Capítulo 19 - Deixe-me amar você
Victória Walker
A noite anterior definitivamente havia acabado de entrar na minha listinha negra de dates que eu não queria repetir. Um jantar confuso, indiretas bem diretas, meu ex noivo bêbado, briga, delegacia e fiança, esse foi o resumo perfeito de ontem.
Ainda era estranho pensar em como minha vida mudara nos últimos tempos, eu tinha tudo planejado na minha cabeça, me formaria, casaria com o homem que amava, constituiria família e viveria igual aquelas pessoas dos comerciais de margarina, uma vida simples e perfeitinha. E agora, olhando para onde estou, eu tinha total certeza de que eu tinha fracassado em 50% do plano.
Isso não quer dizer que eu esteja arrependida, jamais! Estar grávida, ter meu apartamento, meu trabalho e meus amigos é pedir até mais do que eu merecia ter. Claro que demoramos um bom tempo para nos acostumarmos com a rotina, muita coisa mudou, inclusive meus sentimentos.
Estive e estou diante de um imenso mar de emoções, de um lado Thomas, o homem por quem fui apaixonada desde meu primeiro ano de faculdade e que não hesitou em desconfiar de mim na primeira oportunidade que tiveram para separar nós dois. Do outro tem Derek, ah Derek! Esse com certeza é a escolha perfeita de qualquer garota, mas porque eu ainda sinto tanto medo de me entregar ao que sinto? Talvez porque nem mesma EU saiba o que realmente sinto por ele.
Virei-me delicadamente na cama, a medida que os dias iam passando, eu ia notando como meu corpo se transformava, carregar Katherine em meu ventre era a maior dádiva que eu poderia ter recebido com minha pouca idade. Acariciei minha barriga e suspirei sentindo aquela conexão gostosa que toda mulher grávida tem com seu filho. Mas logo isso foi adiado por batidas na porta.
-Entre... – Falei enquanto me ajeitada com os travesseiros.
A porta se abriu e logo a figura de Derek surgia em meu campo de visão, mas ele não havia vindo de mãos vazias, em sua mão direita um lindo buquê de rosas vermelhas se sustentava.
-O entregador acabou de deixar isso na porta, e está endereçado à você. – Ele disse caminhando de encontro a cama.
-Posso suspeitar de quem seja... – Revirei os olhos. – Deixe-me ver.
Derek estendeu as flores e eu fui direto para o cartão, nele estava escrito as seguintes palavras:
Querida Victória,
Espero que me perdoe pelo vexame de ontem a noite, não foi minha intenção causar tanto estrago, espero que ainda possamos consertar as coisas...
Um beijo em você e na Kath,
Thomas.
-As vezes me surpreendo com o tamanho da cara de pau dele. – Joguei o cartão na cabeceira de qualquer jeito.
-Não o julgo. – Derek deu de ombros.
-Espera, você defendendo ele? – O olhei incrédula.
-Não digo defendendo. – Derek tirou uma mecha do meu cabelo de minha face. – Mas entendo o arrependimento dele, é natural que ele se sinta na obrigação de correr atrás de vocês duas, nunca se esqueça que as pessoas só passam a dar valor quando perdem.
-E eu não sei disso?! Mas ainda assim, isso já está me tirando o sono... – Bufei.
-Não há nada que possa garantir a você a guarda da Kath? Digo, ordem de afastamento do Thomas, já ouvi falar umas coisas assim, principalmente saindo da boca do Noah. – Derek abraçou meus ombros, enquanto eu repousava em seu peito.
-Até tem, mas para isso eu preciso ter uma prova bem concreta de que Thomas não é uma pessoa apta a fazer parte da vida de uma criança. – Fechei os olhos. – E isso não é uma tarefa fácil.
-Estarei com você para resolver isso, se quiser. – Derek me obrigou a olhá-lo nos olhos e naquele momento eu notei o quanto ele estava bonito naquela manhã.
Os cabelos, agora curtos, estavam bagunçados, e seu tom de pele o fazia parecer um raio de sol, um lindo raio de sol. Eu tinha uma certeza em meu subconsciente quando o assunto era Derek, e essa certeza fez com que meu corpo inclinasse e que minha boca fosse de encontro a dele. Nossos lábios se tocaram com doçura e eu podia sentir todo o carinho do momento.
Derek me apertou gentilmente contra si, tomando extremo cuidado com minha barriga, suas mãos passearam pelas minhas costas, e lentamente o rumo das coisas iam mudando. Eu já sabia o que aconteceria se continuássemos naquela troca de beijos e carícias, e uma parte de mim desejava imensamente ter o gêmeo do bem por inteiro, mas a outra parte me dizia que não era o momento.
E foi com esse estalo, que eu, Victória Walker, subitamente recuei meus lábios e respirei fundo.
-Eu preciso tomar um banho...nos vemos mais tarde? – Pigarreei constrangida.
Derek coçou a cabeça um pouco atordoado, e assentiu enquanto se levantava. Na certa estava se perguntando o porque de uma louca como eu ter feito aquilo e dado para trás depois...e eu entendia perfeitamente aquele pensamento.
O gêmeo saiu e eu apertei o travesseiro contra meu rosto, o que diabos estava acontecendo na minha mente?
(...)
-EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ DEU PRA TRÁS NAS PRELIMINARES, VICTÓRIA WALKER! – Giulia praticamente gritou no meio da praça.
-Ei, fala mais alto, quem sabe o presidente não escute você! – A cutuquei. – Não foi uma preliminar, o beijo só estava esquentando e eu já podia sentir a criança do Derek se agitando lá embaixo.
-Fala pra mim, ele tem pau grande? – Giulia sussurrou maliciosa.
-MAS QUE DROGA, EU ACABEI DE FALAR QUE NÃO FIZ NADA! – Esbravejei.
-Fique calma...é só uma observação. – Minha amiga deu de ombros.
Caminhamos até um banco e sentamos no mesmo, desfrutando de um bom café com leite.
-Mas diga, o que te impediu de continuar o processo de procriação com o gêmeo delícia? – Giulia mordeu um pedaço de bolo de chocolate.
-Sinceridade ou felicidade? – Arqueei as sobrancelhas e a italiana deu de ombros novamente. – Tudo bem, vou optar pela sinceridade, eu realmente não sei porque eu não continuei...havia algo dentro da minha cabeça que falava que aquilo era extremamente errado.
Giulia ouviu aquilo com atenção e pareceu pensar sobre minhas palavras.
-Acho que sei perfeitamente o que te impediu de continuar... – Soltou de forma evasiva.
-E o que seria...? – Pressionei.
-Talvez aquele homem que está olhando fixamente para você agora e está mordendo o lábio inferior como se quisesse mostrar o quanto é sexy e sedutor... – Giulia olhava para frente e eu segui a rota dando de encontro com os olhos verdes de Thomas. – Hora de partir, não se esqueça de que tem um jantar romântico com Derek hoje, tente concertar as coisas, ou volte para um babaca que te deixou sozinha no momento mais importante da vida de vocês...até mais, amiga!
Giulia saiu desfilando com seu salto quinze enquanto Thomas vinha a todo vapor ao meu encontro.
-Recebeu minhas flores? – Perguntou sem que eu olhasse para ele.
-Isso é o que? Thomas, eu deixei claro que deixaria você participar do restante da gestação, mas o mínimo que estipulei foi que se mantivesse longe da casa dos Morgan. – Sibilei irritada.
Thomas se sentou ao meu lado e mordeu o lábio inferior.
-Eu estava bêbado, ok?! Bêbado e insano, foi uma idiotice da minha parte ter ido te procurar na casa do arquiteto, mas entenda, eu preciso de você. – Tentou segurar minhas mãos e para minha própria surpresa, eu não recuei.
-Não apareça mais na casa de Derek, ok? – Foi a única coisa que saiu da minha boca.
-Certo...podemos jantar hoje? – Eu podia sentir a ponta de esperança crescendo dentro dele.
-Thomas, não confunda as coisas, vou jantar com o Derek, tenho uma ultra no final dessa semana, pode me acompanhar se quiser, mas sem comentários maliciosos, como eu já havia dito, nossa relação está totalmente restringida a Katherine. – Levantei-me depressa e ele me imitou. – Preciso ir.
-Certo...nos vemos no fim da semana então... – Ele deu um sorriso fraco e eu me pus a caminhar de encontro ao táxi mais próximo.
(...)
O dia passou tranquilamente, tentei ao máximo focar em desculpas plausíveis a dar para Derek, mas o que eu diria? "Oh, Derek, me perdoe por ter interrompido nossa preliminar, mas sabe como é né?! Estou grávida e não seria nada sexy transar com você com uma bola giganta na minha barriga!"
Eu sei, isso foi totalmente patético, mas o fato é que eu ainda não me sentia pronta, meu corpo o desejava e meu coração também, mas o momento não era o dos melhores, queria que fosse algo especial.
Ajeitei o vestido pela milésima vez no corpo e retoquei o batom, não era a primeira vez que eu tinha um encontro com o Morgan, mas sentia como se fosse. Respirei fundo e rumei até a sala onde ele me esperava.
-O casal vai ter uma noite romântica? – Noah estava com Emma nos braços. – Se sim, recomendo um motel ótimo na...
-Noah, para! – Derek revirou os olhos e me guiou para fora de casa.
-Ele não desiste... – Resolvi soltar.
-Esse vai ser um tipo de piada que ele vai fazer até se certificar de que o irmão dele transou com a namorada. – Derek riu.
-Derek, sobre isso, eu quero te pedir desculpas por mais cedo... – Mordi o lábio inferior, enquanto ele abria a porta do carro para mim.
-Ei, já conversamos sobre isso, sexo não é o mais importante pra mim em relação a nós, sei bem das suas inseguranças e não vou forçá-la a fazer algo que não queira, não sou idiota. – Derek beijou minha testa e deu a volta no carro.
Respirei aliviada com suas palavras, meu maior medo naquele instante era causar algum atrito entre nós em relação a nossa vida sexual.
Derek deu a partida no carro e seguimos em silêncio até um simplório restaurante rústico da cidade, que ao meu ver, era o mais bonito de todos os outros ornamentados que eu já estivera desde minha chegada a Roma.
-Não sabia se ia gostar do ambiente, sabe como é, posso ser um belo exemplo de príncipe encantado, mas ainda assim sou um homem, e homens não sabem muito bem o gosto das mulheres. – Derek coçou a cabeça enquanto segurava minha mão.
-Se me conhece bem, sabe que não ligo para esse tipo de coisa, e sabe também que até prefiro lugares mais simples. – Sorri apertando suavemente suas mãos másculas.
Adentramos no lugar e seguimos para a mesa que estava reservada para nós, o restaurante estava aparentemente vazio, e a iluminação baixa tornava tudo muito aconchegante.
Pedimos as entradas e trocamos olhares sugestivos.
-Acho que essa é uma das poucas vezes em que estamos realmente sozinhos. – Derek ri fraco.
-É verdade, isso merece um brinde. – Estendi minha taça de suco.
Derek sorriu e levou seu copo de encontro ao meu.
-Já disse o quanto você é linda? – Ele disse inebriado em meus olhos.
-Todos os dias. – Sorri envergonhada.
-Esse é oficialmente nosso "primeiro encontro" em Roma, e sabe, gostaria de reproduzir um jogo que fizemos quando ainda estávamos na faculdade. – Derek se recostou na cadeira com um sorriso divertido nos lábios.
-Jogo? – Arqueei as sobrancelhas de forma duvidosa.
-Sim, aquele de perguntas rápidas, se lembra? – Me olhou sugestivamente.
E foi ai que o tempo pareceu retroagir uns cinco anos, e novamente me vi sentada em uma cadeira de bar rindo descontroladamente com Derek Morgan enquanto ele tentava a todo custo arrancar respostas bombásticas de mim.
-Claro que me lembro, você perdeu pra mim. – Dei de ombros, vitoriosa.
-Não perdi não. – Protesta Derek inclinando o corpo para frente.
-Revanche? – Provoquei.
-Só se for agora! – O moreno se ajeitou na cadeira. – Eu começo com as perguntas.
-Vá em frente. – Cruzei os braços.
-Um dia? – Começou.
-Formatura.
-Um desejo?
-No momento, comer aquela torta de camarão que está vindo em nossa direção.
Derek riu.
-Uma ambição?
-Ser delegada.
-Um momento marcante?
-O dia em que descobri que estava grávida.
-Uma decepção?
-Thomas.
-Boa garota! – Derek alargou o sorriso. – Pra fechar com chave de ouro, uma pessoa que você não se arrepende de ter conhecido.
-Você. – Sorri e Derek segurou minha mão. – Agora prepare-se, minha vez de te questionar.
-Estou pronto, madame.
-Uma paixão?
-Arquitetura.
-Uma pessoa que te tira do sério?
-Noah.
-Um fato que se arrepende?
-Não ter dado mais socos na cara do Thomas, me perdoe Katherine, mas seu pai merecia.
Soltei uma risadinha e senti Katherine reagir em forma de protesto em minha barriga.
-Tudo bem...essa foi digna de uma boa vitória, mas antes, a última pergunta. – Belisquei um pedaço da torta. – Um pedido?
-Que você me deixe te amar. – A resposta foi instantânea.
Meu coração acelerou, e mais uma vez fiquei sem palavras.
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