Noite Sangrenta
A Noite Sangrenta, seria o nome se referido aquela data em Driftmark. Onde dois príncipes for feridos e um deles pela própria rainha.
O Príncipe Aemond foi ferido enquanto tentava usurpar o direito de Lady Rhaena de tentar reinvindicar o dragão de sua mãe.
O Príncipe Jacaerys foi ferido pela própria rainha em retaliação. Essa foi a história que circulou como fogo entre os empregados e o povo de Driftmark.
Muitos lordes descobriram tudo antes que alguma contenção pudesse ser feita, isso como se algo tivesse sido feito, ou no mínimo tentado.
Quando o filho da princesa herdeira caiu levando a mão ao rosto, já ferido, e gritando assustadoramente alto, todos ficaram paralisados ao ver a faca nas mãos da rainha.
Surpreendentemente, o primeiro a reagir foi Leanor que se jogou ao chão ao lado de seu filho para acudi-lo enquanto já gritava pelos Meistres de volta e tentava estancar o sangue e deixar o menino imóvel.
Rhaenyra caiu ao seu lado gritando desesperadamente pelo seu primogênito enquanto os criados presentes estavam presos entre choque ou histeria.
O mais surpreendente foi com certeza a reação do rei. Viserys estava tão silencioso quando se poderia, com sua aparência, muitos poderiam pensar que morrerá em pé. Os curandeiros cuidavam de seu nego, e ele permaneceu silencioso, Corlys exigiu que todas as crianças fossem levadas e mantidas em seus quartos sem autorização de saída e ele não fez nada.
Otto Hightower tentava salvar a situação que sua filha provocou, de alguma forma, mas ainda assim o homem não reagiu.
Nada o fez mudar a face ou falar uma palavra até que o olho de seu neto mais velho foi retirado enquanto o menino grunia baixo em dor, com sua mãe chorando desesperadamente ao seu lado e o pai dizendo o quão corajoso e forte estava sendo.
Nem mesmo Vaemond parecia ser capaz de dizer algo sobre tudo isso.
E no entanto, assim veio a primeira reação de sua graça, que surpreendeu a todos. O avô e pai de crianças feridas presentes na sala ainda, exigiu receber o olho perdido de seu neto assim que o Meistre de Driftmark terminou de costurar a ferida e o encheu de leite de papoula para adormecer, dizendo que se passasse a noite, provavelmente sobreviveria.
Isso só fez o choro de Rhaenyra piorar, mas tanto a mãe, quanto o pai do menino, juraram permanecerem ao seu lado durante a noite, velando por sua vida.
Com o olho em mãos, mal se apoiando com a bengala, o rei caminhou até sua esposa, ainda paralisada no meio de tudo isso, e estendeu a mão com o olho da criança.
" Pegue…"
Sua voz era baixa, mas dura, o que fez finalmente a rainha verde reagir.
" Viserys, eu…"
" PEGUE! AGORA."
Chocada demais pelo marido tão calmo e compassivo ter gritado, ela pegou o olho, que a enjoou imediatamente manchando sua mão com sangue.
" Aqui está… a recompensa que tanto exigiu…"
" Viserys, eu…"
Ele não quis ouvir.
" Guardas, acompanhem a rainha até seus aposentos. Ela não deve sair ou receber visitar sem minha autorização, seus filhos também não devem ter contato com ela."
" Sua graça…"
" AGORA!"
Interrompeu Otto que parecia ter levado um tapa na face.
" Daemon, coloque homens de sua confiança com Corlys na porta dela. Rhaenys ponha criadas de sua confiança para cuidar das crianças, Rhaenyra não terá como fazer isso…"
O rosto de Alicent se encheu de choque, ela olhou para o pai em busca de ajuda, mas ele não olhou para ela. "Viserys, por favor, não há necessidade disso." Viserys balançou a cabeça e acenou para os Cavaleiros que se aproximaram incentivando a rainha.
"Vossa Graça, aí está a necessidade; devemos mover o pobre Jacaerys."
"Príncipe Jacaerys, Otto, seu príncipe." A voz de Visery estava tensa.
"Sim, claro, Príncipe Jacaerys." A voz de Otto era suave enquanto ele falava.
"NÃO DIGA O NOME DELE; VOCÊ NÃO PODE DIZER O NOME DELE", Rhaenyra gritou do chão. Otto engoliu em seco, dando um passo para trás.
Olhando para sua filha e bom filho, que segurava delicadamente seu neto nos braços, Rhaenyra parecia lutar para se manter em seus próprios pés, e sabia que se não fosse a dor de seu filho, provavelmente teria atacado Alicent ali mesmo, sabendo disso, simplesmente acenou vendo-os sair cuidadosamente.
" Meistre, por favor, tente dar um pouco de vinho dos sonhos para minha filha ao menos, duvido que ambos aceitem, mas…"
O homem assentiu, juntando suas coisas e saindo logo em seguida.
"Sor Harrold."
" Sim, Sua Graça?"
" Cuide de minha filha e meu neto esta noite, por favor."
" Com minha vida, meu rei."
Saiu logo em sua total altura, embora quem o conhecesse de verdade, poderia ver a dor dos acontecimentos assolando seus olhos.
***
No dia seguinte, a rainha ainda estava aprisionada em seus aposentos de visitantes, os filhos mais novos do rei foram unidos em um quarto durante o dia, mas também não tinham autorização para sair ou receber visitas sem a autorização do rei, ao menos estavam unidos e ajudaram a cuidar de Aemond, que estava ferido.
A família da princesa herdeira também estava igual, unidos dentro de um quarto, embora não fosse por ordem real, mas por lealdade e preocupação ao príncipe Jacaerys, que estava deitado ainda inconsciente em sua cama.
Com o segundo filho do rei acordado e consciente, o Meistre afirmou que provavelmente sobreviveria, havia passado afinal, pela provação da primeira noite.
Isso no entanto não estava sendo dito tão facilmente sobre o filho da princesa, pois passou a noite inteira com febre e delírios inconscientes e, o Meistre acreditava que poderia já ter pegado uma infecção.
Isso fez Sor Laenor Velaryon sair pela primeira vez em mais de dezoito horas do quarto, passando por todos no castelo, incluindo o rei e seus pais, enquanto seguia para a cidade de Maré Alta, a rua da baía das lagoas foi seu destino, não ficando mais do que minutos antes de voltar com seu corcel e um curandeiro de sua confiança.
Ninguém entendeu porque o homem havia ido atrás de um mero rapaz chamado Lysan, ou como o conhecia, mas ficou claro sua determinação de fazer qualquer coisa para salvar seu filho.
Laenor e Lysan já foram amigos a muito tempo, quando meninos. Ele era filho do padeiro nas viagens de seu pai, quando o acompanhava ainda jovem. Eles cresceram juntos entre a viagem e foram amantes por um tempo.
Infelizmente isso chegou ao fim quando Lysan encontrou trabalho nas cozinhas de Driftmark e Laenor precisava viajar com seu pai para a guerra, onde conheceu Sor Joffrey. O homem nem mesmo queria ser padeiro, preferindo o ofício da cura, e assim, quando voltou da guerra e viu que mesmo sozinho, o seu grande amigo ainda aprendia sobre ervas e plantas medicinais, o ajudou a ir para Pentos, para aprender em uma casa de ensino de Cura.
A Cidadela era muito cara e Laenor não poderia pagar isso só com sua mesada. E mesmo não sendo mais amantes, eram bons amigos.
Lysan ficou lá por oito anos aprendendo não só Cura, mas também como Alquimia, Astronomia, o estudo das plantas, geografia, história, idiomas e cartografia e até mesmo runas antigas dos primeiros homens e as runas Valirianas.
Ao voltar, passou a residir nas areas portuárias para ajudar viajantes e comerciantes, pois as grandes casas preferiam os formados pela cidadela. Mas Laenor confiava nele, e assim o implorou para ajudar a salvar seu filho.
Nem mesmo por um momento o homem pensou em o negar isso.
Corlys, Viserys, Rhaenys e Rhaenyra observaram enquanto o misterioso amigo do príncipe consorte reagia aos exames do príncipe e fazia pomadas em pasta, ungentos e elixir, exigindo uma explicação para cada pequena coisa que estava sendo feita.
Surpreendentemente, ao contrário dos Meistres, o homem não se irritou com isso, agindo com cortesia e entendendo a grande preocupação que tinham.
" O elixir é uma forma mais fraca de leite de papoula. O príncipe é muito jovem para poder tomar em grandes quantidades, isso pode causar dependência ou até mesmo parar de reagir ao seu corpo em algum momento. Vinho dos sonhos não seria recomendado pelos mesmos motivos. Está é uma misturas de ervas calmantes que ajudará com a dor e irá aliviar sua aflição."
" E está pasta em seu rosto?"
Questionou Rhaenyra, estremecendo ao ver o curativo do seu filho saindo ensanguentado e com um pus amarelado, enquanto a mistura era aplicada diretamente sobre a costura.
" Ira ajudar com qualquer infecção, também ajudará o inchado e a cicatrização a ir mais rápido, minha senhora."
A resposta necessária para eles confiarem no homem veio com um suspiro trêmulo, mas aliviado de Jacaerys ainda inconsciente, parecendo mais fácil quando sentiu a mistura tocando seu rosto.
" ele… ele vai sobreviver, não vai?"
" Não tenho dúvidas, minha princesa. O Príncipe é forte, além disso os cuidados foram bons, se posso indicar, só digo para que todos, lavem as mãos antes de se aproximarem, muito menos cuidarem de o tocar, principalmente o rosto. Nossos corpos acumulam muita sujeira e suor que misturados podem acabar trazendo uma infecção. Sugiro limpar as mãos até os cotovelos, o melhor seria com sabão das cozinhas."
" E porque?"
" o sabão usado nas cozinhas são feitos de forma caseira e com alta taxa de álcool, isso tira qualquer verme ou sujeira existente em nossas peles "
" Os meistres não falaram nada sobre isso."
Afirmou Corlys curioso.
" Nunca os vi tomando esse cuidado…"
Citou Rhaenys sobre isso.
" Não posso falar pela cidadela, meus senhores. Aprendi em uma instituição de ensino nas Cidades Livres por alguns anos antes de retornar a minha casa. Trabalho sendo um curandeiro próximo ao porto para ajudar os comerciantes e moradores."
" Curioso… porque não foi para a Cidadela se é tão estudioso?"
O homem tossiu envergonhado.
" Os valores seriam muito altos para minha família, minha senhora. Na verdade foi a grande ajuda de seu senhor filho com qual realizei este grande sonho e posso trabalhar na área hoje."
Todos olharam diretamente para Laenor com isso, que estava, assim como Rhaenyra, ao lado do filho desde que soltou o suspiro, mas ouvia tudo com atenção.
" Lysan, quais os melhores cuidados partir de agora?"
" Higienização é o mais importante, como disse. Ele pode tomar o elixir a cada oito horas, por seu pouco tamanho. Com metade da sua visão comprometida, ele terá um longo caminho a percorrer. Precisará reaprender quase tudo o que sabe, do prático, é claro, como caminhar, se localizar e a lutar, se conseguir. Ele precisará de muito apoio."
"Obrigada." Disse o pai, seu olhar tentando transmitir toda a seriedade que tinha. O homem de pele morena e olhos castanhos claros assentiu. " Meu rei… tenho certeza que Lysan não se recusaria a dar uma olhada no príncipe Aemond, caso queira."
O homem, e todos os outros, pareciam surpresos com a sugestão do príncipe Consorte, ainda mais considerando que foi graças ao menino que tudo isso aconteceu com seu herdeiro, mas Laenor não via assim. Isso foi uma luta de adultos, que as crianças, criadas em ambientes tóxicos e com mentiras grandiosas acabaram pagando o preço.
" Claro, é claro… Sor…Lysan, por favor, venha comigo."
O rei saiu acompanhando do curandeiro, e dos dois soldados postos do lado de fora. Deixando Sor Harrold, Sor Arryk e Sor Farell na entrada.
Rhaenys e nem mesmo Corlys sabiam o que dizer, enquanto observavam seu filho desolado, caído ao lado da cama que carregava a sua criança. Rhaenyra parecia que teria seus ossos caindo para fora do seu corpo em minutos, analisando criticamente cada respiração de seu filho.
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