas refletindo a dor profunda de alguém que perdera uma parte de si.

Greta sentiu um aperto no peito. Aquela perda recente e a solidão silenciosa que Finn carregava eram quase palpáveis. Ele vivia sozinho ali, naquela casa cheia de ausências? Ela engoliu, tentando aliviar o nó em sua própria garganta, admirada com a força do garoto que, apesar de tudo, ainda sorria e os guiava.

— Seu irmão foi uma das pessoas que tentou derrotar os lugravos? — A voz de Vixen saiu mais suave do que o normal, carregada de uma compaixão que surpreendeu Greta.

Finn balançou a cabeça, olhando para baixo enquanto mexia nos mantimentos. — Não, Farran nunca teria coragem para isso. Ele era... — Ele parou por um momento, uma leve tristeza escurecendo seus olhos. — Farran sempre foi o mais medroso. Nunca se arriscaria a lutar com aquelas criaturas. Ele simplesmente... desapareceu. Como muitos outros.

O garoto deu de ombros, tentando disfarçar a dor, e se voltou para a mesa. Tirou alguns pães embolorados de uma das caixas, limpando-os com as mãos e colocando-os à mesa, junto a frutas secas e ervas amargas, que eram usadas para preparar um chá simples. Greta olhou para a comida, sentindo a fome apertar seu estômago, e percebeu o quão escassas eram as provisões. Não era muito, mas depois do tempo na floresta e da batalha recente, qualquer coisa parecia um banquete.

Ela trocou um olhar rápido com os outros e deu um passo à frente. — Obrigada, Finn, por compartilhar sua casa e sua comida conosco. Isso é... é mais do que poderíamos pedir.

Finn apenas assentiu, com um pequeno sorriso que parecia um pouco forçado, mas sincero.

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