Capítulo 9 - Menino ou menina?

Thomas King

Voltar para o Brasil e deixar uma parte de mim em Roma foi a coisa mais difícil e insana que eu já fiz em toda a minha vida. Pensei muito durante todos esses meses e demorei demais para tomar uma decisão, e quando a fiz, notei que era tarde e que talvez Victória jamais fosse querer me ver novamente, não depois do circo que arrumei e a envolvi de graça nisso.

Alicia também não facilitava as coisas, era hipocrisia demais estar com alguém que eu sei que foi a causadora da minha separação com Vick na primeira vez. Eu não sabia dizer o que estava se passando em meu coração, eu tinha um carinho por Alicia mas nada se compara ao que eu sentia por minha ex aluna. E o fato da gravidez me deixava ainda mais culpado e idiota.

Faziam meses que eu não via ela, meses que eu não falava com ela, meses que eu sentia sua falta. Raramente ela postava stories em seu Instagram, e quando fazia tal coisa, mostrava o quão linda ela estava, a gravidez lhe proporcionou um brilho diferente e apesar da tristeza em seus olhos, sua áurea estava cheia de amor e boas energias.

Contudo, as coisas só desandaram no momento em que ela postou uma foto com Derek Morgan na casa do mesmo. Tudo indicava que eles estavam juntos e o olhar devoto do garoto para ela só confirmava o sentimento que ele ainda nutria por ela.

—Tom? – A voz fina de Alicia ecoou em meus ouvidos. – Vou tomar um banho e depois vou para o aeroporto, Derek me ligou e disse que precisa de mim no escritório.

—Tem noticias de Victória? – A pergunta saiu quase automática.

Alicia respirou fundo cruzando os braços, tenho certeza que ela não gostou muito do meu interesse pela minha ex noiva.

—Indo a trancos e barrancos, mas está bem, ainda mais com o gatíssimo do Derek ajudando ela com as coisas da gravidez, se eu tivesse a idade que ela tem me jogaria com tudo naquela réplica do Orlando Bloom. – Deu de ombros.

Revirei os olhos.

—O que você quer dizer com indo a trancos e barrancos? – Voltei a questionar.

—Sério que você vai ficar me perguntando sobre ela? Pensei que estivéssemos juntos. – Ela me fuzilou.

—Ela é a mãe do meu filho, Alicia. – Bufei.

—Agora você tem filho? Francamente, Thomas, nunca me simpatizei com o relacionamento de vocês dois, mas deixar uma garota grávida em outro país não é algo muito bacana de se fazer, principalmente se levarmos em conta que você é o pai da criança, mas se serve de consolo as últimas notícias que eu tive dela foi que estava quase perdendo o bebê, na certa você não deve mais ser papai. – Sorriu falsamente.

—O que? – Arfei.

—É isso mesmo que você ouviu, fofinho, sua ex noivinha estava em um hospital perdendo o catarrento de vocês, não precisa mais se preocupar com ela ou com qualquer coisa que remeta a ela. – Disse com cinismo.

—Você consegue ser mais maldosa do que eu imaginava. – Reagi incrédulo.

—Temos um acordo, Thomas, não estrague o mesmo ou Victória vai ser demitida na primeira oportunidade. – Ameaçou e se virou rumando o banheiro.

Soltei um suspiro irritado e me vi agarrando meus próprios cabelos. Se o que Alicia disse for verdade, Vick pode estar passando por momentos terríveis sozinha em Roma. Eu sabia que o que eu estava prestes a fazer era totalmente antiético, mas eu precisa confirmar o que minha companheira estava dizendo.

Aproveitei que ela estava no banho e fui até o quarto mexendo em suas coisas até encontrar o aparelho de celular. Deslizei meus dedos na tela do aparelho e digitei a senha (previsível), dela. Vasculhei as conversas em evidência no Whatsapp e uma me chamou a atenção, a principio estava arquivada, mas o remetente havia feito a proeza de mandar uma mensagem para ela no momento em que eu estava mexendo no telefone.

Andrew: Ali...a garota resistiu, ela deve ter um anjo da guarda excelente, nenhuma gestante normal seguraria um bebê com a quantidade de colesterol daquele no sangue.

Era impressão minha ou ele estava se referindo a Victória?!

Alicia: O que exatamente você fez? — Assumi a identidade dela a fim de descobri o que estava acontecendo.

Andrew: Fiz o que me mandou, adulterei os alimentos dela, como eu fiz naquele dia no restaurante que ela e seu sócio jantaram, dobrei a dosagem da "droga" mas parece que o tal do Derek chegou até ela antes que o aborto fosse feito.

—Tom, não me ouviu chaman... – Alicia apareceu no quarto e paralisou ao me ver mexendo em seu celular.

—O que você fez? – Fechei os olhos cerrando os punhos.

—Thomas, por favor...- Ela tentou titubear.

—Me responda, agora! – Gritei.

—Eu não queria fazer mal a ela. – Abanou as mãos.

—Só queria tirá-la do caminho, não é? – Ri sem humor. – Deixa eu ver se entendi bem como foi a história. Primeiro você dá um jeito de levar Victória para Roma porque sabia que o Morgan gostava dela e que ele iria ficar balançado com a presença dela tão perto dele. Depois você arma um jantar com ela e acidentalmente a deixa plantada com o Derek esperando o irmão, se não bastasse isso você manda alguém adulterar a comida dela já sabendo que ela estava grávida e a faz passar mal justamente porque sabia que seu colega de trabalho ficaria com ela se ela não estivesse bem.

—Thomas... – Ela me interrompeu.

—Cale a boca! Eu não terminei. – A cortei. – Foi você o tempo todo, você armou aquilo, Victória estava falando a verdade, e você tentou matar o meu filho, tem noção do que é isso? MEU FILHO? Você é uma vadia.

—Por favor, me escuta. – Ela pediu dando um passo em minha direção mas eu esquivei.

—Não há nada que você possa fazer para mudar o que fez, eu quero você fora da minha vida, fora da vida de Victória e fora da vida do meu filho, fui claro? – Esbravejei.

—Está esquecendo o nosso acordo? – Sua voz falhou.

—Foda-se essa droga de acordo! – Gritei. – Ou você realmente acha que vai sair impune disso? Você cometeu um atentado a vida de duas pessoas, vou fazer você responder por isso.

Dito isso, peguei meu paletó, a chaves do meu carro e minha carteira. Saí do meu apartamento e fui até a garagem entrando no carro logo em seguida. Peguei meu celular e foquei na foto de Victória sorridente e com as mãos no ventre de forma protetora, precisava vê-la, precisava ir até Roma e tinha que ser naquele momento.

Victória Walker

Quando se divide uma casa com gêmeos e uma neném de cinco meses super fofa, você aprende a deixar de ser aquela pessoa anti social e se torna uma pessoa receptiva e quase que de bem com a vida.

Desde a chegada de Noah e Emma, a casa de Derek tem sido pura festa e noites em claro, eu não me importava muito, dormiria até se uma turbina de avião estivesse ligada ao meu lado, mas Derek com certeza estava sentindo e muito a falta de uma boa noite de sono.

Durante esse período curto de convivência, pude notar que Noah não é aquele ser humano maluco para acabar com a minha raça, ele era apenas uma pessoa que precisava ser entendido e ajudado de alguma forma. Não sei de onde ele tirou forças para continuar depois da perda da noiva, claro que uma parte que era por causa da Emma mas a outra...bem essa era um mistério para todos, inclusive para o próprio irmão.

Hoje eu iria para mais uma consulta com o doutor Sebastian, finalmente iria descobrir o sexo do meu bebê e eu estava totalmente ansiosa para tal coisa.

—Noah, você e Emma ficarão bem aqui sozinhos? – Derek questionou o irmão enquanto o mesmo estava sentado no sofá assistindo um episódio novo de Game Of Thrones.

—Claro, não seja careta. – Torceu a boca. – Minha vinking e eu nem vamos notar que vocês dois saíram para um programa de casal.

—Não é um programa de casal, é uma consulta médica. – Revirei os olhos.

—Ah claro, consultas em que casais vão juntos, tenho certeza que seu médico acha que o meu irmão é o pai dessa criança. – Noah desafiou.

—Acredite se quiser, mas o doutor Sebastian não acha isso, na verdade ele tem certeza que Derek não é o pai do meu bebê. – Afirmei.

—Pai é quem cria...fica a dica. – Noah gritou mas nós já estávamos do lado de fora da casa.

Suspirei pesadamente enquanto entrava no carro, as palavras de Noah continuavam martelando na minha cabeça, na verdade, quase tudo o que ele falava tinha o costume de ficar ecoando na minha mente como se quisesse abrir meus olhos para uma coisa óbvia, e talvez seria.

—Antes de tudo, quero te pedir desculpas pelo meu irmão. – Derek virou-se para mim. – É a primeira vez que conversamos realmente a sós e sei que as coisas entre vocês não começaram da melhor forma possível.

—Derek, sinceramente?! Não precisa ficar se desculpando pela sinceridade exacerbada do seu irmão, é natural que ele se sinta um pouco receoso comigo e eu com ele. – Fechei os olhos. - Ele está preocupado com a nossa relação, ele não acha certo eu estar grávida de outro cara e morar na sua casa.

—Releva o que ele diz, Noah perdeu Carolina de um jeito muito repentino, ele vai querer me proteger de todas as formas possíveis e imagináveis. – Derek me olhou sincero.

—Eu sei disso, mas daqui a quatro meses eu vou poder voltar para o meu apartamento e vou deixar as coisas em ordem, seu irmão não está errado em insinuar que eu sou uma aproveitadora ou qualquer coisa do tipo, mas não se preocupe, está bem? – Sorri sincera.

—Sabe que não gosto de ver como ele anda te pressionando com as coisas, eu não estou te hospedando em minha casa querendo algo em troca, sabe que eu não nunca te forçaria a nada, Vick. – Ele assegurou.

—Ei, está tudo bem, eu sei exatamente o que você faria ou não, fique tranqüilo. – Apertei sua mão e voltei minha atenção para frente.

Derek deu a partida e seguimos em silêncio para o consultório.

(...)

—Pois bem, mamãe. – Doutor Sebastian passeava pela minha barriga com o instrumento de ultrassom. – Sua saúde e a do bebê estão excelentes, tem feito um ótimo trabalho Derek.

—Fico de olho nela, doutor. – Derek sorriu.

—Continue assim, nada de tentar fazer esforço ou trabalho exagerado, sua saúde está em ordem mas ainda é uma gravidez de risco, então tenha cuidado. – Aconselhou.

—Pode deixar, já da pra saber se é menino ou menina? – Mordi o lábio inferior.

Derek e Sebastian trocaram olhares cúmplices e eu os olhei desconfiada, o que eles sabiam que eu estava por fora?!

—Então...Vick... – Derek coçou a cabeça. – Sebastian e eu queríamos te fazer uma surpresa, não contamos antes porque queríamos criar uma expectativa em você.

—Aonde vocês querem chegar? – Arqueei a sobrancelha já me ajeitando um pouco mais na cama.

Sebastian deu de ombros e saiu do quarto deixando Derek e eu sozinhos.

—Eu estive com o doutor na semana passada, queria me certificar se você e o bebê estavam bem depois daquele desmaio repentino a alguns dias, nisso ele me mostrou a imagem da sua ultra e disse que já sabia qual era o sexo do bebê e bem...eu queria ter o prazer de te contar, acho que você merece isso, merece ter alguém ao seu lado compartilhando esses momentos e então... – Ele respirou fundo. – Parabéns mamãe, hora de decorar o quarto de rosa...é uma menina.

Meus olhos se encheram de lágrimas, eu ainda estava parada olhando fixamente para Derek que estava cheio de expectativas na face, aos poucos a ficha foi caindo e com ela a alegria foi tomando conta do meu peito, uma menina...minha menininha.

—Minha pequena Katherine... – Sussurrei visivelmente emocionada.

Derek também estava com os olhos marejados e eu sorri. Ele não era o pai, mas estava se comportando como tal e naquele momento eu me permiti acreditar que ele era o cara.

Segurei sua mão fortemente e ele correspondeu, inclinei-me no leito e ele se aproximou, nossos rostos perigosamente perto, nossas respirações em sincronia juntamente com as lágrimas.

Eu sabia exatamente o que iria acontecer ali, mas ao contrário da outra vez, eu não iria me esquivar nem nada do tipo, eu queria e eu fiz.

Derek e eu nos beijamos e naquele instante não me importei nem um pouco com o meu celular vibrando mostrando um rosto bastante conhecido.

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