Victória Walker

Lidar com certos dilemas podem ser mais complicados do que parece. E quando Derek voltou da empresa com um semblante devastado, eu soube que ele precisava de mim e não podia ser em outra hora.

Quando ouvi sobre seu possível pai biológico, e sobre toda sua história no Brasil com os pais adotivos, eu me peguei imaginando Katherine no lugar dele. Imaginei ela correndo para os braços de algum namoradinho dizendo o quanto estava triste ao descobrir sobre o pai, e aquilo só me convenceu ainda mais de que eu não podia afastar Thomas de nossas vidas.

E após confortar Derek e lhe dar total apoio quanto ao exame de DNA, decidi mandar uma mensagem para Thomas dizendo que ele poderia sim, me ver durante a gravidez, com a condição de que fosse fora da mansão dos Morgan's.

Eu nunca fui boa em omitir as coisas, mas eu não tinha escolha. Sabia que Derek piraria se esbarrasse com Thomas no meio da sala de estar ou até mesmo no banheiro. Aquela ideia também não me agradava, estar perto do King já era algo insuportável. Era como se a única coisa que eu visse quando olhasse em seus olhos fosse a mentira.

As vezes eu lembrava das coisas que passamos para ficarmos juntos e até chego a crer que talvez, o destino havia feito aquilo somente para nos fazer crescer e saber lidar com os problemas da vida. E devo dizer, aquilo foi o melhor que poderia acontecer conosco naquele momento.

Depois deste episódio, os dias se sucederam com bastante tensão, principalmente quando os rapazes realizaram o exame enlaçando Joseph em um contrato que eu mesma elaborei o impedindo de reclamar a paternidade dos dois caso o resultado viesse ser positivo.

Durante toda a minha graduação na faculdade presenciei casos como esse dos gêmeos, e na maioria das vezes o pai ou a mãe que ressurgia dos mortos estavam atrás de algo chamado GOLPE. Todo cuidado era pouco, ainda mais se levarmos em consideração que Joseph apareceu em um momento bastante oportuno na vida dos dois, o que aumenta ainda mais minha desconfiança a cerca deste homem.

No presente momento, Derek e eu estávamos assistindo pela milionésima vez Game Of Thrones, mais precisamente o último episódio da sétima temporada. Eu já estava prestes a cair em um sono delicioso de pós almoço quando ouvimos um escândalo vindo da cozinha.

—Gente! A Emma disse papai! Corram aqui, ela está falando papai! – Era o Noah...como sempre.

Derek me encara sonolento e juntos seguimos para a cozinha.

—O que ela disse? – Derek bagunça os próprios cabelos.

—Papa, ela está tentando dizer papai, está quase...Repete meu amor, repete para esses bobos verem. Diz papai, diz... – Noah encara a pequenina com devoção, o que era bem fofo.

—Papa. – A neném repete.

—Eu acho que é papa de comida, talvez esteja com fome. – Derek sugeriu jogando um balde de água fria em Noah.

—Não, comida é humhum. – Ele diz ainda insistindo para que ela repetisse, mas a danadinha só ria da situação toda.

—Ela não vai mais falar. – Suspirei. – Eu preciso sentar, estou cansada, minhas costas doem e minha bunda está enorme. – Abri caminho para a sala.

—Bunda! – Ouvimos Emma repetir e eu paralisei trocando olhares com Noah e Derek.

—Vick, eu vou te matar! – Noah grita e Emma cai na gargalhada.

—Bunda! Bunda! Bunda! – Ela continua aos risos.

—Ei...eu não tive culpa! – Me defendi. – E não falei nenhuma palavra chula.

—Não me interessa! Era para ser papai a primeira coisa que ela deveria aprender a falar. – Noah sibilou.

—Ah vamos parar com isso! – Derek interveio. – O que está feito, está feito. Podemos voltar para o Game Of Thrones, Noah?

Noah não respondeu, apenas resmungou alguma coisa e sumiu pelo corredor com Emma em seus braços tagarelando a palavra nova.

—Ele vai se vingar. – Refletiu Derek

—É...devo preparar meu armamento anti humor negro do Noah? – Cruzei os braços.

—Acho que sim... – Derek deu de ombros.

O encarei por alguns segundos e juntos explodimos em uma risada escandalosa.

Thomas King

—E então? Já voltou para a Walker? – Luke me perguntou assim que liguei a vídeo chamada em meu computador.

—Bem que eu queria que as coisas fossem fáceis assim. – Ri sem humor.

—O que houve? Pensei que ela amasse você. – Meu amigo parecia confuso. Havia meses que não nos falávamos por conta do meu envolvimento restrito com Alicia.

—A história é um pouco mais longa e complicada do que parece. – Recostei-me na cadeira do escritório.

—Estou disponível para ouvir, tem um bom tempo que não nos falamos e confesso que agora estou curioso. – Luke pegou um sanduíche no prato.

—Bem...tudo não passou de uma armação, a Vick não me traiu com o Derek na noite em que eles dormiram juntos, ela só passou mal e ele ficou com ela quase que de vigia durante a noite. – Suspirei pesadamente.

—Nossa, e quem armou para vocês? Eu te disse Tom, ela jamais seria capaz de fazer qualquer coisa que traísse a sua confiança, ela realmente era apaixonada por você. – Luke me olhou com aquele ar de "eu te avisei, idiota".

—Alicia estava por trás de tudo, desde o inicio. – Revirei os olhos. – Eu sei que você vai dizer que eu fui um imbecil e que eu fiz as coisas de cabeça quente, e eu realmente acredito nisso, mas eu também acredito que a minha história com a Vick não teve um ponto final.

—Olha, vamos recapitular os fatos, você chegou de surpresa em Roma movido por uma mensagem anônima, mal chegou no apartamento da sua noiva e já foi jogando suas teorias na cara dela e não quis ouvir a versão dela dos fatos. Você foi embora e ela foi atrás de você, sofreu um acidente você a levou para o hospital, descobriu que ela estava grávida e foi embora, de vez! – Meu amigo foi jogando na minha cara. – Se você ainda cogita alguma possibilidade dela voltar para você, meu caro, acho melhor você esquecer.

—Eu sei que errei, Luke, mas quero concertar as coisas. – Argumentei.

—Thomas, você jogou ela de bandeja para Derek Morgan. – Luke deu de ombros.

—Não quero pensar que isso seja verdade. – Bufei.

—Aceite meu amigo, você perdeu a mulher da sua vida! – Luke disse antes de desligar.

Victória Walker

Dois dias se passaram desde o pequeno incidente com Emma, e desde então, Noah Johnson parecia cada dia mais disposto a acertar as contas comigo, e eu, claro, tentava descobrir a todo custo o que ele estava tramando.

—Gente, peço a atenção de todos por favor. – Ele bate um garfo em um pote escrito "Pote da Vergonha".

Derek, Emma e eu encaramos o gêmeo do mal com atenção.

—Obrigado pela atenção, senhora, senhor, senhorita e feto. – Ele pigarreou. – Como vocês sabem, temos uma menor na casa e em breve teremos outro, então achei justo mudarmos nosso comportamento com relação aos palavrões aqui mencionados. A partir de hoje, toda vez que um membro dessa casa falar um palavrão, deve depositar 1€, nesse pote com pagamento pela infração. Estão de acordo?

—Tecnicamente bunda não é um palavrão. – Refleti me defendendo, obviamente.

—Palavrões, palavra de baixo calão ou palavras inapropriadas, okay? Como sei que algumas palavras precisam ser ditas, substituiremos por versões fofinhas delas, que estão disponíveis nessa lista a qual eu fiz para vocês. – Ele diz enquanto nos estende as folhas.

—Bunda/Popô, Pênis/Piupiu, Vagina/Pepequinha? Achei que fosse eu que tivesse crescido no Brasil. – Derek olha para o irmão com cara de WTF?!

—Era como a Carolina falava. – Ele deu de ombros.

—Por mim tudo bem, só vai ter grana sua ai mesmo. – Derek deu de ombros e voltou para frente da televisão.

—Ai que você se engana, meu irmão. A partir de hoje me comportarei como um verdadeiro lorde inglês. – Noah diz com segurança.

—Okay, acho justo. – Falo concordando com a ideia.

—Ótimo. – Noah deposita o pote na bancada da cozinha e cada um retoma seus afazeres.

Mas como Derek e eu já prevíamos, aquele papo todo de respeito aos menores da casa só serviria para empobrecer o gêmeo maluco, pois após exatos quinze minutos ouvimos um sonoro e extenso "PORRA QUE MERDA" vindo da cozinha.

Derek fez questão de se levantar do sofá e ir até a cozinha esfregar o pote na cara do irmão que bufava igual um touro enquanto depositava o sofrido 1€. Uma cena um tanto engraçada de se ver, mas que foi substituída pela tensão no momento em que Derek me chama para conversar, ainda naquela tarde, e diz com todas as letras.

—Joseph é meu pai.